Ossos e Encruzilhadas Aquele que protege a noite, nao descansa, aquele que faz mal paga , aquele que pede socorro é resgatado.
Joelma
Cidades grandes me entendiam. Ao contrário que os profanos pensam, é aonde menos coisas acontecem. Há muitas pessoas de almas vazias correndo de um lado para o outro, agindo como se fossem formigas comandadas por pedaços de papéis, que para a eternidade não vale de nada, mas para os encarnados são motivos para viverem, principalmente em cidades grandes. Não por vontade própria estava ali, fui encarregado pelo líder de minha falange para um edifício que há alguns anos foi famoso por um trágico acidente que matou muitas pessoas, um grande incêndio, os que não foram carbonizados se jogaram para a morte ao verem as chamas se aproximarem, em um surto de histeria.
As ruas daquele bairro costumavam ser uma mistura de energias, comum em todos os lugares, nada prejudicial a ninguém, mas a cada passo que dava em direção a esse prédio mais o ar se tornava pesado e denso como uma neblina espiritual. Aos pés do edifício ninguém vivia. Nem um morador de rua ou viciado chegara ao menos perto, mesmo em seus delírios ao utilizarem entorpecentes. Não estava sozinho, uma pomba-gira foi mandada para me auxiliar nessa missão, já que possuem de uma certa habilidade de achar coisas e pessoas. Nossa missão era simples, resgatar a alma de uma jovem que queimou aqui, mas com certeza não era como qualquer resgate já que eu fui ordenado para isso, um especialista em combate acompanhado de uma rastreadora como Dona Rosa Caveira...
Não... Não era um simples resgate...
Ao adentrar no prédio sentimos um medo pesado pairando o ar , assim como um ódio virei me para Rosa e perguntei.
— Consegue sentir ela ?— Perguntei olhando a forma a qual ela teria ficado assustada. Uma mulher de 24 anos morena de cabelos lisos, e como toda pomba-gira caveira, seu rosto era pintado, enquanto a mim, usava minha cartola meus cabelos dreads amarrados para atrás, meu terno e meu rosto como tradição era desenhado, pele negra... Era meu visual desde minha última reencarnação, porém o único visual que meus médiuns reconheciam.
Ela começou a se mover como se sentisse o rastro e disse.
— Ela está a alguns andares para cima — Respondeu com uma feição séria e olhar fulminante para a frente — Mas temos que passar por eles primeiro.
Olhei na direção em que ela olhava e entendi o porquê do olhar dela, almas malignas e assustadoras ali já teriam se transformado em bestiais, criaturas astrais que mais pareciam um híbrido de cão com humano e com uma enorme fúria e fome, eram atraídas para lugares assim e ali parecia um ninho desses seres, naquele hall havia visto pelo menos três deles, uma sobre o balcão de informações, outra no teto caminhando com os dentes a mostra, como se procurasse algo e mais uma saindo do elevador.
— Ah, agora entendi o porquê nos dois fomos chamados para esse trabalho.— Disse invocando minha bengala com um crânio na ponta, o que completava o meu visual de Exu Caveira.
A criatura do teto soltou um berro e pulou direto na direção da pomba- gira que me acompanhava, mas a mesma só encontrou meu cajado, a acertei onde seria seus olhos arremessando a criatura para longe. A que caminhava no teto deu um rugido, então caminhei até um pilar próximo, apoiei meu pé e comecei a andar até o teto onde a criatura se encontrava, andando devagar como se quisesse fazer uma emboscada e finalmente ela deu seu bote e a acertei num golpe violento nas costas, fazendo a bater no teto e cair no chão, agora só faltava mais uma, que corria para matar Rosa, mas que rapidamente pulou sobre a criatura e passou sua peixeira em seu pescoço o que fez ela cair (não era possível matar algo já morto mas sim drenar ou machucar até que fique incapacitado).
— Acabou os bestiais desse andar? — Perguntei andando até a escada.
— Sim mas tem algo estranho neles — Disse ela me seguindo. — Eles estão agindo de forma estranha.
— Será que algo esta coordenando elas? Perguntei.
