terça-feira, 6 de setembro de 2022

Método para Observação e Avaliação dos Resultados de um Ritual

 

Método para Observação e Avaliação dos Resultados de um Ritual


Tempo de leitura estimado: 7 mins

Introdução

15px; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Investigar ou avaliar o resultado de um ritual corretamente depende de uma observação fria e precisa do fenômeno como um todo e em cada uma de suas partes. Desta investigação depende a veracidade da fenomenologia mágica e, no seu resultado, aquilo que diferencia o mago do trapaceiro.

Aquele que observa deve ter como único interesse a constatação ou não de um fato, livre da necessidade do ego em comprovar o poder de si mesmo.

A postura do mago-investigador deve ser aquela do cientista que observa um possível evento no universo, disposto tanto a confirma-lo, quanto a nega-lo, absolutamente livre de paixões pessoais. No momento da observação o praticante deve ter a postura de uma terceira pessoa que observa o fenômeno sem envolvimento emocional ou mesmo ânsia de resultado.

Quando falamos em mudanças físicas e/ou psíquicas através da utilização de um ritual estamos nos referindo à ação de um agente até certo ponto mensurável apenas pelos seus efeitos sobre a matéria ou a psique do sujeito submetido ao experimento. A observação precisa da relação “agente x sujeito” nos permite estabelecer as possíveis correlações entre causa e efeito. Esta correlação é a base que nos possibilita elaborar teorias a fim de que possamos compreender de forma mais ampla e profunda a identidade daquilo que se conhece por Magia.

O método para a avaliação de um fenômeno mágico por nós produzido possui quatro etapas distintas:

  • Etapa de coleta de dados
  • Etapa de análise
  • Etapa de conclusão
  • Etapa da formulação da hipótese

Etapa da Coleta de Dados

Consiste na observação e registro de qualquer fenômeno ou condição “paralela” ao ritual que possa alterar significativamente o seu resultado. Esta etapa se divide em três fases:

  • Observação das condições que antecedem o ritual.
  • Observação das condições presentes durante a fase de execução do ritual.
  • Observação das condições presentes após o ritual, imediatas e tardias.

Condições que antecedem o ritual:

Aqui registram-se as condições permanentes ou temporárias que afetam o magista e que podem constituir agentes de mudança durante e após o ritual, modificando as condições de execução e provocando uma fenomenologia ilusória que pode ser confundida com efeito do rito.

Ex: Um problema de coluna pode trazer dores musculares, sensação de queimação, dificuldade respiratória e vários outros sintomas que podem ser confundidos com efeito do ritual. Do mesmo modo, uma preocupação mental ou problema emocional podem afetar o rito.

As condições que antecedem o ritual são divididas em individuais e ambientais:

Individuais: estados emocional, mental e físico do magista, incluindo aqui:

Possíveis tendências pessoais nestas áreas, bem como, patologias como alergias (especificando as substâncias), deficiências ou alterações glandulares, metabólicas, circulatórias, etc.

Importante também registrar hábitos pessoais como fazer exercícios, alimentação, sexualidade, registrando as possíveis alterações destes hábitos durante a fase que antecede ao ritual, etc.

Ambientais: registro de todo e qualquer fator externo que possa ter um efeito sobre o praticante e ser significativo na produção de resultados. Clima, temperatura ambiente, relações familiares e interpessoais em geral, etc.

Ex: Existem pessoas que tem uma certa tendência depressiva durante o tempo frio ou chuvoso. Isto é significativo para o bom funcionamento da mente, e desde que, mente e emoções são duas das mais importantes ferramentas do magista, é importante registrar as condições climáticas que antecedem o ritual e como isto está afetando o mago.

Condições presentes durante a fase de execução do ritual:

15px; overflow-wrap: break-word; padding: 0px; text-align: justify; vertical-align: baseline;">Individuais: emocional, mental e físicas a cada dia (no caso de rituais longos e desenvolvidos em várias etapas) e, principalmente, no momento da prática.

