O ACIDENTE ABORTIVO - História psicografada
PELO ESPÍRITO ISRAEL
o reencarnate
"Quando as condições físicas não permitem, a espiritualidade intervém e dá novo rumo à história".
PELO ESPÍRITO ISRAEL
o reencarnate
"Quando as condições físicas não permitem, a espiritualidade intervém e dá novo rumo à história".
Por 30 anos estava desencarnado, após sucessivas existências, com grandes e pequenos erros, muitas passagens pelo Umbral, até finalmente estar em condições de ser abrigado nesta Colônia de Luz. Quando reencarnamos, nos propomos e prometemos tantas coisas... Mas a ansiedade em querer evoluir mais rápido, quando não devidamente preparado, faz-nos pedir provas e expiações além de nosso alcance. Os Divinos Orientadores nos alertam, mas a Bondade deles é similar ao Todo Poderoso que, infinitamente Bom, atende ao nosso livre arbítrio. Nos últimos 30 anos, inúmeros trabalhos fraternos e a complementação de muitos aprendizados, fizeram-me progredir na espiritualidade, faltando apenas breve período para encerrar o ciclo de reencarnações.
Então lembrei do bondoso Espírito que havia me socorrido, na última desencarnação e, sabendo que vestiria roupagem feminina, em nova existência, passei a pedir para que eu viesse a ser seu filho, para uma sublime troca de energias, através do amor incondicional. Fui chamado pelo Departamento de Reencarnações, para o primeiro encontro com a futura Mamãe.
Fátima, recém casada, filha de trabalhadores, a irmã mais velha de Lourdes e de outros irmãos, todos humildes e unidos, como as mais belas famílias. A primeira a contrair matrimônio, com outro trabalhador, espírito bondoso, porém de pouca maturidade e que haveria de ser meu pai. Numa noite, os Mentores espirituais aguardavam comigo, Fátima adormecer. Ela, em espírito desdobrado, levantou e com o auxílio dos Mentores a fizeram me ver:
"– Quem é você?" – indagou ela.
"– Sou Israel, lembra? Há muito tempo você me estendeu a mão, me socorreste!" – respondi.
Os Mentores, que não estavam visíveis à ela, a induziram à recordar. Então Fátima, sorrindo, me falou:
"– Israel, que alegria!!! Sempre é bom rever os amigos!"
"– Podemos ser mais do que "amigos"! Vim lhe pedir sua Maternidade, se assim desejar, para breve!"
"– Vou ser sua mãe??? Nossa, como estou feliz!!! Você que agora está tão evoluído! Glória à Deus, não poderia haver melhor filho!"
"– Querida Fátima: também estou muito feliz pela sua aceitação! Mas é necessário que saiba que estou encerrando o meu ciclo. Ficarei com Você por breve período, porém ainda não determinado pela Espiritualidade!"
Ela encheu os olhos de lágrimas e me abraçou ternamente, respondendo:
"– Se assim Deus deseja, que assim seja! Mas permita que eu o ame, enquanto puder!!!" – e chorou muito sentida.
Pude sentir ela doar-me, nesse abraço, uma vibração sem igual, uma energia sublime, fraterna... incondicional. Os Mentores a deram um passe e a fizeram retornar ao corpo, para um sono tranqüilo e repouso seguro. Retornei com eles para a Colônia, com a nítida impressão de haver deixado em Terra, "um pedaço de mim".
Nos dias que se seguiram, eu estava radiante, feliz, uma alegria imensa fazia às vezes extrapolar e expressar, sorridente, aos irmãos quando os encontrava nos jardins da Colônia:
"– Vou reencarnar!!!"
"– Deus o abençoe!" – respondiam.
Mesmo eu sabendo que brevemente retornaria à Pátria espiritual, além de não mais reencarnar nesta Orbe, parecia-me ser a primeira vez que eu receberia esse presente: reencarnar!!! E amava muito a nova mamãe!!!
Os irmãos da Colônia, me passavam o tempo inteiro, palavras, pensamentos e vibrações positivas, sem jamais traçar "um pingo" sequer, do contrário. Passaram dois meses e a Irmã do Departamento de Reencarnações veio me avisar:
"– Vamos, Israel? Já é tempo!"