— Não sei Caveira , mas eles pareciam estar atrás de alguém, bestiais só são movidos por fúria não costumam pensar tanto.
Não a respondi, porém aquilo me fez pensar, controlar bestiais não era uma tarefa fácil, não era como cães infernais ou exus mirins ou qualquer ser elemental, isso só preocupava minha mente.
Andamos por alguns andares, as vezes encontrávamos bestiais, que agiam do mesmo jeito, farejando e procurando algo, comecei a suspeitar que era a garota, ou outra alma qualquer que se encontrara naquele lugar destruído. No quinto andar a energia da moça era tão forte que até eu que não sou um bom rastreador via aonde ela tinha passado, andamos até um quarto onde assim como tudo naquele lugar, estava carbonizado, ainda alguns resto mortais estavam lá, o rastro dela levou até debaixo da cama, onde estava uma jovem assustada na forma de uma moça loira e com pele clara. Em seus olhos estavam a total presença do medo, ela deve ter morrido pela fumaça, porque tossia muito (mesmo não tendo mais pulmões) Rosa passou a frente se deitou no chão e começou a falar.
— Ei pequena, está tudo bem? — falava de uma forma doce , raramente via ela assim, nem em consultas. Normalmente tem um linguajar um tanto quanto sujo. — Está tudo bem eu vou te ajudar vem aqui— A moça saiu debaixo na cama mas não levantou do chão apenas se sentou, então Dona Rosa puxou a para seu colo e começou a cura-la. — Calma mocinha, vamos te ajudar!
— Obrigada, mas...— disse a menina saindo do colo da pomba- gira — quem são vocês ?
— Bem, é complicado, a senhorita sabe o que está acontecendo aqui?— Falei preocupado se ela já sabia que estava morta.
— Teve a um incêndio e eu me escondi aqui mas a fumaça estava me sufocando, depois vieram os monstros.— disse ela olhando para o nada, como se começasse a entender.— Eu... eu...
—Infelizmente mocinha... — disse Dona Rosa acariciando a pequena.
— Mas quem são vocês ?— insistiu ela, então resolvi falar.
— Bem mocinha, você nos conhece, não com esses rostos , mas somos aqueles que te protegem e não costumamos dormir, somos os protetores da noite, eu sou Exu Caveira e essa é Dona Rosa Caveira — E fiz um gesto de cumprimento que uso no terreiro.
— Caveira... Estão vindos... — disse Dona Rosa e em seguida um bestial soltara um grito e ela continuou — São muitos, mais do que nós dois podemos enfrentar.
— Entendo, vamos — Abaixei e peguei a pequena mocinha nos braços e disse — Senhorita não podemos ficar mais — disse para ela levantando e indo em direção a uma janela — Venha Rosa, vamos pular .
Os gritos e o caminho de passos estavam cada vez mais perto e mais alto, corremos até a janela e pulamos, então a moça segurou meus braços com medo da queda, disse na queda de alguns metros.
— Calma moça, essa queda não nos faz mal... — ainda continuou me abraçando forte.
Levamos a pequena jovem para um velho conhecido para terminar a cura e cuidar dela. Aquela noite , não saiu da minha memória, bestiais juntos procurando uma só alma? Quem era o mestre deles? Eram perguntas frequentes na minha mente e a sensação de que aquilo não tinha acabado.
O Cemitério
Aquelas questões corroíam minha mente, pedi para que Dona Rosa Caveira levasse aquela jovem para um Preto Velho curasse ela e ajudasse a relembrar da sua real existência enquanto isso ia relatar o ocorrido para o líder da minha falange , precisava falar sobre o comportamento daqueles seres bestiais, ele é mias velho que eu , e saberá como agir.
