terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Varias historias com pequenos contos, historias de se passar o tempo ou entender o espiritual! Você conhece alguém assim?

 Varias historias com pequenos contos, historias de se passar o tempo ou entender o espiritual! Você conhece alguém assim?


Lá no Rio

Lá no Rio tem um menino assustado que acabou de chegar na barca pra trabalhar, o menino encantado com tanto tecido, tanta mulata, tanta madame, tanta comida que era de se espantar!
O menino é pequeno, tem seus 13 anos, bermuda vermelha, camiseta velha listrada, "barriga de verme" e acabou de chegar da Bahia de onde fugiu no sonho de ser alguém. Um moço de terno branco se aproxima do Caís e logo aponta pra criança:
- Vai trabalhar comigo! - Diz em voz alta pro menino que mal pusera seus pés em terra!
- Meu nome é Zé, qual o seu? - Pergunta o senhor de terno se aproximando.
- Não tenho nome não senhor. - Responde o menino assustado sem olhar pra cima.
- Levanta esse olho de peixe morto menino se não te jogam de volta no mar, agora vamo que vou te colocar pra ganhar um troco com a gente. - O moço tinha uma voz forte, não tinha sotaque carioca e sim bem puxado do nordeste.
O homem é preto, seu terno branco e vermelho mostra isso, seu fumo enrolado na boca e olho desconfiado olhando pra tudo quanto é lado. O menino se aproxima do moço e pergunta.
- É serio que já vai me arranjar trabuco pra hoje? - O olhar mais aberto e esperançoso.
- Não se aperreie que isso eu resolvo, tu tem onde deitar? - Pergunta o moço curioso.
- Não, mas posso me virar por aqui!
- Deixe de bestagem, aqui não é suas banda não, tem que tomar cuidado onde tu pisa, vou te arranjar um quarto no casarão da Rosinha lá no morro!
- Não precisa, eu sei me virar cheguei aqui sozinho!
- Mas agora não tá mais sozinho, agora seu caba de pêia fique em silencio que vou te arranjar um canto pra deitar.

E seguiram pelas ruas estreitas chegando ao pé de uma escadaria, criança brincando, roda de samba, morena dançando e muita felicidade! Seu Zé entrou numa casa de 5 andares e pediu pro menino esperar ali! O menino se apaixonou enquanto esperava, não foi por mulata nem lora, foi pela felicidade, não se via um rosto triste subindo ou descendo o morro, ali sabia que queria ficar e faria de tudo pra ficar!
- Ô menino vem aqui! - Chamou o moço lá de dentro.
- Esse aqui é meu novo protegido Dona Rosa deixe ele num canto pra descansa e na hora da lua eu apareço pra buscar o menino, e não deixe as suas moça tocar nele não viu? O menino não tem moeda e eu que não vou paga por rolo desse pretinho não! Hahaha
- Pode deixar Zé hihihi o menino tá bem comigo! Apois menino qual teu nome? - A moça da voz delicada falava com firmeza e puxava seu carioca misturado!
- Não tenho nome não dona moça! - O menino abaixou o rosto de novo.
- Pois agora tem, Pretinho, venha por aqui, tem um canto pra ocê descansa e se apresse que Zé logo vem te chamar!

No meio da boiada


Um sol de rachar o coco, o boi me encara carrancudo e eu mais carrancudo ainda, o boi parte em disparada!
- Te conto que foi assim que parei aquele boi, nos braço! Só eu e Carvão (meu cavalo) e ainda tem gente que desacredita!
Um boiadeiro com seu cavalo é bicho perigoso, eles pegam o bicho lá longe e não só bicho, pega cabra, pega homi, pega cavalo e não para depois que pega não, ainda tenta colocar ideia na cabeça do bicho pra não acontecer de novo. Eu quando me virei cavaleiro foi festa viu! Vaqueiro me chegou e disse:
- O boi do sinhozinho fugiu, vá la buscar antes que ele de falta!
O sangue me subiu na cabeça, não sabia se me escondia ou se me fingia de morto, mas não tinha escolha, Carvão tinha menos de metro e eu magrelo suado pensando como pegar um boi sozinho, mas fui!
Lembro que faltava pouco pra eu fazer ano e eu indo em direção a minha própria morte! Não merecia morrer tão cedo, mal tinha conhecido todas as parte de uma moça! O vida cruel...

