A lenda de Jesus Malverde, santo padroeiro dos traficantes
A lenda de Jesus Malverde, santo padroeiro dos traficantes, vem-nos de terras do México, e é uma que desde o primeiro momento se nos mostrou como muito problemática. Na verdade, por muito que procurássemos não conseguimos encontrar uma versão totalmente estável desta lenda, cujos contornos parecem variar de fonte para fonte, quase certamente por ter nascido e se ter desenvolvido com base em tradições orais. Por isso, o que contamos abaixo não provém de nenhuma fonte específica, mas de uma breve sintetização dos elementos comuns que fomos conseguindo descobrir.
Jesus Mazo terá nascido no seio de uma família pobre na segunda metade do século XIX. Quando os seus pais faleceram dedicou-se a uma vida de crime, não por maldade ou por desejos exorbitantes, mas pura e simplesmente porque nem tinha o suficiente para comer. Por isso roubava aos mais ricos e ficava só com o que verdadeiramente precisava, dando o restante aos pobres. É natural que tais acções o tenham posto em confronto com os mais poderosos e com as entidades governamentais, que lhe foram dando o apelido de "Malverde", levando à sua morte de uma forma que varia entre as versões da lenda, mas que em comum costumam ter uma mesma lição moral - não se pode confiar na polícia, que de alguma forma foi responsável pela morte deste (santo?) homem.
O que é curioso em toda a lenda desta figura mexicana é o facto da sua história poder ser vista de dois lados. Claro que ninguém gosta de ser roubado, como parecerá mais que natural, mas o acto de roubar também costuma ter uma outra face em que raramente pensamos, que é a de algumas pessoas roubarem para conseguirem suprir as suas necessidades mais básicas. E, nesse contexto, ainda para mais numa cultura em que muitas vezes é difícil ao cidadão comum sobreviver, o exemplo moral deste Jesus Malverde tem um peso significativo. Claro que ele não é um santo reconhecido pela igreja católica, mas é aquilo que poderíamos chamar um "santo popular", uma figura reverenciada como se de um santo católico se tratasse em virtude das suas boas acções em vida e milagres após a morte.
É, para nós, demasiado fácil dizer que não se deve roubar, ou que não se deve traficar droga, mas poucos são os que o fazem "porque sim"; demasiadas vezes fazem-no por razões monetárias, porque precisam disso para poderem sobreviver, como também este Jesus Malverde roubava tanto para si como para aqueles que via na pobreza, e só roubava de quem ele via que tinha mais do que precisava. E, numa cultura em que são muitos os que até precisam, como descartar o apelo de uma figura assim?!