segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Uma história a Beira Mar Ricardo, um jovem ao final de sua adolescência, descobre aos poucos sua mediunidade e decide ingressar na Umbanda.

 Uma história a Beira Mar Ricardo, um jovem ao final de sua adolescência, descobre aos poucos sua mediunidade e decide ingressar na Umbanda.


Capítulo 1

Money for nothing

-Oi,quem está ai?

-Que vozes estranhas são estas?

-Pra qual desses caminhos eu devo seguir?

A vida prega peças nas pessoas as vezes, não é? Peças essas difíceis de comprovar, de estudar, de intender...

Ricardo era um jovem de 16 anos, idade furiosa, e que se achava o mais inteligente de sua classe, de seus amigos. Era o típico roqueiro, nada aberto a opiniões terceiras.

Ateu, sempre desacreditava de tudo que diziam, pois achava que já sabia a verdade sobre as coisas, verdade esta que ele já dizia ter nascido sabendo mas quem o contara afirmando assim seu intelecto superior perto de seus amigos...

Não muito tempo depois começaram a acontecer coisas estranhas com Ricardo...Coisas que ele não sabia explicar, mas ignorava achando estar louco...Visões, vozes,"saídas de seu próprio corpo",coisas das quais ele não sabia explicar, mas estava começando a preocupa-lo...

Na manhã de quinta-feira, dia 20 de outubro de 2008 enquanto pegava a lotação para outro bairro em sua cidade natal, Mogi das Cruzes, observava a paisagem ao redor das janelas...Ônibus lotado, um calor infernal e uma senhora idosa ao lado dele cheio de sacolas, com um perfume desses que embrulham o estômago de qualquer um faziam ele implorar para que o ônibus fosse mais rápido, a fim de diminuir toda essa tortura na qual ele se via no momento...

Num lapso de pensamentos, ele se viu cercado por pessoas estranhas, era outro lugar...Pessoas vestindo mantos brancos, cruzes vermelhas nos mantos na região do peito, algo que ele nunca vira se não em livros de história...Ficou desesperado e não sabendo o que faria começou a gritar nesse lugar desconhecido:

Olá, alguém aí? Vocês podem me ver também? Eu não sei aonde estou, a um minuto estava no ônibus e agora...Que lugar é esse?

Muitas das pessoas que ali estavam ignoraram o seu clamor, pareciam não vê-lo, então ele correu até encontrar alguém que parece ter o visto, porém estava assustado do mesmo jeito que ele...

-Oi estranho, eu posso te ver sim, e por que não poderia, todos aqui podem, só não estão lhe dando atenção...Meu nome é Pedro.

-Pedro, aonde estou cara,que lugar estranho é esse? Que pessoas são essas?

-hahaha pareces que veio de outra era jovem, estamos em Acre e nós aqui somos o exército dos cavaleiros de cristo...Somos os cavaleiros templários...

Num instante Ricardo já estava de volta ao seu ônibus,seu ponto tinha se passado e ele estava já distante de sua casa.Pediu ao motorista que parasse e resolveu voltar a pé,achando que tinha adormecido e caído em um sonho estranho,algo que ele decidiu não contar a ninguém para que não pensassem que ele estaria louco,ou usando alguma droga,coisa da qual ele não gostava e nem aprovava que os amigos fizessem uso...

Na manhã seguinte tudo foi normal,levantou cedo para ir para escola,tomou seu café da manhã com seu achocolatado e comeu tudo o que estava já habituado,tomou um banho e resolveu ir a pé para a escola...

No caminho tudo estava normal,ouvia Dire Straits-Money for nothing em seu mp3 e tudo decorria como todos os dias...Ao passar em um cruzamento notou algo estranho de novo...Um senhor,trajando uma capa preta estava encostado na esquina-Cartola,um charuto e uma pose de antigos cowboys e um sotaque carregado-não quiz parar para conversar,resolveu seguir em frente mas sabia que só ele estava conseguindo ver uma figura tão destinta ali nas ruas de são paulo,coisa que se todos pudessem ver,estaria chamando bastante atenção...

Escola?Ricardo ia apenas para zoar com os amigos...Não fazia muita coisa e era bom em menos coisas ainda.Gostava de química,pois achava interessante o processo de transformação das matérias-nada se perde,tudo é renovado- na qual ele achava que o mundo se encaixava perfeitamente. Da famosa turma do fundão, tinha alguns bons amigos,mas achava que não seria certo dividir com eles os últimos acontecimentos para evitar especulações.