Como uma criança, prestes a ganhar um brinquedo novo, fui quase que saltitante à minha internação. Fui adormecendo e tive um sonho antes de entrar em letargia profunda: Vi Fátima de braços abertos e a sorrir. Apaguei!!! Mas... como se fosse para mim uma fração de segundos, abri os olhos, despertando. Ao lado do leito, uma enfermeira e o doutor Demétrius. Perguntei:
"– O que aconteceu???"
"– Um acidente, sinto muito!" – respondeu Demétrius.
Lembrei-me de Fátima e me pús a chorar muito. Compreendi que algo deu errado. O Doutor, deu-me um passe para acalmar e foi elucidando:
"– Depois do terceiro mês, complicações orgânicas se fizeram presentes em Fátima. Teve um aborto espontâneo e o diagnóstico de infertilidade intra-uterina. Ninguém teve culpa e nada foi premeditado."
Chorei silenciosamente! Meu Espírito entristeceu, emanando e despreendendo imensa compaixão por Fátima!!!
Demétrius, lendo meus pensamentos, disse, me consolando:
"– Querido irmão! Não sofras! Assim que você fortalecer seu Perispírito e tiver alta, poderás acompanhá-la. Você já estudou isso: quando as condições físicas não são possíveis para os laços consagüíneos de "mãe e filho", não havendo revoltas – como é o caso – e ainda preservadas as vibrações e sintonias, a Espiritualidade procurará alguma maneira de contornar isso. Quantos casos de "mãe e filho", sem o mesmo sangue, não existem por aí, não é mesmo?"
A NOVA CHANCE
Dias depois, saí do Hospital e fui procurar o meu Mentor, para instruir-me. O professor Ângelo, acadêmico e instrutor de outras Esféras, combinou comigo dia e hora, para uma visita à Fátima. Descemos ao final de uma tarde chuvosa e a encontramos sentada em uma cadeira, junto à janela, olhando para um vazio que refletia a sua alma. Aquele que deveria ser o meu pai, imaturo, abandonou Fátima à sua própria sorte, que só não foi pior porque teve amparo dos familiares.
Ajoelhei-me à seus pés e beijei suas mãos... lágrimas sofridas derramei, sob os olhares silenciosos do Professor. Levantei e ele fez uma prece, preenchendo o ambiente com vibrações salutares. Através dos pensamentos de Fátima, Ângelo me olhou sorrindo, dizendo:
"– Nada está perdido! Há uma nova chance, através da sua irmã, Lourdes!"
As reticências em minha mente, fizeram-me raciocinar. Por mais esclarecimentos que alcançamos, a influência terrena faz a gente, às vezes, "escapar" à razão. Por isso, fiz uma ingênua pergunta:
"– E como manter-se com Fátima?"
"– Vejamos..." – o professor raciocinando em voz alta – "... Há um Centro Espírita aqui perto. Esta família é religiosa. São Católicos, mas sinceros! Neste berço tudo favorece. Vamos conversar com os irmãos do Centro Espírita. Tenho a certeza que eles ajudarão, para acomodar essa situação! Mas antes, vamos dar um passe em Fátima, intuindo-a para concentrar-se na gravidez de Lourdes!"
Após o passe, Fátima lembrou da irmã e se animou. Abandonou a melancolia e saiu para visitá-la. Aproveitamos para ir ao Centro Espírita. Lá chegando, após os cumprimentos, Ângelo expôs o problema. O irmão desencarnado, responsável pela Casa, de pronto respondeu:
"– Podem ficar tranqüilos! Assim que Israel nascer, mandaremos irmãos lá, para acompanhar tudo. Logo, logo, Fátima e Israel serão "mãe e filho", se não pelo sangue, mas pelo Espírito."
Retornamos à Colônia e agradeci imensamente ao Professor Ângelo, meu ilustre Mentor, por essa inesquecível ajuda.
Outra vez me preparei, outra vez adormeci...
PELO ESPÍRITO RICARDO
(A nova existência)
Estava com cinco anos e brincava sentado no chão da sala, quando mamãe Lourdes entrou eufórica, dizendo:
"– Adivinha quem chegou??? A titia mais linda do mundo!"
"– Tia Fatinha!!!" – assim chamava Tia Fátima. Corri para o seu abraço.
"– Ricardo... Se pudesse, serias meu filho!" – disse Fátima e mamãe respondeu:
"– Não, não, não! Não vou ficar com ciúmes! Até porque, né mana? Além de Tia é a Madrinha de batismo. Às vezes, eu e o seu cunhado comentamos que talvez, em breve, Ricardo tenha que ficar com Você. Por causa do trabalho dele, precisaremos morar em Estado distante. Não vamos querer arriscar Ricardo, que ainda é muito pequeno."
