O MISTÉRIO POMBOGIRA
Introdução
"Tenho a intenção de fazer homenagem a essas Marias, todas as Marias do mundo, não só Maria Padilha e Maria Mulambo que foram as pioneiras no cenário do espiritismo. Uma figueira é Maria, uma Rosa Caveira é Maria, toda pombagira ela é Maria, porque Maria é sinônimo de lágrima, de sofrimento e muita luta, desde Maria mãe de Jesus, Maria da Penha, Maria das dores. Marias que moram no nosso mundo espiritual e que nos amparam e protegem.
Maria que tem a intenção de brilhar no cenário espiritual dependendo apenas de uma matéria. Muitas pessoas as vezes não entende qual a coligação das pombogiras com a matéria, é uma troca, ela vai evoluir através da intenção da matéria. Quem gostaria de ser uma pombagira? Ninguém gostaria, todos querem receber a pombagira, pra fazer o mal, pra mostrar que é bom, pra arazar, enfim, mas ser uma pombagira ninguém quer ser. Porque imagine depender de uma matéria que a compreenda e a evolua, porque a entidade é o que a matéria é, ela vai pra onde a matéria a levar, portanto, se eu me enveredar por entre as catacumbas dos cemitérios, ela vai me acompanhar, se eu me enveredar pelo caminho da perseguição, da maldade e da feitiçaria, com certeza ela vai fazer isso, mas eu estarei empurrando-a para o abismo, porque na realidade ela é aquilo que eu a fizer ser. Ela não vai conseguir me fazer ser aquilo que ela quer que eu seja, porque existe o livre arbítrio, e é por isso que a matéria pode mais do que a entidade, a entidade é mais dependente de nós do que nos da entidade. Portanto esse trabalho tem a intenção de deixar claro que nós precisamos ajudar essas pombagiras ou qualquer entidade, a evoluirem , não permitindo que eles façam maldades, porque quando esses fazem maldade se prejudicam e nos prejudicam, quando permitimos que eles façam nossa cabeça nós estamos os empurrando para o abismo.
Portanto esse trabalho tem essa intenção de resgatarmos a dignidade espiritual, tirar das mãos dos pastores essa imagem negativa, capetonêa e diabólica que é usada para conquistar mais e mais fiéis para seus seguimentos religiosos."
Doté Luis de inhasã
(In Memorian)
CAPÍTULO I
Conteúdo retirado do livro- Orixá Pombogira
Muitos umbandistas ficam confusos porque não conseguem justificar a presença de um espírito feminino que foge aos padrões morais e comportamentais da nossa sociedade, predominantemente cristã, em que a mulher está colocada em um pedestal elevadíssimo e muito dignificante enquanto mãe, esposa e filha obediente, mas que a lança no abismo do opróbrio se ela fugir ao "arquétipo" da submissão e, fazendo uso do seu livre-arbítrio, der um rumo ou uma diretriz pessoal à sua vida.
É claro que uma mulher altiva, senhora de si, segura, competentíssima no seu campo de atuação, seja ele profissional, político, intelectual, artístico ou religioso, impressiona positivamente alguns e assusta outros.
Agora, se esse imenso potencial também aflorar nos aspectos íntimos dos relacionamentos homem-mulher, bem, aí elas fogem do controle e tanto assustam a maioria como começam a ser estereotipadas como levianas, ninfomaníacas, etc., não é mesmo?
Uma mulher submissa, só acostumada e condicionada a sempre dizer "amém", todos aceitam como amiga, como vizinha, como colega de trabalho, como namorada, como esposa, como irmã, etc., mas uma mulher questionadora, insubmissa, mandona, contestadora, independente, personalista, etc., nem pensar, não é mesmo?
- Pois é!
Não seria diferente em se tratando de espíritos e, para complicar ainda mais as coisas, com eles incorporando em médiuns e trabalhando religiosamente pessoas com problemas gravíssimos de fundo espiritual.
Quanto às mulheres, as Pombagiras da Umbanda simbolizavam tudo o que lhes era negado pela sociedade machista, repressora e patriarcal do início do século XX no Brasil, onde à mulher estava reservado o papel de mãe, irmã, esposa e filha comportadíssimas... senão seriam expulsas de casa ou recolhidas a um convento.
Mas, com as Pombagiras da Umbanda não tinha jeito, porque ou deixavam elas incorporarem em suas médiuns ou ninguém mais incorporava e ajudava os necessitados que iam às tendas de Umbanda.
Só um ou outro dirigente ousava realizar sessões de trabalhos espirituais com as Pombagiras, e a maioria deles preferia fazer "giras fechadas" para a esquerda, para não "escandalizar" ninguém e para não atrair para o seu centro a polícia e os comentários ferinos sobre as "moças da rua".
Só que essa não foi uma boa solução porque as línguas ferinas logo começaram a tagarelar e a espalhar que nessas giras fechadas rolava de tudo, inclusive sexo entre os seus participantes, criando um mal-estar muito grande, tanto dentro do círculo umbandista quanto fora dele.
E, ainda que tais fuxicos fossem falsos e maledicen-tes, não teve mais conserto porque o "vaso de cristal" da religiosidade umbandista nascente havia se trincado, as "moças da rua" já haviam sido estigmatizadas como espíritos de prostitutas que incorporavam em médiuns mulheres para fumarem, beberem champagne, "gargalharem à solta", rebolarem seus quadris, balançarem seus seios de forma provocante e para atiçarem nos homens desejos libidinosos e inconfessáveis.
O único jeito de amenizar o "prejuízo religioso" que elas haviam causado com suas "petulâncias" foi tentar explicar que não era nada disso, e sim, que as Pombagiras eram Exus femininos e, como todos sabem, Exu não é flor que se cheire, ainda que seja muito competente nos seus trabalhos de auxílio aos necessitados de socorros espirituais, certo?
Como "mulher de Exu" ou como Exu feminino, ainda dava para deixar uma ou outra incorporar na gira deles, mas já submissas a eles, que ficaram encarregados de zelar pela moral e pelos bons costumes delas...
E aí as giras de esquerda foram sendo abertas timidamente e, pouco a pouco e paralelamente, a sociedade estava passando por profundas transformações sociais, comportamentais e políticas, em que a poderosa Igreja Católica estava perdendo poder e cedendo à sociedade algumas liberdades religiosas.
Quando os militares assumiram o poder nos anos 60 do século XX e logo entraram em choque com alguns setores do catolicismo arraigados na política, então diminuiu de forma acentuada a intensa perseguição da polícia sobre as tendas de Umbanda.
Somando à liberdade conseguida no período da ditadura, vieram os movimentos feministas que explodiram na América do Norte e na Europa, que conseguiram muitas conquistas para as mulheres.
A par desses acontecimentos, veio a explosão de revolta da juventude, com os Beatles e com Woodstock, que muda ram os padrões comportamentais dos jovens e as relações entre pais e filhos.
Pombagira assistiu todos esses acontecimentos, que se passaram nos anos 1960 e 1970 e, entre um gole de champagne e uma baforada de cigarrilha, dava suas gargalhadas debochadas, e dizia isto:
- É isso aí, mesmo! Mais transparência e menos hipo crisia!
CAPÍTULO II
Não demorou a descobrirem que ela atendia a todos os pedidos, inclusive aos de "amarrações para o amor", para "separação de casais" e outros pedidos bem terrenos dos humanos.