Ambientais: todo e qualquer fator externo que ocorra durante a fase de execução e que, potencialmente, possa atuar como agente de mudança nas condições previamente observadas. Clima, local da execução do rito, temperatura do templo, material utilizado, fenômenos familiares e interpessoais que possam afetar a mente e o emocional do mago, etc.

Importante especificar como estes fenômenos estão repercutindo no mago.

Condições presentes após o ritual:

Tudo aquilo que se modificou em relação às condições prévias, seja a nível individual, coletivo ou ambiental. Estas mudanças devem ser observadas no período logo após a finalização do rito, durante dias ou até mesmo meses.

Após a correta coleta dos dados acima e finalizado o rito, sempre é recomendado alguns dias de descanso, a fim de que a mente se desvincule um pouco da “emoção” da ritualística e possa fluir de modo mais claro e objetivo na etapa de análise do material coletado.

Etapa da Análise

Tendo em mente o objetivo que nos impulsionou à realização do rito, partimos agora para a análise da fenomenologia, fazendo-nos as seguintes perguntas:

  • Quais os fenômenos significativos que ocorreram durante a execução do rito? Fenômenos tanto individuais, quanto ambientais ou coletivos.
  • Qual a qualidade do fenômeno? É ele mental, físico, emocional ou de alguma outra qualidade?
  • O fenômeno representa uma mudança nas antigas condições, uma condição nova ou um retorno de antigas condições?
  • Estão estes fenômenos associados a alguma condição prévia pessoal minha?
  • Estão estes fenômenos condicionados a algum fato intruso ambiental ou individual que ocorreu durante a execução do rito?
  • Existe explicação racional e plausível para a ocorrência do fenômeno?
  • Desenvolvi alguma qualidade ou dom que não possuía anteriormente?
  • Incrementei alguma qualidade ou dom que já possuía?
  • Houve o retorno de alguma qualidade ou dom que possuía no passado, mas que há muito tempo não experimentava?
  • Que relação este fenômeno pode ter com a qualidade do meu ritual? Entendendo que a qualidade do ritual é determinada pela característica da energia evocada ou invocada. E mesmo o ato de invocar ou evocar, caracteriza o rito com qualidades diferentes. Para saber a qualidade do ritual devo fazer um estudo prévio ou posterior da energia trabalhada, bem como, do método utilizado.
  • Que relação este fenômeno pode ter com o objetivo do meu ritual?

Enfim, nesta etapa de Análise observamos todo o material obtido com a finalidade de estabelecer relações criteriosas e “separar o joio do trigo”.

Os fenômenos que possuam alguma relação com um fato pré-estabelecido ou estejam condicionados a alguma predisposição pessoal, a princípio, devem ser olhados com certa desconfiança em relação à sua identidade mágica.

Ex.·. Se possuo alergia a sândalo e durante o ritual utilizei incenso ou óleo de sândalo, qualquer fenômeno alérgico como espirros, obstrução nasal, cefaléia intensa, depressão, ansiedade, inquietação, prurido ou manifestações de pele em geral, provavelmente estão relacionados com a minha condição alérgica e, portanto, podem não possuir valor mágico em si mesmos.

Mas se o fenômeno significa um retorno de um sintoma físico, mental ou emocional que já não possuía faz muito tempo e que está relacionado com a energia trabalhada, a sua significação mágica é válida.

Vou fornecer um exemplo pessoal meu, a fim de que possam compreender melhor. Neste exemplo eu manifestei um fenômeno físico:

Durante um ritual de 9 dias em que invoquei uma certa energia, a fim de modificar um estado mental pessoalmente desfavorável que me havia surgido durante um evento traumatizante da minha infância, minhas pernas se cobriram por enormes pústulas.

Decidi não utilizar de nenhum recurso médico para a cura, a fim de verificar se o efeito era do ritual. Dois dias após minhas pernas estavam completamente normais, sem absolutamente nenhuma cicatriz.