Fui até onde sabia que poderia encontrar o Tatá Caveira, um velho cemitério no interior da cidade de São Paulo, ele é sábio mesmo do seu jeito rabugento,ele saberia como lidar com a situação. Fui andando pelo centro, a cidade começava a amanhecer olhava os humanos que acordavam cedo para trabalharem, pegando seus trens e andando por todos os cantos, moradores de rua sendo chutados para outros cantos mais escondidos da grande São Paulo, enquanto caminhava com o objetivo de me afastar desses centros urbanos de alma vazia encontrei uma alma esperta, entidade que mais encontra humanos, Exu Tranca Rua é o nome que costumam chamar ele , entre nos ele é conhecido como o Guardião das Encruzilhadas , era um homem negro sem camisa, suas pernas eram de bode e carregava consigo uma molho de chaves, seu semblante era de um homem com um grande humor, mas com traços irônicos como uma piada de humor negro, ao me ver disse.
—
Seu Caveira , a quanto não te vejo.— Disse ele com tom de zombaria , mesmo não tendo motivo para tal.
— Guardião, preciso lhe perguntar uma coisa, já que o senhor é o que mais entende o que se passa por essas encruzilhadas, tem visto algo diferente — falei com ele.
— Olha Seu Caveira, sinto que algo esta fora do lugar, as energias estão bagunçadas — Disse ele com certo tom de preocupação— Mas por que da pergunta ?
— Por nada , só uma sensação... Mas Guardião pode me levar até o cemitério de Tatá?
— Mas é pra já Seu Caveira— Disse com um sorriso maldoso, ele andou até uma das pontas da encruzilhada pegou uma oferenda de cachaça e colocou um pouco na boca foi até o centro da encruzilhada e esguichou no ar , ao poucos cachaça que caia formava uma velha porta de madeira, com o sigilo do Guardião , ele se afastou um pouco e disse — O senhor vai encontrar o Tatá agora? Esta quase de manhã , e sabe como ele fica rabugento.— Disse do seu jeito brincalhão.
— Bem , o que ele pode fazer comigo? me matar?— Apos dizer isso empurrei a porta e sai na outra encruzilhada uma perto do cemitério
— Bem boa sorte Seu Caveira— Disse ele do outro lado da porta antes de fecha-la bebendo um pouco mais de cachaça .
Era um dia de domingo, o cemitério estava com poucas pessoas visitando seus entes queridos, deixando flores, e um aroma leve no ar, o cemitério era simples de túmulos antigas e já gastas, alguns esquecidos a muito tempo, parcialmente destruídos pelo tempo e pelo esquecimento, caminhei por entre os ossos até chegar a uma cripta antiga coberta por musgo transpassei pela porta e entrei nos domínios de Tatá Caveira , o exu mais velho da minha falange, e ela estava ele em seu treno de ossos, era a imagem semelhança da morte, um esqueleto completo coberto por um manto negro de pura sombra, em sua mão esquerda carregava uma enorme foice com uma enorme guia enrolada preta, naquele estado sentado ali parecia ser um gigante , ossos de nephilim, ele gostava de se transmutar nessa forma intimidadora, olhou para mim e disse.
— Ah , o que faz você vir aqui me incomodar Senhor Caveira- Disse uma voz rouca e grave.
— A ultima missão que o senhor me mandou , tinha algo estranho.— Disse dando um passo a frente .
— Um resgate porra , você já não fez muitos desse em?— Disse ele mostrando seu jeito rabugento.
— Mas tinha algo errado com bestiais que encontrei lá .
Boneca
— Quem sabe ...—Disse desviando do olhar esperançoso dela.
— Ah... Bem... Ei obrigado, não cheguei a agradecer por ter me salvado daqueles monstros .
— É o meu trabalho senhorita, não precisa me agradecer.
— Por que?— Disse ela sentando com as pernas cruzadas como criança e olhando diretamente para mim.
— Por que o que criança.
— Por que se tornou um Exu Caveira?
— Bem, acho que sempre fui um, só não sabia , acho que é assim com todos, um dia vai saber aonde pertence... a senhorita pretende ajudar os outros ?— Perguntei para ver se o que Zeca disse estava certo.
