‘Por que os maus se dão bem na vida?’
– Por que as pessoas boas sofrem tanto, enquanto as más parecem prosperar?
Por que estão agindo no meio delas, no ambiente que dominam perfeitamente. Sabemos que o mal ainda predomina na Terra, então é de se esperar que o mal se sobressaia, prepondere e prevaleça sobre o bem.
Numa sociedade mais justa, os maus se dão mal.
Existem diversas pesquisas que buscam encontrar uma razão que justifique o sucesso no campo profissional de pessoas consideradas más. Uma delas examinou se a resistência mental explica por que os indivíduos com caráter duvidoso atingem a excelência em suas vidas profissionais. Tecnicamente essas pessoas fazem parte da “Tríade negra”, que é composta por indivíduos que se encaixam em perfis narcisistas, maquiavélicos e psicopáticos. O resultado pareceu óbvio: essas pessoas possuem alguns traços de tenacidade mental que lhes conferem vantagens no ambiente de trabalho, pois são ferrenhos na competição. (1)
Você já imaginou uma pessoa dessas (narcisista, maquiavélica e psicopática) como seu chefe?
Mas o que vem a ser uma pessoa boa e uma pessoa má segundo nosso ponto de vista?
A má é mais fácil de reconhecer, não obstante sermos mais rigorosos na avaliação quando somos nós a vítima. Mas, em geral, as pessoas más são egoístas, orgulhosas, prejudicam os outros sem pudor ou ética, se aproveitam de toda situação para levar vantagem, ganham dinheiro desonesto e por aí vai….
Então, vendo tantos crimes e perversidades, dizemos: – aí está uma pessoa de sorte, tem tudo na vida e é feliz mesmo fazendo todas essas maldades.
Diferentemente das novelas televisivas onde todas as pessoas más se dão mal no final, a verdade é que na vida muitas vezes essas pessoas se dão bem sim. E se dão bem justamente porque o ambiente que elas agem (nossa sociedade) facilita suas ações.
Mas será também que as aparências não enganam? Sendo a felicidade uma conquista interior, representada pela consciência tranquila, pela paz que se apresenta espontânea e NÃO por tudo aquilo que podemos conquistar e gozar temporariamente aqui na Terra, será possível e verdadeira essa posição de prosperidade das pessoas más?
A felicidade dos maus não estaria somente na aparência? Não têm eles problemas de relacionamento, por exemplo? Os filhos são disciplinados, educados, estudiosos, sem vícios? Se casados, como é o cônjuge? Bom companheiro, responsável, cumpridor de seus deveres, amigo? Na família não tem ninguém doente?
Claro que eles também têm muitos problemas. É impossível viver na Terra sem aflições, angústias e pressões diversas.
E quanto às pessoas que julgamos boas? Por que muitas vezes sofrem tanto?
O padrão daquilo que julgamos ser bondade é algo que trazemos em nós. Dessa forma, ao analisarmos a índole de uma pessoa corremos o risco de errar até porque não temos a capacidade de ver o que se passa na intimidade de cada um.
Muitas pessoas poderão aparentar bondade com o objetivo de conseguir alguma coisa. São bons atores, eis que usam seus atos dissimulados, fingidos, para obterem alguma vantagem, nem que seja para alimentar seu ego (de acreditar ou mostrar que é uma pessoa boa).
Falam manso e devagar, aparentam calma, tranquilidade, muitas vezes falam em nome de Deus, mas por dentro tem uma panela de pressão prestes a explodir.
Nesse caso, a bondade é apenas um verniz. Em dias de provação mais dura ou quando seus interesses pessoais são ameaçados, a máscara cai e a verdadeira pessoa surge, revelando sua natureza.
“Muitas pessoas que são supostamente boas, caso tivessem poder, usariam mal esse poder adquirido. Vemos todos os dias situações parecidas com essa. Pessoas que pareciam ser boas apenas por não lhes ter sido dada a oportunidade de se mostrarem tal como são. Como diz a máxima: “Quer conhecer uma pessoa? Dê poder a ela”.
É certo que muitos oprimidos anseiam em se tornar opressores. Ao invés de lutarem contra as injustiças, sonham em um dia terem as mesmas condições de seus algozes e ser como eles. Portanto, é preciso tomar cuidado com rótulos de bondade. Da mesma forma que não devemos fazer um julgamento de uma pessoa como sendo alguém mau e perverso, não devemos também julgar uma pessoa como sendo boa antes de conhecê-la mais a fundo.” (2)
Outra questão que precisamos entender é que as pessoas realmente boas são mais adiantadas espiritualmente e, por esse motivo, estão mais preparadas para enfrentar provas mais duras.
“Para entender esse ponto, vamos recorrer a um exemplo. Vamos imaginar um aluno da primeira série fazendo uma prova. Vamos imaginar também um aluno da sétima série fazendo uma prova. Cada um desses alunos realiza um exame que foi preparado de acordo com os conhecimentos do aluno dentro da série onde ele está. Alguém imagina o aluno da primeira série sendo obrigado a resolver as questões de uma prova da sétima série? Claro que não. O aluno da primeira série deverá fazer uma prova adaptada aos padrões da ensino da série em que se encontra.”(2)
“O mesmo ocorre com as almas que vem a esse mundo: as almas mais adiantadas podem sofrer provas mais difíceis porque já estão aptas a serem bem sucedidas. As almas mais atrasadas, por outro lado, não estão preparadas para provações mais complexas, mais duras, mais pesadas, que exijam muito delas, pois se isso ocorrer, elas facilmente vão sucumbir a essas adversidades. Não se pode exigir algo de quem não tem. Como diz a máxima: “Deus dá as batalhas mais difíceis aos seus melhores soldados”.(2)
Por fim, não podemos nos esquecer de que muitas vezes nosso passado espiritual fala mais alto. Somos construtores do nosso destino e o fazemos com nossas escolhas e ações. Ora, como a Lei de Deus é perfeita, colhemos aquilo que semeamos nesta e em outras vidas.
Pode ser que a pessoa bondosa esteja reparando o seu passado de erros, sabedora que a justa expiação das suas faltas lhe proporcionará a paz de consciência para avançar na senda do progresso mais livre e feliz no futuro.
Isso não é tudo, mas é o que conseguimos escrever nesse pequeno texto.
Fernando Rossit
Bibliografia:
(1) www.psiconlinews.com-Tríade negra, Michael Onley , Universidade de Western Ontario.
(2) apoio em texto original de Hugo Lapa