quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

A Cruz Celta astrológica

 A Cruz Celta astrológica


Jaime E. Cannes
Conhecer todos os significados e possíveis desdobramentos das posições do sistema que utilizamos é tão importante quanto conhecer profundamente o significado dos arcanos em suas muitas perspectivas. E mais uma vez pensando sobre as possíveis relações das dez posições originais da Cruz Celta com outros símbolos arquetípicos, me aproximo do simbolismo astrológico dos planetas. Já apresentei as correlações entre as posições e os principais personagens míticos presentes em todas as mitologias, bem como em quase todos os contos de fadas memoráveis. Foi dessa reflexão que eu extraí a presente analogia, a estrutura da Cruz Celta e sua ligação com a simbologia dos planetas. Antes, porém, vamos entender melhor o que são os planetas e suas expressões.
Símbolos astrológicos
A astrologia relaciona o homem ao Universo na busca
de um significado cósmico para nossa existência!
Ilustração de www.shutterstock.com
Podemos começar lembrando que  Sol e Lua não são planetas; o primeiro é uma estrela, e o segundo um satélite. São chamados de luminares, um emana luz e o outro a reflete, no entanto para efeito de estudo do mapa astrológico natal eles equivalem aos demais astros e são comumente chamados de planetas. Os planetas pessoais são Mercúrio, Vênus, e Marte, eles são mais rápidos e representam as atuações do ego e da vontade na busca pelo que denominamos de nossas conquistas, e nos dão características bem específicas na personalidade. Júpiter e Saturno, são mais lentos e chamados de planetas sociais, pois que mostram nossa atuação no mundo, socialmente, e no modo como nos apresentamos, consciente e inconscientemente ao mesmo tempo.
Por fim, os três últimos planetas são conhecidos como transpessoais e, na linguagem astrológica, como “transaturninos”, por estarem depois da órbita de Saturno no sistema solar. Eles são ainda mais lentos! Urano demora 84 anos para dar uma volta completa no zodíaco, e fica por cerca de 7 anos em cada signo. Netuno demora cerca de 164 anos para dar a mesma volta, e permanece cerca de 14 anos em cada signo zodiacal. Por fim Plutão demora em média 248 para contornar o Sol e, por ter uma órbita irregular, se demora entre 12 a 32 anos em sua passagem por cada signo. Esses planetas atuam na nossa capacidade de transcendência e transformação, ou seja, de ir além do que do que conhecemos ou do que se apresenta. Por serem tão lentos marcam toda a humanidade ao transitarem nos céus, e a toda uma geração que nasce com eles em seus mapas.
Eu, por exemplo, e todos os que nasceram entre 1956 e 1970 somos filhos da geração de Netuno em Escorpião, que trouxe a cultura do Paz & Amor dos hippies, do sexo livre, das experiências de estados alterados de consciência para tanger outros planos e colher sabedoria, que aproximou a cultura do oriente do ocidente, e que resgatou a sabedoria de antigos sistemas simbólicos como o tarot e a astrologia, que agora eu cruzo nesse artigo como já o fiz em outros! Influência que como podemos ver mexeu com toda a vida na Terra quando Netuno passou por ali, e marcou profundamente os que nasceram com ele em suas cartas natais... Vide o meu caso!
É importante lembrar também que os planetas diferem dos signos: eles são as energias que impulsionam e moldam as características que cada signo representa. Um exemplo é de que alguém com Marte em Áries terá características de agressividade e impulsividade bem mais acentuadas do que alguém que tiver esse mesmo planeta em Touro! O primeiro signo lida com a energia belicosa de Marte de uma forma mais explosiva, por assim dizer. Já os que possuem esse mesmo planeta com a influência taurina o farão de uma forma mais persistente e resistente do que agressiva. A energia marciana é expandida pelas características de um signo, e contida pelas características do outro.