— Não sei bem... Talvez possa salvar as pessoa como você , o que acha? —Disso olhando com um sorriso para mim
Mas antes de responder algo chamou minha atenção, um homem andava até nos , o ar se densificava com sua aproximação , vestia um sobretudo preto , um enorme cachecol vermelho e um chapel fedora , mal se via a pele dele mas suas intenções eram bem claras, sua aura demonstrava isso como uma imensa nuvem preta e vermelha com se o ódio fosse tão denso que virasse uma nuvem. Ele caminho mais um pouco em nossa direção e disse.
— Impressionante, de novo nossos caminhos se cruzam — levantando o rosto permitindo que vesse seus olhos negros por completo— Qual é o nome que esta usando agora em? Exu Caveira ?
— Eu não sei do que esta falando e mal lhe conheço senhor mas se acha que me conhece por minhas outras vidas não sabe a metade do que sou capaz .
— Não me reconhece nessa forma? Não seja por isso... — ele retirou o chapéu e começou a moldar o próprio rosto, aquele rosto sim conheci e muito bem, foi por causa daquele que agora estava morto.— Agora esta melhor... E de novo o senhor esta entre mim e meu objetivo.
— O que quer com ela seu maldito ?— Disse com um odio no coração que a muito nao sentia.
— Eu pessoalmente não quero nada, mas fui pago para pega-la.
— Não vai tocar nela, eu não permitirei— O meu odio ja estava exalando.
— Já ouvi isso antes...— Disse ele com um sorriso sarcástico demoníaco
— Agora vai ser diferente...— Me levantei e já materializei minha bengala tipica.
— O não estou interessado agora , mas para não te decepcionar...— Tirou do bolso uma boneca de pano e prosseguiu — Te deixo um pouco de entretenimento... — E jogou a boneca no chão, sombras começaram a sair dela formando uma criatura vinda diretos do pesadelos mais obscuros de um assassino, era um ser humanoide sua pele era uma mistura de pele com tecidos costurados tinha um corpo magro e esguio, seus cabelos eram fios de lã desgrenhados, seus olhos eram enormes botões costurados, que desciam para uma boca gigantesca com pontos estourados cheios de dentes,na ponta de seus braços longos em vez de dedos tinham garras como facas afiadas, ela andava curvada para frente como se seus braços fossem muitos pesados para seus ombros, então o homem sussurrou para a criatura — Querida ... Pega ele ...
A criatura pariu em minha direção com um grito, desviei do golpe da sua garra vindo pela direita, e consegui defender o garra da esquerda o que deixou a criatura com o rosto desprotegido, aproveitei da oportunidade para acertar um golpe com minha bengala no que parecia ser o queixo dele, com a força do me golpe a criatura afastou um pouco, mas ela era um servidor forte , a maioria teria caído com aquele ataque mas ela avançou de novo com a mesma fúria, aquela criatura tinha sindo feita e moldada em um instinto assassino feroz , aquele ser não ia cair com aqueles golpes , olhei para moça para me certificar que ela estava bem só precisou de um segundo de distração para a criatura me acerta uma pancada que me faz ser arremessado até o banco de concreto, levantei me olhei para a criatura que já começara a andar na direção da senhorita que estava paralisada de medo,corri até a criatura usei o banco como apoio para um salto com o intuito de derrubar a criatura, bati com o meu ombro no peito da criatura a derrubando no chão , levantei me rápido e fui até a criatura , a minha bengala não seria o suficiente para destruir aquela criatura , comecei a canalizar aquela raiva que sentia em minha bengala , logo ela se tornava em vez se uma bengala uma lamina negra em seu pomo estava a figura de um cranio , a muito não usava essa espada mas não podia arriscar , a criatura tentou novamente me rasgar com as garras, mas cortei o braço da criatura em seguida em um movimento rápido decapitei a criatura, todo aquele ódio e desejo assassino da criatura começou a sumir assim como seus restos viraram fumaça e sumiram.
