UMBRAL É SEMPRE UMBRAL
(Psicografia Ditada)
PELO ESPÍRITO MÁRCIA
(E o vício das queixas)
(Psicografia Ditada)
PELO ESPÍRITO MÁRCIA
(E o vício das queixas)
Eu estava hospitalizada há dias, sob problemas cardíacos, conseqüências de maus hábitos e falta de zêlo comigo mesma. Apesar de meus 75 anos, não reconhecia as boas coisas da vida reencarnada que, volta e meia, me rodeavam. Passei por várias religiões pra ver se eu melhorava de espírito, mas dava mais crédito para as pequenas coisas ruins da vida. A última religião em que eu estive foi o Espiritismo de Kardec, que era uma novidade na época, mas aproveitei de forma errada! Acho que assimilava de acordo com as minhas conveniências.
Eu me queixava muito. Tinha o "vício das queixas" e acabei taxando o Espiritismo como "a desculpa cômoda" de que, para tudo, nós mesmos pedimos ou merecemos. Queixava-me de tudo e de todos. Achava Deus injusto, favorecendo com carros e confortos, à quem nem se lembrava Dele e que ainda faziam coisas erradas, e eu - como muitos - em vida difícil.
Queixava-me do corpo físico, frágil demais e, assim, imperfeita a suposta "jóia de Deus", visto que o próprio corpo nos atormenta, nos agoniza e definha, assassinando-nos em suplícios desesperadores. Tinha a convicção de que o zêlo perfeito do corpo físico era somente reservado aos "favorecidos", pois sem dinheiro, como ter boa alimentação e saúde?
E o pior: eu não aceitava a possibilidade de "morrer", apesar dos esforços médicos dàquele hospital, dos aparelhos e tubos, disponíveis pela Medicina da época, agregados em mim, além de constante acompanhamento. Acreditava firmemente que, em algum momento, eu "sairia dessa", mesmo que fosse para continuar "nessa vidinha".
E então, subitamente, sentei na cama. Estava aliviada e bem disposta. Levantei e senti uma leve atordoação. Olhei pra traz e me vi ainda deitada inerte. Imediatamente pensei: "Acho que morri!". Lembrei do que aprendi no Espiritismo e fui saindo dali. Parei e me concentrei na minha casa. Nada! Permanecia no mesmo lugar. Fui andando e o corredor do hospital foi se transformando numa rua muito movimentada.
Parecia ser o centro de minha cidade, numa daquelas semanas de fim de ano, super movimentada, com aglomerados nas calçadas e no meio da rua. Eu estava vestida com o avental do hospital, mas percebi que ninguém ligava; isso porque cada um estava vestido de um jeito.
Pensei ser noite, porque o céu era escuro e a super claridade das ruas era artificial. Passei a tentar conseguir informação com alguém, sobre meu endereço, pois apesar de julgar estar no centro de minha cidade, eu estava aturdida com o alvoroço de camelôs gritando e muita gente falando alto de todos os lados. Nem notei pequenas diferenças no urbanismo do local. Consegui perguntar para três pessoas e elas não souberam me responder, sobre o meu endereço.
Comecei a sentir fome e sede, quando um rapaz, bem apresentável, me abordou, me chamando pelo meu nome, falando rapidamente, sem me dar chance de resposta:
"– Márcia, seja bem vinda! Imagino que esteja com fome e querendo trocar de roupa. Venha comigo, vamos arranjar tudo isso."
"– Eu queria voltar pra minha casa, mas não consigo!" – disse-lhe.
"– Veremos isso depois!"
Ele pôs a mão em meu ombro e, como um passe de mágica, estávamos num grande bar, entre os encarnados. Ensinou-me a vampirizar alimentos e bebidas. Depois de satisfeita, usou da mesma "mágica" para estar diante de alguém, que parecia ser um imponente líder, num grande salão de uma casa antiga, iluminada por tochas. Olhando pra mim, plasmou-me novas roupas, dizendo:
"– Não é possível Você retornar ao seu lar no momento. Como "espírita" deveria saber que lá, a sua família, é religiosa e as sintonias estão incompatíveis.
