Coragem Carmem... coragem...
Ela dizia a si mesma enquanto
batia as redeas no lombo
Das éguas que puxavam sua
Carruagem, corria a toda
por uma estrada que desaguava
No fim do mundo.
Coragem Carmem... coragem...
Ela dizia a si mesma enquantobatia as redeas no lombo
Das éguas que puxavam sua
Carruagem, corria a toda
por uma estrada que desaguava
No fim do mundo.
Muito tempo antes da Espanha
ser o pais que hoje é,
Séculos atrás havia lá uma bela
Cidade chamada Salamanca,
Berço dos mais diversos povos.
Lá conviviam Judeus, Muculmanos,
Renascentes da velha Cartago e
Principalmente Ciganos,
Haviam lá muitos ciganos.
A vida era boa, a Familia Manchi
Era numerosa,
Mais de trinta membros,
Rodavam toda a terra da região
mas sempre retornavam
A Salamanca pois aquela
cidade era seu berço.
Mas certo dia quando as onze
Carruagens da caravana chegaram
a cidade após passar alguns meses
em Samora eles se depararam
Com uma cena que nunca
Esperaram ver ali.
A cidade estava sitiada,
As tropas do rei cercavam
Todas as entradas e saidas,
Era possível entrar mas não
Era possível sair.
Juan, que era o chefe daquela família
Ficou muito apreensivo
Mas no momento em que eles
Despontaram na estrada não
Havia mais como fugir,
Se todas aquelas carruagens
Dessem meia-volta e fossem embora
Antes de atravessar os portões
Com certeza seriam perseguidos
Por aquele grupo de guardas armados
Que faziam campana diante das
Entradas da cidade.
Juan sentado no banco alto da
Charrete engoliu em seco e
Orientou que todos os ciganos
Mantivessem um ar despreocupado,
Assim tranquilamente eles entraram
Em Salamanca.
Lá dentro tentaram ir para o local
Onde sempre montavam suas tendas
Mas no meio do caminho perceberam
Agitação incomum diante da catedral,
Ali na frente da porta principal
Da Igreja estava montado um
Palanque e sobre ele o padre discursava
Porém não era o padre da cidade e
Sim um rapaz muito mais novo,
Ouvindo o zum zum zum da multidão
Eles descobriram que o antigo Padre
Estava morto e aquele rapazote era
Alguém importante, um moço aparentado
Com a família real,
Ele estava implantando em Salamanca
O regime que mais tarde seria
Conhecido como inquisição espanhola.
O ciganos em si sempre foram
Um tanto maltratados pelos católicos
Porém essa questão de inquisição
Eles nunca tinham visto ou
Sequer ouvido falar,
Não conheciam o que aquilo de fato era,
Mas infelizmente estavam
Prestes a conhecer.
Se aproximaram daquele palanque
E ouviram o rapaz dizer:
"Por ordem do sereníssimo El Rei Dom Fernando, em apoio a nossa santíssima autoridade mór, o Papa Sisto quarto, é outorgada a ordem de que a cidade de Salamanca seja lar apenas daqueles tementes a Deus, que as ruas e casas sejam purificados e expurgados de toda imundice e heresia. Aqui começa a caça aos hereges."
O ciganos a princípio não ficaram
Tão preocupados pois todos eram de
Fato católicos,
Mas não totalmente é claro
Porem haviam sim sido convertidos
E batizados já há muitos anos,
Seguiam ali a fé em uma Santa Católica
Porém Juan temeu, ele sabia que
As práticas ciganas não eram
Convencionais, que as crenças de
Seu povo não batiam exatamente
Com a dos
Católicos Apostólicos Romanos.
Eles subiram em suas carruagens
E foram embora, iam rumo
Ao descampado que sempre ocupavam mas
No meio do caminho
Ficaram horrorizados ao passar por
Uma rua cheia de comércios e ver
Uma família de judeus sendo violentamente agredida, o pai a esposa e os
Dois filhos pequenos sendo
Arrastados pela rua e colocados
Dentro de uma carroça em forma
De gaiola, logo em seguida
Presenciaram um dos soldados
Afixando na porta da casa o selo do reino,
Ou seja aquilo que pertencia alguém
Considerado herege passava imediatamente
A ser posse do Rei.