Modelo da ténica de toragem, Criz Celta
As dez cartas da tiragem Cruz Celta
Ilustração de www.4.bp.blogspot.com
A seguir apresento a relação entre os dez planetas e as dez posições originais da Cruz Celta, tanto em sua forma tradicional, como na adaptação feita por mim e que denominei de Jogo do Espelho. Vocês poderão ver que não me afasto tanto das origens, considero que as ampliei. Ao fim de cada explanação coloquei um pequeno texto com o objetivo de conectar a presente relação entre os planetas e as posições deste método de leitura com os personagens míticos que listo no artigo A Cruz Celta do Encantamento. O link para quem quiser ler (ou reler) este texto na íntegra está ao pé da página, bem como outros que considerei pertinente mostrar!
 Posição 1: Sol-Sol 
A vontade pessoal, solar e egoica, que carrega a noção de quem eu sou e de quem quero ser. As forças vitais envolvidas num processo específico de interesse ou atuação. A essência através da qual outras formas de consciência se manifestam. O guia para o nosso propósito principal de vida... Atributos do Sol astrológico que combinam muito bem com a primeira posição da Cruz Celta que representa o mundo interior no momento na minha versão desse sistema de leitura. Na versão original é chamada de a situação do momento.
Na versão mitológica: O Rei, o soberano que outorga leis e diz para onde as coisas se encaminham naquele momento.
 Posição 2: Plutão-Plutão 
É o planeta da ação transformadora, o influxo das correntes interiores do ser que se elevam e moldam a realidade a partir do que é emanado de dentro. Um astro de grande abertura para as forças superiores do espírito, mas que também pode simbolizar a negação do mesmo, e a fixação nos aspectos mais brutos da consciência, como o apego, o egoísmo e o controle. Na Cruz Celta tradicional é essa a posição que cruza a carta 1, apoiando-a ou restringido-a. Eu a chamo de as ações e elas podem vir ao encontro, ou se opor ao que o mundo interior apresenta ou requer.
Na versão mitológica: A Rainha, aquela a quem o rei ama, e que o apoia ou que conspira contra ele de alguma forma.
 Posição 3: Lua-Lua 
Símbolo da sensibilidade profunda e da percepção intuitiva de verdades não reconhecidas, em princípio, pela mente racional/consciente. Este é o astro mais próximo da Terra e o regente do inconsciente coletivo, que se expressa através dos símbolos como os arcanos do tarot, os números, etc. Simboliza os sentimentos e as intuições mais profundas da alma. Na tradição é a posição da base, como algo que é pressentido sobre o momento. Eu a chamo de o apelo do ser interno, como as intuições sobre o momento que devem ser ouvidas. O guia sábio da consciência.
Na versão mitológica: A casa do mago conselheiro, a cabana do sábio dentro da floresta escura (o si mesmo), onde o rei se dirige para se aconselhar.
 Posição 4: Saturno-Saturno 
O planeta das restrições e dos obstáculos que surgem como um desafio à mente consciente de superar a si mesmo. Os limites incrustados na personalidade, pela cultura social ou a formação familiar, que se revelam nos embates da alma para atingir sua realização, características bem saturninas que expressam bem a essência dessa posição que na Cruz Celta original representa o passado (a origem de todos os condicionamentos), e que eu chamo de desafios e obstáculos, não importando se desta vida (infância, juventude, etc) ou de outras vidas (encarnações).
Na versão mitológica: A toca do dragão, o lugar dos desafios que limitam os poderes do rei, e que devem ser superados.
 Posição 5: Júpiter-Júpiter 
Simboliza a ânsia do ego para conhecer muitas coisas, expandir seu mundo e experimentar a si mesmo. É o grande captador e explorador das oportunidades que a vida oferece. Seu glifo é o oposto do de Saturno, simbolizando a libertação das limitações de quem quer crescer e prosperar livremente, e em todos os sentidos. Na tradição é a posição do consciente, do que é reconhecido da situação. Eu a chamo de objetivos conscientes e a vida material, e representa as direções tomadas na vida material/financeira e de como isso aparece para o mundo.
Na versão mitológica: O reino, a síntese de tudo o que se possui no momento, e de como podemos ou iremos prosperar.