Novamente na volta pra casa ao passar pelo cruzamento ele viu outra pessoa,dessa vez com vestes mais clássicas, algo semelhante a roupas Brasil colônia, e uma espada em uma das mãos ou melhor, algo que ele achava ser uma espada,mas que na verdade se tratava de um tridente. Ao passar pela encruzilhada tentando novamente ignorar aquela imagem, ouviu uma forte gargalhada que o fez tremer dos pés à cabeça e ouviu uma palavra daquele senhor : clarividência, e outra risada.

Ricardo correu o máximo que suas pernas podiam suportar. Quando estava a uma distância que julgava segura para recuperar seu fôlego indagou a si mesmo :

-vidência? Clarividência? O que são essas coisas? Devo estar ficando louco...

De repente ele já se viu novamente em outro lugar,dessa vez um castelo imponente, novamente os cavaleiros com mantos brancos que pareciam ignora-lo e eis que lá estava Pedro novamente, agora usando um talabar com uma espada muito bem trabalhada,no peito a cruz e um singelo cordão, com a imagem de São Jorge,santo padroeiro daquela ordem -São Jorge pertencia ao exército romano e por ser cristão, foi torturado e executado ao não negar sua fé- e trazia um semblante cansado.

-Oi Pedro ,vim parar aqui de novo nesse sonho que parece que só você me reconhece.

- Novamente você, forasteiro...Realmente acho que só eu consigo te reconhecer aqui.

- Que lugar é esse? Estamos de novo em Acre?

- Não meu jovem,é Jerusalém, estamos no antigo templo de salomão.

-Parece que estou sendo tragado para o passado,para épocas que eu não conheço...

-Estamos no ano de 1198 de nosso senhor. A guerra se prolonga cada vez mais e eu já estou cansado dela. A propósito, acho que realmente só eu posso te ver também... mas por um motivo que será revelado no momento certo...Tudo a seu tempo.

- E porque eu pedro? Porque eu estou passando por isso, por esses sonhos estranhos?

-Tudo será mostrado pra você no momento certo...Tenho algo a te mostrar...

Capítulo 2

Pedro levou Ricardo para dar uma olhada nas ruas do local onde estavam alojados os cavaleiros. Por ali viu uma série de coisas: pessoas pedindo esmolas,cavaleiros multilados, crianças pequenas chorando de fome...


-isso é resultado de uma guerra tida como "santa". Essas pessoas não têm culpa de nada e talvez nunca tenham feito mal a ninguém... esse é o resultado de tempos de baixa fé.


- Mas porque eu tenho que ver isso,que passar por isso? Não sou dessa época e nem tenho culpa de nada disso...


-Não sei meu jovem,mas tudo nessa vida tem um porém,Deus sabe muito bem o que faz...


-Deus cara ,nunca acreditei em Deus.Nunca tive fé! Mas agora eu devo estar ficando louco,esse pesadelo deve ser fruto de alguma imaginação minha...


-hahaha isso não é fruto de sua imaginação!-então olhando para Ricardo com um olhar enigmático-"Clarividência,Arquivos abertos".


No segundo seguinte lá estava Ricardo,de novo no mesmo local de antes,pasmo,pois sabia que aquela 'Clarividência" não era nova,e que agora teria outra coisa a mais:"Arquivo Aberto".


Chegando em sua casa,resolveu deitar-se e dormir para tentar esquecer do que aconteceu,mas sem sucesso...Acordou a noite várias vezes suado,com pensamentos e visões estranhas em seu quarto,como se algo estivesse o atormentando...Resolveu então abrir seu notebook e pesquisou em um site popular de buscas virtuais sobre os cavaleiros templários.Achou várias matérias sobre a história desses cavaleiros,desde o seu surgimento até o seu final,que foi bem violento diga-se de passagem.Aprendeu seus costumes,suas histórias e suas batalhas,suas filosofias e o companheirismo que a irmandade tinha entre seus membros. Depois resolveu pesquisar também sobre "Homens da encruza" e achou um resultado chamado "Exu",entidade de uma religião Brasileira com matrizes africanas chamada "umbanda" coisa da qual ele jamais ouviu falar antes, já eram 7 da manha ao final da pesquisa,já era hora de arrumar as coisas e ir para a aula.Primeira noite em claro daquele jovem.