Como ninguém se preocupou em fundamentá-la em quanto Mistério da Criação e instrumento repressor da Lei Maior e da Justiça Divina.
Temidíssima justamente em um dos campos mais controvertidos da natureza dos seres, que é justamente o da sexualidade, eis que não foram poucas as pessoas que foram pedir o mal ao próximo e adquiriram terríveis carmas, todos ligados aos relacionamentos amorosos ou passionais.
Junto à explosão descontrolada das manifestações de Pombagiras, vieram os males congênitos, que acompanham tudo o que é poderoso: os abusos em nome das entidades es pirituais, tais como os pedidos de jóias e perfumes caríssimos;
de vestes ricas e enfeitadas, de oferendas e mais oferendas caríssimas; de assentamentos luxuosos e ostentativos; de cobrança por trabalhos realizados por elas, mas recebidos em espécie por encarnados, etc.
Pombagira também serviu como desculpa para que algumas pessoas atribuíssem a ela seus comportamentos no campo da sexualidade.
Ainda que hoje saibamos que elas são esgotadoras do íntimo de pessoas negativadas por causa de decepções e frustrações nos campos do amor, no entanto ainda hoje vemos um caso ou outro em que atribuem à Pombagira o fato de vibrarem determinados desejos ou compulsões ligadas ao sexo.
Mas a verdade indica-nos exatamente o contrário disso, ou seja, a "mulher das rua" atua esgotando o íntimo de pessoas e de espíritos vítimas de desequilíbrios emocionais ou cons-cienciais, pois essa é uma de suas muitas funções na Criação.
CAPÍTULO III
Aqui, reproduzimos parte do artigo para que nossos leitores saibam de onde se originou o nome "Pombagira" ou "pombogira" usados atualmente na Umbanda e nos demais cultos afro-brasileiros; é uma corruptela de Pambú Njila, o Guardião dos Caminhos e das Encruzilhadas no culto de nação Bantu, da língua Kimbundu.
Eu já li em outro autor, isso há mais de 30 anos, que o nome "Pombagira" derivava de Bombogira, entidade do culto angola que é oferendada nos caminhos e nas encruzilhadas, muito temida e respeitada na região africana onde é cultuada.
Há outras informações que nos revelam que Pombogira ou Pombagira ou Bombogira é derivada das "yamins", cultua das na sociedade matriarcal secreta conhecida como "gelede".
Se são cem por cento corretas ou só parcialmente, isso fica a critério de cada um, porque o fato é que existem, sim, espíritos femininos que incorporam em suas médiuns e apresentam-se como Pombagiras na Umbanda, assim como nos demais cultos afro-brasileiro
Nomes em uma língua ou em outra, são só nomes, e o que importa é o que representam, significam e simbolizam...
ou ocultam.
Quanto ao seu nome, Pombagira, pouco importa para os umbandistas se é uma corruptela de um nome Bantú ou se é a sua tradução sonora adaptada a um mistério feminino que tem funções tão importantes e tão abrangentes quanto o original e masculino Pambu Njila.
O que os umbandistas devem saber é que "Pombagira" veio para ficar e nada ou ninguém conseguirá impedir suas manifestações, quer a aceitem ou não.
Para nós, interessa sabermos que as entidades espirituais femininas que se manifestam incorporando em seus médiuns e apresentam-se como Pombagiras pertencem às linhas da esquerda e realizam trabalhos espirituais importantíssimos, que só elas podem e conseguem fazer porque são manifesta-doras de mistérios de uma divindade feminina não revelada na Teogonia Nagô, e que antes do advento da Umbanda seu nome não fazia parte do panteão yorubano.
Mas, como ela se revelou na Umbanda com esse nome e já deu provas e mais provas sobre sua importância, seu poder e suas funções, compete a nós, os umbandistas, fundamentá -Ia em Deus, entre os Orixás, na Criação, na Natureza e em nós mesmos, elevando-a à condição de Orixá para, a partir daí, ensiná-la corretamente aos nossos irmãos e irmãs dos demais cultos afro-brasileiros, onde ela também já entrou e se estabeleceu como mistério indissociado dos outros Orixás.
Ou vocês acreditam que antes do advento da Umbanda, Pombagira era conhecida de fato nos outrora fechadíssimos cultos afros estabelecidos no Brasil?
Nos de origem Nagô ou Nigerianos, não havia outras incorporações além das dos Orixás, e quem mais tentasse incorporar era tratado como "Egun".
Pomba é um passaro usado no passado como correio, "os pombos correios". Gira é movimento, caminhada, deslocamento, volta, giro, etc. Portanto, interpretando seu nome genuinamente português, Pombagira significa mensageira dos caminhos à esquerda, trilhados por todos os que se desviaram dos seus originais caminhos evolutivos e que se perderam nos desvios e desvãos da vida.
Pombagira, genuinamente brasileira e umbandista, está aí para acolher a todos os que se encontram perdidos nos caminhos sombrios da vida... ou da ausência dela, certo?
CAPÍTULO IV
LENDA SOBRE A
ORIGEM POMBOGIRA
Conta uma lenda que antes de Olorum manifestar a intenção de criar um Seu exterior para nele abrigar tudo e todos que viviam em Seu interior, os Orixás, indissociados de Suas divinas faculdades criadoras-geradoras, viviam como uma grande família divina.
Cada um já possuía sua personalidade própria e, se vistos como estados internos do Divino Criador Olorum, cada um era o guardião de uma matriz geradora, personificada e individualizada neles.
Lá estavam os Orixás cujos nomes conhecemos por meio da Teogonia Nagô e estavam outros, cujos nomes não foram revelados porque seus mistérios só foram abertos em outras culturas religiosas.
Mas que todos já preexistiam no interior do Divino Criador Olorum, isto é uma verdade incontestável. E se muitos não foram revelados na cultura religiosa dos povos nagòs, isto não diminui a importância deles para o Todo, que é ele, Olorum, o nosso Divino Criador.
E todos coexistiam no interior de Olorum, com cada um cuidando das suas fínções em paz, harmonia e equilíbrio, só alterado de vez em quando por uma das divindades mais fechadas e que nem no culto nagô quiseram revelá-la por receio de que seu mistério não fosse bem compreendido, preferindo deixá-la entre os 200 não revelados.
Mas, com o advento da Umbanda e com a necessidade do seu mistério, ela recebeu um nome que é uma adaptação fonética ou corruptela, já comentada no início deste livro, certo?
Sim, estamos falando do Orixá feminino cujo nome é Pombagira!
Pois bem! Pombagira, no interior de Olorum, é em tudo oposta ao arquétipo que lhe construíram na Umbanda e era calada, ciumenta, possessiva, dominadora, mandona, irritadíssima, etc., tal como alguns já descreveram as entidades femininas cultuadas no culto Geledé ou das temidas feiticeiras africanas, que formam uma genuína sociedade secreta matriarcal.
Bom, deixando esses assuntos ocultos de lado, o fato é que, quando alguém precisava da participação de Pombagira em alguma ação interna, era mais fácil falar com Olorum do que com ela, encastelada dentro de sua matriz geradora como uma majestosa, "curta e grossa" rainha, sem papas na língua quando algo a desagradava ou com o que ela não concordava.
Um dos poucos Orixás que eram melhor recebidos por ela era Ogum, e ainda assim porque sua "marcialidade" tornava-o pouco falante, preciso e objetivo nos contatos "diplomáticos" com ela, a mais soberba das Orixás femininas.