O Sol já tava indo deita e eu não achava o boi, parei pra montar meu canto pra deita também, porque historia de cavaleiro que dura menos de dia não é verdade viu?! Eu cacei um calango pra come na noite e de manhã sai atrás daquele bicho. Procurei até o meio do dia e nada, mas pra minha surpresa quando tava terminando de cume vejo uma sombra marrom lá no fundo, limpei meus olho da poeira e vi melhor o bicho, o danado se meteu longe, ali comecei a rezar pra todos os santos pedindo ajuda!
Fui chegando mais perto do bicho e vi ele tranquilo na sombra de uma árvore com charuto na boca tomando água de cana, pensa num bicho grande, tão grande que dependendo do lugar que tava tampava até o Sol das terra! O bicho é mal encarado e bufa alto viu, parece que tá roncando!
E chegou a hora, preparei meu laço, pedi pra nossa senhora guiar meu laço e que senhor do Bonfim me desse força pra parar aquele bicho que dava três de mim. Carvão era bicho bravo, não dava metade do boi e tava firme e pronto pra pegar o bicho!
Fui eu quieto e ligeiro e lacei o bicho antes dele perceber, mas a desgraça foi que ele percebeu o laço e disparou, nisso eu joguei a corda na árvore e fiz de apoio, o bicho sentiu o tranco e bambeou pro lado, olhou de volta e viu eu, magrelo com lenço vermelho na cintura!

Me encarou carrancudo, eu me segurei as perna e me fiz de bravo, o bicho veio vindo, veio vindo e no caminho me joguei pra trás da arvore e o bicho veio com tudo, tadinho!

O bicho nunca mais levantou, o sinhozinho nem percebeu que seu boi fugiu, mas aproveitou do churrasco dele e eu como lembrança do bicho arranquei uma tira de pele do boi e andei comigo, larguei meu lenço vermelho e fiquei como Lenço de Couro!

A noite do morro

A noite começava mais tarde do que eu imaginava, quando o Sol caiu estava ansioso, meu primeiro dia aqui e já ia começar a trabalhar! Dona Rosa me dizia pra descansar, que Zé só aparecia quando a lua chegasse no meio do céu!  E lá fui eu olhar a lua, branca, distante e cada vez mais demorada de se mexer, não conseguia fazer nada além de esperar, o som das moças a cada minuto ficava mais alto, os homens também faziam seus barulhos e eu só queria saber onde estava Zé...


     Horas se passaram e quando a lua chegou no meio do céu eu estava no meio do sono a beira da janela, foi quando me acordou.


- Ta cansado já menino? - Aquela voz firme e calma entoa no quarto.


     Levanto meio atordoado e com o rosto doendo de deitar na janela...


- Zé... Achei que não viria mais! - Disse de cabeça baixa.


- Eu disse que viria no começo da noite! - E parecia para a rua que já havia triplicado de movimento, parece que dormia mais que imaginava!

      Assim ele me levou para a rua, na passagem muita moça formada andando pelo lugar com roupas pouquíssimas, outras moças mais novas andando de forma graciosa e conversando com vários homens de uma só vez, povo de farda que de noite fazia parte da rua, enquanto suas damas em casa esperavam... Nas ruas todo tipo de gente, branco, preto, amarelo... Quando a lua ta no topo não tem nenhuma diferença, a não ser os "homi de farda" entre uma cerveja e outra saiam andando para manter a "ordem" e pegar seus lucros...

    Zé sempre olhando pra frente, de olhos bem abertos e com um sorriso no rosto, não havia um que não o chamasse de "pelintra" e enquanto saimos do morro foram no minimo 15 "Boa noite seu pelintra" no tempo eu não fazia ideia do palavriado, era novo e pediu:
- Quer dizer gente boa, agora se cale e fique de olho em tudo que acontece, e não se meta em nada que não for chamado. - O sorriso no rosto sumiu e mesmo novo começou a ver a "maldade".

