quarta-feira, 31 de maio de 2023

O AMOR DE OXUM E EXU

 O AMOR DE OXUM E EXU


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Oxum sempre foi mulher vaidosa, bela e elegante, ofuscava a todos com seu brilho
vistoso. Uma coisa, porém, fazia-lhe falta - queria muito saber sobre os mistérios de Ifá.
Tinha sede do conhecimento dos oráculos, precisava conhecer o passado, presente e
futuro, somente assim se sentiria realizada. Pensou bastante a respeito e resolveu
procurar Exu, usou toda sua doçura e encanto para que ele lhe ensinasse os segredos.
Exu sentiu-se atraído pela bela mulher, mas não era de entregar nada
gratuitamente e lhe propôs um trato. Se ela ficasse junto dele por sete anos, fazendo
todos os serviços de sua casa, entregaria os mistérios que ela tanto desejava. Oxum
aceitou e durante todo o tempo do trato, lavou, passou e cozinhou para Exu. No final do
período tratado, Exu cumpriu o que havia prometido e liberou-a. A moça, entretanto, havia
se apaixonado e, mesmo com os segredos em mãos, preferiu continuar morando com ele.
Assim viveram por muito tempo em perfeita harmonia. Um dia Oxum estava à beira
de um rio cantando com maravilhosa voz, enquanto penteava os cabelos. Xangô, que por
ali passava, escondeu-se para ver de onde vinha tão maravilhosa melodia. Ao deparar-se
com a beleza encantadora da bela mulher, enamorou-se perdidamente. Impetuoso, como
sempre, foi até ela e declarou-se. Ela, porém, explicando sua condição de casada e feliz,
recusou o amor que o homem dizia sentir. Tomado de fúria, não admitia ser contrariado,
agarrou a mulher e levou-a para seu reino onde a trancafiou no alto de uma torre de onde
somente sairia para unir-se a ele.
Dias e noites sem fim se passaram e Oxum, em sua masmorra, apenas chorava
em desespero. Enquanto isso, Exu vasculhava por todos os cantos do mundo a procura
da mulher que aprendera a amar e respeitar. Quando já estava para desistir, resolveu
descansar à sombra de uma árvore, quando ouviu um canto melancólico e reconheceu
imediatamente a voz que tanto amava. Rapidamente subiu até a torre e tomou
conhecimento de tudo que acontecera.
Tentou de todas as formas tirá-la dali, mas Xangô havia sido previdente, usara de
um artifício mágico que deixava a mulher presa dentro de um circulo e somente ele
conseguiria libertá-la. Sentindo-se derrotado, Exu foi embora jurando que voltaria. Andou
sorumbático pelos caminhos, a cabeça em turbilhão, quando se deparou com um velho
que perguntou o porquê daquela tristeza. Onde estava a alegria tão comentada de Exu?Ele não teve forças para responder, apontou o alto da torre que se via ao longe.
O velho era Orunmilá e não precisou de mais detalhes, apenas queria saber o
tamanho do amor que unia aqueles dois e a resposta do rapaz foi o suficiente. Tirou um
saquinho de sua vestimenta e entregou a ele, recomendando que aspergisse seu
conteúdo sobre Oxum. Cheio de alegria e esperança, Exu voltou correndo à prisão de sua
amada. Sem dizer nada, apenas jogou sobre ela todo o pó que Orunmilá lhe dera. No
mesmo instante Oxum transformou-se em uma linda pomba dourada e saiu voando direto
para seu lar onde mais tarde se reencontraram e viveram felizes por muitos anos.
Ora iê iê Oxum
Laroyê Exu

"NUNCA IDOLATRE NINGUÉM"

 "NUNCA IDOLATRE NINGUÉM" 


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O maior engano é o de olhar um outro como diferente, superior, acima de nós.
Nunca idolatre ninguém, admire o nível consciêncial do mensageiro, agradeça por ele partilhar sabedoria, e experiências.
Mas nunca idolatre ninguém.
Todos aqui estamos na jornada das nossas existências, e quando colocamos alguém no patamar de Mestre, estamos dizendo que somos menores, mas não somos, somos iguais, apenas diferentes nas escalas evolutivas.
Nunca idolatre ninguém, pois pode ser um desserviço para o irmão, ele pode passar a não enxergar a sí mesmo, e se perder em um novo personagem.
Nunca idolatre ninguém, todas às vezes que você olha o outro como um Mestre elevado, você tira seu poder de percepção de quem é o outro, enaltece com a sua ilusão criada de quem ele realmente é, e ajuda a fortalecer o véu do outro, não o permitindo enxergar a própria realidade.
Jamais coloque alguém em um pedestal criado pela sua mente, pois desta forma o mensageiro se torna mais importante do que a própria mensagem.
Mensageiros são instrumentos da espiritualidade, e aqui estão também em processo de evolução, vivenciando experiências necessárias.
Ser gratos pelo mensageiro que se dispõe, mas compreender que o importante é a mensagem trazida.
Todas as vezes que você passa a idolatrar alguém, você tira o seu próprio poder de se encontrar com teu Mestre Interior, você se apega ao outro, esperando que ele te traga às respostas prontas, ao invés de busca-las dentro de sí.
Todos somos iguais, viemos da mesma Fonte Criacional, somos todos filhos de Deus Pai Mãe, apenas com experiências diferentes, cada um no seu próprio trilhar.
A idolatria já causou, e causa grandes enganos na humanidade, assim nascem às Seitas.
Nunca idolatre ninguém, a idolatria é mais um dos enganos da Matrix que precisa ser desconstruido.
A idolatria te priva de enxergar o outro, e a sí, com realidade, alimentando a separação.
Você também é um Mestre, todos somos, o caminho é o de o encontrar, é o de alcançar teu EU SUPERIOR, e assim passar a se guiar.
Nunca idolatre ninguém, nem a sí, só na humildade é que nos tornamos grandes.
Mas nunca se enxergue como menor, você é o que neste momento está pronto para ser, e esta tudo bem, você está aqui para aprender, crescer, expandir e evoluir, se lembrar.
A compreensão do teu processo já é grandiosa, te mostra que você não é um Ser paralisado, estagnado, se honre, honre cada escalar da tua jornada.
Siga atento, observe com teu próprio Meste, cada mensagem.
É assim que se segue, na auto observação.
Seja grato ao mensageiro, mas não idolatre ninguém!
Em Amor, Elai Kumari"s Oorun