Dela e dos seus mistérios, poucos sabiam alguma coisa, e isso quando era possível obter algo dela, às vezes conseguido só após Olorum determinar-lhe diretamente.
Enfim, Pombagira era o oposto em tudo ao que se sabe dentro da Umbanda.
Ela vivia isolada de todos, não se misturava com ninguém no interior de Olorum e zelava pelo rigor e discrição nas suas ações e, porque ela havia sido gerada na matriz geradora de interiores e a Criação, até aquele momento crescia "por dentro e para dentro" do nosso Divino Criador; ela era a guardiã divina dos interiores e era muito solicitada para que ativasse o mistério da sua matriz geradora e gerasse "interiores" dentro dos já internos domínios dos Orixás.
Pombagira recebia de Olorum um tratamento e um carinho muito especial porque ela era rigorosíssima na concessão de "interiores" para os domínios dos outros Orixás, muitos dos quais a viam e a tinham como "muito exigente". Exu Mirim, porque era meio bocudo e dizia o que pensava sem refletir no peso das palavras, não se dava nada bem com ela e ambos viviam se estranhando, digo, antago-nizando-se só de se olharem.
Esse fato se refletiu na Criação externa de Olorum, pois quando Este intencionou exteriorizar sua Criação interna, e como as intenções divinas eram geradas na matriz geradora de intenções, Olorum determinou a ele que solicitasse a Pombagira que ela abrisse um interior nesse plano das intenções, que se tornaria o primeiro estado da Criação.
Exu Mirim, gerado na matriz geradora das intenções divinas, era o primeiro a saber das intenções de Olorum e logo as revelava aos outros Orixás. Mas, não sabemos porque, daquela vez guardou para si as privilegiadas informações sobre as novas intenções Dele e, sem comunicar nada aos outros Orixás, dirigiu-se até os domínios da matriz geradora de interiores e exigiu falar imediatamente com Pombagira, a guardiã dos mistérios da interiorização... e dos interiores das coisas e de tudo mais.
Como ele exigiu uma audiência imediata e em nome de Olorum, ela dispensou um outro Orixá que estava falando-Ihe sobre a necessidade de ser criado um interior em várias coisas já geradas em seu domínio interno na Criação.
Ela interrompeu a audiência e cancelou toda a sua agenda porque se um Orixá exigia uma audiência imediata em nome de Olorum, tudo tinha que ser interrompido, pois no instante seguinte tudo poderia ser mudado.
Já sabendo que ia ser o primeiro Orixá a ser exterioriza-do e que no "lado de fora" seria o Orixá primogênito, ele se esqueceu ou deixou de lado certas regras de procedimentos em domínios alheios e assim que entrou na matriz geradora de interiores e ficou diante dela, foi logo dizendo:
- Pombagira, o nosso pai e nosso Divino Criador Olorum determina-lhe que abras um interior para o plano das intenções, já gerado por ele na matriz que me gerou.
- Que plano é este, que não ouvi nada sobre ele até agora, mal educado e nada diplomático Exu Mirim?
- É o que eu já disse: a partir da matriz geradora das intenções o nosso pai Olorum exteriorizará de si um primeiro plano da Criação, por onde Ele exteriorizará todas as Suas intenções divinas para que, a partir desse plano, a Criação possa ser exteriorizada no que será conhecido como "o lado de fora ou a morada exterior do Divino Criador Olorum!"
- falou ele, todo seguro de si e com uma certa mordacidade, pois, não se sabe por que, estava se sentindo superior a todos os outros Orixás.
Pombagira, por gerar o fator envaidecedor, captou um "quê" de vaidade nele e achou que o que Olorum intencionara fosse prejudicá-la ou colocá-la em uma posição de inferioridade ante Exu Mirim, com o qual já tinha várias contas pendentes.
Por pura precaução, ela não exteriorizou o ciúme que sentiu ao vê-lo ser privilegiado em algo que ela desconfiou que seria grande, muito grande!
Sem que Exu Mirim soubesse que ela possuía um mistério que lhe permitia saber das coisas, inclusive das intenções, por dentro delas, ela o ativou e ficou sabendo que ele guardara para si tão importantes e privilegiadas intenções.
Decidida a dar-lhe uma lição inesquecível e acertar umas contas pendentes, falou-lhe:
- Exu Mirim, já está aberto um interior no plano das intenções, sabe?
- Não estou sabendo não, Pombagira. Cadê o interior e o próprio plano das intenções, se não o vejo sendo exteriori-zado por nosso pai Olorum?
- Eu já abri um interior no plano das intenções. Mas, se você não consegue vê-lo, então já não é problema meu, e sim seu, certo?
- Errado, senhora dos interiores! Se tivesses feito esse plano já estaria visível no lado de fora do nosso pai e criador Olorum. Mas, até agora, não há nada mais além do nada além dele, certo?
- Isto é certo, Exu Mirim.
- Se isto é certo, então onde está o interior do plano das intenções?
- Procure-o em você mesmo e na sua matriz geradora que o encontrará, criança que cresceu por dentro!
- Essa não, Pombagira!!!
- Essa sim, Exu Mirim!
- Isso não está certo. Eu protesto veementemente, sabe?
- Protesto recusado, meu garoto esperto! Fiz o que nosso pai e criador Olorum ordenou: abri um interior no seu plano das intenções... e ponto final.
- Mas esse plano deveria ter seu interior aberto para além e para fora Dele, sabe?
- Não sei não, Exu Mirim. O que sei é que, para além e para fora Dele não há nada além do nada absoluto. Logo, no nada, não há como abrir nele um interior para algo, pois nele, nada existe.
- Essa não, Pombagira! No nada começaria a existir o plano das intenções, cujos mistérios são regidos por minha matriz geradora.
- Isso eu sei. E justamente por não haver nada além de Olorum, só me restou abrir um interior no seu plano das intenções para dentro, de sua matriz geradora, que agora também cresceu para dentro, pois abriga dentro de si todo um plano só para abrigar as intenções do nosso pai e criador.
- Pombagira, esse plano abrigaria e exteriorizaria inicialmente as intenções Dele. Mas, posteriormente, abrigará as intenções de tudo e de todos, sabe?
- Já estou sabendo... que no nada, nada continua exis t i n d o .
- Você me ferrou, Pombagira. Como vou explicar para minha matriz geradora esse anacronismo criado por você ao abrir por dentro e para dentro dela um plano para abrigar as intenções de "exteriorizar-se" do nosso pai Olorum?
- Isso é com você, certo?
- Errado, Pombagira! Além das intenções Dele, todas as intenções de todos os Orixás e demais seres criados por Ele serão abrigadas justamente no interior da matriz geradora das intenções. Isto não me parece certo, sabe?
- Se isto é certo ou errado, aí já é problema seu. Limitei-me a abrir um interior no seu plano das intenções.
- Mas você o abriu para dentro, quando ele deveria ser aberto para fora!
- Foi isso mesmo que fiz, Exu Mirim!
- Agora, as intenções exteriorizadoras do nosso pai Olorum ficarão interiorizadas no plano das intenções por que o interior dele foi aberto por e para dentro da própria matriz geradora das intenções. Como elas serão exteriorizadas, Pombagira?
- Alguém pode reter uma intenção do nosso pai e criador Olorum?
- Ninguém tem esse poder, Pombagira.
- Então pense assim: nosso pai intencionará algo que, num primeiro instante, será abrigado no interior da sua matriz geradora. Mas, como é impossível reter dentro de algo uma intenção Dele, logo a intenção será exteriorizada por ela, certo?
