O Templo do Oriente
Normalmente quando se fala no nome da Ordo Templi Orientis tem-se como primeira associação a Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão, mais comumente conhecida como os Templários. É por vezes intrigante pensar o que haveria de ligação entre uma Ordem Iniciática Thelêmica contemporânea e uma Ordem de Cavalaria Católica medieval. É claro que a filosofia de base da O.T.O. e da Ordem Templária não são apenas diferentes como também, em muitos pontos, conflitantes. Não deixa de ser irônico, também, lembrar que os antigos Templários lutaram contra os mouros, ou seja os árabes, que governavam até mesmo o Egito de onde provém tanto da simbologia utilizada em Thelema. Entretanto há fortes pontos em comum entre este dois grupos.
O primeiro a ser considerado é a missão maior. Os Templários buscavam a conquista da Cidade Sagrada de Jerusalém. De forma semelhante, na O.T.O. busca-se a conquista de sua própria Cidade Sagrada, simbolizada pela Cidade das Pirâmides. Outro ponto em comum é que, em seu retorno do Oriente, os Templários trouxeram para a Europa muito do conhecimento não apenas científico mas também místico dos povos com que tiveram contato. De forma semelhante, a O.T.O. trouxe para a Civilização Ocidental o conhecimento místico do Oriente, inicialmente através das práticas tântricas hindus e depois chegando mesmo ao I-Ching, pela tradução deste feita por Aleister Crowley; na busca pelo resgate de um conhecimento que muito da humanidade havia esquecido possuir. A disciplina, fundamental na organização militar dos Templários, também é tida como fundamental para os Membros da O.T.O., sem a qual nenhum tipo de avanço espiritual pode ser almejado.
Sem esquecer, claro, que foram os Templários que apareceram pela primeira vez com a figura de Baphonet, símbolo da egrégora Thelêmica. Inicialmente representado como uma cabeça barbada e carrancuda, depois teve sua representação modificada para uma figura andrógina (mas ainda carrancuda), por vezes barbada, vestindo apenas uma capa com capuz, com uma corrente em cada mão e um Sol e uma Lua de cada lado, uma estrela com cinco, seis ou sete pontas e uma caveira a seus pés. Só mais tarde Eliphas Levi cria sua imagem de Baphomet naquela forma tão conhecida hoje.
Em meio a tudo isto, vê-se que há uma série de pontos de concordância que poderiam traçar uma união entre aqueles monges-soldados medievais e os modernos iniciados da O.T.O. Entretanto há mais no nome da Ordem do que a simples herança de uma tradição ou de um espírito de luta. Existem algumas interpretações alternativas para o acróstico “O.T.O.”, algumas das quais até bastante divertidas. Entretanto a maior beleza costuma estar na simplicidade e o nome Ordo Templi Orientis traz em si esta simples beleza, ainda que encerrando mistérios postos à vista de todos.
O nome “Ordo Templi Orientis” significa, traduzindo-se literalmente do Latim, “Ordem do Templo Oriental”. Mas o que seria este “Templo Oriental”?
A mais profunda e significativa simbologia ligada ao Oriente não é geográfica e sim, se podemos assim dizer, astronômica. Pois é no Leste que nasce o Sol. O nascer do Sol está ligado a muitas e importantes ideias, tais como a renovação da vida, o início de um novo tempo. A imagem arquetípica do Sol também está ligada à ideia universal do Pai (sendo, por isto, a representação básica dos cultos de características patriarcais). Outrossim, o Sol também mantém ligações simbólicas com o centro do Ser, o Self, e da Intuição, trazendo luz, calor e conhecimento. Representa ainda a Glória e o Esplendor, não sendo por acaso sua cor dourada a mesma da Sephira Tipheret. É o Sol que fecunda miticamente a Terra, criando a vida através da união do ativo ao passivo, a realização do Casamento Alquímico. O ciclo diário do nascer e do poente ligam-se aos ciclos de vida e morte, ou seja, o próprio destino humano, bem como o rapaz ou da moça que se afasta da casa paterna para tornar-se indivíduo e volta mais tarde, em plena maturidade. O conceito de “templo” possui também sua própria simbologia. Não se limita a ser apenas um local de adoração, é todo um macrocosmo, a contra parte do Divino (Kether) no Material (Malkhut), posto que se considera que a Divindade habita entre suas paredes. Em qualquer tradição a sacralidade do templo é sempre reconhecida e preservada, sendo o local onde os instrumentos de devoção encontram-se, por definição, guardados e protegidos.
Tendo em mente estas simbologias, podemos traçar um perfil de significado um pouco menos abordado para o nome da O.T.O. Pois o Templo Oriental pode também ser visto como o local de onde se ergue o Sol de um novo dia. É deste templo que, misticamente, provém a renovação da vida pelo erguer de um Self amadurecido, ativo e glorioso. E este Sol não é outro senão o próprio Ser Humano, posto que “todo homem e toda mulher é uma estrela” (AL I:3). Desta forma vê-se o Templo Oriental como o local de onde o Ser Humano poderá erguer-se na totalidade de sua divindade inerente, seu Sagrado Anjo Guardião, promovendo a união entre Malkhut e Kether; não um simples afastamento da matéria em direção ao espírito e sim uma completa e harmônica união dos dois, tal como o Sol que se erge aos céus das Moradas da Noite mas ainda liga-se pelos raios de sua luz à Terra abaixo de si.
Dentro da mitologia egípcia a divindade relativa ao Sol era o deus Horus. Na simbologia Thelêmica este mesmo deus representa o Ser Humano divinizado. Esta ligação não é casual, tal como não é casual a escolha deste deus para representar o Novo Eon. Horus é o Homem-deus (e não o deus-Homem) que se ergue com e como o Sol para descortinar uma nova era não apenas para alguns e sim para todos. O Horus do Novo Eon é justamente este que se eleva de entre os muros do Templo Oriental para exibir sua face dourada ao mundo, não mais oculto e sim presente em todos os lugares onde o desejem.
Desta maneira, ao intitular-se um Templário do Oriente, o membro da O.T.O. traz para si não privilégios ou dádivas especiais. Traz, sim, para suas mãos a responsabilidade de erguer este Sol dos domínios da noite. A responsabilidade de buscar sua Jerusalém interior onde a luz de seu crescimento poderá iluminar o mundo, “o pequeno mundo, minha irmã” (AL I:53), para que o alvorecer desta nova era de luz, vida, amor e liberdade não traga apenas a luz de um Sol solitário mas sim o brilho e resplandescente e infinito de todas as estrelas do Céu de Nuit.
Autor: Frater Inanis