Isso o deixou muito preocupado,
Ciganos não tem casa,
Ciganos não tem muitos pertences,
Mas todos sabiam que ciganos tinham ouro.
Então após armarem suas tendas
Dia após dia ciganos iam para a cidade
Para comprar alimentos ou para
Fazer negócios, sempre que iam
Três voltavam apenas um,
Ciganos começaram a ser presos,
E por mais que professassem que
Eram católicos eles ainda assim eram
Atirados na cadeia para averiguação.
Quando onze ciganos foram encarcerados
Juan Decidiu ir falar com o padre
Para tentar convencê-lo a libertár
Seu povo, mas da mesma forma q
Que Juan partiu ele também jamais voltou.
Os ciganos se desesperaram,
Mas houve quem tomasse a
Liderança do grupo,
Uma voz forte para guialos.
Carmem era a esposa de Juan,
Todos seus filhos e agora seu marido,
Todos estavam na cadeia
Mas ainda assim ela tinha
De ser forte.
Um rapazote, Lucero tinha
Lá seus treze anos,
Vestido com roupas comuns
Ele por ordem de Carmem
Ia para a cidade e sem levantar
Suspeitas ele ficava a ouvir,
Coletar informações.
Passaram-se algumas noites e
Lucero avisou que os guardas
Estavam armando atacar o
Acampamento na noite seguinte.
So restara ali um único homem adulto,
Dez mulheres e nove crianças,
E Carmem sabia o que iria acontecer
Se os malditos soldados apanhassem
Suas irmãs, suas sobrinhas.
Tem coisas que são piores que a morte.
Então ela cheia de coragem
Pediu que Lucero fosse
Até a prisão, o menino
Sabia que era a janela
da cela dos ciganos
E que atirasse através das barras
De ferro um bilhete.
Lucero assim fez
E Juan ali sentado no chão úmido
Da cela da prisão junto com seus
Irmãos ciganos viu um bilhetinho
dobrado voar para dentro.
Ele abriu o papel e leu a caligrafia
elegante da esposa:
"Meu amor, jamais me esquecerei de ti. Uma hora após o cair da noite, o cigano deve cantar. Uma hora após cair a noite... Morte. "
Juan leu aquilo e sem fazer
Nenhum som as lagrimas rolaram
Pelo seu rosto.
Os outros ciganos leram o bilhete
e compreenderam.
Todos em um circulo se abraçaram
muito forte, sabiam que para eles
Aquele era o último dia de vida.
No acampamento,
Carmem e as ciganas ja armavam
As cinco carruagens que usaram.
Rodrigo era o último homem cigano
ali entre elas, e todas o encheram
de beijos e abraços de despedida
sabendo o que ele enfrentaria sozinho.
Juntas elas reuniram as crianças
e as vestiram com muitas roupas
Para que ficassem com muitas camada
De tecido, nessas roupas as ciganas
costuraram nos forros internos
Muitas moedas de ouro.
Carmem se abaixou para falar com
Os pequeninos:
"Terão que ser fortes. Não podem chorar, não podem fazer Barulho.
Vão para Portugal, se escondam lá."
Lucero tão jovem foi
empossado como o próximo
Chefe da familia, ele
Teria de proteger os pequeninos.
E então a noite caiu.
Uma hora após escurecer
Os soldados que pretendiam atacar
o acampamento foram chamados
Pois a cadeia havia estourado
Em uma rebelião.
Juan os demais ciganos
de algum modo haviam
conseguido sair da cela
E libertar os outros presos,
O edifício prisional estava uma
Baderna.
E no meio dessa baderna os guardar
foram deslocados para lá
mas ouviram gritos dos soldados
Que guardavam o portão da cidade,
Cigano Rodrigo estava lá sozinho
Enfrentando todos,
Matou seis soldados e assim
Abriu o portão para que cinco
Carruagens passassem a toda velocidade.
Carmem ali sobre a carruagem que
Liderava as outras olhou
para trás e com o coração partido
Viu Rodrigo ser transpassado
Pelas lanças dos soldados que chegaram
Até ele.