- Você acabou de criar a burocracia, sabe?
- Não sei não. Explique-se, Exu Mirim!
- A abertura do plano das intenções no nada era para que as intenções fossem exteriorizadas e imediatamente tomassem forma e desencadeassem ações divinas no lado de fora Dele.
Agora isso não acontecerá naturalmente, porque antes ficarão retidas dentro da minha matriz geradora e só poste riormente serão exteriorizadas. Você complicou o que era para ser simples e direto. Você burocratizou as intenções, sabe?
- Chame essa burocracia de gestação, Exu Mirim!
- Gestação? O que isso significa, Pombagira?
- Gestação significa que as intenções ficarão retidas dentro da sua matriz geradora e só serão exteriorizadas quando ela não puder retê-las mais. As intenções ficarão em gestação ou ficarão gestando até que tenham amadurecido e tenham que ser postas para fora ou exteriorizadas, sabe?
- Já estou sabendo que ainda que eu gere o fator compli-cador, no entanto, foi você quem complicou toda a Criação de um "lado de fora" e de uma morada exterior do nosso pai e criador Olorum.
Você tem noção da complicação que criou com essa burocratização da Criação exterior, Pombagira?
- Tenho sim, Exu Mirim. Só o aviso de que, o que lhe parece uma complicação, é uma alternativa sapientíssima ao seu outro "plano", sabe?
- Não sei não, Pombagira. Explique-se!
- Não tenho nada a explicar-lhe, Exu Mirim.
- Exijo uma explicação imediata ou a levarei às barras da justiça do nosso irmão Xangô.
Ao ver Exu Mirim irritadíssimo e já começando a gerar seu fator "nadificador" dentro de sua matriz geradora, ela temeu ver seu domínio reduzido ao nada e aquiesceu, dizendo-lhe:
- Recolhas essa intensa emanação do seu fator "nadificador" que eu me explico, Exu Mirim. Afinal, por que irmos às barras da justiça se podemos resolver tudo de forma amigável, não é mesmo? - falou ela, entre dentes.
- Então, explique-se ao atribuir-me um segundo plano se só tenho o plano das intenções.
- Exu Mirim, você foi privilegiado ao saber das inten ções do nosso pai Olorum antes de todos os outros Orixás.
Seu segundo plano não é um na acepção da palavra, e sim, é a intenção de tornar-se o primeiro Orixá a ir para o exterior Dele e, com isso, reinar sobre todos na Criação exterior, Isso, não posso admitir ou aceitar, sabe?
- Alguém será o primeiro, Pombagira!
- Isto é certo, Exu Mirim.
- Então, qual é o problema se eu for o primeiro?
- Ex-reizinho da Criação... que ainda não existe, você gera o fator irritador, o complicador, o nadificador, o regre-didor, o... etc. Logo, caso você venha a se irritar com algo que o desagradar, começará a gerar e emanar esses seus fatores para a Criação e aí ela ficará complicadíssima, será reduzida ao nada e começará a regredir.
- Puxa!!! Você deduziu tudo isso, Pombagira?
- Foi o que deduzi desse seu segundo plano ou segunda intenção, certo?
- Por agora, está certo. Explicação aceita, mas internalizada.
- O que isso significa, Exu Mirim?
- Por enquanto, nada. Mas quando eu gestar umas in-tençõezinhas em meu íntimo, aí você saberá.
- Essas suas "intençõezinhas" não me parecem boas idéias, sabe?
- Ainda não sei não. Afinal, intençõezinhas não exte-riorizadas não são nada mesmo, não é verdade?
- Intençõezinhas, se gestadas por um longo tempo, podem resultar em grandes e complicadíssimos problemas, Exu Mirim!
- Veremos, Pombagira. Veremos!
E mais ele não falou, retirando-se como era seu hábito:
recolhendo-se no nada, pois, para aparecer em algum lugar ou diante de alguém, Exu Mirim surgia do "nada" também.
Até aqui, vocês viram como Pombagira era dentro de seu domínio interior, localizado dentro da matriz geradora de interiores, certo?
Exu Mirim notou que ela o havia ferrado e que perdera a primazia só porque ela ficara com ciúmes por ele ter sido escolhido por Olorum para reger o plano das Suas intenções de exteriorizar-se e fazer surgir no nada Sua morada exterior.
Como o nada era domínio de Exu Mirim, a morada exterior seria criada dentro dele e, daí em diante, para ela, ele se tornaria "intragável".
As intenções de Olorum ficaram em gestação dentro da sua matriz geradora de intenções e atrasou um pouco o início da Criação, sabem?
Mas, como toda gestação, por mais demorada que seja, uma hora acontece, eis que mais adiante o "parto" aconteceu e, finalmente, teve início a Criação da morada exterior do nosso Divino Criador Olorum, durante a qual tudo e todos então existentes dentro Dele começaram a ser exteriorizados.
Foi justamente nesse instante crucial para o sucesso da Criação que Exu Mirim aproveitou para acertar algumas "contas pendentes" com ela e com mais alguns outros "desafetos" seus.
Com os outros, são outras histórias. Mas com ela, aí já é esta mesmo, sabem?
O fato é que, por ele gerar o fator avessador e que pode avessar tudo o que ele imanta, no momento que Pombagira ia exteriorizar-se ele a imantou com esse seu fator e ela se exteriorizou "avessada", ou seja, exatamente ao contrário do que era dentro da sua matriz geradora de interiores!
Isso, esse avessamento de Pombagira, complicou muito a Criação e, desde então, esse avessamento de Pombagira já gerou tantos problemas que é melhor nem tocar no assunto para não melindrá-la ainda mais.
Afinal, Pombagira às avessas, se melindrada, põe a boca no mundo e isso é um problema e tanto, sabem?
Ela nunca mais para de falar do seu melindre, sentindo-se injustiçada acusa o seu melindrador de tudo o que lhe for possível e imaginável, tornando sua existência ou simples presença um problema para os outros.
- Quem melindra Pombagira, melindrado está!
Inclusive, na nascente religião umbandista, alguns autores ou pseudo-autores, não entendendo nada sobre ela, es creveram que ela é isso e aquilo e aquilo mais, comparando-a às prostitutas e mulheres oferecidas, fato esse que a melindrou muito, mesmo!
Não temos como saber qual será a sina deles após desencarnarem, mas que será problemática, isso será.
Bom, voltando à nossa história, digo, lenda, o fato é que antes Pombagira escondia tudo, porque ela gera o fator escondedor e, depois de ser exteriorizada às avessas, passou a mostrar tudo, tanto de si quanto dos outros, sabem?
• Se antes escondia o que pensava, depois começou a revelar tudo.
• Se antes ocultava como era externamente, depois se tornou exibicionista.
• Se antes era a personificação do recato, depois se tornou o desacato em pessoa.
• Se antes se abria para dentro, depois começou a abrir-se para fora.
• Se antes escondia o que sentia, depois não se pode sentir nada que já sai falando para todos.
• Se antes gestava para dentro, depois passou a gestar para fora, fato esse que criou um problema e tanto porque, tudo o que estiver sendo gestado logo é visto pelos outros.
Que o digam as mulheres grávidas!
E por mais que tentem ocultar suas "gestações internas", uma hora elas vêm à tona e todos ficam sabendo.
Enfim, tudo acaba sendo descoberto!
