domingo, 25 de setembro de 2022

Aline e as Flores – Capítulo 2 (Inspirada por Mestra Nada)

 

Aline e as Flores – Capítulo 2 (Inspirada por Mestra Nada)

Estava um cheiro muito forte no lugar escuro em que
Aline acordou, parecia o porão de sua casa, a não ser pelos odores. Quando ela
levantou a cabeça, percebeu que o teto era muito baixo, mal podia se erguer
completamente.


– Mãe? Mãe? A senhora está aí em cima? Por que eu
estou aqui? – perguntou a menina um pouco confusa. Aos poucos ela foi lembrando
que estava com Rubi antes de acordar naquele lugar. “Rubi, menina, está aí?
Vem, Rubi, vem, Rubi…”. Foi em vão, porque ninguém respondeu.
Depois de um tempo chamando e percebendo que
ninguém respondia, Aline começou a ficar preocupada e aflita. Para ela, aflição
era algo pouco recorrente. Quando alguma coisa não estava bem, ela logo parava
para fazer uma reflexão e tentar retornar ao estado de Alegria e Amor de
sempre.


Mas alguma coisa estava diferente dessa vez, havia
um clima confuso e tortuoso que Aline não conseguia compreende. Sentou-se e lembrou
do que sua mãe tinha falado a ela quando seu amigo Káki, o passarinho, tinha
morrido por comer um lagartinho venenoso. Naquela ocasião, depois de dias que o
passarinho estava doente, a mãe de Aline pegou o corpinho de plumas amarelas
com pontinhas verdes, levantou sua cabecinha azul anil e disse: “Querida, veja
o nosso amado, não é porque não se mexe mais que não podemos amá-lo e
carrega-lo dentro de nossos corações. Não chore, filha minha… sempre que se
sentir assim, faça uma oração ao Bom Deus, cante para exprimir suas emoções e
lembre-se que há vida e amor em tudo, lembre-se que o que rege a vida é o amor,
mas não permita seu coração ser abatido pela tristeza, cante com a tristeza,
torne-a sua amiga, pois a tristeza procura um amigo para voltar a ser
alegre…”


Foi o que Aline fez, sentada levantou sua cabeça e
começou a orar em canto crescente.


Oh, Lindo Sol, que me abraça todas as manhãs,
Junto com o perfume das rosas, que me
Embebedam de amor por tudo que
Tenho e recebo do grande senhor!
Flores macias, lindas e cheirosas!
Faço-me uma de vocês, neste caminho
Rodeados de arvores e pedras/rochas.
Lá-lá-lá-lá, eu quero cantar. Lá-lá-lá-lá, eu quero cantar!
Subindo eu vou alegre e cantante,
Pela estrada de arvores, pedras e flores,
Com meus amores, pelos meus amores!
Lá-lá-lá-lá, eu quero cantar,
Cantar e agradecer,
Por tudo que eu sou, e ei de ser!
Oh! mais belo ser que a viiidaaa nos dá,
Levante-se todas as manhãs, pra com o sol conosco brilhar,
Amados da natureza, que refletem o amor,
O amor do amado ser, que sempre conosco vem alegrar!
Cantam os pássaros a linda melodia,
Espero eu um dia desfazer-me em amor,
A juntar-me a vós e o amor espelhar!
Lá-lá-lá, eu quero cantar, livrar-se de todas as dores, e viver feliz a
cantar! Lá-lá-lá
Enquanto Aline cantava, percebeu que alguém se
aproximava; em sua mente era algum animal, pássaro ou amigo que se chegava para
cantar com ela, seu coração estava tão inundado de alegria que não deu muita
atenção à figura estranha que se encontrava a sua frente.
– CALE A BOCA!!! – Vociferou o vulto escuro para a
garota que deu um salto assustada. Nunca antes alguém tinha falado assim com
ela em sua casa ou entre amigos. Após um tempo sem entender o que se passava,
Aline procurou uma reação e disse: “Olá, senhor, desculpe se meu canto
incomoda, mas é a forma que eu encontro para acalentar meu coração… como
minha mãe me ensinou”.


– AHAH AHA AHAHA!!! AHAHAHAHA! VOCÊ É MESMO
ENGRAÇAAAADAAA!!! – gritou o vulto com um ar de arrogância. Aline também riu,
seu riso era tão suave como o perfume das flores, ela estava acostumada a
retribuir um sorriso com sorriso, uma risada com risada e assim o fez.


A figura calou-se imediatamente com aquela doce
risada e foi em direção da menina, mas não pode encostar-se nela, pois havia
uma grade que os separava, então apenas disse: “Quero ver quanto tempo dura a
sua bondade dentro dessa jaula, quero ver se sua bondade vai resistir aos dias
de escuridão que ficará trancafiada aí!!! AHAHAHAHAHA”.


Aline começou a se preocupar com o que estava
acontecendo, ela notou que estava sentindo um frio estranho pelo corpo,
percebeu seu coração acelerado e uma vontade de se encolher ali onde estava e
não se mexer, até toda aquela situação acabar. Ela encostou sua cabeça no chão,
virou-se e deixou lágrimas escorrerem em seu rosto. Ficou abraçada ao seu
próprio corpo como um bebê até sua respiração acalmar e voltar ao normal. 



Depois de um suspiro percebeu um movimento na cela, bem ligeiro, parecia um
pequeno animal correndo.


– Olá! – disse um lindo ratinho branco.

– Olá, senhor ratinho, como vai? – responde Aline

– Muito bem, querida, como não poderia estar? 


Na
cabeça de Aline mil coisas se passaram depois da resposta do ratinho,
lembrou-se de sua casa, de sua mãe, da Rubi e disse:


– Estou muito triste, estou longe da minha família,
quero minha casa.


– Você está em casa! O seu coração não é a sua
casa? Não foi assim que sua mãe te ensinou? – Aline não entendeu bem como o
ratinho sabia desse ensinamento, presumiu logo que era algum amigo de sua mãe.


– Eu sei disso, mas sinto falta de minha família – respondeu
Aline com pesar.


– Você logo verá a sua família, confie nisso,
confie no Bom Deus, você não sente que logo tudo ficará bem dentro de si? – perguntou
novamente o ratinho muito confiante.


– Sinto, sinto que logo tudo irá se resolver,
sempre dá tudo certo, não é? – respondeu ela com pouco mais entusiasmo.


– Sim, sempre dá. Agora a pergunta é: “Como você
veio parar aqui? O que você estava fazendo antes de vir para cá?”


– Eu estava entregando flores.

– Então, minha cara, continue entregando flores…

Nesse momento, ela respirou fundo e sentiu um
profundo sentimento no coração, ela já havia sentido antes, mas não com tanta
força. Desse sentimento surgiu um belo sorriso no rosto molhado de Aline.



Nota: História/Texto inspirado pela Mestra Nada


Canal: Protegido