   Olhando bem vi, sem nome apanhando de sr, doutor batendo em mulher, mulher batendo em doutor, "homi de farda" espancando criança, e foi ali que começou a entender a noite no morro, não era pra muitos, é pra quem tem sorte , é pra quem tem culhão, e onde eu tava não podia ter nada além de medo, fechei minha cara e segui o moço. Chegando num bar muito movimentado de esquina com uma escadaria que parecia não ter fim, foi onde paramos, Zé olhou pra mim, se abaixou e me disse:
- Suba ali onde estão aquelas crianças e vá brincar, se algum "homi de farda" se aproximar de você avisa o menino que tão brincando e vem me encontrar, eu vou ficar na mesa jogando!
- Mas eu não vou trabalhar? - Fiquei confuso de começo, onde que brincar era trabalho?!
- Esse vai ser seu trabalho por uns dias, depois conversamos mais, agora vá! - Se aproximou da multidão e se sentou numa mesa de plástico de frente a uma moça toda de preto com chapéu, seus cabelos negros e pele preta me chamaram a atenção! Ela se veste com vestido fino, nas mãos poucas joias e em seu pescoço um colar, enquanto ela balançava os ombros e sorria pra Zé a banda da noite seguia os ombros da dona moça... Me lembro ainda do som dos tambores e pandeiros batendo em paixão, acho que posso afirmar que foi a primeira vez que senti aquilo que chamam de paixão... Um moço tropeça em mim parado no meio do movimento, me dou por mim e saio correndo em direção ao morro para brincar com as crianças, eu era apenas mais uma delas no final das contas. E ali começou meu primeiro trabalho!

Mar Bravo


- CAPITÃO!!! CAPITÃO!!! O SOL TA MUITO FORTE DEIXE EU DESCER PRA PEGAR UM GOLE DE BEBIDA!!!! 

    - CALE A BOCA E SE CONTENTE POR NÃO TE JOGAR NO MAR!

    O Capitão era um homem rígido, andava com sua roupa toda branca sem uma mancha, dias e dias no mar com uma roupa mais branca que as moças de Portugal, tinha uma barba cinza com mais ou menos 3 dedos de tamanho a pele manchada de sol , sua roupa tinha listras azuis e douradas que mostravam que ele mandava ali! Me deixou no caralho simplesmente por eu ter saido cair um pouco de cerveja no seu sapato branco, nem sujou, mas foi o suficiente para me deixar no alto por mais de dia! O homem além de severo era desumano, matava a tripulação por pouco, Pedro tomou um buraco na roupa e no peito por se atrasar na ultima parada (ele tava num cabaré da cidade e por coisa de menos de hora embarcou pro astral), outro foi pro mar pois perdeu seu chapéu, embarcou e no meio do caminho Capitão chamou por ele , não deu tempo de piscar,

     - Ah, mas eu vou sair daqui, vou ser livre e esse capitão de merda vai ver!

    Trabalhar no navio era pra bandidos, pretos, pobres e sonhadores, eu era preto, pobre e sonhador, vagava pelo porto ajudando os marinheiros a subir e descer na esperança de ser chamado pra qualquer tripulação, todos os dias pedia muito a mãe do mar e ela me ouviu, mas achei que não tinha pedido direito, ganhei a pior tripulação e o pior Capitão! E no mar quanto mais amava, maisva ganhava ódio daqueles que me rodeavam, com de alguns que como exceção eu só desejava viver longe da dor, pobres coitados, no brasileiro mais claro, a gente se fudeu. Mas voltano...