Quanto a Pombagira, que possui duas "feições", uma externa e outra interna, se a primeira a mostra como espírito feminino liberado de certas convenções, tabus e preconceitos, a interna oculta um dos mais repressores mistérios da Lei Maior, que atua justamente sobre os desvios conscienciais relacionados à sexualidade, à libido, à reprodução e à multiplicação das espécies.
A imagem que mais se aproxima das feições internas de Pombagira é a das velhas feiticeiras dotadas de um poder temidissimo.
Quanto à desenvoltura com que lida com os problemas íntimos, sejam eles de que ordem forem, isso se deve ao fato de ela ser a guardiã dos mistérios da matriz geradora dos interiores e, tudo que os seres interiorizam, e não dão vazão, está dentro do seu domínio na Criação, nos seres e nas espécies criadas.
Alguns conceitos sobre Pombagira a associam a Oxum, e ambas formariam uma linha, sendo que o polo positivo é regido por essa amorosa mãe Orixá e o polo negativo é regido por ela.
Na verdade, Pombagira e Oxum regem mistérios e fatores-funções opostos-complementares e, às vezes, suas funções se confundem ou são confundidas devido à dificuldade de identificar quando é uma e quando é outra que está atuando.
Principalmente porque, ao ser avessada quando de sua exteriorização, o que deveria estar oculto em seu interior foi avessado, e a sua beleza exuberante, mas interna e recatada, mostrou-se através do seu exterior, deixando à mostra tudo o que até então ela escondia de todos.
Exu Mirim jamais "perdoou" Pombagira por ela ter aberto o plano das intenções para dentro da Criação, fato esse que tirou dele a primazia na Criação exterior.
Em compensação, ela também jamais "perdoou-o" por tê-la avessado no justo instante de sua exteriorização, revelando tudo o que ela escondia em seu interior.
Revelam certas fontes que, antes de ser exteriorizada, Pombagira cobria-se com vestes discretíssimas que a escondiam quase que por completo. E o pouco que ficava à mostra não chamaria a atenção de ninguém. Mas, ao ser avessada durante sua exteriorização, a discrição foi avessada e virou exibicionismo. E tudo que antes ela escondia de todos, é o que ela exteriorizada, deseja que todos vejam nela.
Isto sim, é um paradoxo!
• Antes, ela escondia e depois passou a mostrar.
• Antes, ela negava e depois passou a confirmar.
• Antes, ela era discreta e depois se tornou exibicionista.
• Antes, ela regateava tudo, depois se tornou oferecida ou oferecedora.
• Antes, ela reprimia a sexualidade, depois liberou totalmente.
• Antes, era confidencial, depois se tornou reveladora.
• Antes, encobria-se toda, depois se despiu de toda e qualquer veste.
Enfim, esta lista poderia se estender por muitas páginas e sempre veríamos o paradoxo entre a Pombagira interior e a exterior, resultado do avessamento que lhe foi imposto por Exu Mirim no momento de sua saída do interior da Criação.
Inclusive, certas fontes nos informam que ela, vendo que não havia como voltar a ser como era antes no lado interno da Criação, amargou-se por muito tempo e só abrandou sua amargura quando Oxalá criou um líquido que, ao ser ingerido por ela, liberou seu íntimo reprimido.
Esse líquido. Oxalá extraiu das uvas e, no futuro, aqui no plano material, alguém, inspirado por suas manifestado-ras, criou primeiro o vinho e depois a champagne, as únicas bebidas que realmente as agradam porque liberam o interior delas que, se externamente são exibicionistas, internamente são repressoras ou reprimidas ou reprimidoras.
Que ninguém se engane com Pombagira, porque ela possui duas "faces": - uma para fora e conhecida através dos seres femininos manifestadores dos seus mistérios, e outra, voltada para o íntimo e interior dela, totalmente desconhecida de todos os seres e só conhecida pelos Orixás, que com ela conviveram quando viviam na morada e no íntimo de Olorum.
• Enquanto a face exterior é exibicionista e tagarela, a face interna é discreta e calada.
• Enquanto a face externa exibe sua beleza interior, a face interna esconde sua beleza exterior.
• Enquanto sua face externa exibe seu sensualismo interior, sua face interna esconde seu sensualismo exteriorizado.
Paradoxo é o outro nome de Pombagira!
Revela-nos certa fonte que, se por fora ela se mostra exuberante, por dentro ela é árida.
Se por fora ela é envolvente, por dentro ela é intratável.
Se por fora ela "atiça" os desejos, por dentro ela é "frieza pura" ou frígida.
Enfim, é melhor pararmos de falar das duas faces ou feições de Pombagira antes que revelemos algo que a desagrade e aí... bem, deixa pra lá, certo?
O fato concreto é que a Pombagira que conhecemos na Umbanda, por meio das suas manifestadoras espirituais, é só um dos dois lados de uma mesma divindade que, por dentro, é aposta em tudo o que mostra por fora.
Se visto só por fora o seu arquétipo, construído a partir das suas manifestadoras espirituais serve para ocultar suas reais funções na Criação enquanto mistério original de Olorum.
Vamos a mais uma lenda sobre Pombagira, para que algumas de suas fínções sejam conhecidas.
CAPÍTULO V
LENDA DA EXTERIORIZAÇÃO
DE POMBOGIRA
No livro, intitulado Orixá Exu descre vemos rapidamente sobre o início da Criação ou da "gênese" que, na sua base, encontra-se o Orixá Exu Mirim como regente do plano das intenções, o Orixá Exu como regente do primeiro estado da Criação, que é o do Vazio Absoluto, e Oxalá como regente do segundo estado da Criação, e que é o do Espaço Infinito.
Esses três Orixás formaram uma base que acolheria dali em diante tudo o que mais para a frente seria chamado de estados da Criação, de planos da Vida, de "Criação", em seu sentido mais amplo e divino.
Todos os Orixá começaram a ser exteriorizados assim que suas matrizes geradoras abriam seus mistérios e seus estados para o "lado de fora" de Olorum, mas já dentro do Espaço Infinito, aberto dentro do Vazio Absoluto por Oxalá.
Estados e mais estados foram sendo abertos e nada de Pombagira juntar-se aos Orixás já exteriorizados e reunidos à volta de Oxalá.
Ainda que poucos soubessem algo sobre ela e menos ainda apreciavam sua frieza nos relacionamentos puramente funcionais, no entanto todos estavam estranhando sua ausência ou demora em ser exteriorizada.
O tempo foi passando e nada dela aparecer! Então, após aguardá-la por muito tempo, Oxalá deu início à primeira reunião de trabalho com todos os Orixás, não sem alguns percalços porque Exu, por nada ainda existir além dos estados em si, só conseguiu juntar-se a eles depois que Oxalá gerou o Vazio Relativo ao redor ou do lado de fora dos estados, e Obaluaiê gerou uma passagem entre o Vazio Absoluto e o relativo e deste para o Espaço Infinito, facilitando sua participação na reunião.
Quanto a Exu Mirim, como não podia deixar de ser muito complicado mesmo, foi difícil porque ele estava exteriorizado, mas para dentro de sua matriz geradora, se é que isso é possível.
Como Pombagira havia aprontado uma armadilha para não lhe dar a primazia na Criação, ele só conseguiu sair do interior de Olorum quando Oxalá abriu um subplano externo para abrigá-lo e para as intenções.
Esse subplano se abriu no lado de fora de Olorum, mas, por causa de alguns obstáculos interpostos por Exu, ele ficou no lado de fora do Vazio Absoluto, quase que como esse seu lado oposto.