Caminho para a escola normal.,ouvia em seu mp3 uma de suas bandas favoritas: Blue oyster cult -Don't fear the reaper,era um aficionado pela temática ocultista da banda embora nunca tivesse pesquisado a fundo sobre ela.


Resolveu então no caminho que iria contar essa situação para seu melhor amigo,Richard,e tentar obter alguma ajuda dele,já que ele era um sujeito bastante religioso e pertencia a uma religião meio diferente e misteriosa para ele,o espiritismo.


Na escola tudo se decorreu normal.Na hora do recreio Ricardo procurou Richard para conversar sobre os últimos acontecimentos.De longe avistou nele alguma coisa que ele nunca tinha visto antes,nunca tinha reparado: Uma especie de aura fluídica que banhava seu corpo inteiro. Havia também uma especie de pessoa que o acompanhava,mas não dava pra reconhecer.


-Richard,meu brother ,temos que conversar...


-Pode falar amigo,o que está acontecendo?


-Então Ricardo estão acontecendo algumas coisas estranhas.


Então Ricardo contou a sua história nos mínimos detalhes a seu amigo.


-Ricardo,o que você está passando é provavelmente um processo de despertar da sua mediunidade...Provavelmente você é clarividente pois consegue enxergar algumas coisas e entidades,mas essas suas viagens eu não sei dizer o que são.


-Mediunidade?Que coisa é essa Richard?


-Então amigo,mediunidade é um dom que todos nós seres humanos temos,algo que nos aproxima mais do nosso mundo espiritual.Todos temos em diferentes patamares evolutivos e de diferentes maneiras.Há vários tipos de mediunidade,algumas já nascem desenvolvidas,outras aparecem ao longo da vida do médium,acho que a sua é um exemplo disso.

Capítulo 3

Passaram as provas de final de ano e meio apertado,Ricardo foi aprovado para o ultimo ano do ensino médio,agora já era hora de pensar no futuro,no que faria da vida,quais estudos iria se dedicar e tentar resolver essa situação espiritual na qual ele passava. Sua familia se reunia anualmente no ano novo e no natal para comemorar as festividades. Faziam uma grande festa com tudo de bom:Doces,churrasco,bebidas.Era uma coisa da qual Ricardo não abria mão.

Até tinha um bom relacionamento com seus primos e tios,alguns o olhavam meio torto pelo estilo de vida que ele levava,mas não dava importância pra essas coisas. Durante a festa mais uma vez ele foi tragado para aquele velho lugar,era jerusalem,5 anos após a primeira data na qual ele se viu da ultima vez. Lá estava Pedro ao que parece aguardando a sua chegada.

-isso já está virando rotina Pedro?Vai ser a vida inteira assim?

-Não meu filho,apenas até o momento necessário,hoje vou lhe motrar outra coisa.

Pedro o encaminhou então para assistir uma das missões da ordem com um de seus generais,impiedoso e muito cruel com seus inimigos. Derrotava com muita coragem todos os seus obstaculos e sempre mantinha o ar de cavaleiro,porém seu manto estava sempre sujo com o sangue de seus inimigos.

-Está vendo Ricardo,você acha toda essa raiva,esse ódio do ser humano uma coisa benéfica para o espirito?

-Isto é uma guerra Pedro,não é permitido a misericórdia com os inimigos.

-Exato,é uma guerra,mas ele se diverte com o que faz,por mais sangrenta que seja a guerra,devemos sempre honrar nossos inimigos,e não subjulga-los como bestas fracas.Infelizmente guerras são coisas muito comuns ainda no nosso plano.

-Plano?Você fala como os espiritas de minha era Pedro...

- hahahaha.

Assim estava Ricardo de volta a festa,parecia que nem um segundo havia se passado,resolveu tocar uma música para os parentes:Nothing else matters. Assim terminava mais um ano na familia de Ricardo.Ele mantinha esperanças de se encontrar no proximo ano,e até um pouco de fé,coisa que até ele achava impossível de ter surgido em seu coração.

No dia seguinte, primeiro de janeiro daquela novo ano,resolveu fazer algumas reflexões sobre o acontecido no ano anterior. Pegou sua bicicleta e foi dar uma volta sem rumo. As coisas estavam cada vez mais estranhas,ele nao conseguia intender o que se passava.

Novamente em outra encruzilhada se deparou com outro ser,esse novamente um homen,resolveu temtar fazer contato.