Mas ela tinha de continuar,
E as cinco carruagens iam velozes
Como o vento sendo puxadas
Pelos alazões fieis a elas.
Boa parte dos soldados estavam
Tentando invadir a cadeia e por
Fim na rebelião,
Mas um outro grupo decidiu
Sair em perseguição as carruagens
que haviam escapado.
Uma das ciganas gritou a Carmem
que estavam sendo seguidas
e elas então aceleraram ainda mais
E neste passo foram atirando para fora
De suas carruagens
As crianças, todas enroladas em
Mantas grossas para que não
se machucassem ao bater contra
Os arbustos.
Carmem ordenou que quebrassem
As lambarinas e ateassem fogo
nas proprias carruagens,
Assim naquela noite escura
os soldados só prestariam atenção
Nelas e não nos meninos caidos
A beira da estrada.
Na cadeia os soldados conseguiram entrar,
Os ciganos correram para e subiram ao
Telhado, e de lá viram ao longe
Cinco pontos iluminados,
As carruagens de fogo
Indo rumo a um... a um precipício.
Eles ali sabiam que dali a pouco
Estariam mortos também,
Os soldados ja empurravam
a passagem para o telhado
E não iam demorar em subir.
Juan encheu os pulmões com ar,
Mas não só com ar,
Com amor e com orgulho da mulher
que havia sido sua companheira
Por tantos anos.
A plenos pulmões ele gritou:
"CAAAAAAAARMEEEEEEEM!"
E foi a última coisa que disse
Pois em seguida a lança de um
Soldado transpassou seu peito
E ele foi erremessado do alto
Do telhado.
Carmem ficou em pé na carruagem
Flamejante, tinha certeza
Que tinha ouvido seu amor chamar
Por seu nome,
Mas agora ela tinha de cumprir
Seu destino.
Ela se pediu perdão aos cavalos
Pelo que eles iriam passar ali a pouco.
As carruagens sairam da estrada
e entraram em um terreno descampado.
Os soldados que as perseguiam começaram
e se entre olhar sem entender
Pois naquele Caminho havia
Apenas uma precipício, uma queda
De mais de trinta metros.
Todas as ciganas ficaram pé
Sobre os bancos das carruagens
Quando avistaram o final de sua jornada.
Carmem abriu os braços
sentindo o vento em seu rosto.
E então as carruagens despencaram
uma a uma,
E por alguns segundo Carmem
sentiu a sensação de voar.
Os soldados pararam abruptamente
Totalmente chocados com o
Haviam presenciado.
Viram mulheres fortes
Que prefiraram a morte
Do que cair nas mãos daqueles demónios.
O prédio da cadeia ardia em chamas,
Os ciganos estavam todos mortos.
Mas no meio da baderna
Ninguém viu, ninguém reparou
Nas crianças que segurando umas
Nas mãos das outras
Saíram da beira da estrada
E entraram na mata.
E os meninos e meninas
Guiados por Lucero
Não sabiam mas
Ali junto deles estava Carmen.
Seu espírito se recusou a ir
Para o além, ela queria cuidar
de seu povo.
As crianças apos dias de viagem
chegaram a Bragança, em Portugal,
Onde se estabeleceram por muitos anos.
Mas após algumas decadas lá também
se tornou um lugar hostil
então Lucero, agora ja velho
Pagou por uma cabine
Em um navio para um lugar
Novo onde havia boatos de haver
Menos perseguições aos diferentes.
Carmem foi com eles neste navio.
E quando chegaram ao destino
Carmem pôs os pés no nosso Brasil.
Uma mensagem que ela trás a vocês
É a de que os Ciganos por conta de
Muito sofrimento muitas vezes
acabaram se camuflando como
Pessoas comuns do povo,
Se vestindo como a maioria e
Usando sobrenomes populares.
O que ela quer dizer é que muitos
De vocês que estão lendo isso hoje
Tem sangue cigano correndo nas veias
E não sabe.
Mas o sangue nunca se apaga
E ela e os demais espíritos ciganos
Sempre virão habitar entre
Os seus.
Optchá!
Conto das Entidades, Arte e texto dramatizado por Felipe Caprini
Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!