 Posição 6: Urano-Urano 
É o planeta da renovação e do rompimento com tudo o que é obsoleto. Representa também a força da comunidade, dos grupos, e dos amigos que sustentam ou desmantelam com as suas influências os objetivos pessoais para o futuro. É o planeta da família no sentido mais amplo e universal, e dos amigos que se apresentam como Mestres por seus exemplos de vida. Na Cruz Celta original essa é a posição do futuro próximo, e que eu adaptei para o significado de objetivos futuros e vida social, que envolve tanto amigos quanto família e suas influências no momento.
Na versão mitológica: Os súditos, os que seguem o rei apoiando-o em seus planos ou restringindo as suas atuações.
 Posição 7: Marte-Marte 
O planeta da afirmação de si mesmo, do ego e da vontade, acima do espírito. É a força da agressividade não só no sentido de violência, mas do modo como nos colocamos diante dos desafios e das demandas que se apresentam. O belicoso planeta Marte representa o modo com que nos apresentamos diante do mundo, e de que recursos (internos e externos) nós lançamos mão para as lutas diárias. É a personalidade que se afirma. Na tradição é a relação do cliente com a situação, e que eu renominei para a personalidade.
Na versão mitológica: O jovem guerreiro, aquela porção da personalidade que se ergue para enfrentar a situação.
 Posição 8: Vênus-Vênus 
É o planeta da valorização do amor e da beleza, e da capacidade de atrair, seduzir e encantar de todas as formas. Simboliza também as aspirações mais elevadas do espírito, bem como a inspiração artística que o outro e o mundo ao redor nos trazem. Corresponde bem, a meu ver, ao significado original dessa posição na Cruz Celta onde é vista como o meio ambiente, ou seja, as coisas e pessoas que cercam o consulente no momento. Chamo esta posição de relações íntimas e a expressão do afeto, que combina os atributos venusianos com os do significado original.
Na versão mitológica: A casa da donzela, ou a casa do amor, onde o amor se expressa na trama do momento, e o modo como se apresenta.
 Posição 9: Mercúrio-Mercúrio 
Planeta que leva o nome do antigo mensageiro dos deuses, e que rege as funções elementares do intelecto, como a fala, a escrita, e todas as formas de comunicação que estão sob sua égide. O ensino e o aprendizado também são regidos por ele que assinala a ânsia da mente em aprender, e partir para o próximo estágio levando consigo o que apreendeu de sua lição. Na origem essa posição é a dos medos e esperanças, o que combina bem com o idealismo mercuriano e o seu medo de perdê-lo! Renominei para o aprendizado, visando a absorção da consciência das lições do momento, o que impulsionará seu crescimento.
Na versão mitológica: O mensageiro, algo a ser observado e apreendido para vencer a crise que se apresenta (o dragão).
 Posição 10: Netuno-Netuno 
Com o nome do deus dos mares romano, Netuno simboliza a dissolução das crenças do ego para que a consciência perceba a sua conexão com um plano maior das coisas, da vida ou mesmo de Deus. É o planeta onde todos os caminhos se encontram, e onde a conexão entre tudo se faz, mas só uns poucos místicos recebem essa visão! Na tradição é a posição do desfecho, da resposta à questão. Eu a renominei como a síntese, ou seja, a ideia ou o contexto intrínseco que une o sentido de todas as vivências, e ao ser absorvida supera as crises e dá significado ao momento.
Na versão mitológica: O encantamento, é a magia ou a maldição que envolve o momento, e que deve ser abraçada ou desfeita.
Outros textos do Autor sobre a tiragem Cruz Célta:
A Cruz Celta do Encantamento
As muitas faces da Cruz Celta
Por trás da Cruz Celta
Contato com o autor:
Jaime E. Cannes, professor e consultor de tarô desde 1988,
é astrólogo, numerólogo, mestre e terapeuta Reiki.
www.jaimeecannes.com e www.tarotzenreiki.blogspot.com
Outros trabalhos seus no Clube do TarôAutores