Entendendo as simpatias e antipatias
Como seres inteligentes da criação, que povoam o Universo, fora do mundo material, os Espíritos cultivam, entre si, a simpatia geral determinada pelas sua próprias semelhanças. Além desta simpatia de caráter geral, existem, as afeições particulares, tal como as há entre os homens. Esta afeição particular decorre do princípio de afinidade, como resultado de uma perfeita concordância de seus pendores e instintos.
Assim como há as simpatias entre os Espíritos, há, também, as antipatias alimentadas pelo ódio, que geram inimizades e dissenções. Este sentimento, todavia, só existe entre os Espíritos impuros, que não venceram, ainda, em si mesmos, basicamente, o egoísmo e o orgulho. Como exercem influência junto aos homens, acabam estimulando nestes os desentendimentos e as discórdias, muito comum na vida humana.
Desde que originada de verdadeira simpatia, a afeição que dois seres se consagram na terra continua no plano espiritual.
Por sua vez, os Espíritos a quem fizemos mal neste mundo poderão perdoar-nos se já forem bons e segundo o nosso próprio arrependimento. Se, porém, ainda continuarem se comprazendo no mal, podem guardar ressentimento e nos perseguirem muitas vezes até em outras existências.
Como observam os Espíritos superiores: “da discórdia nascem todos os males da humanidade; da concórdia resulta a completa felicidade. ” E um dos objetivos da nossa encarnação é o de trabalhar no sentido de nos melhorarmos interiormente e chegarmos à perfeição espiritual.
Isto nos leva a compreender melhor a afirmação de Jesus, quando nos disse: Amai os vossos inimigos, pois só há prejuízo para o Espírito que tenha inimigos por força do mal que haja praticado, uma vez que os inimigos são obstáculos em sua caminhada e essa inimizade sempre gera infelicidade e atraso em seu progresso espiritual.
Admitindo que a maldade não é um estado permanente dos homens; que ela decorre de uma imperfeição temporária e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia os seus erros e se tornará bom, compreendemos também que a nossa meta maior é superar a maldade que ainda existe em nós e nos outros. E, neste sentido, só a manifestação de amor de nossa parte pode quebrar o círculo vicioso do ódio que continua a existir, muitas vezes, mesmo depois da morte física.
O período mais propício a esse esforço é, sem dúvida, quando estamos juntos aos nosso inimigos, convivendo com eles, na condição de encarnados e desencarnados, pois é quando temos as melhores oportunidades de testemunhar nosso propósito de cultivar a concórdia para com todos e, assim, substituir os laços que nos ligavam, pelos laços de amor que passam a nos unir.
Ä Escolhas das Provas – Sob a influência das ideias carnais, o homem, na terra, só vê nas provas o lado penoso. Tal a razão de lhe parecer natural sejam escolhidas as que, do seu ponto de vista, podem coexistir com os gozos materiais. Na vida espiritual, porém, compara esses gozos fugazes e grosseiros com a inalterável felicidade que lhe causam os passageiros sofrimentos terrenos. Assim, pois, o Espírito pode escolher prova muito rude e, conseguintemente, uma angustiada existência, na esperança de alcançar depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar de pronto. Aquele que intenta ligar seu nome à descoberta de um pais desconhecido não procura trilhar estrada florida. Conhece os perigos a que se arrisca, mas também sabe que o espera a glória, se lograr bom êxito.
A doutrina da liberdade que nos permite escolher as nossas existências e as provas que devamos sofrer deixa de parecer singular, desde que se atenda a que os Espíritos, uma vez desprendidos da matéria, apreciam as coisas do modo diverso da nossa maneira de apreciá-las. Após cada existência, vêem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta em pureza para atingirem aquela meta. Daí o se submeterem voluntariamente a todas as vicissitudes da vida corpórea, solicitando as que possam fazer que a alcancem mais depressa. Não há motivo de espanto no fato de o Espírito não preferir a existência mais suave. Não lhe é possível no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que se trata de se melhorar.
