sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Maria Padilha Das Almas A lingua do povo não tem osso,deixa esse povo falar..

 Maria Padilha Das Almas A lingua do povo não tem osso,deixa esse povo falar..

A primeira vez

Estou indo para barra do ribeiro, para um aniversário de assentamento de 23 anos de uma pomba gira menina.

Quando chego no local encontro uma das minhas irmas de santo,ela trabalhava com a ciganinha do puerê e com a pomba gira menina, ela não gostava de mim, por picuinhas envolvendo rapazes, mas mesmo assim me deu oi e tudo mais(pelo menos um pouco de educação tinha)

Em seguida foram chegando meus outros irmãos de santo,a mãe pequena da casa que era da Maria Padilha das almas e o meu pai de santo que era do tranca rua das almas.

Ao que foram chegando as pessoas, meu pai de santo disse para mim e para os meus irmãos de santo, irmos para dentro do terreiro,porque ia começar a encher de pessoas, e acabariamos ficando na rua ou grudados uns com os outros na porta.

A sessão em homenagem ao aniversário de assentamento começou ,eu estava tocando agê perto do meu pai de santo que é tamboreiro e do enteado dele que também era,eles estavam tocando e cantando os pontos já,para chamar os exus e as pombagiras ,a primeira que chegou foi a pombagira menina da mãe de santo da casa que fomos de visita,ela girou e girou,dava risos,não gargalhadas,e girava mais e mais, em seguida chegou o Zé pilintra do marido da mãe de santo.

Aquele Zé pilintra era lindo,dançou com seu jeito malandro em frente aos tambores,dando a sua bênção a quem estava de cambono e aos tamboreiros,e por fim a quem estava presente, em seguida meu pai de santo começou a receber o tranca ruas das almas,ele estava no tambor, e como eu já estava aprendendo a algum tempo, eu sabia no minimo acompanhar o outro tamboreiro, então larguei um dos agês e fui acompanhar no tambor o meu irmão de santo.

Em seguida foram chegando todos os exus e pombagiras, eu ainda não trabalhava com nenhuma entidade,então fiquei tocando tambor o resto da festa de assentamento, até que uma hora meu irmão de santo foi dar uma pausa,e me deixou lá,sozinha com o tambor(Me controlei muito para  não entra em pânico).

As pomba giras que me viam lá, vinham me pedir para tocar para elas,porque achavam lindo e difícil de ver uma mulher alabê(tamboreira).

Toquei os pontos que sabia e que conseguia, pois eu nunca tinha tocado na vida um tambor sem estar acompanhada de alguém me ensinando.

Eu sabia muitos pontos, eu estudava em casa, quando não estava no colégio eu estudava sobre os exus na internet mesmo,então pelo menos puxar os pontos eu sabia.

Minhas pernas começaram a tremer,em seguida meu corpo, no início  eu achava que era nervosismo, ou o peso do tambor que se esgueirava junto ao cansaço do meu corpo,más não era,olhei para minha mãe que trabalha com a pomba gira cigana 7 saias,e olhei para minhas pernas,mostrando a ela com um olhar oque estava acontecendo.

Eu estava em processo de incorporamento,alguém estava querendo vir em mim,eu sentia,não sabia quem era,só sabia que era mulher,e enquanto tremia sentia uma mão no meu ombro de um homem.

Minha mãe avisou o seu tranca rua das almas oque estava havendo comigo,então ele me ajudou a despachar.

Eu me tremia a semana inteira,e não conseguia controlar,não sabia como,só sabia oque era.

Naquela mesma semana,minha mae me levou no meu pai de santo,para fazer algo,pois eu me tremia todos os dias em casa,e eu estava começando a me comunicar com aquela entidade, meu pai de santo me deu um ultimato,disse que iria trancar a minha gira na casinha se aquilo não parasse,ensinou minha mãe a me despachar com cachaça na porta de casa, então parou as tremedeiras.

Chegou dia de sessão de exu,eu fui pro tambor logo que meu pai de santo recebeu o seu exu, mas não deu nem tempo de tocar um ponto que fosse,comecei a me tremer,e só me diziam pra eu me segurar,e não adiantava,só ai viram que precisavam trazer a minha entidade,eles achavam que era uma cigana do oriente,a Celoí,e me giravam,me giravam e nada dela se fixar,então despachavam.