-Oi,eu sei que só eu aqui consigo te enchergar e deve ser pela tal clarividência que ja disseram que eu tenho. Não sei se você pode mas eu gostaria de alguma explicação sobre o que está acontecendo.

-hahaha explicação? -disse a entidade com uma voz rouca- você é médium e terá de trabalhar... terá que desenvolver essa mediunidade.

-E como farei isso?

-Olha, primeiro tu vais ter que achar tua banda,a linha de trabalho que você vai se encaixar hahaha.

-linha de trabalho?

-hahaha(...).

A entidade de repente sumiu, sem deixar nenhum vestigio.

Afim de respostas, se esforçou para tentar se comunicar de novo com Pedro e num instante ele já estava lá, naquele lugar.

-Pedro,aconteceu uma coisa estranha- e assim contou seu contato com a entidade.

-Ricardo você teve contato com um exu,um guardião, que lhe disse o que você realmente terá de fazer. Trabalhar em alguma linha,seja ela na umbanda ou no kardecismo...

- umbanda e kardecismo? O que é isso?

- São linhas do espiritualismo, vertentes nas quais um médium pode trabalhar. Vou lhe explicar como elas são.

Assim, Pedro o explicou tudo para que ele pudesse intender bem e tirou todas as suas dúvidas, a conversa parecia ter durado dias.

-Pedro,acho que vou procurar uma casa umbandista,algo me puxou para esse nome,para essa linha.

- Fico feliz meu filho,pois sua missão realmente está lá. E por que eu trabalho nas linhas da umbanda também-riu discretamente-.

- Como assim Pedro? Você vive anos antes da criação dessa religião.

- Ricardo, isso tudo o que você está vendo é real. Você está no arquivo de sua alma e eu,eu sou seu guia, por isso eu posso te ver. Eu sou sei anjo da guarda e cuidei para que você não ficasse preso dentro de seu arquivo, e pra seu corpo não entrar em colapso com as lembranças de outras vidas. Tudo isso foi necessário para seu despertar mediunico, mas a verdadeira caminhada começa agora. Sou seu mentor,fui cavaleiro templário e hoje trabalho nas linhas da umbanda, sou Ogum Beira Mar.

Ricado então acorda do seu transe no mesmo local, um pouco mais seguro porem com algumas dúvidas.

Capítulo 4

Ricardo decidiu procurar uma casa de umbanda e pra isso,pediu auxílio de seu colega de classe que o indicou um de sua confiança.

Quinta feira, a sessão já estava com seus preparativos começando. Eram sete horas da noite e a humilde casa já estava cheia.Várias pessoas,na sua maioria simples aguardavam o início dos trabalhos daquele dia. Ricardo sentou-se na frente para acompanhar e aprender tudo o que pudesse daquela experiência.

Do fundo da casa uma porta se abre,sai dela uma senhora,aparentando ter 50 anos mais ou menos,vestida com um vestido branco,saia com rendas,muito bem feito e usando no pescoço vários cordões coloridos de miçangas.Tinha uma feição muito calma,transparecia serenidade.

Logo após ela entrar,outras pessoas também vestindo branco entraram depois dela,formando um semi circulo em frente a um altar simples,mas cheio de flores,plantas e imagens de vários santos como São Sebastião,São Lázaro,Nossa Senhora Aparecida,algumas que ele desconhecia e uma de Jesus Cristo com os braços abertos no ponto mais alto do altar. Algumas velas também estavam iluminando o altar.

Após se cumprimentarem,uma música se inicia ao som do atabaque.O a sessão se iniciava.

Aos poucos foram cantando várias cantigas,ou pontos como são chamadas as músicas para saudar as entidades,as quais cada uma o fazia sentir uma sensação diferente.

Realmente era muito forte toda aquela energia que vinha de dentro daquele congá.

Após alguns pontos cantados,as entidades começaram a incorporar nos médiuns ali presentes.Cada uma de seu jeito próprio,demarcando sua presença no lugar. Alguns com brados altos,outros mas calmos mas cada um com sua própria característica. Então após todos se ajeitarem as pessoas começaram a entrar para conversar com as entidades,era uma sessão de caboclos.

Ricardo apressou-se para ir no caboclo com quem ele mais se identificou.Assim que pisou dentro do congá,sentiu uma forte energia passando por ele dos pés a cabeça,fortes arrepios e uma fraqueza nas pernas. Chegando ao guia,o cumprimentou.

- Olá Caboclo,estou com alguns problemas,vim aqui procurando ajuda.