Tens uma dívida comigo: meu "auxiliar" lhe deu comida e bebida e eu, novas vestes. Para Você pagar e viver melhor, temos um trabalho que, com certeza, será de seu agrado: acompanharás pessoas que pensam como Você, sobre o Espiritismo. Algumas, inclusive, são conhecidas e transmitirá seus pensamentos à elas. Será paga e, quem sabe, aos poucos, terá trabalhos melhores. Em breve, alguém poderá levá-la a visitar sua família."
Sim, diferente de mim, depois que adoeci, minha família passou a ser religiosa. E eram vigilantes; por isso eu não podia retornar ao lar. Eu estava desencarnada no Umbral, na parte amena, onde ficam as cidades e as metrópoles, muito parecidas com as terrenas. Quase tudo ali é possível fazer.
Pude conhecer várias zonas dessa cidade: a comercial, super populosa; a residencial, com cortiços e favelas; e a administrativa, com prédios e palácios exuberantes. Acho até que são felizes os que lá vivem, ou não se dão conta da real situação. Um cotidiano muito agradável inclusive.
Tornei-me uma obsessora, influenciando e persuadindo reencarnados que buscavam no Espiritismo o alívio para os seus problemas. Incutía-lhes pensamentos nocivos contra a Doutrina, além de vampirizar os frágeis irmãos nas ruas terrenas para meu próprio proveito. Aprendi a plasmar minha aparência, para melhor enganar através de sonhos, e assim influenciar melhor. Também aprendi que a tal "mágica" era apenas volitar (deslocar-se de um lugar para outro). Ficava feliz, cada vez que eu retornava àquela cidade do Umbral. Devo ter ficado assim por muitos anos.
Um dia, entre os encarnados, numa época de Páscoa, vi um cinema estampar fotos de cenas de um filme de Jesus em sua vitrine. Fiquei a contemplar as fotos e fui tomada por grande tristeza e remorso: veio-me à mente a "Traição de Cristo" e eu me senti como Judas – confiado à uma missão e executava outra. Chorei muito!
Nesse instante, alguém iluminado se aproximou e, vendo que eu estava sinceramente arrependida de minhas atitudes, convidou-me para a remissão e o progresso. Ele me abraçou e eu perdi os sentidos.
Acordei no Hospital de um Posto de Socorro Espiritual, muito surpresa por já ter alcançado quase 100 anos de minha desencarnação: 50 vagando e obsediando e outros 40 internada, porque segundo os médicos, meu Perispírito estava deformado por causa das vampirizações. Foi preciso longo período para tratamento.
Minha mãe veio me visitar e isso contribuiu para também me incentivar em querer melhorar e progredir. Rapidamente fui integrada na Espiritualidade. Vim a saber, tempos depois, que foram as preces de meus familiares que motivaram o episódio da frente do cinema, quando eu me dei em si e não cheguei "tão ao fundo do poço".
O UMBRAL NÚ E CRUEL
Durante o primeiro curso sobre "O Mundo dos Espíritos", através de vídeos e muitas excursões ao Umbral, pude ver o que acontece com 'pessoas' parecidas como eu e que insistem no erro. Juntamente com o Instrutor e outros colegas, passei a acompanhar, sem poder interferir, uma conhecida que, como eu, desencarnou e passou a agir igualzinha à mim: Beatriz. Usávamos de vibração não visível nesse Plano.
Beatriz não percebia que o seu Perispírito deformava à cada vampirização. Esse ato faz o Espírito desprender de sua constituição perispiritual, partículas de energias que, pouco a pouco vão aparecendo no Perispírito. No início são coceiras que viram feridas, depois é formada uma crosta na pele perispiritual, atingido o couro cabeludo. Mas alheia, ela regozijava-se no ritmo de vida que estava. Com o passar do tempo, as deformações avançaram e passaram a causar-lhe dores ao locomover. Na primeira vez que ela resolveu parar, foi presa por trevosos e levada para às masmorras do Umbral, onde foi severamente castigada com chicote (Chorei, sem poder fazer nada).
