Iblis – O Al-Quran e o Diabo no Islam
“Ya! Zat I Shaitan! – “Salve! Oh Essência de Satan!”
“Disse (Ash-Shaitan): Por Teu poder, que os seduzirei a todos.”
Recentemente, os olhos do mundo tem se voltado cada vez mais para as crises ocorrentes no Oriente Médio, em especial naquele choque cultural ocorrendo entre oriente e ocidente. Ambos dotados de ethos¹ diferentes a ponto de não serem compreendidos, bem como dogmas morais (ou completa ausência deles) intoleráveis uns aos outros. E como era de se esperar, ao invés de diálogo, tal choque resulta em conflitos e chacinas violentas, que tendem a alterar as correntes Aeonicas² de todo o globo, sendo decisivas para a ‘próxima etapa’ humana. Como não deixo de fazer meu dever de casa e achei que seria legal aqui pro blog, resolvi pesquisar sobre a Manifestação do Chaos pelos lados de lá, revendo inclusive alguns velhos materiais de Djinns (que falarei no próximo post) e resolvi elaborar algo sobre a figura de Ha-Shatan manifesta dentro da cultura Islâmica. Mas, comecemos pelo início.
O que é o Islamismo?
O Islamismo é nada menos que uma das três religiões abraâmicas e uma das mais pesadamente influentes no mundo, sendo as outras duas o Judaísmo e o Cristianismo. Ela foi fundada no século VII na Arábia, e seus seguidores são popularmente conhecidos como ‘muçulmanos’. A palavra ‘Islam’ em si significa “Submissão”, referindo-se a sua total entrega a vontade divina. A religião teve sua raiz no antigo patriarca Abraão, descendendo de seu filho Ishmael (os Judeus e Cristãos derivam de Maomé, descendente de Isaac).
Ao contrário do que a mídia atualmente propaga, nem todos os Muçulmanos são ‘terroristas em potencial’. Sua fé propaga, em geral, a paz. Salvo, os casos onde o radicalismo religioso envolve a imposição da Sharia (a lei islâmica) aos “infiéis e idólatras”, incluindo entre estes ‘hereges’ seus próprios irmãos mais brandos. Daí, ocorrem os conflitos e atrocidades. O Deus dos Islâmicos, ‘Alá’ é o mesmo Deus dos Judeus e cristãos, a mesma questão monoteísta, variando apenas em culto e profeta, por questões logicamente culturais. Estas questões morais e culturais que nos causam estranheza, como o uso dos véus pelas mulheres. Dá uma longe discussão e não é o foco aqui, então sigamos adiante.O Quran ou Alcorão
É o livro central do Islamismo, sendo a própria palavra de Alá revelada ao profeta Muhammed (Maomé – Sallallahu Alaihi Wasallam) em um período de vinte e três anos, tendo início na ‘Lailatul-Qdl’ (“noite de poder”) na caverna de Hira. O livro possui 114 capítulos chamados de ‘Suras’, que se subdividem em várias partes e versículos. A tradução do nome do livro remete ao verbo “recitar”, sendo assim uma recitação sagrada.
Por que ele é importante aqui? Porque ele é a principal fonte de relatos de Satan pelo Oriente Médio.
Íblis / Ash-Shatan
No islamismo, Shatan manifesta-se sob estas duas nomenclaturas. Sua lenda aproxima-se muito da de ‘Melek Taus’ e da Epopeia de Lúcifer descrita por John Milton em seu Paraíso Perdido. Segundo o Alcorão, Iblis era um ser celestial, criado a partir do Fogo pelo próprio Alá. Ele é retratado como um ser rebelde, que durante a criação do mundo, recusou-se a se curvar diante do Homem de Barro, recém criado – em sua mente, o Fogo do qual ele é constituído é superior ao Barro por poder destruí-lo. Pela sua prepotência e desobediência, foi expulso do Éden.
“Criamo-vos e vos demos configuração, então dissemos aos anjos: Prostrais-vos ante Adão! E todos se prostraram, menos Iblis, que se recusou a ser dos prostrados. 12. Perguntou-lhe (Deus): Que foi que te impediu de prostrar-te, embora to tivéssemos ordenado? Respondeu: Sou superior a ele; a mim criaste do fogo, e a ele do barro. 13. Disse-lhe: Desce daqui (do Paraíso), porque aqui não é permitido te ensoberbeceres. Vai-te daqui, porque és um dos abjetos!”