-Oi fio,já era pra tu tar aqui hoje nessa casa. Já tavamos esperando tu aqui.

-Me esperando?Como assim Caboclo?

-Já tava certo que tu tinha que vir pra cá fio,quem te trouxe aqui foi esse teu caboco,esse teu guerreiro que te acompanha e que tu já conhece né,seu Beira Mar.Caboco bom,caboco forte e trabaia na merma linha que eu,na linha das aguá da mãe Iemanjá,nas água da sereia...

-Então esse espirito que me acompanha é um caboclo?Que trabalha nas águas do mar?Então como ele me acompanha e cuida de mim se ele trabalha nessas linhas?

-O fio,ele é um dos teu guia,tu tem outros tamem mas é esse que tu tem mais perto de tu,que sempre ta na tua frente pra abri teus caminho e te dando força.

-Mas e o resto das minhas visões? Tive visões sobre clarividência,sobre Arquivo alguma coisa que não me lembro agora e algumas outras...Também via coisas nas encruzilhadas...O que era tudo isso e porque parou?

-O fio foi o despertá da sua mediunidade fio,o abrimento do teus caminho pra cá. No cumeço é assim mermo fio,tudo é embaraçado mas aos pouco as linha toma forma e os caminho se mostra pra tu,tua missão é essa aqui fio,é crescer aqui e desenvolve pra tu ajudar as pessoas que vem aqui em busca de auxilio,de um "passe" ou de um conselho...

-Certo Caboclo,entendi então...Como faço pra começar então?Acho que já tive provas suficientes que realmente aqui é meu lugar...

-Fio,o primeiro passo é tu continua vindo aqui pra vê se essa casa é onde tu que continua,onde tu que cria raiz e onde tu que faze essa arvore da fruto...Depois fio quando tu tive resolvido se vai fica aqui ou não,tu vai volta aqui em eu e depois tu vai conversá com a dona do congá,que ela que manda aqui nos médium que entra pra trabaia.

-Então combinado,vou voltar aqui mais algumas vezes até ter certeza do que você me falou caboclo.

-Certo fio caboco vai te faze uma limpeza pra tu fica mais leve,e continua vindo cá na casa quando tu pudê pa conversa com caboco aqui.Caboco aqui é o Sete Ondas,e que Iemanjá te proteja e te guie todos os caminho de tu.

Então o caboclo o aplicou um "passe" e logo após Ricardo foi para sua casa mais tranquilo. Resolveu voltar ali naquela casa algumas vezes mais.

Nas suas proxímas visitas as coisas andaram bem,tudo deu certo e Ricardo gostava cada vez mais do que ouvia nas reuniões. Cada vez mais tinha certeza do que queria.

Capítulo 5

Ricardo continuava indo as sessões normalmente,sem muitas coisas. Todas as suas dúvidas dona Maria,chefe do terreiro estava tirando. Gostava muito das sessões de pretos velhos,linha da qual sempre sentiu uma admiração devido a humildade que tinha. Uma conversa com um preto velho parece nunca ter fim. Entidades extremamente calmas,com seu jeito de vovôs e vovós cativavam todos do terreiro.

A mãe de Ricardo apoiava essa nova mudança de religião, gostava da dedicação do filho e de vê-lo feliz com todo aquele aprendizado, via que realmente fazia bem a ele. Por outro lado o pai de Ricardo era meio inseguro com essas coisas. Tinha um certo medo de Ricardo se tornar um macumbeiro qualquer e se meter a fazer magia negra para outras pessoas. Recomendava que ele procurasse um médico achando que tudo era coisa de sua imaginação.

Cassiano,pai de Ricardo, ultimamente vinha sentindo várias dores de cabeça, cada vez mais fortes... Resolveu se consultar em um médico. Fez alguns exames e foi constatado que estava com um tumor no cérebro. Suas chances mesmo com uma cirurgia eram bem poucas e realmente não sabia como contar aquilo para a família.

Continuava com medo por Ricardo continuar frequentando as sessões e o maior motivo era sua falta de informação,o que ocasionava um certo preconceito,mas diante da situação que ele estava,resolveu ir lá um dia com Ricardo,mesmo que fosse apenas uma experiência para aproxima-los um pouco.