   começar com um plano simples, na próxima entrega no porto não voltar mais, era simples e rápido, mas o capitão mandaria me caçar pra me mandar pra junto da Mãe dos Peixes , um a menos era motivo dele obrigado, fiquei 2 dias naquele Sol e no frio da Lua, deu tempo de planejar tudo, mas nada era bom... Até tomar meu gole de cerveja depois que desci! A minha mente pensei como nunca, o plano se move antes da caneca terminar e minha sorte foi que não abriu a boca pra ninguém! Me mordia as boca pra não dizer a ninguém e isso levou 8 dias, trabalhando pesado, carregando mercadoria de canto pra outro pois capitão não queria ninguém parado e cada segundo agradecia pois estava chegando no porto, nada me tirava da cabeça que a liberdade estava chegando , até a chegada no porto, enquanto descarregava o navio vi mais homem de farda que pessoa,

    Perdi meu chão, sentei a beira do cais e chorei feito uma criança, alguns podem dizer que eu era mesmo, tinha meus 15 anos se é que isso importa, mas enquanto chorava sentia a brisa e o cheiro salgado do mar, Mãe secou minhas lágrimas e mais uma vez me deu força, muita força pra não desistir! Voltei pro navio, parecia que tinha uma corda no pescoço que apertava cada segundo que eu passava, angústia, ódio e ali me fiz homem, vi que pra mim aquilo era o máximo de liberdade, ser mandado por um senhor no mar e era melhor do que ser mandado por um senhor na terra...

  Até que dias depois, perto de nossa próxima parada, houve uma tempestade que nunca tinha visto em tempos no mar, os ventos e ondas permaneceram tão fortes que fomos forçados a mudar a rota, e em menos de um dia encontramos uma pequena cidade de São Sebastião, atracamos no pequeno porto, era noite e o capitão mandou todos saírem do navio e se abrigarem que pela manhã se a chuva e ventania parassem seguiríamos viagem, quando desembarquei reconheci aquele lugar, conheci alguns dos encarregados do cais e naquele momento Mãe D'água chamou com um canto de sereia me dizendo que era aquele o momento, fiquei pelo porto esperando o navio estar desocupado escondido atrás de caixotes no porto, não tinha uma vistoria rigorosa fora do navio, quando o ultimo tripulante saiu do navio começou a me aproximar,quem estava esperando a chegada de mais navios era um conhecido de nome José, um senhor já mais velho que me dava de comer quando eu estava por ali...

    - Z e!! Ó Zé!! Vem aqui! - Chamei de meio longe.

    - Quem é que ta ai? - Respondeu o moço forçando as vista pra ver alguma coisa na chuva a noite...

    - Sou eu Zé, Lucas!

    - Que Lucas? Não conheço Lucas nenhum!

    - Conhecendo sim, tu me dava comida e até me permitia dormir ai na guarda nas noite de chuva!!

     - Venha pra perto então... - E estendeu seu braço em minha direção segurando uma lamparina que não iluminava muito!

   Me aproximei e ele me conheceu, conversamos um pouco e contei tudo que sofri, Zé entendeu um pouco, já tinha sido homem do mar, mas sua tripulação acabou e se pois a ficar no porto esperando carga.

    - Zé eu tenho um plano e preciso de ajuda!

    - Ajuda minha vai me botar em desordi com alguém é?

    - Jamais homi, eu quero que você venha comigo! - e contei tudo que Mãe D'água me mostrou, e provei a ele que era homem alegre e que tinha mais coisa pra mim lá fora! Ele gostou a responder, implorei por tudo que era sagrado, Zé era devoto de Nossa Senhora, e roguei por ela, Zé em um momento de deslumbre disse sim! 

    - Mas como dois homi vão cuidar de um navio inteiro?? É impossível menino!!!

    - A gente sai daqui e vai buscar mais gente!! Vamoo vai dar certo Zé! Se ocê não for eu vou ficar sozinho!

     E sai correndo em direção ao navio... Mas nada ouvi e segui minha embarcada!

     -MENINO! - Gritou Zé estava prestes a partir com o navio quando - Tome, tem umas comida aqui e um bocado de ceveja. Se cuide viu?! Sei que já é feito em casa, mas todo cuidado é pouco! - E me entregou a sacola com um cantil e comida, estendeu suas mãos e pois em meu pescoço um fio de prata de Nossa Senhora. - Inté uma próxima menino! Que Nossa Senhora lhe proteja!