No restante dessa semana eu comecei a me tremer de novo,mas eu tinha controle,e percebi que aquela seria minha primeira forma de comunicação com aquela entidade,assim como já tive com outros espíritos desde a infância.

Eu havia combinado o seguinte para saber algumas respostas,se fosse sim, ela tremeria minha mão,se fosse não nada acontecia.
Minhas primeiras perguntas foram

.Você é uma cigana do oriente?-Minha mão não se mexia

.Você é uma pombagira?-minha mão se tremia por si só

.Você é uma pombagira cigana?-Nada da minha mão se tremer

Depois dessas perguntas principais para mim, fui falando os nomes de pombagira que eu me lembrava, até que quando disse um, meu corpo se tremeu inteiro,Maria Padilha das Almas,e então depois dai as coisas começaram a ficar mais fáceis para eu compreender oque ela queria me dizer, afinal eu já sabia quem era.

Eu não tinha experiência, então sem querer tive a experiencia que meu pai de santo tamb teve a muito anos atrás, quando novo,antes de ter um terreiro.

Comecei a praticar e trabalhar com ela em casa,quase todos os dias antes de dormir,eu não sabia as consequências que isso poderia trazer para mim e pro meu ilê(casa),então não via nada de errado.

Com o tempo comecei a me encostar com ela para poder conversar,e estudar,pois eu tinha duvidas que nem mesmo meu pai de santo saberia responder.

Eu via ela em casa quase sempre,e via uma sombra clara de um homem,foi dai que comecei a perguntar para ela quem era o meu exu,e ela me respondeu,e também me ensinou a não confiar o nome dele de exu a ninguém que não seja de minha total confiança, muito menos os seus nomes carnais de suas ultimas encarnações na terra.

O nome dele é Zé pilintra

Ele era o zé pilintra,algo que na minha inicial caminhada na religião descobri que era raro se ter o tal casal,mas era ele quem defendia minhas costas e começou a vir ao mundo apenas em casos que me fossem de extrema necessidade,que no inicio logo foi a raiva,e no decorrer da minha jornada,as energias que pesavam sobre minha casa.
Primeira vez que meu zé pilintra veio depois de eu ter descoberto pela minha padilha,foi na ultima sessão que eu participei ainda no meu primeiro ilê,na minha primeira terreira a qual comecei a desenvolver,por raiva e extresse.
Infelizmente naquela terreira a qual me encontrava era poucas as entidades as quais eu podia confiar.
Na ultima sessao a qual ainda estava na casa minha padilha foi girada por 5 minutos mais ou menos se eu consegui prestar um pouco de atençao,mais ela não queria vir pois chamavam a tal da Celoi ainda,até que ela parou de ser girada com o ponto da celoi e a chamaram pelo ponto de Maria padilha das almas que se cantava no terreiro,e quando ela se firmou a despacharam.
Em seguida a cigana da minha mãe de sangue ainda estava no mundo, e foi ir embora em seguida.Bom,ela foi despachada,até que as "Ciganas" vieram confrontar minha mãe pelas vestes e joias que a entidade dela tinha,tudo coisa que a minha mae comprava bijuteria ou algo do tipo mais enfim,a cigana da minha mãe voltou ao mundo de novo naquela mesma hora do confronto,em seguida comecei a me tremer toda,e lá veio meu Zé pilintra pela primeira vez ,pela raiva que eu estava sentindo por aquela situação.Levaram ele para despachar na casinha na mesma hora,não deixaram mal o coitado chegar,e o confronto entre elas continuaram,até que a cigana da minha mae chamou o exu do meu pai de santo e a maria padilha da mae pequena da casa e disse,que naquela noite ela estaria saindo da casa,e que com ela estaria levando a filha da padilha ,e o exu do meu primeiro pai de santo tentou negociar que só eu ficasse então,e pela audacia a cigana falou que derrubaria aquele falso terreiro.Minha padilha sem nem pestanejar é logico que ficou a favor da cigana pois uma protegia o cavalo da outra.
E assim foi a primeira vez do meu Zé pilintra no mundo com eu como aparelho.