Umbral
O cheiro de morte, fezes e podridão preencheu meu nariz assim q consegui abrir os olhos, uma enorme dor em meu peito me fazia ter dificuldade de levantar daquela lama, quase não tinha luz quando abri os olhos, não estava mais em minha casa ou sequer em meu mundo, sentei na lama para ver o que queimava em meu peito e vi ali um buraco de sangrando, minha memoria estava enevoada, não lembrava como tinha acontecido aquele buraco, mas lembro da luz e do barulho, com muito esforço consegui me levantar, me apoiei em uma pedra grande que estava meu lado e olhei onde estava direito. Parecia uma obra de paisagem que tinha acabado todas as cores quentes do pintor, era um cenário rochoso , e único som que ouvia era o vento gélido, os gemidos, e de vez em quando um grito cortava o silencio , as vezes perto as vezes muito longe.
Caminhei sem rumo na direção do que parecia um sol, mas branco e sem calo , quase como uma lua, enquanto me arrastava olhava a minha volta, via o que pareciam ser corpos muitos totalmente destruídos, as vezes via pessoas chorando lamentando, pessoas de todos os tipo , muitas pareciam cadáveres chorosos, o ar era tão denso que parecia estava respirando cimento, algumas pessoas ali tinham facas e ficavam incessantemente tentando se matar, fazendo diversos corte e lacerações, e choravam mais, berravam com enorme angustia, outros carregavam facas, ou qual quer tipo de arma branca e agrediam todos a sua volta, como bestas desesperadas, mas enquanto eu andava ninguém pareciam muito notar minha presença, até que um homem de barba cheia e espeça gritou e começou a correr em minha direção segurava nas mãos o que parecia ser uma navalha, comecei a correr o mais rápido que conseguia mas ele estava chegando mais e mais perto, até que que em um salto conseguiu garrar meu calcanhar e me derrubou no chão, me virei e vi senti sua lamina cortas minha perna , a dor queimava muito mais do que qual quer corte que já tive na vida , chutei com a outra perna o rosto do homem, senti seu nariz se quebrando sub a sola de meus pés, mas ele não parou continuou em cima de mim, ficou sub meu peito e tentou me cortar mais mas segurei seus braços , ele gritava e xingava como se fosse uma mulher, quando minhas forças falhavam e via a lamina se aproximar de meus olhos entrando em profundo desespero, alguma coisa acerta o rosto do homem em cheio jogando aquele homem para longe, quando olhei vi quem tinha feito isso, era um homem magro de pele negra como a minha usando roupas formais, ao contrario das outras pessoas que vestiam trapos sujo, e em seu rosto uma caveira branca pintada , ele olhou para mim, e falou.
— Mais viram...— Com uma voz grossa e imponente.
Eu mal conseguia respirar , mesmo assim me forcei a falar
— Me ajuda, por favor.
— Antes de te ajudar, você precisa aprender a levantar e saber onde esta, só assim vou poder te ajudar— Disse o homem com um olhar severo, em seguida virou de costas e falou.— Assim que conseguir fazer isso eu mesmo o resgatarei.— e saiu andando sem me dizer nada...
...
Um ano se passou,pelo que penso, pois não havia dia ou noite era tudo uma coisa só , meu machucado não se curava, mas finalmente tinha entendido o que estava acontecendo, estava morto, assim como todos ali , por isso via pessoas tentando se matar e não morrendo, pessoas matando umas as outras e não morrendo, mas a dor não passava, agora conseguia andar, e evitar ataques daquelas almas atormentadas, minha memoria com o tempo voltou, me lembrei do tiro , quem atirou , o porque, e então estava escondido numa caverna quando via o homem com roupas finas e o rosto pintando andando em minha direção, sem dizer nada esticou a mão e disse.
— Você conseguiu dar o primeiro passo, agora venha comigo...
Segurei sua mão e ele comum puxão forte me levantou, caminhamos um pouco pela aquela terra morta e ele disse.
— Como se chama esse lugar para você?— Falou sem olhar para mim.
— Inferno.— Respondi quando vi um homem cortando a barriga de uma mulher.
— É o que parece né?— E deu um sorriso de canto de rosto— Era católico?
— Não, não acreditava em nada—continuamos andando.
— Foi uma surpresa então quando soube que estava morto.
Não respondi, ele manteve o sorriso. Andamos até que dois homens estavam de pé esperando, um era bem vestido segurava uma garrafa que parecia ser um uísque barato, o outro era curvado e tinha pernas de bode, alguns pequenos chifres saiam da sua cabeça,ao ver aquilo fiquei assustado, então o homem disse.