   Chovia, não sei dizer se chorava, mas com certeza sorria, lhe dei as costas e no meio da aguaceira soltei o navio do porto, aproveitei a tempestade para tomar o rumo que tinha de tomar, senti a tempestade, armei as velas e pela primeira vez fiquei de frente ao timão e segui onde o mar me levava, ali me tornei capitão!

No morro criança vira homem

Subi poucos degraus da escadaria e já havia me esquecido de trabalhar, as crianças correndo, brincando com bonecas de pano e bonecos de madeira, outras brincando de pegar, e uma menina sentada com sua boneca mais afastada das outras penteando a boneca olhando para todos os lados.
   A menina preta, com vestido simples branco, cabelo pro alto amarrado, parecia atenta a tudo, quando me aproximei ela desviou o olhar e não tirou mais os olhos da boneca.
   Me aproximei e disse - Oi!.. Sou... - por um momento lembrei de todos os xingamentos que me deram desde que cheguei ali, mas tambem lembrei - Sou Pretinho, qual seu nome?
   A menina pouco atenta ao assunto disse baixo - Maria. - e me olhou rapidamente. Ela parecia estar ocupada demais para conversar, então sentei ao seu lado e pus me a observar tudo, bacanas caindo, bacanas roubando, bacanas brigando e os malandros todos na mesa do bar, jogando...
   - Você sabe jogar o que eles jogam ali?
   - Navalha me ensinou o jogo, mas não me ensinou a jogar...
   - Mas se ocê sabe o jogo, como pode não saber jogar?
   - Preste atenção nos malandro que tão em pé...
   Foi então que vi todos se olhavam muito rápido, mal dava pra ver eles se entre-olhando. Nesse momento um bacana na mesa deu um tapa na mesa e se levantou aos gritos dizendo que só tinha malandro fulero na mesa e que queria seu dinheiro de volta, não demorou muito pra virar uma algazarra da zorra... Foi de porrada, a facada, até que chegou os "homi de farda" chegaram com muita raiva, não queria saber se era bacana, malandro, homem, mulher ou criança, tava pegando todo mundo e botando na caminhoneta; naquele momento Maria se levantou que não consegui ver pronde foi, olhando de novo era a unica criança na escadaria, um homi de farda me viu e começou vir na minha direção, fiquei sem saber o que fazer, quando ele ta tava bem de perto Zé se jogou na frente dele com um belo soco na cara, o guarda caiu com tudo e rolou os poucos degraus que subiu... Sinto alguem me puxando pra uma viela estreita, mas logo consegui ver um vestido branco, reconheci Maria, e segui por onde ela ia, foi então que cheguei num muro, não muito alto, mais alto que eu um metro...
   Maria não pensou nem titubiou, subiu o muro desapareceu pro outro lado, ouvi um barulho ou outro e me joguei pro lado de lá também.
   Era uma casa grande, com um jardim quase de mesmo tamanho, com muita planta e algumas arvores pequenas, andava pelo jardim meio escuro tentando encontrar Maria, mas não consegui ver pra onde ela correu, vi uma porta aberta e me pus a observar, se tinha alguem ou se ouvia alguma coisa, quando tentei me aproximar, ouvi alguem gritar um pouco pro meu lado - Achei o menino - A voz forte, de um homem, eu achei que era aquilo pra mim, a mão do homem parou no meu ombro e eu só sabia fazer uma coisa - Desculpa senho, eu não sabia que não podia entrar aqui, tava atrás de minha amiga e ela sumiu - Ouvi uma gargalhada forte vinda do homem, que disse - Maria esta la pra dentro, venha não fique de bobeira no mato dos outro... - o homem foi me empurrando pra porta, meu coração foi batendo cada vez mais