Folhas frescas foram jogadas com delicadeza sobre mim - para receber os caboclos com alegria.
Jurema girou e bradou com segurança, me fazendo relembrar de quantos caboclos vi renascer.
Folhas frescas foram jogadas com delicadeza sobre mim - para receber os caboclos com alegria.
Jurema girou e bradou com segurança, me fazendo relembrar de quantos caboclos vi renascer.
Não sei ao certo o rosto de quem as jogou, mas acredito que era uma menina de oxum, talvez pelo pisar macio e a saia rendada com cheiro de perfume doce.
Aprendi a reconhecer as pessoas pelo pisar.
Na humanidade há quem lê mãos, há quem lê cartas, eu leio pés e, sendo assim, conheço todas as plantas dos pés, e as vezes a ponta do salto fino da vaidade ao me pisar.
Eu conheço também cabeças, que se prostam diante de mim em sinal de reverencia ao sagrado, mas confesso que a parte do corpo humano que mais gosto são os joelhos!
Joelhos muitas vezes dizem mais do que que a boca com reza decorada.
Joelhos no chão é suplica diante da dor, agradecimento diante da graça e devoção diante da fé.
É o reconhecer que vocês humanos são partículas de um criador, aprendendo todo dia à sobreviver!
Joelhos no chão é pedido de perdão.
Joelhos no chão e coração aberto é a melhor oferenda - se assim não fosse, quem não tem dinheiro não teria a oportunidade de ser abençoado pelos deuses.
Você renasce e eu estou ali com você, quando seu corpo me aquece junto à esteira. Recebo suas oferendas, seus ebós e sua cabeça que em mim repousa com os pensamentos que seguem até o òrún.
Eu perdi as contas de quantos santos vi nascer e de quantas pessoas já foram embora daqui sem olhar para trás.
Já vi criança engatinhar, orixá dançar e absorvi muitas lágrimas da babá.
Vocês me tocam com a ponta dos dedos, ao sair e ao chegar - como se pedissem licença para em mim pousar.
Guardo segredos - eu estou aqui antes de você e estarei depois - sou ancestral e descendente e sobre mim descansa o teu corpo, feito ventre materno, para que morras para uma vida e renasça para o santo.
Sou testemunha de sua nova oportunidade.
Posso ser de areia, cimento ou piso frio.
Posso ser de Umbanda, Omolokô e Candomblé.
Não importa onde estejas - irás me reverenciar .
Sou o chão do seu terreiro.
Sou solo sagrado do orixá.
Me respeite antes de em mim pisar.
Com amor,
Texto de Mãe Emanu