segunda-feira, 20 de abril de 2020

OS FALANGEIROS DE DEMANDA OU DE QUIMBANDA

A Umbanda é o “conjunto das Leis Divinas”; conjunto esse que, como tudo originado do Criador, se irradia por todo o Cosmos através da expansão dos Sete Raios Divinos, e que pode ser representado pelo próprio símbolo da CENTELHA, onde os raios coloridos representam a Luz de Deus em ação, irradiando-se sobre a escuridão, infinita e constantemente, de forma semelhante ao próprio movimento cósmico de expansão do Universo. A partir do Logos Divino (triângulo branco), os raios luminosos avançam sobre o espaço exterior preenchido pelo negro, que representa a ausência de luz e simboliza os locais onde há consciências resistentes à Luz Divina, que não a desejam ou que não a compreendem, seja no Mundo Material ou no Mundo Espiritual. É óbvio que essa é apenas uma representação simplória da atuação da Luz sobre as Trevas, pois a Luz de Deus já está - e sempre esteve - presente em todos os lugares devido à sua onipresença; mas a representação gráfica nos facilita o entendimento da atuação dos Orixás e de seus falangeiros, agindo para fazer cumprir o conjunto das Leis do Criador.
Nessa representação, há quatro zonas distintas que merecem destaque. A primeira é o próprio triângulo branco. Ele representa Deus, de onde tudo parte; a origem de todas as coisas. A segunda corresponde aos Raios Divinos. Eles são as emanações da mente de Deus, em constante expansão e ação criadora. Dentro de cada raio há potencialidades, Orixás e vibrações irradiadas do Criador em profusão e em expansão. É a própria Lei Divina em ação! A terceira zona é a exterior aos Raios Divinos, onde sua luminosidade ainda não alcançou. Essa zona é representada pela cor preta, pois o negro é a ausência de luz, e simboliza os locais onde há resistência à aceitação da Luz Divina ou das Leis de Deus, que são carregadas dentro de cada um de seus raios de luz. Essa região representa as localidades no mundo material ou espiritual povoadas por espíritos sombrios e negativos, por exemplo. E há, por fim, a quarta zona, que compreende a tênue região fronteiriça entre a luz irradiada através de cada raio e a escuridão externa à Luz Divina. Essa pequena faixa é justamente aquela zona situada na extremidade de cada raio, na sua porção que invade a escuridão para que a luz possa se fazer presente; é a zona de combate entre luz e trevas; representa o esforço da Luz e das Leis Divinas conduzidas pelos Sete Raios para entrar onde há sombras, dissipando a escuridão e a ignorância. É nessa zona que são encontradas as vibrações divinas de EXU, aquele que vai na frente, o que dá o primeiro passo, o que rompe barreiras e o que aniquila as trevas portando a luz e o amor de Deus! Por ser a zona onde a Luz avança sobre as Trevas, chamamos os falangeiros que ali atuam de “Falangeiros de Demanda”, em alusão ao constante combate que realizam para levar as Leis Divinas onde ainda não é aceita, ou de “Falangeiros de Quimbanda”, em referência ao sentido dessa palavra que, em banto, significa “curador” e, portanto, retrata o trabalho final desses espíritos, curando as chagas morais e conscienciais dos que ainda relutam contra a Luz.
Nessa zona fronteiriça, ao redor de todos os Sete Raios, há portanto a vibração do Orixá Exu e a presença de espíritos de alto nível consciencial - seus falangeiros - que o representam na luta contra o mal, a ignorância e as trevas, buscando levar a luz onde há escuridão. No entanto, como cada um dos sete raios transporta vibrações divinas distintas e forças diferentes, exige-se desses falangeiros a especialização no controle e manuseio de energias diversas, para que possam fazer expandir as potencialidades presentes em cada raio. O raio vermelho, por exemplo, carrega consigo a potencialidade divina de FORÇA; o raio amarelo de CONSCIÊNCIA. A primeira é uma potência diretamente combativa, agressiva, impositiva; a outra é uma potência cuja ação é puramente mental e, portanto, mais relacionada à mentalização e à magia. Sendo assim, para expandir os raios vermelho e amarelo, levando as potencialidades divinas de cada um deles aonde há sombras, o conhecimento e a especialidade dos falangeiros de Exu que atuam em suas zonas fronteiriças com o negro devem ser diferentes. Por isso, embora haja a vibração de Exu ao redor de todo o limite dos raios divinos, essa vibração se expressa de maneira distinta nas zonas limítrofes de cada raio, pois também mantém relação com as características próprias de cada faixa de luz.