forte, ate que cheguei na porta, uma senhora abriu a porta, não era tão mais alta nem parecia assustadora como o homem, ela era uma senhora mais velha e com um sorriso no rosto disse - Entre vocês dois, tem comida na mesa... Você ta com seu Pelintra não é?! Maria me falou que tu chegou no morro com ele e tava mais perdido que galo em dia de bori hahahaha - meu coração ficou mais tranquilo, adentrei a casa e tinha uma multidão de pessoa lá dentro, todo mundo conversando e rindo, muita gente sentada no chão, outros sentado em banco, outros em pé, outros nas poucas cadeiras, era hora de comer, três mulheres lindas serviam de um a um ali (se pareciam com a preta do bar) fiquei quieto no canto e quando nada apareceu-me Maria, ela trazia duas cuias e me entregou uma - Vamos, coma, jaja seu Pelintra aparece ai pra lhe pegar, ja tem gente avisando que ce ta aqui! - e foi assim que conheci Maria, a menina preta quase não me deixava falar, numa respirada ou outra eu dizia - Onde nois tamo?
    - Tamo no barracão de Chica, é aquela moça que te recebeu, ela é a zeladora daqui, outro dia com mais calma fala pro Pelintra te trazer aqui, te mostro mais da casa e de dia é melhor de ver o jardim, é muito bonito.
    - O que é Barracão? - eu perguntei noutra pausa da menina.
    - De onde tu vem que não conhece nada, fica parado quando vem guarda, fica de conversado na escadaria?! Bom barracão é a casa dos Orixá, tu sabe o que é Orixá? - Eu balancei a cabeça dizendo que não - eu te falo, vou tentar explicar facil em... Hmmm... Hmmm... Orixá é tipo Deus, mas vem varios, cada um é um lugar, Oxalá, é como Jesus é o pai do céu, Xangô é um Rei muito bravo, dono das pedreiras e dos raios, ele é casado com Oyá, que é dona dos ventos, tem tambem... - bom ceis já sabem o que são os Orixás né? Não vou ficar me estendendo nisso, mas se não sabe vai atrás, Orixá é nossa vida... Nesse meio tempo aquela multidão que se alimentava na casa de Chica, não parava um minuto se quer, era gente rindo, criança correndo, mulher gritando pra lá e prá cá, enquanto observava...
   -... Seu Pelintra chegou - disse Maria depois de me explicar os Orixás, me pegou pelo braço e me levou até a porta.
   - SEU PELINTRA, o menino ta aqui - disse enquanto ia chegando mais perto - ele disse que o nome dele é Pretinho, nome estranho né? Hihi. Já expliquei tudo pra ele dos Orixá, trás ele aqui outro dia pra eu mostrar o jardim pra ele...
   -Claro Mariazinha obrigado por trazer o menino aqui viu?!- logo atras dele vinha a preta que vi no bar, Maria chamou ela de Navalha, no tempo eu nunca nem tinha visto uma navalha, achei que era o nome da moça, a moça chamou Maria e perguntou se ela tava bem e se afastou, Maria foi se afastando, virou pra mim e acenou de longe, fiz o mesmo e olhei pro Pelintra.
   - Você ta bem menino? Quando um guarda vier na sua direção você corre, não fique de bobeira porque quem é pego por eles não aparece por aqui de novo viu?! Já comeu essa comida impecável de Mãe Chica? - Disse ele em voz mais alta, Chica olhou pra ele e de longe gritou - NÃO PRECISA PAGAR NÃO SEU PILANTRA, ENTRE E COMA HAHAHA!!! - ele se virou pra mim - Fique por perto, jaja vamo sair de novo e tome cuidado com Maria viu, se Navalha ver tu de graça com ela, ela te corta os dedo hahaha - ele disse se afastando e indo abraçar Chica... Historia do Zé Pretinho continua num livro especifico pra ele aqui no WATTPAD msm!

Oh vô!


-- Ta ovino bem? 

            -  To pai, pode começar!