Concepção de Inferno em tradições do mundo !

 Concepção de Inferno em tradições do mundo !


Pode ser uma imagem de texto que diz ""Qualquer árvore que queira tocar os céus precisa ter raízes tão profundas a ponto de tocar os infernos" Carl Gustav Jung"

Você pode passar pelo céu e inferno simbolicamente de muitas formas como extremos mas tem muito mais sobre isso, e quando falamos de jogar agua para apagar o fogo do inferno e incendiar o céu, nos referirmos ao fim sa dualidade, mas o inferno nao foi inventado por Dante, ele apenas o descreveu com base em um vulcão mas os espiritualistas em geral creem em zonas subcrostais além das superiores onde almas por afinidades sao arrastadas apos o desencarne e o primeiro ponto é a morte do corpo onde será absorvido pela terra e depoie disso prossegue a jornada dos ditos espírito e essa ideia existe em culturas diversas e todas religiões organizadas emergiram de cultos tribais mas se tem duvidas ja outros tem certeza q é verdade e tb tem o renascimento iniciatico é um tipo de mito pessoal onde a pessoa enfrenta seus demonios e volta aperfeiçoado então tem muitos dados carregados de simbolismo e falta mesmo é conhecimento de fato....
A "pesagem das almas" para os Antigos Egípcios não era mais do que a pesagem do coração do defunto. O coração era o mais importante órgão humano, para aquele povo, por ser a fonte das emoções e da memória, logo o indicador, no Além, da vida do defunto e, logo da sua pureza ou perfeição para a sua osirificação, ou acesso à vida eterna, entre os deuses. A "pesagem das almas", ou psicostasia, era mais um julgamento, uma etapa importante na passagem do defunto para os Campos de Iaru, o Paraíso dos Antigos Egípcios. A pesagem das almas era assim uma forma de justificação moral do defunto, perante os deuses, o passo que conduzia, ou não, à osirificação do morto, ou seja, tornar-se um "osíris", um ser com vida eterna.
Há, indícios de sofrimento pós-morte e certamente de perigo, no capítulo 125 do Livro dos Mortos, que inclui duas recensões da declaração de inocência. A mais curta, listando quarenta e duas declarações, começa cada uma com uma invocação de algum ser alegórico. Os nomes desses “seres demoníacos”, como a S. G. F. Brandon os chama, sugerem danos físicos, como se fossem perjúrio. Tomados coletivamente, sugerem tormento post-mortem, embora não eterno: Abraçador do Fogo, Engolidor das Sombras, Perigoso das Faces, Olhos de sílex, Queimador, Quebrador de Ossos, Comandante de Fogo, Morador no Poço, Branco de Dentes, Comedor de Sangue, Comedor de Entranhas, Serpente de Djudju, Serpente de Wamemti, Destruidor, Agente da Maldade, Aquele que se Esconde de Si, O Escuro, Senhor dos Chifres, serpente com cabeça alta e serpente Inaf. Embora alguns não sejam tão ameaçadores (Largura do Passo, Senhor da Justiça (?), Andarilho, Superior dos Nobres, Criança, Portador de Sua Paz, Senhor das Faces, Criador de Planos, Agente com o Coração, Comandante do Povo), quem não gostaria de evitar as garras desses monstros?
Do hinduísmo, Naaraca (em sânscrito: नरक literalmente de homem) é a palavra sânscrita para o reino infernal nas tradições dhármicas. De acordo com algumas escolas do hinduísmo, siquismo, jainismo e budismo, Naraca é um lugar de tormento. A palavra 'Neraca' (modificação de Naraca) em indonésio e malaio também foi usada para descrever o conceito islâmico de inferno.
Alternativamente, os "seres infernais" que dizem residir neste submundo são muitas vezes referidos como "Naracas". Esses seres também são chamados em hindi de Narakis (em sânscrito: नारकीय , Nārakī ), Narakarnavas (em sânscrito: नरकार्णव , Narakārṇava) e Narakavasis ( em sânscrito: नरकवासी Narakavāsī )