O falangeiro, portanto, que trabalha nessa zona limítrofe de qualquer um dos raios com o negro, além de possuir familiaridade com a vibração divina Exu – o Orixá regente dessa região -, deve também conhecer as vibrações intrínsecas ao raio em que trabalha. Por este motivo, algumas vezes – e em alguns terreiros - são considerados “falangeiros de Exu”, e são tratados como “Exus e Pombagiras”; e, em outras ocasiões, são vistos como integrantes de falanges de trabalho subordinadas a um determinado Orixá. Essa é a causa da secular discussão se o Povo Cigano é Exu ou falangeiro do Oriente, e se os Marinheiros são Exus ou uma falange de trabalho de Iemanjá. Se fôssemos considerar a teoria das Sete Linhas de Umbanda, onde cada espírito é colocado dentro de uma linha e não pode ser entendido de outra forma, realmente, essa duplicidade vibratória ficaria difícil de ser entendida, porque o Marinheiro só poderia ser uma coisa ou outra: ou Exu, ou integrante de falange de trabalho de Iemanjá. Mas, com o conceito dos Sete Raios Divinos, fica muito mais fácil visualizar que, por esses espíritos atuarem em uma zona transitória, podem ser considerados tanto como falangeiros de Exus – e serem tratados como Exus -, quanto como integrantes de “Falanges de Demanda” de cada um dos raios, sendo subordinados aos Orixás regentes daquele raio e podendo atuar de uma ou de outra forma, a depender apenas das vibrações que estiverem manuseando no momento.
Para ficar ainda mais claro, vamos apresentar os grupos de falangeiros que trabalham nas zonas limítrofes de cada raio e que, por isso, algumas vezes (ou em alguns lugares) atuam como falangeiros do Orixá Exu (sendo considerados Exus e Pombagiras) e, em outras ocasiões, como falangeiros de demanda, subordinados aos Orixás regentes de seu raio. Mas é bom relembrarmos que há diferença entre ser um “falangeiro de Exu” e ser “capangueiro” de outro Orixá! Esses espíritos, como serão descritos, são considerados, simultaneamente, FALANGEIROS de Exu e integrantes da Falange de Demanda de um Orixá, mas podem, também, ser CAPANGUEIROS (ou servidores) de qualquer outro Orixá, dependendo apenas de quem seu médium for filho.
Começando pelo raio vermelho, onde há a vibração de Ogum e de Xangô, encontramos em sua extremidade dois grandes grupos de falangeiros. A potencialidade divina com que ambos trabalham é a FORÇA, que é a potência transmitida através desse raio; mas cada um desses dois grupos tem sua própria forma de expandi-la, avançando sobre a região simbolizada pelo negro. O primeiro de que vamos falar é o grupo ligado a Xangô. Xangô é o Orixá da Justiça, e os espíritos que trabalham em sua Falange de Demanda podem ser chamados de “EXECUTORES DA LEI”, mas são também, simultaneamente, falangeiros do Orixá Exu, e correspondem a todos aqueles que, na maior parte dos terreiros são tratados somente como Exus e Pombagiras (Tranca-Ruas, Maria Padilha, Tiriri, Maria Molambo, etc). Possuem facilidade no manuseio do elemento FOGO (elemento do raio vermelho e de Xangô) e, trabalhando na sua Falange de Demanda, executam a Lei Divina pelo uso da potência FORÇA!
Mais uma vez, faço questão de lembrar: O fato de trabalhar como “Executor da Lei” e, portanto, SOB a vibração de Xangô, NÃO QUER DIZER que seja servidor de Xangô! O Exu e a Pombagira podem ser servidores (ou capangueiros) de QUALQUER Orixá, dependendo apenas de quem seu médium seja filho. Quando falamos que esses falangeiros do Orixá Exu trabalham também SOB as vibrações de Xangô, é somente porque sua falange de trabalho é quem EXECUTA a Lei Divina, compondo, por isso, a Falange de Demanda do Grande Legislador!
A segunda Falange de Demanda presente na mesma zona do raio vermelho é a ligada a Ogum. Esses espíritos também expandem a potencialidade FORÇA, mas seu papel não é o de serem “Executores da Lei Divina”, mas sim de “Condutores” da mesma; aqueles que, assim como Ogum, apontam o caminho e impulsionam à frente, ensinando, contudo, a ser maleável para desviar das adversidades sem perder o rumo, e a agir com perspicácia para identificar as melhores oportunidades de progresso. Esses espíritos compõem a “Falange dos MALANDROS”. Em muitos terreiros são considerados apenas falangeiros do Orixá Exu, sendo tratados como Exus e Pombagiras Malandros; em outros são considerados uma falange de trabalho à parte, subordinada ao Orixá Ogum. Mas, como temos explicado, tanto faz uma coisa ou outra pois, na verdade, essa falange trabalha na zona limítrofe do raio vermelho com o negro e, por isso, pode trabalhar tanto como Exu, quanto como uma Falange de Demanda ligada a Ogum, o Senhor das Estradas.