    Bom pra começar eu tenho que dizer que fui um pequeno sortudo e um velho mais sortudo ainda! Quando pequeno fui abandonado num convento em Portugal, Não soube quem foram meus pais, não liguei tanto pra isso pois Padre Joaquim foi como um pai pra mim, cuidou de mim desde pequeno e me letrou! As irmãs do convento sempre me ajudavam com algumas tarefas e eu aprendi cedo a trabalhar limpando banheiro, cozinha, chão, biblioteca (foi onde eu passava maior tempo limpando) e quarto, e salas e salas.... Bom fio eu sou preto, mas no tempo era mestiço, cor de indígena e não esquecia isso, tanto no olhar, quanto nas tarefas, cresci assim, me letrando, conhecendo e conhecendo o mundo. Quando fiquei mais velho o convento iniciou viagens a Terra de Santa Cruz, vivi minha vida toda ali, conseguia ler as cartas facilmente, e Santa Cruz era "um lugar magnifico, cheio de riquezas e trabalhadores de cor que estavam se juntando a nossa comunhão". Cartas são como um desenho assinado, onde podia se ver tudo somente com a palavra, me vi muito em meio aos homens de cor trabalhando, já que era de cor também! Tendo uma vida feliz na terra prometida de Santa Cruz! Conversei com Padre Joaquim, disse que estava pronto a me aventurar, a espalhar a palavra de Deus a nova terra e que teria mais chances lá! Padre Joaquim sabia que era verdade e me fez  coroinha e embarcou comigo para esse chão! 

      Vou poupar detalhes de viagem, haviam muitas missas e olhares ao coroinha mestiço, muito vomito e enjoo, não eram poucos dias de viagem até o porto, quando passou do dia 8 eu não aguentava mais o balanço e as ondas, e as rezas e as  missas e as ave marias e os padres....

     Chegamos a Terra de Santa Cruz, já não era tão verde, sinceramente não havia cor, de pele ou de natureza, chegando no porto já me via em Portugal e não em Santa Cruz, quando desembarquei consegui ver um pouco da beleza e dos pretos dali, o porem é que todos tinham correntes, todos andavam com suas correntes, eu não era diferente, só não sabia ainda, encontrei alguns outros coroinhas mestiços que também foram abandonados nas igrejas me senti mais seguro imaginando ter mais espaço para mim, a terra não era a prometida, mas ali não tinha que limpar tantos banheiros e salas, me acomodei por um certo  tempo até minha primeira visita aos engenhos para missa aos pretos. Entendam que esta foi a realidade de nosso povo, por pior que pareça não era o pior ainda.

        Entramos pela porta da frente do casarão, éramos em 4, um senhor alto, branco de chapéu e botas  nos convidou a entrar, em sua sala haviam 3 negras, todas marcadas de alguma forma, seus olhos pediam por ajuda, era somente a sala, passamos pela cozinha onde haviam mais 7 moças quietas, parecia que havia de fato entrado um demônio no cômodo e que em qualquer movimento podiam sofrer.

     O senhor alto nos guiou passando para os fundos de sua casa onde havia um imenso canavial e seguindo um pouco mais ao fundo uma casa de barro, coberta de folhagens e mais barro, ao se aproximar, dava para ouvir choro sendo reprimido por gritos e ao entrar na casa de barro, haviam mais de 50 negros num lugar pouco maior que um quarto, as correntes faziam barulhos e cada vez mais alto, e homens de ferro na mão mandavam se aquietar, o local fedia ficavam ali amarrados e soltos somente para a labuta, faziam suas necessidades ali mesmo, mas o pior era o cheiro de sangue, o chão era coberto por um marrom avermelhado com manchas vivas e claras, alguns dos pretos ali ainda sangravam e o cheiro de ferro e fezes tomava todo o local, mulheres choravam quietas pedindo aos seus deuses para que não acontecesse nada de mal aquela noite, o senhor alto era autoridade ali, todos se punham de costas a sua presença para não olha-lo diretamente.

