Verdade
UM CAPÍTULO DE PEQUENOS ENSAIOS EM DIREÇÃO À VERDADE
Verdade
O que é a Verdade? É absurdo tentar defini-la, pois quando dizemos que S é P, em vez de S é Q ou S é R, presumimos que já conhecemos o significado da Verdade. É realmente por isso que todas as discussões sobre se a Verdade depende de correspondência externa, coerência interna ou o que seja, não produzem convicção, nem resistem à análise. Resumidamente, a Verdade é uma ideia de uma ordem suprarracional, pertencente a Neschamah, não a Ruach. O fato de todas as concepções racionais implicarem que conhecemos a Verdade, e que a Verdade está em suas proposições, apenas mostra que essas assim chamadas ideias racionais não são realmente racionais de forma alguma. A Verdade não é de forma alguma a única ideia que resiste à análise racional. Existem muitas ideias que permanecem indefiníveis: todas as ideias simples o fazem. Por trás de todos os nossos esforços está a parede morta de que já devemos saber o que pretendemos encontrar. Considere a declaração do Anjo no 5º Éter de A Visão e a Voz:
“... todos os símbolos são intercambiáveis, pois cada um contém em si seu próprio oposto. E este é o grande Mistério das Supernas que estão além do Abismo. Pois abaixo do Abismo, contradição é divisão; mas acima do Abismo, a contradição é Unidade. E não poderia haver nada verdadeiro exceto em virtude da contradição que está contida em si.”
Quando isso foi dito ao Mestre Therion, quão obscuro e difícil isso parecia para ele! No entanto, à luz dos parágrafos anteriores, quão simplesmente óbvia essa proposição se tornou, e quão aquém da — Verdade!
O que então pode ser entendido pelo título desta compilação: “Pequenos Ensaios em Direção à Verdade”? Não assumimos todos uma concepção perfeitamente ilógica da Verdade como uma entidade da “ordem supramundana, donde uma chama giratória e uma Luz voadora subsistem?” Não assimilamos instintivamente essas ideias de Verdade e Luz, embora não haja um nexo racional? Não está claro, então, que nos entendemos perfeitamente, na medida em que podemos nos entender de algum modo, em uma esfera como aquela que Zoroastro chama de “Inteligível” que “subsiste além da Mente”, mas que devemos “procurar agarrar com a Flor da Mente”[1]? Não devemos então concordar com aquele outro Oráculo, no qual aquele Magus dos mais sublimes afirma:
“Pois o Rei de tudo anteriormente colocou diante do Mundo polimorfo um Tipo, intelectual, incorruptível, a marca de cuja forma é enviada através do Mundo, pelo qual o Universo brilhou enfeitado com Ideias todas variadas, das quais a base é Uma, e Uma só. Destes os outros procedem, distribuídos e separados pelos vários corpos do Universo, e são carregados em enxames por seus vastos abismos, sempre girando em radiação ilimitada.
Eles são concepções intelectuais da Fonte Paterna partilhando abundantemente do brilho do Fogo na culminação do Tempo inquietante.
Mas a principal fonte auto perfeita do Pai derramou dessas Ideias primogênitas.”[2]
(Deve-se lembrar que os Oráculos de Zoroastro proclamam continuamente em palavras de brilho sem limites a doutrina aqui apresentada: esses Ensaios são de fato uma espécie de Comentário sobre eles, e posso dizer que só vim a entendê-los tão perfeitamente como agora os entendo no decorrer desta escrita.)
Agora essa mesma Verdade, que é Luz, que está implícita em cada centelha do Inteligível; o que ela é senão o Self de Cada homem? É isso que informa todos os seus movimentos, isso que está mais próximo de seu coração e alma, sendo de fato sua mola mestra e seu mostrador, o princípio da seção e da medida.
Agora, a Iniciação é, por etimologia, a jornada em direção adentro; é a Viagem de Descoberta (ó, Mundo Maravilhoso!) de sua própria Alma. E esta é a Verdade que está na proa, eternamente alerta; esta é a Verdade que se senta com uma mão forte segurando o leme!
A Verdade é o nosso Caminho e a Verdade é o nosso Objetivo; sim! chegará a todos um momento de grande Luz quando o Caminho é visto como o próprio Objetivo; e naquela hora cada um de nós exclamará:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida!”
Sim, a Vida também, Vida eterna no Tempo e sem limites no Espaço; pois o que é a Vida senão a resolução contínua da antinomia do diverso pelo espasmo do Amor sob Vontade, ou seja, pela percepção constantemente explosiva, orgiástica, da Verdade, a dissolução da dividualidade em uma estrela radiante da Verdade que sempre gira, e vai, e enche o Céu com Luz?
Eu sinceramente imploro a vocês, queridos Irmãos, que lutem virilmente como lutadores poderosos com as ideias nestes Pequenos Ensaios: que as entendam —
“... com a chama estendida da Mente que alcança longe, medindo todas as coisas, exceto aquele Inteligível. Mas é necessário entender isso; pois se inclinas tua Mente, tu o compreenderás, não sinceramente; mas convém trazer contigo um sentido puro e inquiridor, para estender a mente vazia de tua alma àquele Inteligível, porque ele subsiste além da Mente.”[3]
Pois assim não apenas você desenvolverá a intuição espiritual, o próprio Neschamah do seu Ser divino, mas também (no grau de sua Concentração, do seu poder de desacelerar e finalmente parar os movimentos irritáveis de sua maquinaria raciocinativa) transmutará estes Ensaios — a Prīmā Māteria de sua Grande Obra; passando pelo estágio do Dragão Negro, no qual suas ideias racionais são totalmente destruídas e putrefatas, você terá sucesso em inflamá-las na Fornalha feroz de suas Vontades Criativas, até que todas as coisas queimem juntas em uma massa ardente de Luz viva e implacável.
E assim alcançareis Sammā-Samādhi — assim estareis livres para sempre de todos os laços que prendem vossa Divindade!
“Um Fogo semelhante estendendo-se de forma brilhante através das rajadas de Ar, ou um Fogo sem forma de onde vem a Imagem de uma Voz, ou mesmo uma Luz brilhante abundante, girando, rodopiando, gritando em voz alta. Também há a Visão do Corcel de Luz flamejante de fogo, ou então uma Criança, carregada nos ombros do Corcel Celestial, ígnea, ou vestida de ouro, ou nua, ou disparando raios de Luz de um arco, e de pé nos ombros do cavalo; então, se tua meditação se prolongar, tu unirás todos esses Símbolos na Forma de um Leão.”[4]
Então compreendereis o que é a Verdade, pois compreendereis aos vossos Selfs, e Vós sois a Verdade!
Traduzido por Alan Willms