O dia da sessão chegou e lá foi Cassiano junto à seu filho a sessão para conhecer tudo aquilo.A gira então começa e Ricardo o diz para ir em um médium que ele já conhecia e tinha confiança.Sessão de Baianos,linha que representa os povos que viveram no nordesde do Brasil,linha que traz muitos conselhos,tem muito a ensinar. Com sotaque bem regionalista,um jeito maroto eles chegam no terreiro trazendo muita alegria,um povo alegre e tranquilo.

Assim que chegou ao baiano,que dava o nome de Serafim,já foi se assustando com o que o bahiano tinha a lhe dizer:

-"Vixi Seu moço,Tu ta muito adoentado né?Oxi mas tu ta aqui na ciara hoje e tu vai ter ajuda de nois aqui sinhô!"

-"Mas como assim?Mal cheguei e você já sabe que estou doente?Alguêm te contou isso?"

-"Oxi sinhô,tu ta achando o que?Baiano sabe das coisa seu moço,e sei da tua doença já.Seguinte seu moço isso que tu ta tendo infelizmente é sério mesmo,mas bahiano vai te ajudar,olha seu moço tu vai tê que conta isso pra tua famia,pra mo deles podê te ajuda tamén,é uma hora dificil de seguir seu moço mas tu vai ter que passar por isso mesmo,nois aqui vamo te ajuda."

-"Me ajudar como baiano?O que pode ser feito?Isso que eu tenho é inoperável,não tem solução.A unica coisa que me resta é contar meus dias...E tentar vive-los da melhor maneira possível."

-O sinho vixi tu é teimoso mermo né?Te fala que pra quem tem fé nada é impossível não moço,se tu tem fé em Deus,divino espirito santo vai ta te ajudando a passa por essa demanda ai moço.Senhor do Bom Fim vai te acompanha em todos os teus caminhos pra que tudo dê certo. Vo receita umas coisa pra tu moço e quero que tu faça pra eu.Me chamo Serafim fio,quando tu tiver em tocaia,problema tu pode me chama que eu vo ta do teu lado ta certo?"

-"Certo Baiano,muito obrigado..."

Então o baiano o receitou alguns banhos de ervas,chás e muita,muita oração.Os médicos tinham lhe dado apenas mais dois mêses de vida devido a rápida evolução do tumor.Cassiano resolveu se agarrar ao minimo de esperanças que tinha e fez tudo que o Baiano Serafim tinha lhe pedido e retornou algumas vezes as sessões. Passado um tempo refez os exames e foi constatado que o tumor havia tido uma regressão...Mas não o suficiente para torna-lo operável,só sendo possível aumentar a expectativa de vida de Cassiano.O que pra ele já era um verdadeiro milagre,pois agora já poderia fazer várias coisas,aproveitar tudo o que queria sabendo que disporá de mais tempo em nosso plano.Em um dos retornos as sessões,conversou novamente com Serafim.

-"Olá Baiano Serafim,vim para te agradecer por sua ajuda.Minha doença deu uma parada e agora disponho de mais tempo de vida.Infelizmente não me curei dela mas agora vejo que posso ter mais uns momentos com minha familia.

-"Oxi sinhô,baiano fica muito feliz em sabê que tu deu uma melhorada.Olha sinhô,nesse mundo Deus sabe o que faz,e tua caminhada nesse mundo foi muito formosa.Tu ajudou muita gente sinhô,no seu trabaio,na sua vida,tu criou direito teu filho que hoje já ta quase entrando pra dentro da casa pra ajuda as outras pessoa.Tu sabe que o pai que ensina o filho o que é certo,a força dele que o empurra pra frente e tu fez isso direito sinhô.A hora de cada pessoa chega nesse mundo assim como chego pra baiano quando ele tava cá nesse plano.Isso não é uma dispidida de baiano pra tu,porque tu vai vir muitas vezes aqui ainda pra prosiar com baiano,mas é pra tu ficar um pouco mais calmo.A arvore nasce,ela dá fruto,ela seca e ela morre,mas isso não é o fim,o fruto que ela deu aqui vai recomeça a roda da vida toda de novo e assim por diante durante todas as época que aqui vão ter.Tu cumpriu teu papel moço,e o Sinhô do Bom Fim vai te acompanha durante toda a caminhada que te resta certo?E tu lembre sempre sinhô que do teu lado tem um guerreiro.Tu é filho de Xangô sinho e ele vai te dá forças e proteção pra tu fazer o que tu ainda tivê que fazer.Vo te passar mais umas coiseiras pra tu fazer..."