       -  A missa é aqui, rezo pra que esses crioulos trabalharem mais amanhã! - E saiu gargalhando nos deixando ali naquele local quente, pequeno e desumano, passei a missa observando cada um dos pretos ali, todos desolados com seu destino, desacreditados e muitos apagados visualmente, naquela noite depois de ver a realidade das cartas  de promessas, me perguntei sobre tudo que aprendi, pensei como Deus permite aquilo? Roguei por Maria pedi para que aqueles que sofrem ali tenham forças para se levantarem e não se deixarem ser tratados aquela forma. Me pus a chorar em meio a missa pela primeira vez! Maria veio a mim e disse que eu poderia livra-los daquele sofrimento e foi a faísca necessária para mim, ver pessoas como eu sangrando, chorando e morrendo, sendo tratados como lixo, não poderia eu viver com aquilo, e não vivi!


  Esta historia que se começa é sobre Pai Francisco, Preto Velho, que encarecidamente me pediu para escrever de forma mais popular para que entendam com mais clareza sua vida e desencarne!

Padre Francisco


Bom, pra começar essa parte ceis tem que entender a passagem do nosso tempo, foi um processo grande por ser preto, não podia ser padre, mas consegui pela religião, aprendi com Deus, com Maria, com Jesus, todos os santos, segui a risca tudo, fui excelente, e eles precisavam de alguém pra pregar a palavra nos engenhos para os pretos, sem precisar ir aos engenhos e encarar aquilo de frente, passaram 10 anos, ia nos lugares como coroinha vez ou outra, as pessoas eram quase todas novas, as das casas, as da cozinha, e principalmente os do canavial!
Os guardas não aguentava o fedor e começaram a nos deixar sozinhos ali por horas de missa, se distraiam fácil, foi simples pensar em algo para ajudar alguns que se julgue mais necessário, enfim, foram dez anos eu podia sair da igreja, comecei a caminhar muito, muito, muito pra dentro das matas, entendam que era muito?!
Era terra de Santa Cruz, pouco local desbravado por medo de indígenas ou negros fugidos, tinham estabelecido um local bom, mas ainda haviam equipes de busca da área grande que levavam meses, por isso demorava de ser projetado ainda mais que as riquezas rodavam bem, quanto mais natural mais riqueza! Então andando muito, encontrei uma pequena aldeia quilombo, fui encontrado na verdade muito distante ainda da aldeia, eram caçadores que não se da pra descreve em pouca escrita, talvez outra hora! Me levaram até o local não de jeito fácil, estava vendado com olhos em todo lugar que se podia sentir, uma comunicação impecável, ou eram aves locais...

     Chegamos a pequena aldeia quilombo, pouco mais de 50 pretos e indígenas, alguns velhos, a maioria novos, fui trago vivo pela roupagem, aparentemente haviam outros padres ajudaram aqueles negros de alguma forma, havia um preto que se comunicava bem em português e ensinava aos outros! Foi escravo de casa de um um produtor importante, aprendeu o que podia com a filha do produtor importante! Imaginem o ocorrido para ter que se refugiar... Bom o lugar era simples, mas lindo, podia se sentir livre pelo cheiro, tantos sons e encantamentos, havia um tambor tocando a todo momento que estive ali, era som da natureza, vezes bravos, tempestades de sons que traziam ventos e chuvas, cheguei a ver mais que encantamento naquele lugar!

        Expliquei para o letrado que estava me tornando padre e tinha achado um jeito de libertar mais pessoas, expliquei tudo, inclusive o tempo que levaria, desconfiaram muito de começo, mas conheci aquele lugar na metade daquele caminho para ser padre no outro dia estava ali novamente, fui me apegando aos costumes e aprendendo suas línguas, começava a entender a comunicação iorubá, tudo ia bem, o costume era Nago em alguns anos ali, me fiz nas tradições que me encantou desde o dia 1 me fiz para Zaze, Xango, os tempos eram outros, era um início de tradições muito diferentes de hoje! Fui feito todo dia e todo dia dormia no convento, lembrem da distancia!
     Passado mais metade daquele tempo fiz padre, com Orixá vivo em minha vida, foi quando eu comecei a falar nos cativeiros!

Esta historia é sobre Pai Francisco, Preto Velho, que encarecidamente me pediu para escrever de forma mais popular para que entendam com mais clareza sua vida e morte!