Alegre, Fátima me disse:
"– Viu, Ricardo?!! Seremos "mamãe e filhinho" de mentirinha!!!"
Lourdes esperava outro filho e havia decidido com papai, não aumentar as preocupações em terras distantes, com mais um filho. E assim, o desejo de duas almas puderam realizar-se, até quando fosse possível.
O REGRESSO
Deus foi bondoso em estender, o que seria uma "breve existência". Permitiu até onde fosse possível, esse amor além fronteiras. Estava com 18 anos, cresci chamando Tia Fátima de "mamãe". Lourdes e família retornaram, dez anos depois, quando eu tinha quinze anos e não se incomodaram com a nossa forma de convivência. Ainda ouvi meus pais de sangue comentarem com "mamãe" Fátima:
"– Não se preocupe, mana! De alguma forma, eu sempre soube que Ricardo seria o filho que você não pôde ter!"
Papai acrescentou:
"– Por mim, está tudo bem! Tudo é família. Se precisar de nós é só avisar!"
Fátima respondeu:
"– Obrigada, eu não poderia estar em melhor família!" – e comentando em baixo tom, com Lourdes:
"– Às vezes tenho a sensação de que tudo isso, não é para toda a vida!"
"– Que bobagem, Fátima!" – retrucou Lourdes – "Não seja negativa! Esqueça isso e viva, o quanto puder, com o "nosso" filho!"
Abracei as duas e beijei-as, dizendo:
"– Amo vocês duas! Sempre estarei com vocês!" – elas se emocionaram.
Algumas virtudes de meu adiantado Espírito eram notadas: facilidade em aprender, apreciador de diversas artes, inclinação para atitudes fraternais, compaixão à sofredores alheios e muita tendência à religiosidade. Amava a Igreja e as Histórias da Bíblia. Dessa forma, fui sendo estimado por todos, vizinhos, amigos, familiares... Morávamos numa cidade, onde uma rodovia federal, hiper movimentada, cortava o município. Nàquela manhã de primavera, mamãe Fátima e eu fomos à casa de um de meus tios, o irmão dela que aniversariava e havia nos chamado para um almoço especial. Era menos de 200 metros de nossa casa e, por isso, fomos à pé.
Ao atravessarmos a rodovia, veio-me à mente um rosto familiar: o Professor Ângelo. Subitamente vi um carro, em alta velocidade e que não tinha intenção de parar. Por instinto, empurrei mamãe para o acostamento, ficando eu sem impulso pra nada. O choque do veículo arremessou-me por muitos metros. No chão, atordoado, apenas senti meu corpo entrando em dormência, do pescoço para baixo, quando vi mamãe Fátima, com alguns arranhões, alucinada gritando:
"– Ricardo!!! Meu Deus..., Ricardo, não me deixe!!!"
Com muito esforço, respondi ofegante:
"– Nunca te deixei, Mamãe!" – e meus olhos escureceram.
Acordei, dias depois no leito de um Hospital da Colônia, com o Professor Ângelo aguardando o meu despertar. Nada disse, apenas deu-me um passe para recobrar rapidamente a minha consciência. Então pude ver mamãe se desesperando e perdendo os sentidos. Foi hospitalizada e ficou por dias sedada. Não pôde ir ao meu enterro, muito sofrido por todos. Mamãe Lourdes também ficou inconsolável. Haviam se passado cerca de três meses de meu acidente. Olhei para Ângelo e ele disse:
"– Seu Perispírito foi muito machucado. Precisou de um tempo para recuperar".
"– Até parece que foi ontem!" – murmurei. – "Pobre Fátima!"
"– Concentre-se em se recuperar! Haverá tempo para ajudá-la e ela precisará muito! Logo Você irá para outra Esfera."
Respondi:
"– Muito bem, mas primeiro ela!"
"– Estou feliz por Você! Essa é a resposta de todo o Bom Espírito: protela o seu progresso em favor de seus próximos!"