-" baiano,fico muito grato por tudo,agora intendi tudo e estou um pouco mais calmo.Não dá pra mudar a realidade não é verdade,então pra mim basta aceitar o que eu tenho nas minhas mãos."

-"Isso mermo sinhô,tu vá em paz e tudo vai da certo,tu vai ver."

Passou mais algumas coisas pra Cassiano fazer.Sentia que estava dando resultados,mesmo que pequenos.

Chegará a hora de Ricardo optar por entrar ou não na corrente do terreiro...

Era dia 5 de setembro,dia em que Ricardo iria começar seus trabalhos no terreiro.As 10 horas da manhã,voltava do colégio,ao som de Nocturnal Bloodlust-Libra quando seu celular tocou...Era seu pai que tinha dado uma forte crise de dor de cabeça e estava indo para o hospital.Foi encaminhado para o uti para fazer uma cirurgia de emergência pois estava tendo uma complicação no celebro.As 22horas do mesmo dia infelizmente Cassiano faleceu deixando a todos assustados e muito tristes,mas partiu sem nada inacabado,tendo feito tudo que tinha planejado fazer.

Capítulo 6

Sem chão,sem saber o que fazer,Ricardo decidiu se afastar um pouco dos trabalhos,afim de colocar as idéias em ordem.Tudo na sua vida iria mudar aquele momento em diante,teria que trabalhar pra ajudar em casa,não teria mais tempo pra fazer as coisas que sempre fazia. Teria de ser o pilar de apoio de sua mãe que estava arrasada. Foi ao centro de sua cidade, distribuiu alguns currículos e foi chamado para uma entrevista em uma loja de peças automotivas, onde foi contratado. 


   No inicio ainda estava um pouco perdido em meio a tantas coisas, mas aos poucos e com bastante esforço foi pegando logo o jeito do novo emprego e até gostando do que estava fazendo. Foi aprendendo bastante sobre peças, funções e etc, porém sabia que era com outras coisas que deveriam se preocupar também, já chegava a hora que ele deveria retornar aos trabalhos no centro, porém sua perda recente causava-lhe certa insegurança sobre retornar as suas obrigações . Ainda sentia-se muito inseguro pra continuar. Resolveu então procurar Richard, para conversar com ele e tentar ouvir um conselho que pudesse indicar um rumo a seguir.


 Chegando à casa do seu velho amigo, se encontrou com os pais dele em frente a casa dele e os mesmos deram-lhe as condolências pela sua perda. O Pai de Richard teve a liberdade de conversar um pouco com ele, contar a história dele que era um pouco próximo com a de Ricardo. Contou-lhe que veio do interior de Minas Gerais, serviu com seu pai e seus irmãos nas plantações. Seu pai era um homem muito enérgico e fez todos os filhos trabalharem desde muito cedo para ajudarem nas contas de casa. Certo dia ele começou a sentir-se mal e foi levado as pressas para o hospital mais próximo, porém, no caminho para o hospital veio a falecer devido a um infarto.Ele e seus irmãos então tiveram que se intensificar para poderem sustentar a casa, ainda com irmãos pequenos para cuidar e mãe que não podia trabalhar pois tinha que ficar cuidando dos irmãos menores. Explicou-lhe das dificuldades e que lhe fez mudar-se para São Paulo, buscando uma nova vida e abandonando todo aquele sofrimento que teve. Disse que os amigos foram de muita importância pra ele nesse momento, pois foram quem o ajudou a superar a perda dele e muitas vezes, até quem lhe ofereceu um prato de comida e um agasalho no frio.  


Logo após esta conversa Richard chegou e foi atende-lo, convidando-o para entrar.


Ricardo então desabafou com seu amigo:


-"É, Richard, agora não sei mais o que fazer, e nem como fazer cara. Sei que tenho que voltar aos trabalhos no centro, mas tenho medo de que algo aconteça, de não estar com o meu psicológico preparado para continuar."

- "Olha cara, acho que você está se preocupando de mais com essas coisas Rick, digo, intendo o que você está passando, mas a vida continua cara. Aposto que seu pai que estava gostando tanto dos trabalhos no centro antes de falecer não iria gostar de te ver assim, desanimado e sem vontade de continuar."

-"É Richard, mas meu medo é..."
 Nesse momento, repentinamente aconteceu-lhe algo que a muito não ocorria, estava ele novamente em Acre, ao lado de Pedro, vestido mais uma vez com sua paramenta templaria, andando por uma trilha, próxima a um castelo.