Vendo que Pombagira não apareceria mesmo, os Orixás decidiram dar início às coisas dentro dos seus estados em pouco tempo e, de estado em estado, chegaram ao plano material.
É claro que foi pouco tempo para eles, mas, segundo alguns, durou milhões de anos até que o que estava dentro tivesse sido exteriorizado por Olorum, que continuava a criar e a gerar novas "coisas".
Quando o universo "material" se desdobrou como um cosmos infinito, teve início a criação dos corpos celestes, processo esse que não descreveremos aqui, mas que já dura muitos bilhões de anos e parece-nos que nunca terá fim por que, a cada dia, pesquisadores e observadores astronômicos descobrem o "nascimento" de novas estrelas, ainda que elas já tenham sido criadas a bilhões de anos-luz de distância, o que eqüivale a bilhões de anos atrás, certo? Mas que continuam a nascer, disso não temos dúvida!
O fato é que cada Orixá, por ser em si uma divindade-mistério do Divino Criador Olorum, traz em si o poder de, através do pensamento, ir dando forma e concretizando todas as intenções Dele para o estado específico de cada um.
Continuando, o fato é que as intenções divinas iam se concretizando, e Oxalá, por gerar de si o fator exteriorizador, facilitou para todos os outros Orixá as exteriorizações dos estados deles, dentro dos quais tudo ia surgindo e tomando forma, criando os planos descendentes da vida, cujos inícios estão localizados no interior de Olorum, onde estão localizadas e assentadas todas as suas matrizes geradoras, dentro das quais suas intenções desencadeiam os processos criacionistas-geracionistas.
Após um processo ser concluído, uma intenção concretiza-se em mais uma "Criação divina" que precisa ser exteriorizada ou enviada para o mundo manifestado ou para o "lado de fora" do Divino Criador Olorum.
Após um processo ser concluído, uma intenção con cretiza-se em mais uma "Criação divina" que precisa ser exteriorizada ou enviada para o mundo manifestado ou para o "lado de fora" do Divino Criador Olorum.
O plano divino localiza-se no interior de Olorum, e o plano mais denso localiza-se no universo material, sendo assim denominados como os dois extremos da Criação.
Cada matriz geradora se abre a partir do plano interno e cria de dentro para foram uma realidade só sua e que é um mistério em si porque, sem quebra de continuidade, alcança até O plano material localizado nesse "nosso" universo físico e revestido pelo que denominamos universo espiritual.
A única alteração que se observa em uma realidade é a sua "densificação" à medida que avança na direção do lado material da Criação e sua "rarefação" ou sutilização em sentido contrário.
Elas são como um manto energético que parte do interior de Olorum e, de plano em plano descendente, vão se densificando até que fazem surgir tudo o que existe dentro do Espaço Infinito, o que chamamos de "universo".
E, como a atividade geracionista dentro das matrizes geradoras é incessante, elas nunca param de gerar e exteriorizar o que estão gerando continuamente.
Mal comparando-as, podemos fazer uma analogia com uma linha de produção de doces, por exemplo, onde, no início dela os ingredientes básicos são misturados e, dali em diante, tudo é feito automaticamente, sendo que uma das últimas etapas é a da embalagem dos doces, quando, aí sim, o processo está concluído e o produto final está pronto para ser distribuído e colocado à disposição dos seus apreciadores, que o consumirão como um alimento agradável ao paladar mas que, durante todo o processo de digestão, ele será partido de tal forma que, no seu final, uma parte terá se transformado em energia (lipídios, ácidos, protídeos, vitaminados, etc.) e outra será descartada pelo organismo, descarte esse que será desagregado por agentes químicos e biológicos e será reintegrado já como "energia densa" ao meio que o acolheu, energizando-o para que todo o ciclo se repita continuamente.
Pois bem, tudo estava pronto desde o interior de Olorum ou das suas matrizes geradoras divinas até o plano da matéria e pronto para começar a acolher as infinitas "ondas vivas" formadas por seres das mais diversas espécies ou "formas de vida, a maioria desconhecida por nós, quando a contraparte espiritual do plano material, e ele próprio, começaram a sobrecarregar-se a tal ponto que o caos energético e vibracional fugiu ao controle dos Orixás sustentadores dos muitos esta dos, porque além do estado da matéria não havia um plano posterior para abrigar suas emanações energéticas pois, caso vocês não saibam, toda substância material, desde a menor partícula até o maior corpo celeste, tudo emite vibrações altamente energizadas.
Essa "energia" emitida por cada "coisa existente" provém do interior do Divino Criador, é emitida pelas suas matrizes geradoras e é irradiada para o lado de fora das coisas, loca lizadas dentro do Espaço Infinito de Oxalá.
E eram tantas as coisas já criadas e concretizadas emitindo continuamente as energias provindas das matrizes geradoras que o plano material e sua contraparte espiritual viraram um caos energético incontrolável e que a cada instante crescia mais e mais.
Oxalá, vendo o caos estabelecer-se no plano mais denso da Criação, convocou uma reunião de emergência com todos os Orixás, com a finalidade de restabelecer o controle sobre as emissões energéticas dos lados material e espiritual da Criação.
Todos eles, com o semblante preocupado, ouviram o seu relatório sobre o estado das coisas criadas no lado mais denso da Criação e solicitou sugestões.
Um Orixá de nome não revelado sugeriu para enviarem as sobrecargas para o Vazio Absoluto de Exu, mas este deu um salto em seu trono-assento e, aos berros, foi logo dizendo:
- Oxalá, sugestão rejeitada de pronto, meu irmão!
- Por quê, Exu? O Vazio Absoluto não esvazia tudo que entra nele?
- Isso acontece sim. Mas há um problema: o que farei com o que restar, já esvaziado?
- Ora, meu irmão! O vazio é um estado infinito em si mesmo e dá para você acomodar no lado de fora da Criação esses "substratos" já desenergizados, certo?
- Nem pense mais nessa solução "quebra-galho". Oxalá!
Aí o Vazio Absoluto deixará de ser o que é, o vazio, e ficará tão cheio de coisas vazias que se transformará no lixão da Criação.
- Não é bem assim, Exu!
- É assim sim. Oxalá. Minha matriz geradora considera essa sua solução impraticável porque ela só tem saída para o exterior da morada interior, e esse acúmulo infinito de "substratos energéticos" vai paralisar seu domínio e o meu estado na Criação. A não ser que...
Como Exu se calou. Oxalá instigou-o a continuar, mas Exu Mirim, muito assustado, gritou:
- Exu adulto, não diga mais nada! Já sei qual seria a sua sugestão porque captei a intenção de sua matriz geradora.
Que isso não saia do plano das intenções, certo?
- Está certo, Exu Mirim. Também não precisa se exaltar, sabe?
- Eu só estou reagindo a uma intenção irrealizável, pois enviar os substratos energéticos para os domínios do "Nada" transformarão o plano das intenções num aterro sanitário colossal, livrando-os da encrenca que se criou no lado de fora da Criação, certo?
- Isso não me ocorreu, Exu Mirim. Como você rege sobre o Nada, imaginei que, após desenergizar os substratos, você bem que poderia reduzi-los ao nada, está bem?
- Não está não, Exu adulto. Você já se esqueceu que Pombagira gerou o interior do plano das intenções para o lado de dentro de minha matriz geradora? E que, ao exteriorizar O plano das intenções, ele se exteriorizou por dentro dela e não para fora?
