quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Arcano 3 – Daleth – A Imperatriz

 

Arcano 3 – Daleth – A Imperatriz



A Imperatriz - Marselha Grimaud (1760)
A Imperatriz - Marselha Grimaud (1760)

Uma mulher coroada, sentada num trono, mantém contra si, com sua mão direita, um escudo ornado com uma águia amarela, enquanto que com a esquerda sustenta um cetro que termina por um globo encimado pela cruz. Está representada de frente, com os joelhos separados e com os pés ocultos nas dobras da túnica. A cintura da Imperatriz está marcada por um cinto, que se une a uma gola dourada. A coroa leva florões amarelos e permite que os cabelos da figura se derramem sobre os ombros. O trono está bem visível e seu espaldar sobressai à altura da cabeça da Imperatriz. No ângulo inferior esquerdo da estampa cresce uma planta. A águia desenhada no escudo olha para a direita.



Significados simbólicos O verbo, o ternário, a plenitude, a natureza, a fecundidade, a geração nos três mundos. Sabedoria. Discernimento. Idealismo. Influência solar intelectual. É o arcano da Magia Sagrada, instrumento do poder divino.


Interpretações usuais na cartomancia Gravidez, criatividade, sucesso. Compreensão, inteligência, instrução, encanto, amabilidade. Elegância, distinção, cortesia. Domínio do espírito, abundância, riqueza.

Mental: Penetração na matéria por meio do conhecimento das coisas práticas. Os problemas veem à tona e podem ser reconhecidos.

Emocional: Capacidade para penetrar na alma dos seres. Pensamento fecundo e criador.

Físico: Esperança, equilíbrio. Soluciona os problemas. Renova e melhora as situações. Poder continuo e irresistível nas ações.

Sentido negativo: Desavenças, discussões em todos os planos. As coisas se embaralham e ficam confusas. Atraso na realização de um acontecimento que, no entanto, ocorrerá. Afetação, pose, coqueteria. Vaidade, presunção, desdém. Futilidade, luxo, prodigalidade. Deixa-se levar pelas adulações, falta de refinamento, modos de novo-rico.

História e iconografia A Imperatriz, adornada dos símbolos atribuídos à feminilidade triunfante, pode ser relacionada a um repertório interminável: a Madona cristã, a esposa do rei ou mãe do herói; a deusa primordial de todos os ritos matriarcais, as quatro damas do baralho.

Sobre a figura da Imperatriz parece ser mais importante considerar a sua localização no Tarô (como a terceira da série) e à sua relação com outras figuras do que o seu simbolismo individual, já que o caráter difuso da carta torna sua amplitude inesgotável. Assim, será interessante recapitular tudo que foi escrito sobre o simbolismo do três e a ordem do ternário, bem como às variadas significações atribuídas às damas dos Arcanos Menores. Na versão de Wirth, a Imperatriz aparece aureolada por doze estrelas, das quais somente nove são visíveis: é evidente o duplo sentido alegórico desta representação, que se refere simultaneamente aos signos do Zodíaco e ao período da gestação. Como o 9 é também representação da inteligência, no momento da sua maturidade, é possível associar os atributos centrais do Arcano III: feminilidade-experiência-sabedoria.

Relacionada em todas as cosmogonias ao simbolismo lunar e à face oculta do conhecimento (Sacerdotisa), a mulher admite também um período solar (Imperatriz), do qual há correspondências nas organizações culturais mais remotas da humanidade. Do ponto de vista matriarcal, a Imperatriz não é ainda a Eva protagonista do pecado e da queda, mas a que aparece em certas tradições talmúdicas: a fundadora, que reencontra Adão depois de trezentos anos de separação; a que aniquila Lilit – a rival estéril e luxuriosa – para organizar junto ao primeiro pai a família dos homens. Alguns comentaristas do Islã veem nesta Eva triunfante do adultério a representação da passagem das sociedades anárquicas ao princípio de ordem dos tempos históricos. Seu túmulo mítico se localiza em Djeda ou Djidda, às margens do mar Vermelho e próximo da montanha sagrada de Arafat, onde o teria ocorrido seu reencontro com Adão, para formar o casal primordial. A Imperatriz, finalmente, é símbolo da palavra e representa o envoltório material do corpo, seus órgãos e suas funções. Ouspensky a imagina repousando sobre um trono de luz, bela e fecunda, em meio à interminável primavera.


Por Constantino K. Riemma