-" Pedro, ou melhor, Beira Mar, o que estou fazendo aqui? Estava conversando com o Richard agora e de repente, de novas essas visões...Porque disso agora, era uma conversa importante."
-"Ricardo Ricardo, tenho um local pra te mostrar..."
Num instante, todo aquele ambiente foi se envolvendo, foi se modificando em um local sombrio, um local semelhante a um pântano, com um cheiro fétido e uma especie de penumbra, as arvores um pouco retorcidas, havia pouca luz. Gritos de pessoas ecoavam por entre lamentações e sussurros de socorro. Palavras de baixo calão se confundiam com murmúrios de socorro, pessoas trajando todos os tipos de vestes, algumas vezes disformes suspeitam a aparecer por entre as árvores. Um local muito sombrio que em que Ricardo mal tinha acabado de entrar e já estava querendo sair.
-"Beira Mar que lugar é esse? O que estou fazendo aqui?"
Ao lado direito dele estava Beira Mar, ao lado esquerdo, outro ser, um Homem, parecendo uns 30 anos, com barba por fazer, roupas brancas também, porém diferentes, assemelhando-se a roupas de um antigo confederado. Suas vestes que eram brancas, ao mesmo tempo, confundiam-se com preto em diversas mudanças de emanações energéticas, porém sabia que ele tinha uma vibração muito boa e estranhamente conhecida. 
-"HAHAHAHA. Este é meu aparelho Beira Mar?- gargalhava o homem- Este menino? Não parece lá grandes coisas.
-"Sim, este é seu médium, e não fale assim, pois você já o acompanha a muitos anos... "
-"HAHAHA é verdade, o acompanho sim, e já tem muitos Luares... É um bom menino mas tem que aprender certas coisas..."
-"Mas o que está seguindo aqui? Eu Exijo saber o que é tudo isso! Quem é você cara, que tanto ri de mim dessa maneira? Eu não queria estar aqui e quero voltar para onde eu estava, chega disso!"
-"Hahaha, eu moço, sou seu Exu. Me chamo Sete Liras. Primeiro acalme-se e fale baixo, você não está em nenhum local de bagunças. começar ou passar um período espiando as mais ações que construíram na vida. Tudo que se colhe se planta moço, Não há como plantar ervas daninhas e colher rosas."

-"Eu sei o que é o Umbraal, mas porque estou aqui Sete Liras, porque disso tudo?"
-"Olha Moço, isso é para você ter noção do seu trabalho. Cada pessoa que você atende, que você ajuda, que você está de corpo presente dando uma chance de um de seus guias trabalharem em sua matéria é uma alma que você se afasta dos campos mais baixos, como esse. Você é um instrumento de algo muito maior que você pode pensar, assim como eu, e seus outros guias. Eu faço meu papel de exu, diferente do seu Beira Mar que te passa a mão na cabeça, te mostro como as coisas são. Exu é exu moço, não é ruim e não faz o mal pra ninguém, mas ainda sim é exu, e tem sua própria maneira de resolver as coisas."

-"Viu Ricardo, essa é a importância de um médium umbandista, vai muito além de uma mera incorporação. Você é muito mais do que apenas um garoto perdido, você tem uma missão e por mais que sua perda tenha sido difícil, está chegando a hora de retornar para ela."
-"Entendo, mas, mas e meu pai? E se eu não...conseguir me concentrar?"
-"HAHAHA, ocê sabe mais que tudo incorporar e trabalhar aparelho, se levante e deixe de besteira. Seu pai está sendo assistido, e eu sou um dos que está olhando por ele, agora pare de se preocupar, e se lembre que você tem algo a fazer. Está vendo estas minhas vestes,já viu que mudar de cor não é?As vezes é necessário eu me adaptei a vibração do ambiente pra poder fazer algum trabalho por estas bandas, principalmente resgate. bem, da luz, mas as vezes eu tenho que mudar pra chegar aqui. É o que você tem que fazer, se acostumar com as mudanças da vida, e aprender a usa-las pra ajudar ainda mais as pessoas. Você foi escolhido para ser um médium de umbanda, tem responsabilidade sobre isso."

-"Sim Ricardo, é essa a lição que eu queria lhe ensinar hoje."

 Na mesma velocidade que tinha sido atirado nessa realidade, já estava de volta a conversa com Richard...
 -"O que foi Ricardo? Você está bem? Ficou calado por um segundo..."
-"Sim Richard, acho que já tive o conselho que eu precisava."