Pomba gira Rosa vermelha
Maria navalha
Maria Navalha na Umbanda
“Maria era uma moça jovem quando sua mãe faleceu, foi deixada para ser criada pelo padastro que era alcoólatra. A moça se tornou vitima de frequentes espancamentos, era ofendida com diversas palavras ofensivas e toda vez que o homem chegava do bar ela apanhava de um modo diferente. Ela suportou tudo até o momento em que sua irmã mais nova começou a apanhar. Em um dia enquanto o homem estava fora de casa, decidiu fugir dali. Com poucas roupas e sem nenhum sustento ela pegou sua irmã e foi embora.
Sem moradia e com uma criança que tanto amava para sustentar Maria não sabia o que fazer, não havia um destino certo para si, ao certo ir trabalhar como prostituta e assim ela fez. Arrumou um cantinho para morar e toda noite deixava a irmã em casa, saindo para seu sustento.
Maria começou a frequentar os bares do bairro atrás de fregueses e conseguia um bom dinheiro, podia pagar suas contas e ser sustentada humildemente. Até que uma noite foi cercada por três homens com maldade no olhar, começaram a lançar palavras ofensivas sobre ela, suas mãos corriam pelo corpo da mulher e ela tentava se desvenciliar, mas eram fortes e quando ela já estava com lágrimas nos olhos, um homem saiu de trás das mesas do bar.
“Deixem-a em paz!” A voz firme do homem chamou a atenção de todos. Ele vestia um terno branco, com uma gravata vermelha e um chapéu branco com uma listra vermelha. Era bonito, alto e forte.
Maria não o conhecia, mas sua ordem fez com que os homens se afastassem. Os três homens foram para cima dele e com golpes certeiros derrubou todos.
Ela o agradeceu, estava eternamente grata pelo homem e ele a chamou longe do bar, fora do alcanse do olhar dos curiosos. Quando estavam em um beco escuro, o homem tirou do bolso uma navalha.
“Use isso para se proteger, menina.” Ele sorriu. O mais belo sorriso que um homem poderia dar, misturado com a malicia de um boêmio. Maria hesitou em pegar aquilo, mas aceitou.
“Eu sou Zé Pilintra, estarei sempre por perto.” Em um rápido movimento ele levantou seu chapéu reverenciando-a e partiu no meio da escuridão. Depois desse dia Maria não viu o homem materializado novamente, apenas em seus sonhos.
Ela continuava a frequentar o mesmo bar que o conheceu, agora todos a temiam e ela passou a ser conhecida como a mulher da Navalha, Maria Navalha.
Qualquer ameaça, qualquer tropeço errado de um homem, qualquer má intenção ela retalha no fio da navalha.
MARIA NAVALHA - Uma Malandra ou uma Pombo Gira?
MARIA NAVALHA
Uma Malandra ou uma Pombo Gira?
Ambas!
MARIA NAVALHA é o nome adotado por muitos espíritos com apresentação feminina que trabalham de modo independente. Podem trabalhar como Pombas Giras, especialmente junto à falange de Maria Padilha ou na "Linha dos Malandros".
Do mesmo modo que há uma incompreensão e entendimento sobre Maria Farrapo, o mesmo ocorre com Maria Navalha.
Enquanto Maria Farrapo trabalha com a falange Maria Mulambo, a Pomba Gira Maria Navalha está intimamente ligada à falange Maria Padilha, que foi onde esses espíritos, encontraram oportunidade organizada de trabalho como Pombas Giras.
Ainda não formam uma Falange (de Pombas Giras) propriamente dita.
Não se deve confundir MARIA NAVALHA com MARIA PADILHA DA NAVALHA ou MARIA PADILHA DAS SETE NAVALHAS.
São espíritos especializados em "GENTE", profundos conhecedores dos abismos da alma humana e do que ela tem de mais degradante, e isso devido às próprias e dolorosas experiências pretéritas.
O INSTRUMENTO NAVALHA: O Símbolo da Malandragem
O instrumento Navalha foi amplamente utilizado, e ainda o é, como instrumento de defesa, dor e morte pelos que viviam a lei por conta própria. Contavam apenas consigo mesmos e sentiam-se apartados de um mundo que lhes socorressem ou protegessem.
A vida era dura: olho por olho e dente por dente.
A navalha tornou-se o símbolo maior da malandragem e seus códigos próprios.
Mas seu significado na Umbanda, além de identificar os Malandros é sua capacidade de cortar, separar, apartar o mal que está fora e principalmente dentro dos seres.
MARIA NAVALHA POMBA GIRA
As Marias Navalhas que trabalham como Pombas Giras podem apresentar as complementações usuais como: da Encruzilhada, do Cemitério, da Praia, do Cabaré, da Calunga, etc. Apresentam ponto riscado de Pomba Gira e comportam-se como tal.
Algumas vertentes da Umbanda não reconhecem Maria Navalha como Pomba Gira, apenas como Malandra. E como não chamam essa linha (Malandros), nesses Terreiros essas entidades não trabalham.
Maria Navalha é o braço "esquerdo" de Maria Padilha, sempre cooperando de modo próprio com os trabalhos de Padilha. Não existem rivalidades entre Maria Padilha e Maria Navalha, como alguns sugerem. Do mesmo modo que não existem disputas entre Maria Mulambo e Maria Farrapo.
MARIA NAVALHA MALANDRA:
As que trabalham na falange dos Malandros costumam ter denominações complementares típicas dos mesmos, como: do Morro, da Ladeira, da Lapa, do Forró, do Samba, da Madrugada, da Esquina, do Asfalto, da Boemia, Pé de Valsa, e outros. Outra característica na denominação é a complementação regional: Maria Navalha de Pernambuco, de Minas, Baiana, do Norte, etc..
São mais livres e passionais em suas manifestações, usando trajes mais coloridos e alegres que os tradicionais vermelho e preto das Guardiãs. Também gostam muito de usar chapéu e lenço (usados também por algumas Marias Navalhas Pombas Giras).
Comunicam-se de modo simples e direto, com vocabulário popular, em alguns casos fazendo uso de expressões e gírias típicas da malandragem.
Preferem bebidas como cervejas, batidas, água de coco, caipirinhas e aguardente.
Pedem mais elementos para trabalho e solicitam mais oferendas que as Marias Navalhas Pombas Giras.
As histórias a respeito desses espíritos são repletas de mortes trágicas, traições, paixões, abandono, carência financeira, ausência de estrutura familiar, falta de oportunidades de educação e formação, pobreza e miséria. Uns poucos conseguiram fama e fortuna, com os "recursos" que tinham.
Pomba Gira ou Malandra, fato é que Maria Navalha, Maria Navalhada ou Maria das Sete Navalhas, conhece os efêmeros prazeres e as profundas dores do submundo das criações humanas. E como tal, pode ajudar aos que ainda encontram-se presos e comprometidos à essa realidade.
Salve a Pomba Gira Maria Navalha!
Salve a Malandra Maria Navalha!