quinta-feira, 14 de abril de 2022

SERÁ QUE SEUS CAMINHOS ESTÃO TRANCADOS MESMO? BREVE ENSAIO SOBRE QUIMBANDA E ALQUIMIA INTERNA - PARTE 2

 SERÁ QUE SEUS CAMINHOS ESTÃO TRANCADOS MESMO? BREVE ENSAIO SOBRE QUIMBANDA E ALQUIMIA INTERNA - PARTE 2


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Para que faça sentido o pedido de um trabalho de “abertura de caminhos” para si, seja em qual área da vida for (financeira e amorosa são as mais pedidas), é necessário que haja a plena certeza de que o problema está realmente em circunstâncias externas, em fatores que não podemos controlar, e não na própria pessoa!

Muitos são aqueles que, com a vida financeira ruim, estagnada, pedem trabalhos de abertura de caminhos, mas caminhos abertos já existem aos montes. O que falta, por vezes, é a capacidade desta pessoa percorre-los, tendo em vista que está tão fraca, desmotivada e insegura que acaba ficando paralisada e desorganizada, não tendo a capacidade de sorver das boas oportunidades que a vida lhe proporciona. Outros pedem caminhos abertos para o amor, pedem que venham pessoas mais “positivas” em seus caminhos, que somem em suas vidas, mas como obter isso quando a baixa autoestima, unida ao egoísmo e à ilusão idealista, é tanta que torna a pessoa presa fácil para vampiros psíquicos?

Para estes casos, tenho uma notícia ruim e outra boa. A ruim é que trabalhos de abertura de caminhos não funcionam. E a boa é que, mesmo não funcionando, ainda há algo que o povo de exu pode fazer pela pessoa, mas isso requer um preço. O preço da pessoa ser capaz de olhar para si mesmo “desnuda”, de forma sincera e, vencendo a autoilusão egoica, reconhecer seus pontos fracos de modo a trabalhar com eles. Estamos falando do que, na magia, é conhecido como ALQUIMIA INTERNA.

Antes de prosseguir, gostaria de lembrar a todos que possuo plena consciência de que não são todos os que enxergam a Quimbanda enquanto um caminho evolutivo, logo não são todos que se atêm a necessidade de se utilizar a magia dos exus visando mudanças espirituais. Contudo, acredito que da mesma forma essas reflexões se fazem úteis, tendo em vista que a Quimbanda possui essa importante dimensão luciferiana e explora-la pode evitar que seus adeptos continuem a dar “murros em ponta de faca”. Veja bem, quando digo “dimensão luciferiana” não estou enaltecendo isto como uma característica da linha de Quimbanda Luciferiana ou qualquer outra em específico, mas sim de um potencial que existe em todas as Quimbandas (e Kimbandas) e que pode ser utilizada dependendo do quimbandeiro em questão.

Acredito que, levando em consideração que o exu é em muitos momentos um reflexo do comportamento humano, um “espelho” que nos reflete naquilo que temos de melhor e pior, a prática cotidiana da Quimbanda, por si só, nos dará grandes auxílios quando o assunto é autoconhecimento. Contudo, ainda assim não será possível fazer muita coisa se o adepto continuar a fechar seus olhos para si mesmo e manter a ilusão de que deve esperar que acontecimentos externos, por si só, conduzam sua vida positivamente.

Para isso, uso como ilustração o filme “Noé”, inspirado pelos livros gnósticos, há poucos anos lançado. Nele, conseguimos ver perfeitamente a distinção entre Noé, homem que vinculado a um Deus paterno, porém escravista, vive da espera pela providência, e Tubalcaim, homem da linhagem de Caim que, encarnando o arquétipo luciferiano, constrói seu destino a partir de suas próprias mãos usando da técnica que lhe foi legada pelos anjos caídos, e com ela desafiando o poder de qualquer ser “superior”. Nós, enquanto quimbandeiros, temos Lucifer como um de nossos Maiorais, portanto conduzir nossas vidas fazendo o possível para alterar a realidade a partir de nossas mãos é algo inerente à nossa condição, e não “esperar” em Deus, Satã, Exu Caveira ou quem quer que seja. Mesmo que o adepto seja de uma Kimbanda mais voltada ao fundamento bantu, cujo posto de Maioral é ocupado por um nkisi estradeiro, ainda assim estou certo que ele é capaz de, conhecendo o arquétipo de Lucifer, ver similitudes entre este arquétipo e o perfil de Pambunjila, Mavambo, Aluvaiá, entre outros.

Claro que este caminho é mais doloroso, mas com certeza mais realista e, a longo prazo, aquele que gerará maiores e melhores resultados. Portanto, sempre que você estiver passando por alguma dificuldade e achar que “caminho aberto” é o que precisa, pergunte-se antes qual cruzeiro deve ser aberto, se é o material ou o espiritual. Reflita antes se o que precisa é de maiores oportunidades ou se é uma profunda mudança em si mesmo que te propicie aproveitar melhor os caminhos que já estão abertos em sua frente. Muitas são as vezes que o que achamos que precisamos não é realmente o que precisamos, pois as limitações da nossa consciência imediata são muitas e obscurecem o Todo. Se já trabalhas com exu, quando for servir-lhe suas firmezas e baforar seu charuto, peça mudanças internas se for o caso, para que haja fortalecimento e melhor direcionamento de sua Vontade para aquilo que realmente te engrandece, evitando aquilo que te dispersa, que com toda a certeza serás ouvido e a médio prazo mudanças perceptíveis se efetivarão. Lembre-se sempre que exu é aquele que abre os caminhos, mas não te carrega no colo ao longo deles.

Laroyê Exu! Alupandê Exu Mulher!

Imagem: Tranca Rua das Almas, aquele que, nas palavras da kimbandeira de Mussurumim Bruxa Fernanda, "abre nossos cruzeiros espirituais".

#ThomazdeTrancaRua