-Al-Quran, Sura 7
Após sua expulsão, Íblis roga a Alá que lhe conceda Imortalidade até o dia do Juízo final, tornando-se “Ash-Shatan”, Inimigo da humanidade, prometendo tentá-la até o dia final. Os diálogos entre Alá e Iblis no Quran demonstram que ele passa da classe celestial a classe de “Djinn”, um espírito de fogo que, embora não exerça poder sobre a humanidade, exerce influência sobre a mesma. Tal influência limita-se aos homens que se desviam das leis de Alá, os fiéis de coração sendo incorruptíveis.
Iblis é retratado o tempo todo como um ser arrogante, que decaiu através de seu orgulho. Entretanto, alguns filósofos considerados hereges o consideram como o único e verdadeiro monoteísta, já que recusou-se a curvar diante de qualquer um que não fosse o próprio Alá. Mas dentro da tradição islâmica (hadith) essa recusa não foi um ato de amor, mas de pura soberba. Iblis provoca a queda do Homem, que é expulso do Éden.
Possuindo livre arbítrio, o homem é avisado para não misturar-se com Ash-Shatan através de seus atos, como heresias, idolatria, quebra das leis humanas e divinas (Haraam – ‘Pecados’) e a feitiçaria. O Quran deixa claro que o objetivo de Íblis é desviar o homem do caminho de Alá, do ‘Caminho Direito’; pervertendo-os a seus próprios caminhos. Possuindo o homem livre arbítrio a única escolha nessa dualidade é dele mesmo, escolher Alá ou Íblis como seu protetor.
“Deus amaldiçoou. Ele (Ash-Shatan) disse: Juro que me apoderarei de uma parte determinada dos Teus servos, 119. A qual desviarei, fazendo-lhes falsas promessas. Ordenar-lhes-ei cercear as orelhas do gado e os incitarei a desfigurar a criação de Deus! Porém, quem tomar Satanás por protetor, em vez de Deus, Ter-se-á perdido manifestamente! “ -Al-Quran, Sura 4
Dentro dessa luta de influências, embora tido nas escrituras sagradas como ‘perdedor nato’, Íblis conseguiu algum prestígio sobre a Terra. Existiram e ainda existem tribos de nômades e civilizações isoladas espalhadas pelo oriente médio que cultuam a Ash-Shatan ao invés de Alá.
“Porém, Iblis sussurrou-lhe, dizendo: Ó Adão, queres que te indique a árvore da prosperidade e do reino eterno? 156 121. E ambos comeram (os frutos) da árvore, e suas vergonhas foram-lhes manifestadas, e puseram-se a cobrir os seus corpos com folhas de plantas do Paraíso. Adão desobedeceu ao seu Senhor e foi seduzido. 122. Mas logo o seu Senhor o elegeu, absolvendo-o e encaminhando-o. 123. Disse: Descei ambos do Paraíso! Sereis inimigos uns dos outros. Porém, logo vos chegará a Minha orientação e quem seguir a Minha orientação, jamais se desviará, nem será desventurado.” -Al-Quran, Sura 20
Assim como nos outros mitos, Íblis também concede o conhecimento ao homem, associando-se desta forma com o mito prometeico. Da mesma forma que outras escrituras sagradas, o Islam também possui uma manifestação do Caos, exilada pela “mão direita”, pelos seguidores de Deus (Alá) e uma ‘mão esquerda’, fora das leis humanas e divinas. Entretanto, o radicalismo islâmico fez com que tais grupos de adoradores se isolassem, vivendo nas sombras e nas margens da sociedade, se tornando ainda mais envoltos em mistérios, a mesmo molde dos Yézidis vítimas de violências por “idolatrarem satã”.
Bom pessoal, meu foco de estudos ultimamente tem sido direcionado para os Zoroastras e para os Yézidis. Este texto foi fruto de uma árdua pesquisa, que envolveu especialmente este site e trechos traduzidos do próprio “Al-Quran online”. Não sendo uma fonte 100% exata, o texto acabou ficando mais superficial que eu gostaria, embora meu desejo de adentrar em aspectos mais profundos desse aspecto caótico.
Caso alguns dos leitores saiba de alguma informação extra, fique muito bem vindo a contribuir, só deixar a informação aqui pelos comentários. A propósito, fiquem com este belo download de uma tradução da GTO (Grupo de Traduções Ocultas) sobre este tema fascinante:
*apêndice: ¹ethos: É a “fonte primordial da moral de um povo”, o aspecto semi-divino presente no ‘humanum’.
² sobre os preceitos de “Aeon” ler “Introdução a Magicka Aeonica”
Azi Dahaka.