No budismo, Naraca se refere aos mundos de maior sofrimento. Os textos budistas descrevem uma vasta gama de torturas e reinos de tormento em Naraca; Um exemplo é o Devadūta-sutta do Cânone Pāli. As descrições variam de texto para texto e nem sempre são consistentes entre si. Embora o termo seja frequentemente traduzido como "inferno", ao contrário dos infernos abraâmicos, o Naraca não é eterno, embora quando se dá uma escala de tempo, é sugerido que seja extraordinariamente longo. Nesse sentido, é semelhante ao purgatório, mas, diferentemente do inferno e do purgatório de Abraão, não há força divina envolvida na determinação da entrada e da saída de um ser de e para o reino e nenhuma alma está envolvida. Antes, o ser é trazido para cá - como é o caso com todos os outros reinos da cosmologia budista - pela lei natural: a lei do karma, e eles permanecem até que o karma negativo que os trouxe até lá tenha sido esgotado.
Na religião africana yorubá ,Farrow diz: A convicção na punição após a morte é dito ser tradicional, e um adivinho de Ife declarou que esses que adoram as divindades Iorubá (orishas) acreditam nisto mais que os cristãos, e então não faz mal. Outros informantes mostraram que eles sabem que lá há recompensas e punições no pós mundo [em relação ao] comportamento desses que estão morrendo. Uma pessoa cruel clama, que alguém o está ferindo, ou pondo uma corda ao redor do seu pescoço, mas uma pessoa amável pode dizer que alguém está trazendo comida ou bebida para ele. Os conceitos Iorubá de dois paraísos [céus] diferem do conceito cristão, de céu e inferno, mas as convicções de alguns indivíduos foram influenciadas pelas missões ou pelo Dicionário. Enquanto Crowther originalmente traduziu orun-apadi como " (Lit. o mundo invisível de potsherds), lugar de [punição,] castigo, inferno." o Dicionário traduz isto simplesmente como "inferno". Também há uma possibilidade que a distinção entre céu (orun), o topo do céu (oke orun), e a face do céu (oju orun) foi introduzido numa tentativa de se encontrar um termo satisfatório equivalente para o paraíso [céu]. - Concepção Iorubá da Alma - William Bascom
"Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? - Jesus.
"Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós." Mateus 23
A saida para a luz : "Tat tvam asi” - Isto és tu !
As pessoas precisam de entretenimento para se esconder de si mesmo, e também de algo ou alguém para culpar pelos próprios erros, mas quando transcende a dualidade pode apenas sentar e ver a flor desabrochar !
O Buddha disse: "Aquele que tem a experiência de unidade da existência vê seu próprio ser em todos os seres, e todos seres em seu próprio ser, com isso ele vê tudo com olhos imparciais.", com essa percepção o que fazemos para os outros é como se feito para si mesmo.
“O Paraíso e o Inferno estão bloqueando meu caminho até ( Deus ). Se eu devo adorá-Lo por temor do Inferno, que eu queime no Inferno. Se eu devo adorá-Lo pelas recompensas prometidas no Paraíso, que eu seja expulsa dele para sempre. Mas, se já não existirem nem Inferno nem Paraíso, então que eu possa adorá-Lo por quem Ele é, e que Ele não esconda mais de mim a sua face, e que já não haja nada mais além de Ishq-e Haqeeqi [amor verdadeiro].” Rabia al-Adawiyya
"Não há despertar de consciência sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão..Carl Jung"
"Conhecer a sua própria escuridão é o melhor método para lidar coma escuridão dos outros." - C.G. Jung
Se fazer de pequeno não ajuda o mundo, a não ser para perpetuar um cenário de injustiça e desigualdade.
"...a medida que deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo...".
Nelson Mandela
“Você nasceu com potencial. Você nasceu com bondade e confiança. Você nasceu com ideais e sonhos. Você nasceu com grandeza. Você nasceu com asas. Você não está destinado a rastejar, então não rasteje. Você tem asas. Aprenda a usá-las e voe. ” Rumi
“ Jesus disse: sois deuses, sois todos filhos do Altíssimo ! .” (Jo 10:34)

NA NOSSA FAZENDA O TERROR CHEGA COM A NOITE!

 NA NOSSA FAZENDA O TERROR CHEGA COM A NOITE!


Pode ser uma imagem de texto que diz "NA NOSSA FAZENDA Ο TERROR CHEGA COM A NOITE!"