Sucumbindo, voltou às ruas para o mesmo "trabalho", ferida, com múltiplas dores e a sua aparência lembrava um monstro repulsivo e, quando passou a exalar mau cheiro entre os desencarnados, foi arrastada para o grande deserto do Umbral, onde em meio à muitas hostilidades, sofria pela fome, frio, sede e as dores incessantes.
O Instrutor aproveitou para nos chamar atenção à essa região: vasta planície lamacenta, alguns rochedos que formavam pequenos vales, vegetação rasteira e seca, troncos de árvores retorcidas sem folhas, lembrando os piores pesadelos, além de uma escuridão, somente quebrada por relâmpagos assustadores. Via-se também filetes de águas lamacentas e turvas, além de inúmeras 'pessoas' vagando à esmo, sujas, desfiguradas, desnutridas, maltrapilhas e esfarrapadas e ainda algumas seminuas; uns andavam solitários, outros em pequenos grupos. De vez em quando chovia, mas a água os transpassava, formando inúmeras poças e tornando o chão ainda mais lamacento.
Vagando e mancando muito, Beatriz de algum modo conseguiu se aproximar de uma cidade onde, na periferia, apelava para o lixo, na esperança de comer alguma coisa. Denunciada por populares, o líder da localidade tratou de "retirá-la" da área: deram-lhe uma espécie de forte entorpecente, para perder os sentidos e ficar mais fácil de ser conduzida.
Quatro desencarnados a levaram para um vale afastado, escuro, dentro de um abismo, num paredão à pique, que se despencava em profundezas à baixo, algemando Beatriz nos quatro membros bem abertos, ficando ela praticamente dependurada à própria sorte. Vimos dezenas de outras pessoas assim, algumas também deformadas, outras mutiladas, afastadas uma das outras, à muitos metros de distância. Relâmpagos, eventualmente, clareavam o medonho lugar, que mostrava também grandes aves de rapina rodeando os infelizes.
Nosso Instrutor disse que esse é o destino final de todos os viciados. Movidos por grande compaixão, fizemos preces e, assim, assistimos a chegada dos Samaritanos (Socorristas especializados nesse tipo de resgate). Retiraram quantos puderam para, logo mais, continuarem essa tarefa. Esses espíritos errantes seriam internados (como eu fui), em alas especiais no Hospital do Posto de Socorro, localizado ainda no Umbral. Por longo período ficariam ali hospitalizados e, após, alguns ainda iriam desejar retornar para o mesmo tipo de vida.
Não foi possível visitar (a não ser por vídeo) uma terceira região do Umbral, onde somente espíritos muito bem preparados – e em Missão – podem acessar: a Região Baixa, concentração de espíritos trevosos, como assassinos, psicopatas e delinqüentes de todas as espécies e mentes perversas e doentias de todos os matizes.
Ali também se encontram espíritos renitentes em seus erros, que mesmo após ser socorrido, preferiram retornar ao erro. Mas agora, por isso, eles perderam a constituição perispiritual, ficando apenas concentrados no "princípio mental individual" (Ovóides), suscetíveis e vulneráveis às reencarnações involuntárias, possivelmente em mundos mais atrasados ou primitivos.
Para tudo há uma conseqüência! Não dá para imaginar que um pequeno vício ou mau hábito alcance essa dimensão. Mas dá pra entender que "vício é vício", seja ele qual for.
Visito Beatriz quando eu posso, mesmo sabendo que ela está em letargia profunda. Quando ela despertar, eu estarei lá.
Ainda respondo às Leis Divinas pelos meus erros, progredi através de muitos outros aprendizados, trabalhos fraternos e hoje aguardo nova existência, talvez ainda nessa Terra.
Que assim seja!
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CONSIDERAÇÕES
– Não existem regras gerais na Espiritualidade sobre as desencarnações, assim como onde o Espírito será abrigado. Tudo é levado em conta, além das interscedências dos entes queridos, e a Justiça Divina faz o possível para absolver à todos, inclusive suicidas.
– Márcia desencarnou em 1930 e a psicografia é de 2020, em sessão mediúnica fechada.
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Fonte: Psicografia de acervo – Sociedade Beneficente Espírita Bezerra de Menezes – Porto Alegre-RS.