— Não se preocupe estamos aqui para te regatar...
Ao chegar o de roupa bem vestida disse.
— Era ele que você queria resgatar, João?
— Eu prometi para ele.— disse olhando para mim
Então o homem que mais parecia um demônio chegou perto de mim , começou a me encarar com sua cara carrancuda.
— Bom... acho que já sei pra quem mandar... Abra o portal tranca ruas vamos levar ele para o Pai Thomaz , ele vai cuidar dos ferimentos dele, depois ele vai decidir o caminho que quer levar.
Então o homem de terno desenhou com com os dedos no ar uma simbolo e em seguida jorrou um gole de cachaça , então um portal e finalmente sai daquele lugar, que muito depois descobri que era o Umbral.
Cães de Andaluzia
O passado volta parar nos assombrar, até quando se esta desencarnado seus males voltam, o mesmo homem que atirou em mim enquanto protegia, minha esposa na vida passada, agora perseguindo a dama que protejo, esse ciclo de ódio tem que acabar agora, não permitirei que mais gente se machuque por causa desse assassino.
Depois do ataque aquela criatura voltamos para onde Zeca trabalhava, era melhor ficar em um lugar protegido, quando aquele maldito descobrisse que destruímos sua cria maligna iria atras de nos. Seu Zeca conversava com um homem desencarnado usava um chapéu e um terno era quase tão negros que pareciam consumir a luz do ambiente.
— A quanto tempo senhor Caveira...— disse o homem então mostrando seu rosto, tinha cabelos longos e presos em um rabo de cavalo, olhos negros como uma noite sem estrelas, e um cavanhaque perfeitamente desenhado,era Meia-Noite do seu jeito misterioso como sempre.
— Muito tempo, vejo que decidiu voltar a ajudar os carnados.
— Esses profanos pouco tenho interessem, nunca fui bom em dar conselhos— as palavras dele saiam como contos de mistério — Mas vim por pedido de Zeca , ele disse que essa senhorita precisava de alguma defesa até aprender a se virar sozinha.
Então comecei a contar sobre o que aconteceu a poucos minutos, para ambos, ao contar da boneca Meia-Noite, seus olhos brilharam como estrelas solitárias em um mar negro, ele coçava a barba pensando, olhou para a senhorita e andou até estarem a menos de um passo de distancia .
— O que uma mocinha fez parar ter alguém capas de contratar os trabalhos tão envolvido em magias desse nível, iludiu algum bruxo errado?— Seu olhar era como ataques de cães famintos.
A garota, tentava desviar o olhar mas era impossível, então disse tímida e acuada.
— Antes de morrer eu estava noiva de um homem, ele era dono de um fabrica, meu pai empurrou me para ele, mas não a amava, mas para o bem da minha família aceitei casar...
— Permita me adivinhar mocinha— interrompeu com maldade— a senhora conheceu alguém e largou ele.
— Não! Eu...— disse tímida— Eu não conseguiria viver com quem não amo...
— A sinhazinha tá mais que certa— Olhando com opressão para Meia-Noite— Não pode se ajunta com quem o coração não fica quentinho— olhava com um sorriso com ternura na boca junto ao seu cachimbo. Meia-Noite acendeu outro cigarro e disse.
— E então desencarnou... Realmente os profanos tende a ser bem vingativos, mas ao ponto fazer um trabalho para seu mal no além tumulo—disse ele repreendido por Zeca
— Precisamos ligar com ele antes do próximo ataque— disse tentando focar no que importava.
— Para magias desse nível, ele precisa de sangue então precisamos encontrar quem está fornecendo para ele.— Disse Meia-Noite.
— óia eu a de dar uma chamada nos tranca rua pra ver se tão vendo alguma oferenda pelas encruziadas— disse Zeca pensativo.