NA NOSSA FAZENDA O TERROR CHEGA COM A NOITE!
Francisco Coelho
(Enigmas e Contos/YouTube)

Em 1990 os meus pais compraram uma fazenda lá no interior do Nordeste.
Dois anos depois eu nasci e desde que eu comecei a entender as coisas a nossa fazenda sempre foi assim, tão logo o sol entrava todas as janelas e portas eram fechadas e trancadas.
Ninguém, por nenhuma razão era permitido sair, até os cachorros eram mantidos no interior da casa.
Uma ou duas vezes por semana quando tudo escurecia o tormento começava, um grito aterrorizante de mulher bem distante.
A mamãe corria para o quarto pegava três velas, e depois de colocá-las num prato e acender cada uma delas ajoelhava e começava a rezar bem baixinho.
O papai pegava a espingarda pendurada na parede da sala, apagava a lamparina que ficava sobre a mesa, puxava uma cadeira para perto da porta principal, e ali ficava esperando em silêncio com o dedo no gatilho.
Eu ficava sempre ao lado da mamãe ajoelhado olhando para as velas repetindo um “Pai Nosso” e morrendo de medo.
Poucos minutos depois a mulher gritava pela segunda vez mais próximo do terreiro.
Os dois cachorros da casa colocavam os rabos entre as pernas e corriam grunhindo pra debaixo da mesa da cozinha, aquele era o sinal que a mulher tava chegando.
Outros minutos passavam e a mulher gritava outra vez mais forte e mais apavorante, agora dentro do terreiro da casa, o medo e o pavor que sentíamos era algo indescritível.
Enquanto a mamãe rezava com mais fervor eu tremia de tal maneira que não conseguia mais rezar, só dizia “Pai Nosso, Pai Nosso”.
Depois daquele grito nós já sabíamos o que vinha em seguida, os passos, as passadas mais horríveis que já ouvi na minha vida.
Um arrastão bem lento seguido de uma pisada bem firme, cada vez mais próximas da porta.
Depois de umas quatro ou cinco passadas a mulher chegava, batia bem suave na porta e ali ficava chorando e pedindo que a deixasse entrar.
Ninguém respondia, ninguém dizia nada.
Depois de um longo tempo batendo, chorando e implorando no pé da porta a mulher saia, e quando já parecia sair do terreiro ela começava gritar os últimos e mais assustadores gritos da noite.
Poucos minutos depois o silêncio voltava, as velas eram apagadas, a cadeira de volta ao seu lugar, e sem dizer uma palavra a gente deitava tentando dormir.
Assim eram as noites de terror.
Lembro que várias vezes perguntei ao papai se alguma vez havia aberto a porta
pra ver quem era aquela mulher, a resposta era sempre a mesma
“um hum, não cometa a mesma burrice filho”
A mamãe respondia apenas com a mesma frase,
“sei nada não, pergunta pro teu pai”
E o tempo passou, os anos passaram, a mulher já não aparecia com a mesma frequência, no entanto quando aparecia o terror era ainda maior.
Meus pais tentaram de tudo, convidaram Padres, Pastores, curandeiros e nenhum deles resolveu nada, no dia seguinte deixavam a fazenda aterrorizados.
E o tempo foi passando.
Eu cresci, fui enviado pra estudar na cidade e depois de alguns anos resolvi largar tudo e voltar pra fazenda pra perto dos meus velhos.
A mulher continuava aparecendo de vez em quando.
Em 2021 recebemos a visita de um amigo meu da cidade que dizia estudado em “casos paranormais”, e interessado em investigar a situação da “mulher”.
Dias passaram e numa certa noite a mulher apareceu, mesmos gritos, passos, choros e terror de sempre.
O meu amigo passou a noite sentado no canto da sala impressionado, abismado e aterrorizado com tudo que ouvia e via em seus aparelhos.
No dia seguinte ele teve a ideia mais absurda de todas, esperar do lado de fora da casa, não exatamente na porta, mas escondido no mato para descobrir quem era aquela mulher.
Apesar dos meus pais acharem a ideia simplesmente louca, eu e meu amigo colocamos câmeras frente a casa, na entrada do terreiro e no mato de donde a mulher parecia chegar.
E por volta das cinco da tarde saímos e escondemos atrás de umas moitas um pouco distante da casa.
A primeira noite chegou e nada, a segunda e terceira igual.
Na quarta noite enquanto o meu amigo olhava através de sua câmera noturna ouvimos o primeiro grito, meu coração começou a palpitar como nunca.
“veja isso” murmurou o meu amigo apontando para uma pequena bola de nuvem ou fumaça branca na tela da câmera.
“o que é isso” perguntou o meu amigo.
Como eu ia saber se ele, o entendido no assunto não sabia.
E pouco a pouco a bola branca começou a mover em nossa direção, eu tive vontade de desistir daquela investigação e correr pra minha casa, mas infelizmente não podia deixar o meu amigo que continuava espantado e admirando a bola que aproximava cada vez mais.
De repente a bola branca parou, meu amigo quase não podia conter a emoção. Poucos segundos depois ouvimos o grito mais horripilante, mais diabólico e bizarro que podíamos imaginar.
O meu amigo arregalou os olhos, deixou a câmera cair e saiu disparado para o meio do mato gritando por Deus e por mamãe.
Eu, felizmente não lembro de nada depois da corrida do meu amigo, só sei que acordei quando o dia clareava todo molhado, sujo e fedendo.
Depois de um bom banho sai à procura do meu amigo que encontrei escondido atrás de uma moita quase um quilômetro do local do grito.
Sua câmera que havia deixado para trás foi encontrada toda espatifado e nada foi gravado pelas outras.
Naquela mesma manhã o meu amigo pegou suas coisas e saiu.
Depois daquele dia e até hoje uma vez por outra ela aparece, grita, chora, aterroriza e vai embora.
Te cuida e muito obrigado! 