- É, isso é um problemão, não?
- Se é! Nem me fale nas "broncas" que já levei por causa dessa armadilha armada contra mim por Pombagira! De tantas broncas que já levei, já tem uns Orixás aí, e que não vou citar seus nomes, que já estão me achando um "menino mal", sabe?
- Esse negócio de achar é comigo, Exu Mirim! O que você insinuou com o fato de não revelar os nomes dos que já o estão considerando um menino mal? Por acaso você se referiu a mim?
- A você não, mas que há uns aí me olhando de um modo estranho, isso há, certo?
- Isso é com você e eles, Exu Mirim. Mas... o que você acha dessa minha intenção?
- Exu adulto, no Vazio ainda se acha algumas coisas.
Mas, no nada, nada se acha. Logo...
- Nem pensar em concretizar essa minha intenção, que solucionaria o problema de todos os outros Orixás, certo?
- Certíssimo, Exu adulto! Se ela fosse concretizada, o Nada recolheria todos os problemas surgidos na morada exterior e os internalizaria dentro do plano das intenções que, de tão cheio de problemas internalizados, deixaria de gerar intenções puras e originais e só passaria a gerar intenções problemáticas.
- É, tem que ser encontrada a solução ideal, pois recolher no interior do nosso pai Olorum os problemas gerados aqui fora não foi uma boa idéia, Exu Mirim.
- Foi o que eu disse, Exu adulto!
Egunitá, quieta e só observando, como é seu hábito, pediu a palavra e ofereceu-se para ativar o seu fator consumidor que, segundo ela, consumiria o excesso de energia e reequilibraria o plano mais denso da Criação.
Solução aceita... e o Universo incandesceu-se de tal forma que virou chama pura e gerou tanto calor que os mundos já criados começaram a derreter de tanta energia que já haviam irradiado.
Às pressas, ela recolheu seu fator consumidor e foi preciso que Logunan criasse as geleiras e as calotas polares para resfriar os mundos já criados que, por terem sido resfriados às pressas, racharam-se e ali foram criadas as placas tectôni-cas, que até hoje dão problemas para nós quando se movem e colidem umas com as outras.
Exu sugeriu ativar seu fator devorador, mas logo teve que recolhê-lo porque ele, além de devorar as energias irradiadas pelos mundos e pelas suas composições, também ia devorando-os e deixando tudo vazio por trás do seu avanço.
Como o fator devorador devora e não devolve o que devorou, o Universo perdeu muitos mundos belíssimos, umas verdadeiras obras de arte mesmo!
E, como Exu é quem gera esse fator e o recolhe em si, dizem à boca pequena ou aos cochichos que externamente ele pode até ser vazio de certas coisas, mas que, por dentro, o seu interior é belíssimo, formado por mundos cada um mais bonito que os outros, e que se engana quem julga Exu só pelo seu exterior ou pelo seu aspecto exterior.
Solução descartada também às pressas, e Oxalá pediu um "tempo" a Logunan para refletir e pensar até encontrar uma solução ideal para o problema do caos energético es tabelecido no plano mais denso da Criação e em seus dois lados: o espiritual e o material!
Omolu ofereceu-se para ativar o seu fator paralisador e paralisar toda e qualquer emissão de energia por parte das coisas criadas, mas ela foi recusada porque, ao paralisá-las, as que estavam "descendo" de plano em plano iriam ser represadas e sobrecarregariam "por dentro" toda a Criação até que ela ficasse cheia e as energias emanadas refluiriam para o lado de dentro, fazendo com que o caos, por hora restrito ao plano mais denso, explodisse no plano interno e, aí sim, um caos de proporções "bíblicas" se estabeleceria dentro da morada interior de Olorum.
Só após ouvir de cada um dos Orixás suas sugestões para a solução e ver que nenhuma resolveria de forma ideal o problema de excesso de energias no plano mais denso da Criação e em seus dois lados, o espiritual e o material, final mente Oxalá se recolheu na sua reflexão e começou a pensar, pensar e pensar.
Quando encontrou a solução, ele saiu de sua reflexão e revelou-a:
- Minhas irmãs e meus irmãos Orixás, como não será criado nenhum plano posterior e mais denso que aquele onde está assentado o universo físico e sua contraparte espiritual, e como nos é impossível acomodar toda a energia que está sendo irradiada por todas as coisas já criadas, a única solução está na nossa reclusa irmã Pombagira que, não sei por quê, não saiu ainda de dentro de sua matriz geradora.
Só pombagira traz em si o poder de gerar o fator interiorizador, que cria interiores em tudo o que deixa de ser intenção e adquire existência!
Mas, como fazer com que ela saísse do interior de sua matriz geradora?
Após muitas hipóteses, ficou decidido que o pássaro mensageiro levaria um convite para que ela viesse encontrar-se com os outros Orixás já estabelecidos e assentados nos muitos estados da Criação exterior.
A resposta dela foi esta:
- Como Exu Mirim havia avessado-a no momento de sua exteriorização, então ela estava voltada para o interior da Criação e não tinha como ajudá-los na solução da sobrecarga energética do seu plano mais denso.
Mas isso, ela só lhes respondeu depois que o pássaro mensageiro revelou-lhe que não havia nada de errado no fato de o plano das intenções ter tido seu interior aberto para dentro, preservando-as e resguardando-as, assim como não havia nada de errado com o fato de ela ter sido avessada por Exu Mirim porque ambos os acontecimentos eram a concretização de "vontades" do Divino Criador Olorum, porque Este queria tê-la assim, com sua natureza original voltada para o interior da Criação vigiando o retorno de tudo o que já havia e ainda haveria de ser exteriorizado e a queria às avessas e com uma segunda e exuberante natureza, capaz de atrair a atenção de todos e de atrair para si todos os olhares, capaz de fazer aflorar no exterior dos seres a beleza interior de cada um, recebida Dele na origem ou capaz de fazer aflorar a feiúra desenvolvida por cada um na longa jornada evolucionista.
- Então, externamente, sou como sou porque sou o resultado de uma vontade do nosso pai e Divino Criador Olorum, pássaro mensageiro?
- Foi o que lhe revelei, Pombagira! - exclamou o pássaro mensageiro, que o fez mentalmente porque, como todos sabem, pássaros não falam, certo?
- Então todos terão que me suportar, digo, aceitar-me como agora sou por fora, não é mesmo pássaro mensageiro?
- Foi o que lhe revelei, Pombagira! - respondeu mais uma vez o pássaro mensageiro, já meio cansado de ter que repetir essa resposta tantas vezes. E, de tantas vezes que teve de repeti-la, só não começou a arrancar as plumas que o tornam tão belo porque pássaros não têm mão, senão até isso ele teria feito, de tanto que ela tagarelava, justificando seu novo estado exterior.
Por fim, ela o liberou com a resposta que já citamos linhas atrás.
Oxalá, ao ouvir que ela aceitara sair mas não tinha como chegar até eles porque seu domínio na Criação estava virado para dentro, ou seja, às avessas!, imediatamente solicitou a Ogum que abrisse em todos os estados da Criação caminhos para que ela pudesse chegar a eles.
Como todos os Orixás têm seus caminhos na Criação, os abertos para ela partiam do interior do seu domínio e terminava no de cada um deles, mas nunca atravessando-os ou cruzando-os, fato esse que, no futuro, seria conhecido como encruzilhada em "T" ou encruza de Pombagira.