Na zona limítrofe do raio laranja com o negro há a falange de trabalho dos “BAIANOS”. São trabalhadores “quentes” como o dendê de Iansã, Orixá regente desse raio. Podem, portanto, trabalhar como falangeiros do Orixá Exu ou como integrantes da Falange de Demanda de Iansã. Como falangeiros de Exu, têm grande habilidade no desmanche de trabalhos e feitiços e, como subordinados a Iansã, sabem manipular energias repulsivas a eguns, auxiliando em processos desobsessivos e de limpeza espiritual. A potencialidade divina que conduzem é a CORAGEM (ou “ousadia”, em sua linguagem) e, embora possam atuar como Exus, tradicionalmente não costumam ser tratados assim, visto terem surgido na Umbanda já associados à uma falange independente. Mas, embora não sejam tratados como Exus, é notória sua ação “quimbandeira”, desfazendo feitiços e curando chagas espirituais.
Na zona limítrofe entre o raio amarelo, comandado pelo Povo do Oriente, e o negro, aparece uma Falange de Demanda que por muito tempo foi considerada apenas falangeira do Orixá Exu e que, de algum tempo para cá, começou a ser observada como um grupo de trabalho sob as vibrações do Oriente. Estamos falando do “POVO CIGANO”, alvo, até hoje, de grandes discussões nos meios umbandistas, se devem ser tratados como “Exus” ou não. Como todas as outras falanges situadas nas zonas limítrofes de cada raio, esses falangeiros, na verdade, podem tanto trabalhar como falangeiros do Orixá Exu, quanto como falangeiros de um grupo de trabalho subordinado ao Povo do Oriente, dependendo apenas das vibrações que estejam manipulando. Como trabalhadores ligados ao Povo do Oriente, expandem a potencialidade divina de CONSCIÊNCIA, sendo, portanto, exímios manipuladores de forças mentais e, consequentemente, de mentalizações e magias.
Na zona limítrofe do raio verde para o negro, há duas Falanges de Demanda, cujos integrantes podem ser considerados tanto falangeiros do Orixá Exu como falangeiros de um dos grupos subordinados aos Orixás regentes desse raio, Ossâin e Oxóssi. O grupo dos “CABOCLOS QUIMBANDEIROS”, também conhecido como “dos feiticeiros das florestas”, compõe a Falange de Demanda do Orixá Ossâin, expandindo a potencialidade divina do AUXÍLIO através do uso dos elementos curadores da Natureza e da ação conjunta dos elementais, auxiliando a revitalização e regeneração do corpo, mente e espírito. Já o grupo dos “BOIADEIROS”, Falange de Demanda de Oxóssi, irradia a mesma potencialidade divina do AUXÍLIO, ajudando na caminhada segura da mesma forma que o vaqueiro toca seu gado pela estrada, impedindo a perda de rumo, protegendo e diminuindo os perigos da jornada, por mais longa que seja. Nem os Caboclos Quimbandeiros e nem os Boiadeiros têm sido tratados, tradicionalmente, como Exus, mas é consenso, em grande parte dos terreiros, suas características peculiares – que muitos chamam de “traçada”; embora, até o momento, muitos não soubessem explicar a finalidade dessa duplicidade e nem como ela seria possível.
Na zona limítrofe do raio azul com o negro, há a presença da falange dos “MIRINS”, também conhecida como “Exus Mirins”, por atuarem tanto como falangeiros do Orixá Exu, quanto como integrantes de aparência infantil, da Falange de Demanda de Oxum, regente desse raio. Tais falangeiros avançam sobre a escuridão procurando estimular a pureza de sentimentos (assim como os falangeiros de Ibêji, presentes na transição desse raio para o índigo), para que possa haver a expansão da potencialidade divina do AMOR.
Na zona limítrofe do raio índigo para o negro, há a manifestação da falange dos “MARINHEIROS”. Esses espíritos, assim como os Ciganos, por muito tempo foram vistos apenas como falangeiros do Orixá Exu, sendo que, de algum tempo para cá, começaram a ser entendidos também como um grupo de trabalho ligado a Iemanjá. Como já explicado, as duas colocações estão corretas, e esses trabalhadores podem ser considerados tanto como falangeiros de Exu, sendo chamados de “Exus Marinheiros”, quanto como integrantes da Falange de Demanda de Iemanjá, a regente do raio índigo, dependendo apenas das vibrações com que estejam trabalhando. Expandem a potencialidade divina da CRIAÇÃO, removendo os obstáculos emocionais que impedem o caminhar ou, em sua linguagem, o “navegar”, para que possam ser criados novos rumos e alcançados novos horizontes.