Após o ritual fui em busca de informações que pudessem me confirmar se o fenômeno poderia ser de essência mágica. Encontrei, que a tal energia, quando trabalhada em uma certa esfera da árvore da Vida, produzia problemas de pele, em especial pústulas nos membros inferiores.

Não satisfeita, investiguei com minha mãe, se na época em que aconteceu o fato que alterou minha mente eu havia manifestado algum problema de saúde. Como o fato havia sido marcante para toda a família não foi difícil para ela lembrar. Na época em que o evento se deu minhas pernas haviam sido cobertas por enormes pústulas.

Confirmei a significação mágica do fenômeno, bem como, a importante relação que ele tinha com o meu objetivo mágico.

Se o fenômeno é de natureza completamente nova e completamente livre de condições prévias, deve-se tentar estabelecer a relação do mesmo com a energia trabalhada e com o objetivo do ritual. Somente neste caso a significação mágica pode ser validada.

Caso o estabelecimento da relação não seja possível, o fenômeno deve ser colocado em destaque e avaliado a posteriori, conforme os fenômenos do ritual vão se manifestando e o nosso entendimento sobre o mecanismo do mesmo vai sendo ampliada.

Existe ainda a possibilidade de que o fenômeno seja apenas uma sujeira, um ruído estranho e intruso num rádio mal sintonizado e que não se conecta com absolutamente nada no ritual. Neste caso, o magista deve cuidar mais de seu próprio treinamento disciplinar, bem como, dar especial ênfase às fases de banimento do próprio ritual. Deste modo, nenhum outro “espírito” poderá interferir no processo, além do própria energia invocada.

Nesta Etapa de Análise é importante dedicar especial atenção ao material utilizado durante o ritual e seus possíveis efeitos sobre a mente, emoção e corpo físico do mago, a fim de começar a compreender o mecanismo que leva o ritual a produzir resultados. Por material me refiro, além das velas, vinho, incensos, roupas utilizadas, cores, símbolos etc, às invocações pronunciadas e gestos realizados. Enfim, tudo o que o mago precisou executar para realizar o ritual.

Etapa da Conclusão

Nesta etapa, sintetizo todos os fenômenos que observei e suas possíveis correlações. Separo o que tem significado mágico e o que não tem.

Após um estudo apurado da energia do ritual e dos fenômenos ocorridos concluo se o ritual alcançou seu objetivo ou não. Faço uma perspectiva do resultado mágico do ritual.

Também faço anotações sobre aquilo que deverei apurar ou modificar, caso decida realizar o ritual uma outra vez.

Etapa da Formulação da Hipótese

Nesta etapa elaboro uma hipótese sobre o mecanismo do ritual, uma hipótese de como e através de que meios o ritual atuou sobre mim. Diante desta hipótese, e caso seja do meu interesse, eu irei realizar uma investigação mais profunda, a fim de comprovar a veracidade da mesma.

Esta hipótese também deverá ser comprovada por experimentos repetidos, utilizando-se o mesmo ritual.

Conclusão

O método de investigação de um ritual parece ser bastante trabalhoso e enfadonho, mas uma vez executado por algumas vezes ele se torna praticamente imperceptível. Sendo incorporado ao automatismo mental, passa a ocorrer espontaneamente em relação a tudo o que mereça a nossa atenção e investigação, inclusive a análise de fenômenos do cotidiano, o que facilita a nossa compreensão sobre tudo aquilo que nos cerca e com o qual nos relacionamos.

É um treino disciplinar para a mente do magista que desta forma aprende a se livrar de possíveis ilusões do ego que nada mais fariam por ele do que ridiculariza-lo aos olhos do mundo.

Pessoalmente garanto que o método funciona e, mais do que funcionar, nos traz uma indiscritível sensação de regozijo diante da comprovação dos fatos. Uma certeza do caminho que se desvela como uma realidade além da realidade normalmente alcançada e passível de ser compreendida pela observação de seus efeitos aqui mesmo, neste nosso cotidiano.

Magia é realidade. Realidade muito além daquilo que a nossa mente humana pode, neste momento, alcançar.


Autora: Soror O. Naob