"A encruza em "T" tem um simbolismo importantíssimo porque tanto pode significar a entrada de Pombagira nos caminhos alheios como pode significar uma saída à esquerda para os outros Orixás (e todos nós) enviarem para os domínios dela tudo o que está atravancando os caminhos deles (e os nossos).
A encruza em "T" de Pombagira tanto pode ser um problema como pode ser a solução para muitos deles.
Tudo depende da forma como ela está entrando ou saindo dos caminhos alheios".
Então, após um certo suspense da parte dela, eis que surge Pombagira, toda faceira e cheia de melindres e "não me toques", a vaidade e o exibicionismo em pessoa!
Ainda que não houvesse macacos naquele momento histórico da Criação, há quem jure de mãos postas que, ao vê-la, Exu Mirim exclamou:
- Macacos me mordam se não estou vendo o pecado na forma de uma mulher!
Exu, por sua vez, exclamou:
- Olorum, o Senhor criou a mulher... e Exu Mirim complicou tudo, meu pai! O que vai ter de homem sendo reduzido ao estado de ameba por causa dela, no Vazio é que não caberão!
Ogum, antevendo o que de fato aconteceria, sentenciou:
Acabou a paz na Criação!
Xangô, calado até então, exclamou:
- Meu pai, a Criação mal começou e a idade da razão já acabou!
As exclamações de surpresa não cessavam:
- Pombagira, quem a resiste!
- O caminho da perdição passa por Pombagira!
- Exu Mirim, ao acertar suas contas com Pombagira ferrou a Criação!
- Agora sim, é que as coisas vão se complicar!
- Se árvores que nascem tortas não se endireitam, diante de Pombagira até árvores direitas se entortarão!
- Se antes era difícil chegar diante de Pombagira de agora em diante será impossível ficar na frente dela!
Foram tantas as exclamações proféticas que é melhor pararmos por aqui antes que revelemos o segredo do "fruto proibido" que ela usou para ferrar , digo, para tentar e seduzir Adão O fato é que, após ouvir tantas exclamações proféticas e surpreendentes, ela emitiu a primeira das suas gostosas gargalhadas e perguntou:
- O que vocês querem de mim?
Como todos permaneceram calados , Exu, que perdeu o verso mas não a prosa, perguntou-lhe:
- Pombagira, valem as segundas intenções?
- Exu, não só as segundas! Todas as intenções são válidas para Pombagira.
- Então é melhor você pegar o caminho de volta e retornar ao interior da sua matriz geradora porque a solução que você traz para a Criação será o maior problema para as criaturas, sabe?
- Ainda não sei não, Exu. Mas se você diz que será, então para Pombagira ele já está sendo, certo?
- Se é certo ou não, ainda não sei. Mas que sua solução será a causa de muitos problemas, isso é indiscutível.
Ainda continuaram com aquela "prosa" por mais algum tempo e só encerram-na porque Oxalá interveio no diálogo deles e falou:
- Pombagira, dá para você parar de falar e trabalhar um pouco?
- Babá criador, qual é o seu problema? Revele-o, para que eu veja se trago em mim a sua solução, certo?
- Errado, Pombagira. Oxalá não tem problema algum em si. O que existe é a necessidade de você usar de um dos seus mistérios para que seja solucionado o problema dos interiores das coisas, sabe?
- Qual é o problema com os interiores das coisas. Babá?
- O problema está justamente no fato de as coisas criadas aqui no lado de fora ainda não terem um interior, problema esse devido à sua não-exteriorização como estado.
Se você tivesse se exteriorizado junto com todos os Orixás, com você teria vindo o estado dos interiores e não haveria o problema da ausência de interiores nas coisas criadas, sabe?
- Já estou sabendo que, sem a minha presença no lado de fora, a Criação externa não terá um lado de dentro. É isso, não?
- É isso mesmo, Pombagira. Você é muito importante para a Criação e é indispensável para o equilíbrio do lado externo, pois, sem um interior para abrigar os excessos de energias geradas pelas coisas criadas, o caos energético tomará proporções inimaginadas.
- Babá criador, agora que estou no lado de fora da morada do nosso pai e criador Olorum, como não fui exteriorizada a partir Dele e sim da minha matriz geradora, há um probleminha, caso eu ative o meu mistério interiorizador, sabe?
- Ainda não sei não. Que "probleminha" é esse, Pombagira?
- Ao ativar meu mistério interiorizador, os interiores que se abrirão levarão os excessos energéticos diretamente para o interior das matrizes geradoras das coisas no interior do nosso pai e nosso criador Olorum, certo?
- É isso mesmo, Pombagira. Onde está o probleminha?
- Ele está no fato de que as coisas criadas geram e irradiam energias densas que, se forem internalizadas como são geradas, elas desequilibrarão o interior das matrizes geradoras.
- Entendi o "probleminha", Pombagira.
- Então solucione-o, que ativo o meu mistério interiorzador e resolvo o vosso problemão, certo?
Oxalá recolheu-se em si e pensou, pensou e pensou!
Até que encontrou a solução para o probleminha com os interiores de Pombagira.
A solução era dotar os interiores de mecanismos inversos aos da concretização da Criação, ou seja, à medida que avançassem rumo ao lado de dentro das matrizes geradoras, as energias densas iriam se sublimando até que, já como fatores, voltariam ao interior das suas matrizes geradoras e delas para Olorum.
No futuro, e no lado material do planeta Terra, essa solução geraria para as criações materiais os desmanches, as reciclagens e os reaproveitamentos dos subprodutos, senão os "lixões" ocupariam tanto espaço quanto a produção das coisas.
Após expor a solução do probleminha, Oxalá sugeriu que Pombagira aceitasse as contribuições de vários mistérios de outros Orixás, incorporando-os ao seu mistério interiorizador para que, aí sim, com ele readaptado e reaparelhado, a interiorização não gerasse o caos no interior das matrizes geradoras.
Essa solução não foi aceita passivamente por ela, que alegou que dali em diante seu mistério interiorizador não seria puro, e sim, teria recebido tantos enxertos de outros mistérios que lhe fugiria do controle.
Só após muitas negociações, ponderações e concessões é que ela finalmente concordou em ativar o seu, já não tão dela, mistério interiorizador.
Mas, assim que ela o ativou e dotou cada coisa criada de um interior, esse problema foi solucionado e todo o excesso de energias emitidas pelas coisas criadas começou a refluir para o "interior" da Criação. Não sem ter criado um outro problema para as coisas criadas!
O problema criado foi este: ao abrir nas coisas criadas um interior que conduzia as energias até o interior das matrizes geradoras, assentadas no interior de Olorum, o mistério dela também gerou nas coisas um interior só delas e que não conduz ou leva a nada e a ninguém além de si próprio.
Esse segundo interior, interno e exclusivo de cada coisa criada serve para abrigar o que elas geram mas não irradiam de si, seja porque preferem guardá-las para si, seja porque têm bloqueios internos que as impedem de exteriorizá-las, ou sofrem restrições externas que as impedem de externá-las.
Mas a coisa toda não ficou só nesses dois tipos de interior (um para Deus e outro para si mesmo) porque um terceiro tipo se abriu também, sendo que este se abriu voltado para o domínio "interno" de Pombagira na Criação.
• O primeiro conduz ao interior de Olorum.
• O segundo conduz às coisas criadas para dentro de si próprias.
• O terceiro conduz para dentro do domínio de Pombagira na Criação.
Veremos o resultado de cada um desses interiores no próximo capítulo.