À Meia-Noite Desenterre meu Cadáver

À Meia-Noite Desenterre meu Cadáver


Pode ser uma imagem de texto que diz "À Meia-Noite Noite Desenterre meu Cadáver Maycon Guedes"

"Na madrugada ele acordou
Muitíssimo assustado
Ao som das gargalhadas infernais
Enquanto o seu nome era bradado"

A fogueira ainda queimava sutilmente; próximo a ela havia uma estaca cravada no chão, mantendo fincada na sua extremidade a cabeça de alguém. Após esfregar os olhos abruptamente, ainda deitado no chão rachado da caatinga, o sujeito, que acordara ao som das gargalhadas mortais, não acreditava no que seus olhos estavam vendo; era a cabeça, decapitada e fixada na estaca, ainda viva, sorrindo e clamando o nome de seu algoz, exibindo seus dentes salivantes que brilhavam úmidos ao clarão das chamas; mas antes de prosseguir, contarei desde o início como tudo aconteceu, e apresentarei três sujeitos, três homens em conflito, especialmente esse desafortunado que carregava consigo uma cabeça, na vasta madrugada, prestes a enfrentar terríveis assombros durante sua caminhada noturna.

*Ato I: Minha Cabeça Será Sua Herança

"Traga-me a cabeça de Sérgio Santana!" — A ordem foi dada ao cangaceiro Lourinho, um dos mais temidos da região, e também, o mais ganancioso, disposto a praticar qualquer atrocidade em troca de riquezas. Lourinho, o cangaceiro destemido, rapaz bruto que já enfrentou três homens armados usando apenas um caule de cana-de-açúcar, era também um covarde, tendo matado crianças, senhoras e gestantes. Agora, Lourinho recebe ordens de um fazendeiro e, por um punhado de réis, seguirá viagem em busca do ex-cangaceiro chamado Sérgio Santana, que há alguns anos deixou o banditismo ao se apaixonar por uma moça bonita. O fazendeiro afirma que o ex-cangaceiro, Sérgio Santana, ainda possui uma dívida pendente, e após tantos anos a dívida só seria paga tendo em mãos sua cabeça como troféu. Lourinho, que tinha uma rixa com Sérgio Santana, não hesitou em aceitar o serviço de trazer a cabeça do ex-cangaceiro — “Vou, degolo, e volto!” — foram as únicas palavras de Lourinho ao fazendeiro enquanto montava em seu cavalo, descobrindo-se da sombra do telhado da fazenda, indo ao encontro do mormaço que aquecia seu chapéu de couro com formato de meia-lua. Em algumas horas, quando a Lua nefasta macular o céu, Lourinho chegará à cidade onde mora o ex-cangaceiro e será surpreendido por uma tenebrosa surpresa.

"Toc-Toc… Batem à porta do meu caixão
Como poderia eu responder estando imerso nessa escuridão?
Quem vem lá furioso, com sede de decapitação?
Retire logo essa tampa, carrasco, e mostre-me o seu facão!"

A meia-noite se aproximava, o céu escuro como o breu cobria a cidadezinha, feito um lençol lúgubre; enquanto isso, os galopes do cavalo de Lourinho minimizam-se, parando em frente ao bar, o preferido do cangaceiro. Bastou apenas um gole de cachaça e logo Lourinho montava em seu cavalo novamente, cavalgando ligeiro, rumo ao cemitério, após receber a notícia de que Sérgio Santana “bateu as botas” e era sepultado naquele exato momento. Indiferente com o fato de um enterro à noite, o cangaceiro segue veloz pela estradinha de terra, de encontro marcado com o defunto e seu novo lar. Lourinho, com dificuldade, forçava seu cavalo a subir o morro íngreme que dava acesso aos fundos do cemitério; o bicho relinchava aos escorregões, quase desistindo da subida, só que a quantidade de açoites era tão absurda que o cavalo, não suportando mais o flagelo, ferozmente esforçou-se até chegar ao topo. Lourinho desce do cavalo e caminha pelo jardim de cruzes, esconde-se atrás dos galhos secos de uma árvore, sob o luar efêmero, e observa algumas pessoas deixando o local onde Sérgio Santana permanecia em sono perpétuo. No exato momento que a última pessoa deixou o local, Lourinho foi de encontro à cova, verificou o nome de Sérgio Santana riscado na madeira e, esfregando as mãos uma na outra, sorrindo de tanta felicidade, repetia para si como era dotado de sorte, já que não precisaria travar duelo com Sérgio Santana - que era um exímio atirador - bastava, apenas, cavar e arrancar sua cabeça, levar para o fazendeiro e receber sua recompensa.

