Um Pai de Santo muito famoso, que tinha sua casa luxuosa, recebeu um convite de um colega da época da escola para fazer uma visita no seu terreiro que iria ser inaugurado.
Um Pai de Santo muito famoso, que tinha sua casa luxuosa, recebeu um convite de um colega da época da escola para fazer uma visita no seu terreiro que iria ser inaugurado.
.Há muitos anos que não se falavam. Rogério sabia que Antenor era um homem de muita vaidade, mas não se importou em mandar o convite da inauguração de seu terreiro afinal, quando precisou de conselhos, foi a ele que Rogério foi e muito bem recebido por sinal.
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Quando chegou o dia da inauguração, Antenor chegou até a casa de seu colega. Passou pela entrada onde viu o assentamento de Exu e Pombo Gira de forma muito simples.
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Nada disse, apenas reparou que ali não tinha muito requinte, mas sentiu que tinha muito AXÉ e muito amor.
Foi super bem acolhido, se sentiu em casa.
Em meio a festa, um de seus filhos de Santo que foi junto com ele, sussurou em seu ouvido que aquela casa era uma pobreza só, que estava se sentindo muito mal em está ali numa casa de chão de terra seca, simples e sem luxo.
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Antenor nada disse, apenas continuou festejando com Rogério que estava numa felicidade inigualável.
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Quando terminou a festa, Antenor chamou o seu filho de Santo e seu colega Rogério e disse:
"Rogério, Parabéns pela sua festa, sua inauguração de seu terreiro de Umbanda foi magnífica, senti muito amor, fui muito bem recebido, muito mais que em certas casas de luxo que fui. Sim, luxo. Sei que sempre fui muito cheio de exigências, mas aprendi ao longo da minha vida que não se julga uma casa pela sua aparência, mas pelo que se tem dentro, pela força de seu AXÉ.
Em 30 anos de sagrado, raras vezes fui bem recebido, talvez porque eu seja "famoso" pela minha forma de sempre aparecer e isso gera muita concorrência. Nunca fui maltratado, mas bajulação ao extremo por eu ter um conhecimento no meio do Axé.
Falsidade, fofocas, olhares de malícia e de forçar uma amizade comigo só por conveniência. Tiram uma foto comigo, aí publicam na internet pra dizer que me conhece sem nem perguntar se pode, mas a intenção é ganhar curtidas.
Hoje, esse meu filho de Santo mostrou a pessoa nojenta que eu era antes. Ele julgou a sua casa, disse que aqui não tinha luxo, chão de terra seca, como eu julgava antes as casas mais simples. Vim aqui hoje por dois motivos:
1° Para ensinar a esse meu filho aqui a começar a ter humildade como um dia meu Pai fez comigo e aprendi. Que pisamos na mesma terra, respiramos o mesmo ar, enxergamos as mesmas coisas e não somos superiores a ninguém.
2° Que não sou melhor que você por ter um casa de chão feito de piso ou mármore, mas que o que importa é o AXÉ dos Òrìsàs, das entidades que te embelezam não a casa com ardonos, mas o seu Espírito.
Eu estou muito feliz em ver que um colega de escola que há anos não via, lembrou de mim, mesmo tendo receio de eu não vir ou julgar a sua casa. Tudo o que construímos, começamos de baixo para cima. Esse seu gesto de carinho foi nobre e jamais esquecerei dessa sua atitude.
Enquanto a você, Maurício, aprenda que não é a casa que transforma uma pessoa em um ser humano evoluído e com AXÉ, mas sim a força que nela habita. Se dentro de você existe preconceito, Òrìsà e nenhuma entidade mora, pois eles não enxergam preconceito em lugar nenhum e muito menos moram em templos construídos por pessoas com mãos, muitas vezes, duvidosas.
Padilha é da estrada assim como pode ser da calunga.
Exu pode ser da pequena calunga assim como do Cruzeiro.
Òrìsàs estão na natureza, em cada parte. Você sendo filho de Oyá deveria saber que ela é vento, e vento venta lá e venta cá. Aprenda uma coisa:
Oyá é Búfalo e Búfalo corre na terra seca, como a Borboleta entra em casa simples também entra em casa de luxo, pois ela não enxerga qual a casa mais bela, mas o brilho do Jardim que pode ser igual.
Depois disso, o filho de Santo se desculpou e, Rogério que era muito nobre, abraçou o rapaz e esqueceu desse detalhe besta de julgamento pela casa ser ou não de luxo afinal, aquela era a sua casa, ali era o seu assentamento e a força de suas entidades; as imagens são as mesmas em todos os lugares ou templos, pois a essência delas não muda quando a pessoa é humilde de coração.
#Laroyê!
Texto de Thau Ãn
Foto de Luara Monteiro