Não vemos, aliás, todos os dias, exemplos de escolhas tais? Que faz o homem que passa uma parte de sua vida a trabalhar sem trégua, nem descanso, para reunir haveres que lhe assegurem o bem-estar, se não desempenhar uma tarefa que a si mesmo se impôs, tendo em vista melhor futuro. O militar que se oferece para uma perigosa missão, o navegante que afronta não menores perigos, por amor da Ciência ou no seu próprio interesse, que fazem, também eles, senão sujeitar-se a provas voluntárias, de que lhes advirão honras e proveito, se não sucumbirem? A que se não submete ou expõe o homem pelo seu interesse ou pela sua glória? E os concursos não são também provas voluntárias a que os concorrentes se sujeitam, com o fito de avançarem na carreira que escolheram? Ninguém galga qualquer posição nas ciência, nas artes, na indústria, senão passando pela série das posições inferiores, que são outras tantas provas. A vida humana é, pois, cópia da vida espiritual; nela se nos deparam em ponto pequeno todas as peripécias da outra. Ora, se na vida terrena muitas vezes escolhemos duras provas, visando a posição mais elevada, por que não haveria o espírito, que enxerga mais longe que o corpo e para quem a vida corporal é apenas incidente de curta duração, de escolher uma existência árdua e laboriosa, desde que a conduza à felicidade eterna? Os que dizem que pedirão para ser príncipes ou milionários, uma vez que ao homem é que caiba escolher a sua existência, se assemelham aos míopes, que apenas veem aquilo que tocam, ou a meninos gulosos, que, a quem os interroga sobre isso, respondem que desejam ser pasteleiros ou doceiros.
Dizem todos os espíritos que, na erraticidade, eles se aplicam a pesquisar, estudar, observar, afim de fazerem a sua escolha. Na vida corporal não se oferece um exemplo deste fato? Não levamos, frequentemente, anos a procurar a carreira pela qual afinal nos decidimos, certos de ser a mais apropriada a nos facilitar o caminho da vida? Se numa, não é o que desejamos, recorremos a outra. Cada uma das que abraçamos representa uma fase, um período da vida. Não nos ocupamos cada dia a cogitar o que faremos no dia seguinte? Ora, que são para os espíritos as diversa existências corporais, senão fases, períodos, dias da sua vida espírita, que é, como sabemos, a vida normal, visto que a outra é transitória e passageira.
Nas questões abaixo do Livro dos Espíritos teremos um resumo do que seria a escolha das provas:
Pergunta 259 – Se o Espírito pode escolher o gênero de provas que deve suportar, segue-se daí que todas as tribulações que experimentamos na vida foram previstas e escolhidas por nós?
- Todas, não é a palavra, pois não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo que vos acontece no mundo, até as menores coisas; escolhestes o gênero de provas, os detalhes são consequências da vossa posição e, frequentemente, dos vossos próprios atos. Se o espírito quis nascer entre malfeitores, por exemplo, ele sabia a que arrastamentos se expunha, mas não cada um dos atos que viria a praticar, e que são resultado de sua vontade ou de seu livre arbítrio. O Espírito sabe que escolhendo tal caminho terá de suportar tal gênero de luta, sabe, também, a natureza das vicissitudes que enfrentará, mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes dos acontecimentos nascem das circunstâncias e da força das coisas. Somente são previstos os grandes acontecimentos que influem no seu destino. Se tomas um caminho cheio de buracos profundos, sabes que deves tomar grandes precauções para não caíres, e não sabes em qual deles cairás, pode ser, também, que não caias se fordes bastante prudente. Se, passando por uma rua, uma telha te cair na cabeça, não creias que estava escrito, como vulgarmente se diz.
Pergunta 266 – Não parece natural que os espíritos escolham as provas menos penosas?
- Para vós, sim; para o Espírito, não. Quando se liberta da matéria, a ilusão desaparece e ele pensa de outra maneira.
Fonte O Livro dos Espíritos