Na zona limítrofe do raio lilás para o negro, há uma falange de trabalhadores especial. Estamos nos referindo aos PRETOS-VELHOS que, apesar de não serem considerados, tradicionalmente, falangeiros do Orixá Exu, podem trabalhar com essas vibrações, com grande facilidade, na quebra de demandas e no desmanche de trabalhos. Daí vêm as expressões muito comuns que se referem ao Preto-Velho como “quimbandeiro”, “mandingueiro” ou “mirongueiro”. Essa ligação acontece justamente porque, como qualquer outra falange de trabalho situada em zona limítrofe, os Pretos-Velhos, na verdade, também podem atuar como falangeiros do Orixá Exu ou como integrantes da Falange de Demanda subordinada a um Orixá; nesse caso a Xapanã, Orixá regente do raio lilás.
Resumindo, todas essas falanges que trabalham nas zonas limítrofes entre qualquer raio e o negro atuam tanto como falangeiros do Orixá Exu, quanto como falangeiros de uma Falange de Demanda subordinada ao Orixá regente do raio; explicando, de uma vez por todas, que aquele espírito que ali é tratado como “Pombagira Cigana”, também pode atuar sob a regência do Povo do Oriente, deixando de ser, enquanto estiver nessa vibração, a “Pombagira falangeira do Orixá Exu”, e passando a ser apenas a “Cigana nas vibrações do Oriente”, falangeira de demanda do raio amarelo. O mesmo também acontecendo com os Marinheiros, Malandros e todos os outros trabalhadores dessa zona de transição entre a Luz e as Sombras.
Aliás, por estarem situados ali, nessa faixa de transição, no “front de batalha”, são esses espíritos os primeiros a defender contra demandas, ataques espirituais e obsessões. São eles também que auxiliam na expansão do bem, desfazendo trabalhos negativos, magias e feitiços. São os soldados da Lei Divina, os que vão na frente e que batalham incansavelmente contra as trevas; são as Falanges de Demanda de cada Orixá, os seus comandados mais fiéis, que trabalham por amor às Leis de Deus, expandindo a Luz Divina por onde quer que haja Escuridão!
OBS: Para melhor entendimento desse texto, não deixe de ler os textos abaixo:
AS SETE LINHAS E OS SETE RAIOS DIVINOS
OS SETE RAIOS E SUAS VIBRAÇÕES
FALANGEIROS, CAPANGUEIROS E CATIÇOS

MÉDIUNS CONSCIENTES E SEMICONSCIENTES

O médium não é boneco vivo, insensível e de manejo mecânico, mas sim uma organização ativa com vocabulário próprio e conhecimentos pessoais adquiridos pela sua experiência e cultura humana. Além de tudo, é alma guardando em sua memória forjada nas existências pregressas a síntese dos seus esforços para a ascese espiritual. E quando se trata de médiuns conscientes ou semiconscientes, só lhes resta a tarefa de vestir e ajustar honesta e sinceramente as idéias e as frases que melhor correspondem ao pensamento que lhes é manifesto pelos espíritos desencarnados através do seu contato perispiritual. Deste modo, os comunicantes ficam circunscritos quase que totalmente à vontade e às diretrizes intelectuais e emotivas do seu intérprete encarnado, o qual fiscaliza, observa e até modifica conscientemente aquilo que foi incumbido de dizer Lembra o mensageiro terrestre que ouve o recado para transmitir verbalmente a outrem, mas na hora de cumprir sua tarefa tem de usar de suas próprias palavras para comunicá-lo. No caso, tanto o mensageiro como o médium são intérpretes do pensamento alheio e por isso influem com o seu temperamento, engenho e cultura nas mensagens que traduzem, resultando disso os textos lacônicos ou prolixos, precisos ou truncados.
Só o médium com propósitos condenáveis é que poderia ter remorsos de sua interferência anímica, pois nesse caso tratar-se-ia realmente de uma burla à conta de mediunismo. Não é passível de censura aquele que impregna as mensagens dos espíritos com forte dose de sua personalidade, mas o faz sem poder dominar o fenômeno ou mesmo distingui-lo da realidade mediúnica. É tão sutil a linha divisória entre o mundo espiritual e a matéria, que a maioria dos médiuns dificilmente logra perceber quando predomina o pensamento do desencarnado ou quando se trata de sua própria interferência anímica.
Ramatís
In Mediunismo.