UMBANDA E ESPIRITISMO: O MÉDIUM DE MESA E O MÉDIUM DE TERREIRO
UMBANDA E ESPIRITISMO: O MÉDIUM DE MESA E O MÉDIUM DE TERREIRO
Por Ramatis
É fácil distinguir o médium de "mesa" que se desenvolve sob a égide da doutrina espírita, e o médium de "terreiro", que prefere o seu desenvolvimento pela técnica da Umbanda: no primeiro caso, trata-se de Espiritismo, e no segundo, apenas Mediunismo.
Muitos professam que o único desenvolvimento mediúnico sensato e aconcelhado ainda é o que se processa no ambiente espírita, mas o fato é que não se deve apressar-se em considerações extremistas, nem julgar esta ou aquela predileção mediúnica, muitos menos se achar no direito de carrear com exclusividade, sob a égide da manifestação mediúnica.
Sob qualquer hipótese, é sempre mais elogiável o médium de "terreiro" que se integra completamente num trabalho guiado pelos preceitos evangélicos, do que o médium de "mesa" que se torna mercenário e corrompido.
A prática mediúnica do Espiritismo é semelhantes a uma agência de informações civis, em que é bem mais importante o assunto do seu "fichário", do que mesmo as pessoas que o informam; a Umbanda, no entanto, é como uma agência de informações sobre assuntos militares, onde antes de tudo convém conhecer a "graduação" e "identidade" do informante, pois, assim como acontece realmente no mundo físico, é muito grande a diferença e a responsabilidade entre aquilo que diz o cabo e o que informa o general! Em ambos os casos, a distinção mais relevante ainda é quanto a natureza interpretativa na manifestação mediúnica:
* MÉDIUM DE MESA: Preocupa-se mais propriamente com a "espécie de ideias" dos seus comunicantes, num intercâmbio acentuadamente de ordem mental.
* MÉDIUM DE TERREIRO: Cuida principalmente de "reconhecer a identidade" do espírito que incorpora.
Na disciplina de Umbanda existem códigos, pontos cantados e riscados, cruzamentos de linhas e demanda de falanges que operam sob a base da magia prática, caracterizando cada grupo ou individualidade que dela participe. Assim, conforme sejam determinados pontos, sinais, toques ou códigos, o médium e os frequentadores de Umbanda deduzem das intenções da capacidade ou da natureza e especialidade de serviço que podem ser tratados com os comunicantes.
Juntos a mesa espírita, em que ainda se nota um certo individualismo de trabalho nas relações com os desencarnados, uma preleção de natureza elevada e de conteúdo sensato dispensa mesmo a assinatura ou a identidade do comunicante, que tanto pode ser um apóstolo como um "João-ninguém". Em face do intercâmbio mediúnico sob a égide kaedecista ser predominantemente intuitivo e, portanto, menos fenômenomenico e mais interferência mental, só os médiuns cultos, estudiosos, de elevado critério moral e ao mesmo tempo dóceis e humildes, correspondem satisfatoriamente aos objetivos elevados do Espiritismo.
(...)
Enquanto a Umbanda aperfeiçoa a prática mediúnica no campo do fenômeno e favorece a reprodução plástica mais fiel dos espíritos através da passividade e versatilidade dos cavalos(médiuns), o Espiritismo doutrina os homens para a sua libertação definitiva das formas do mundo transitório da carne. Malgrado a aparência de ambas se contradizerem, a Umbanda "ajusta o vazo" e o Espiritismo "asseia o líquido"; a Umbanda "aprimora a lâmpada" e o Espiritismo "apura a chama".
No entanto, considerando a questão sobre se o trabalho mediúnico de "mesa" é superior aos trabalho mediúnico de "mesa", ou vice-versa, mais importante em ambos os casos, ainda é a qualidade espiritual daqueles que operam neste ou naquele setor de intercâmbio com os desencarnados. A presença de espíritos de espíritos inferiores não depende do gênero de trabalho mediúnico, nem do tipo de doutrina espiritualista, mas exclusivamente da conduta, do critério moral dos seus componentes e adeptos.
DIFERENÇA ENTRE AS MANIFESTAÇÕES MEDIÚNICAS NOS MÉDIUNS DE "MESA" E NOS DE "TERREIRO"
O simples desvestimento do corpo carnal não extingue vícios e velhos hábitos estratificado no mundo físico, assim com os fenômenos pós-morte de sofrimento, lesões, fadiga, fome e sede nãos são frutos do pensamento indisciplinado, mas cruciantes realidade, atuando com mais intensidade no espírito desencarnado.
O homem culto volta a comunicar-se com a Terra, expondo seu vasto cabedal de conhecimentos e experiências incomuns, em linguagem castiça e correta; já o ignorante e o primário comunicam-se no linguajar deturpador ou regional.
A questão da manifestação mediúnica mais autêntica depende precipuamente da versatilidade ou submissão do médium às características do comunicante; daí o fato dos índios, caboclos e pretos velhos manifestarem-se nos terreiros com as suas peculiaridades vividas no mundo físico, por encontrarem ali o campo mediúnico adequado aos seus tipos. Manifestam-se sem qualquer constrangimento, de conformidade com a sua estatura espiritual e o mecanismo de linguagem que lhes foi habitual no mundo físico, despreocupados de qualquer advertência severa que não devem "falar errado".
(...)
A liberdade mediúnica nos terreiros e a docilidade proposital do cavalo aos estimulos ocultos, permitem aos espíritos comunicantes atuarem-lhe mais fortemente nas regiões dos plexos nervosos, assumindo o domínio do corpo físico e plastificando suas principais características; então, índios pretos velhos e caboclos, vovozinhas e tiazinhas revelam-se nos terreiros com linguajar deturpado, costumes, cacoetes, risadas, adágios e tradições à semelhança de verdadeiras cópias de sua realidade no Espaço.(...)
Enquanto o Espiritismo restringe os fenômenos mediúnicos em sua manifestação propriamente física, a Umbanda deve assegurar plena liberdade de ação dos espíritos comunicantes sobre seus cavalos, os quais estão amparados pela defesa dos pretos velhos e caboclos que escorregam as entidades mal intensionadas. O terreiro significa, na realidade a "macumba" do preto velho e a "choça" do bugre, em que eles podem da vazão à sua alegria, manter suas tradições primitivas, crenças religiosas e manifestações de acordo com suas idiossincrasias.
(Extraído do material de estudos das obras de Ramatís produzidos pelo Instituto Hercílio Maes)