A cova era rasa, e com as próprias mãos, Lourinho espalhava a terra abrindo passagem até encontrar o caixote fúnebre. Coberto de ansiedade, freneticamente ele puxava a tampa do caixão, mantendo um de seus pés na cova, que não era nada funda, e o outro pisando na parte mais elevada do amontoado de terra. Após abrir o caixão, ele sai da cova dando um passo para trás, arremessa a tampa para o lado e permanece em pé, em frente ao buraco onde o defunto estava enterrado — Bang! Bang! — Lourinho é atingido por dois balaços; um tiro no pescoço e outro direto no seu coração; o sangue esguicha da jugular enquanto o cangaceiro cai em cima da cova vizinha, colorindo a terra funesta de um vermelho intenso. Do caixão um ser se levanta, sem nenhuma pressa, dá alguns passos até o corpo de Lourinho e verifica se o recente defunto baleado é, de fato, um defunto mesmo. O ser que brotou da cova guarda seu revólver, em seguida, retira de dentro do caixão onde estava enterrado um facão muito afiado, perfeito para separar a cabeça de Lourinho do restante do corpo. Terminado o trabalho de carniceiro, despejando a cabeça de Lourinho num saco, Sérgio Santana, o ex-cangaceiro, deixa o cemitério carregando a cabeça do homem que tinha planos de arrancar a sua também.

*Ato II: Era uma Vez na Caatinga

“Traga-me a cabeça do Lourinho!” — A ordem foi dada a Sérgio Santana, um ex-cangaceiro que já foi o maior de todos, mas agora, vive sossegado na lavoura ao lado de sua mulher. O fazendeiro - o trapaceiro! - ofereceu fortuna e proteção em troca da cabeça do Lourinho. Sérgio Santana relutou de início, mas após ouvir o plano do fazendeiro de como ele ceifaria a vida do cangaceiro, que já havia tentado tirar a sua, meses atrás numa briga de bar, o acordo foi fechado e ambos se preparavam para o grande truque. O fazendeiro detalhou seu plano que era o seguinte: Sérgio Santana simularia sua própria morte, um falso funeral e um enterro de mentira, fazendo com que todos da cidade acreditassem no seu finamento; capangas do fazendeiro seriam os responsáveis por enterrar seu caixão, logo após receberem notícias do bar de que Lourinho já havia chegado na cidade; ao sinal de que Lourinho estaria escondido no cemitério, pronto para exumar seu corpo, os capangas deixariam o local para Sérgio Santana concluir o plano, mantendo seu revólver no jeito, pronto para atirar assim que a tampa de seu caixão fosse aberta.

Começava então os preparativos. Sérgio Santana ajeitou-se no caixão, armado com um revólver e um facão afiadíssimo, tão afiado que poderia levá-lo a óbito em caso de movimentos bruscos dentro da apertada caixa de madeira, que não casava nada com suas medidas — "Tiraram nem as medidas do meu caixão!" — resmungava o ex-cangaceiro que temia agora se tornar um ex-vivo. Após fecharem a tampa do caixão, que embrulhava o desafortunado Sérgio Santana como se fosse presente para os vermes, a carroça seguiu seu rumo para o cemitério, carregando o pseudo cadáver na traseira. A rua de terra esburacada sambava as rodas da carroça, deixando Sérgio Santana em estado de tensão, no escuro, com o facão balançando a cada tranco, indo em direção ao seu pescoço; se porventura a carroça balançasse de forma bruta ao passar por um buraco maior, o estrago seria irreversível, transformando Sérgio Santana num autêntico defunto.

Tudo ocorreu bem durante a subida pela catastrófica estradinha; no cemitério, assentaram o caixão na cova e aguardaram o sinal. Minutos depois, dentro da sepultura, Sérgio Santana ouvia o som da terra batendo em cima do seu caixão. Com firmeza, ele segurava seu revólver dentro do acanhado ataúde de madeira, pronto para disparar assim que retirassem a tampa do seu leito de morte. Chega então o momento em que Lourinho abre a tampa do caixão, e Sérgio Santana, ainda eficiente no gatilho, dispara dois tiros ao observar a silhueta obscura parada em pé, em frente a sua cova, usando um chapéu de meia-lua. Logo após o balaço, Sérgio Santana levanta da tumba, agarra seu facão, se aproxima do finado Lourinho e desliza a lâmina afiada pelo seu pescoço, onde o sangue em profusão ainda esguichava do buraco que a bala fez. Agora, com a cabeça de Lourinho no saco, bastava então seguir caminho pelas árvores secas e cactos espinhosos da noturna caatinga, local onde Sérgio Santana presenciou alguns dos maiores assombros daquela região.

"Que diabruras são essas,
Que hesitam os passos meus?
O solo fúnebre da caatinga percorro
Clamando o nome de Deus
Empunho em minhas mãos,
O meu revólver e o meu facão
De onde vens tais demônios,
Assombrar o meu sertão?"