— Eu e o senhor Caveira vamos procurar também... — Ele parou e começou a olhar pro lado, então um som esquisito começou a se tornar mais alto, o som se um cachorro farejando— Tem algo esta vindo... — Abriu um sorriso de escarnio, eu materializei minha bengala, enquanto da sombra do Meia-Noite três cães parcialmente feitos de fumaça negra surgiram rosnando, ao ver isso a pequena donzela correu para atras de mim.
Da porta seres híbridos de humanos com animais começaram a surgir, alguns pareciam mistura de homens com lobos grandes, outros pareciam com serpentes com braços menores que os lobisomens, eles esperaram um pouco e foram para o ataque. Uma bestial grande pulou na direção do Meia-Noite, ele sorriu e antes da criatura alcançar ele um cão surgiu o pescoço da criatura e começou a mastigar.
— Parece que pegaram seu cheiro pequenina — Falou Meia-Noite dando um sorriso maldoso para ela.
Uma outra criatura agora vinda do teto passou por meia noite e foi direto para mim, eu travei a mandíbula da criatura com a bengala e a quebrei depois subi sobre ela terminando de quebrar seu pescoço, mesmo sabendo que não se pode morrer depois de morto, golpes como esse conseguiam deixar as criatura inertes até forem alimentadas com alguma energia. Virei me para o preto velho e falei para saírem daqui, ele se levantou do banquinho a qual sentava e puxou a menina pelo braço até uma saida
— Deixem na junto de Táta,por enquanto! — Disse sem desviar o olhar das criaturas, reparei que a criatura a qual o Cão de Meia-noite atacou fora arrastado para uma sombra e sumira, meia noite esta com suas mãos para traz olhando seus cães brigando com um sorriso.
***
Ao chegarmos no cemitério onde Tatá a muito fez sua morada, fomos recebidos por outros exus da minha falange eles estavam protegendo o lugar, parece que já sabiam que vinhamos fugindo daquele numero gigantesco de almas, enquanto Meia-Noite soltava seus Cães de Andaluzia, para irmos embora rápido , mesmo ele sabendo que eu conseguiria lutar com aqueles seres baixos , acho que ele temeu pela senhorita que, ainda não aprendeu a se defender.
Tatá estava sentado em seu trono de ossos no interior de uma cripta , estava discutindo com Rosa ao que quando cheguei param de falar, Tatá estava apoiando seu cranio em seu punho como se tivesse de mal humor, mas ao me ver levantou se e disse.
— Seu Caveira, que bom que conseguiu trazer a garota para cá, a Dona Rosa Caveira veio para cá, assim que viu os cães do Meia-Noite la no terreiro em que vocês estavam.—Disse ele do seu jeito costumeiro.
— Como ela chegou primeiro que nos?— Perguntei.
— Um Guardião as levou até mim.— Respondeu apontando em um homem Tranca-Rua que fez um gesto com a cabeça como comprimento, era um homem negro de cavanhaque, usava uma capa e uma cartola , mas estava de peito nu e descalço,segurava uma faca ornamentada com uma joia vermelha na maça . — Me fala logo porra o que esta acontecendo?!— Disse batendo com a foice no chão com rispidez.
Quando terminei de contar sobre o homem que me matou em outra vida, escuto barulho de passos vindo de traz de mim, quando olhei era Meia-Noite vindo de uma sombra e trazia Zeca no ombro direito, Zeca estava com uma marca de garras em seu ombro .
— Meus cães deram um jeito naqueles bestiais, mas não consegui garantir a integridade
dele— Disse com a cabeça baixa.
Tatá levantou se de sua cadeira e foi até o Zeca, examinou a ferida dele e disse.
— Vamos ver se o senhor me ensinou alguma coisa...— Esticou o braço direito ossudo e começou começou radiar uma energia totalmente diferente da de costume, era quase como a de Zeca só que não tão elevada mas ainda sim conseguiu fazer com que os machucados de Zeca, após um tempo ele se levantou apoiando na sua bengala e disse.
— Não é que suncê aprendeu direitinho,hehehe... — Disse Zeca como se falasse com um neto—Seu Caveira e Rosa, acho que é meiô suncês irem oia a casa do pretendente de sinhazinha.