O SOCORRISTA DE FÁTIMA
Após a alta do hospital da Colônia, fui rever mamãe Fátima. Minha aparência era de Ricardo, mas meu espírito retornou à origem, como Israel. De qualquer forma eu não poderia me tornar visível. Mamãe nada tinha dàquela exuberante mulher, com pouco mais de 40 anos. Seu sofrido espírito transferiu ao corpo todas as dores que dispunha. Sua aparência era de quase 60 anos. Prostrada no sofá da sala, perdia-se em pensamentos funestos. Dei-lhe um passe, doando paz e harmonia. Outra vez ajoelhei-me à seus pés e beijei suas mãos:
"– Ricardo, você está aí?"
Ela não era médium, pronunciou isso por delírio. Recorri aos amigos do Centro Espírita. Então eles intuiram uma vizinha de Fátima, dona Rosa, que era Espírita, a lhe fazer uma visita:
"– Como está, Fátima? Está difícil, né?"
"– Nem me fale! Daria tudo para saber de Ricardo. Será que ele está bem?"
Rosa sugeriu:
"– Olha, sei que a senhora é de outra religião. Mas eu ouvi falar que um grande médium espírita, consegue comunicação entre mães e filhos desencarnados!"
Mamãe animou-se:
"– Esplêndido!!! Onde?"
"– É Chico Xavier, em Minas Gerais!"
"– Longe demais. Que pena!"
"– Mas, dona Fátima: se ele consegue, talvez o Centro Espírita, aqui perto, também possa fazer!"
"– Ah! Boa idéia! A senhora me leva lá?"
"– Amanhã tem sessão! Se quiser, posso passar aqui e acompanhá-la."
"– Combinado!"
Nem todos estão aptos para receber mensagens psicografadas, como também nem todas as Casas dispõe desse serviço. Mas pelo menos, de qualquer maneira, é um Centro Espírita! E mamãe Fátima precisava disso. No dia seguinte, na hora combinada, ela acompanhou a dona Rosa. Ao chegar, a prestimosa vizinha disse:
"– Dona Fátima, primeiro vamos assistir a palestra. Depois o passe. Veremos após, o que o Atendimento Fraterno poderá fazer por você!"
"– Ok!"
Pedi ao Orientador espiritual, para que a palestra fosse baseada no "O Livro dos Espíritos", Allan Kardec, Questão 890 – "Amor Materno". A palestra foi como um bálsamo edificante e, após o passe mediúnico, mamãe deu-se por satisfeita. Passou a freqüentar o Centro Espírita e a ler as obras de Kardec. Melhorou muito, mas à cada nova perda na família, a fazia regredir.
Por dez anos assim ficou. Eu passei a trabalhar no Centro Espírita, para melhor ficar perto dela. A visitava todos os dias, sempre soprando pensamentos e influências iluminadas. Tinha ela pouco mais de 50 anos, mas aparentava 70, cabelos brancos, muito magra, pouco se alimentava. Há tempos passou a morar com mamãe Lourdes, essa de espírito forte, sempre receptiva às minhas vibrações e também a acalentava com passes e alguns encontros, durante o seu sono.
Uma noite, mamãe Fátima levantou-se com dificuldades, estava abafada, sentia falta de ar e dirigia-se ao sofá da sala. Eu estava ao seu lado, abraçando o seu andar trêmulo, e ela com voz fraca, murmurou:
"– Agora Você está aí."
"– Sim, mamãe!" – respondi em pensamento.
A amparei para que sentasse. Ajoelhei-me à seus pés e beijei suas mãos, novamente. Desta vez, senti sua mão suave e quente, à cariciar meus cabelos (já estava desligada).
"– Estou pronta, meu filho!"
Em lágrimas, levantei, ainda de mãos dadas, e nos abraçamos comovidos e disse-lhe:
"– Vamos para casa, Mamãe!"
Ela encostou em meu ombro e adormeceu profundamente. Volitamos para a Colônia, e delicadamente pousei seu Perispírito no leito acolhedor do Hospital.
Sempre que a visitava, me apresentava como Ricardo. No dia de sua alta, foi quando plasmei a aparência de Israel. Com um sorriso, ela reconheceu o Espírito que outrora ela havia socorrido, e, em lágrimas de saudade, àquele que, com muita alegria, o recebia em seu Seio Materno!
"Honrai vosso pai e vossa mãe!
Minha mãe e meus irmãos, são todos aqueles que fazem a vontade de meu Pai, que está nos céus." (Jesus - "O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIV).
Fonte: Psicografia de acervo, 1989 – Sociedade Beneficente Espírita Bezerra de Menezes – Porto Alegre/RS – 104 anos.