Já passava da meia-noite e, Sérgio Santana, não tendo encontrado um cavalo nas redondezas do cemitério, fraquejava entre os arbustos sinistros, a pé, já que o cavalo de Lourinho fugiu de susto após os disparos do revólver. Aos passos cansados, ele caminhava rumo à fazenda, passando antes pela caatinga. O brilho da Lua naquele momento resplandecia mais, tornando a viagem menos dificultosa para o ex-cangaceiro que, de longe, enxergava os cactos e as árvores de pouca folhagem como vultos medonhos; antes fosse só isso, apresentando-se para os seus olhos, mas não; alguns passos à frente uma silhueta tornava-se nítida conforme ele se aproximava; era um homem sentado, muito magro, despido, segurando em seus braços uma criança, raquítica também, manifestando a sua fome. Sérgio Santana explorou os bolsos em busca de alimento, mas nada encontrou, e sem dizer nada ao faminto, sua jornada continuou. Precavido, o ex-cangaceiro virou suas sandálias ao contrário, tencionando despistar os ajudantes de Lourinho, caso fosse seguido, fazendo com que eles perseguissem suas pegadas na direção oposta.

Minutos depois, quase tombando de sono, Sérgio Santana acendeu uma fogueira devido a fria corrente de ar que se alastrou pelo local, deitou-se no chão para descansar as pernas e adormeceu, instantaneamente. Não demora muito e ele acorda ao som de algo se arrastando pelo chão. Guiando o olhar em direção ao barulho, o ex-cangaceiro permaneceu perplexo, tentando entender como poderia a cabeça de Lourinho ter rolado alguns centímetros para fora do saco. Sérgio Santana, mesmo cético, arranjou uma estaca e cravou-a no chão, metendo em sua extremidade a cabeça de Lourinho, impedindo-a de tentar fugir novamente, pensando nas histórias dos antigos amigos do cangaço que relataram locais assombrados pela caatinga. Destemido, ele se prepara para mais um cochilo antes de prosseguir viagem, esticando-se no solo poeirento, mantendo o olhar sonolento fixado na cabeça de Lourinho, fincada na estaca, onde queimava ao lado a pequena fogueira fumacenta. Lentamente, a visão do ex-cangaceiro ficava embaçada, e, enquanto o sono vinha vindo, as trevas também iam surgindo.

“Sérgio Santana! Sé.. Sérgio… Satanás! Ah! Ah! Ah!” — A voz maléfica despertou o ex-cangaceiro, berrando seu nome sistematicamente. Bem devagar, Sérgio Santana se levanta e caminha em direção a cabeça de Lourinho, que gritava seu nome com entusiasmo, fazendo trocadilhos com seu sobrenome chamando-o de Sérgio Satanás. A cabeça decapitada deixava transparecer uma fisionomia demoníaca, sorrindo em tom de deboche, arregalando os olhos e deslizando sua língua para fora da boca, que aparentava ser muito maior do que o normal, salivando enquanto grunhia assustadoramente. Sérgio Santana suplicava à cabeça que ela se calasse, mas ela continuava, aos berros — “Sérgio Satanás! Sérgio Satanás! Viemos te buscar! Viemos te buscar!” — Enlouquecido e abalado, com as pernas já ficando bambas, o sujeito arrancou a cabeça da estaca pelos cabelos e, furioso, botou a desgraçada dentro do saco novamente.

A passos largos, Sérgio Santana ansiava desaparecer daquela caatinga o mais depressa possível, mas, a madrugada sombria, que gozava a atmosfera do inferno, reservava mais obstáculos ao pobre infeliz. Após andar um bocado, agarrando com firmeza o saco com a cabeça de Lourinho, de onde vinham os resmungos e gargalhadas em tons abafados, Sérgio Santana para e contempla mais um vulto, idêntico ao que ele tinha visto anteriormente; era o mesmo homem, sentado, entretanto agora, de costas para o ex-cangaceiro, aparentemente segurando nos braços o seu filho, ou, o que sobrou dele; ao se aproximar, Sérgio Santana é tomado por um arrepio quando nota, nos braços do homem, apenas alguns pedaços da criança que ele mesmo devorou para saciar a sua fome - o pai que devora o próprio filho, já retratado antigamente em Pinturas Negras, concretizava-se agora diante de Sérgio Santana. A ânsia de vômito fez Sérgio Santana cambalear enquanto corria, tatuando feridas em sua carne enquanto esbarrava nos cactos espinhosos, que pareciam ter vida própria, vindo ao encontro do seu corpo misteriosamente.

Não bastasse tudo isso, uma neblina começava a tomar forma, transformando o escuro da noite num clarão funéreo. Imóvel e com dificuldade de enxergar a bruma que cobria seus olhos, Sérgio Santana desnorteou, não sabendo para qual lado seguir, até que, a voz do homem nu, rouca e melancolicamente detestável, proferia o quão faminto ele estava; pouco a pouco a voz se aproximava, e o som de seu corpo esquelético, arrastando-se pela poeira, anunciava que ele poderia surgir de qualquer lugar naquele nevoeiro. Sérgio Santana movimentou-se para todas as direções possíveis, apontando seu revólver com o dedo trêmulo, pronto para disparar. De repente sucede-se o silêncio, e o ex-cangaceiro reza pela primeira vez em toda sua vida. Um vapor quente começa a bolinar a nuca de Sérgio Santana, subindo até seu ouvido esquerdo, ficando cada vez mais aquecido, e então, uma voz execrável murmura martelando bem no seu tímpano — “Tenho fome!” — Feito louco e arrepiado, o ex-cangaceiro dotado de perseverança dá no pé, correndo para qualquer direção. Alivia-se quando encontra um cavalo, aparentemente também desnorteado pelo glacial nevoeiro; Sérgio Santana apalpa o bicho e se prepara para montar, desistindo logo em seguida ao perceber que o animal não tinha cabeça; era um cavalo decapitado, que galopava normalmente, emitindo sons de relincho que vinham do rombo abismal em seu pescoço. Infausto Sérgio Santana, à beira da loucura, caminha de costas se distanciando do cavalo sem cabeça até escorar-se num cacto, possibilitado de enxergar apenas seus pés em meio ao clarão nebulento, pés que agora eram agarrados por mãos pútridas que brotavam do chão, forçando o ex-cangaceiro a mergulhar, pelas terras da caatinga, direto ao inferno.

*Ato III - Final: Eu e o Diabo na Terra do Luar

"Chamaste-me? Eu vim!
Apazigue o bater do coração
Sob o luar aqui estou,
Mas careço de tua devoção
Achas quente o calor da caatinga?
O que dizer do inferno, então?"

Na penumbra, o único som possível era os passos que trituravam os pedregulhos da estrada de terra. A noite era tão quente que era possível acreditar que o Sol fantasiou-se de Lua, aquecendo a terra durante o luar do sertão. O sujeito que caminhava tarde da noite, na estrada de mau agouro, vez ou outra olhava de soslaio, incrédulo com a obscura fumaça que o seguia. Os arbustos que acompanhavam a estradinha movimentavam-se, passando a impressão de que algum animal, ou coisa pior, fosse saltar de lá; e o vento, que soprava nas costas do homem, trazia um aroma amargo que mais tarde poluiria a noite com cheiro de enxofre. Uma voz trovejante, vindo de algum canto oculto, pede para o caminhante noturno parar, e ele para, temeroso, e ao se virar, se depara com a fumaça escura que o seguia, no meio da estrada carecida de iluminação; a fumaça dançante movia-se freneticamente, logo transformando-se num homem vestido de preto, aparentemente sem face.

Sem cerimônia, tal homem bizarro pergunta ao caminhante — "Se eu te dissesse que você tem apenas mais um dia de vida; o que você faria?" — Com a voz trêmula, o homem amedrontado responde que faria dezenas de coisas, detalhando cada uma delas, que aproveitaria ao máximo suas últimas vinte e quatro horas; não contente com a resposta, o misterioso homem que surgiu da fumaça pergunta, mais uma vez — “E se eu te dissesse que você viveria até os seus oitenta e nove anos; o que você faria?” — O homem, já menos assustado, pensa, pensa mais um pouco, e responde que não saberia ao certo o que ele faria, e termina com um simples “Sei lá, muita coisa!”. O vulto negro e opaco aproxima-se mais um pouco e começa a esbravejar — “È exatamente isso que eu acho engraçado em vocês; sabendo do fim de sua existência, pensam logo em tudo que gostariam de fazer, como se pudessem recuperar o tempo perdido; mas, sabendo que poderiam viver ainda por muitas décadas, com tempo suficiente para fazer de tudo, estagnam-se, e não fazem, absolutamente, nada!” — Ao ouvir as palavras que ecoavam como trovão, o homem reflete e pondera que foi uma péssima ideia se envolver com forças ocultas, tendo agendado um encontro com o Diabo naquela estrada.

A ambição, em sincronia com a infelicidade, o fez recorrer a esses meios mórbidos. O Diabo, astuto, não deu outra opção ao homem que, temendo que sua vida infeliz poderia acabar em breve, fechou acordo com o coisa ruim, que prometeu riqueza, poder e respeito, mas deixou uma coisa bem clara antes de desaparecer — “Desfrute bem de tudo que lhe ofereço, mas lembre-se que, um dia, talvez daqui a alguns anos, ou, talvez no próximo século que se aproxima, eu voltarei para cobrar essa dívida; esteja preparado, ou ofereça-me muito mais do que foi oferecido aqui nesta noite!”

Em julho daquele mesmo ano, a primeira sessão de cinema era exibida, no Rio de Janeiro; em novembro, iniciou-se a Guerra de Canudos; já os terríveis acontecimentos ocorridos na caatinga, durante esse mesmo período, permaneceram ocultos do resto da população. Na caatinga, onde jazia enterrado Sérgio Santana, até o pescoço, desfalecido ao lado do saco que armazenava a cabeça de Lourinho, o fazendeiro se aproxima após descer do cavalo, agarra o seu facão e vai ao encontro da cabeça de Sérgio Santana, exposta sobre o solo, com o resto do corpo enterrado. Dois golpes da lâmina afiada foram suficientes para desunir a cabeça do ex-cangaceiro do resto de seu corpo, que permaneceu sepultado no fundo daquele território assombrado e poeirento. Dentro do saco, que agora balançava durante os galopes, a cabeça de Lourinho e a de Sérgio Santana trombavam-se uma na outra, enquanto o fazendeiro dava as ordens para o cavalo ir mais depressa, deixando para trás, durante a aurora, um rastro de poeira enquanto seguia seu rumo para a velha estrada sinistra, onde uma obscura fumaça negra se formava, aguardando a sua chegada.

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