quinta-feira, 26 de maio de 2022

Jurema foi uma linda índia, filha valente de Tupinambá. Adotada pelo mundo, foi encontrada aos pés do arbusto da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita, com a formosura da noite e a firmeza do dia.

 Jurema foi uma linda índia, filha valente de Tupinambá. Adotada pelo mundo, foi encontrada aos pés do arbusto da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita, com a formosura da noite e a firmeza do dia.


Nenhuma descrição de foto disponível.Cabocla jurema

Jurema foi uma linda índia, filha valente de Tupinambá. Adotada pelo mundo, foi encontrada aos pés do arbusto da planta encantada que lhe deu o nome, e cresceu forte, bonita, com a formosura da noite e a firmeza do dia.

Corajosa, a cabocla tornou-se a primeira guerreira mulher da tribo, pois a sua força e agilidade no manejo das armas e na ciência da mata, se tornara uma lenda por todo o continente; onde contadores de estórias, aos pés da fogueira, falavam da índia da pena dourada, que era a própria Mãe Divina encarnada.

Nada causava medo na cabocla, até o dia em que ela encontrou o seu maior adversário: o amor. Jurema se apaixonou por um caboclo chamado Huascar, de uma tribo inimiga chamada Filhos do Sol, que fora preso numa batalha.

Os dias se passaram e o amor aumentava, pois o pior de amar não é amar sozinho e sim ser amado em retorno, pois exige do amado, uma ação em prol do amor.

Pelo olhar, o caboclo Huascar dizia:

“Oh doce Cabocla
meu doce de cambucá
minha flor cheirosa de alfazema
tem pena deste caboclo
o que eu te peço é tão pouco
minha linda cabocla Jurema
tem pena desse sofredor
que o mal destino condenou
me liberta dessa algema
me tira desse dilema
minha linda cabocla Jurema”

Jurema que aprendera a resistir ao canto do boto, ao veneno da cascavel e da armadeira, já resistira bravamente a centenas de emboscadas e que sentia o cheiro à distância de ciladas, não conseguiu resistir ao amor que fluía do seu peito por aquele guerreiro.

Observando o amado preso, ela viu nos olhos dele, as mil vidas que eles passaram juntos, viu seus filhos, o amor que os unia além da carne e percebeu que não foi por acaso, que ele fora o único caboclo capturado vivo, e decidiu libertá-lo, mesmo sabendo que seria expulsa da sua tribo.

Na fuga, seu próprio povo a perseguiu, e em meio a chuva de flechas voando na direção do caboclo fugitivo, foi Jurema que caiu, salvando o seu amado e recebendo a ponta da morte que era pra ele, no seu próprio peito.

Conta a lenda, que o Huascar voltou a Terra do Sol, fundou um império nas montanhas andinas e mandou erguer um templo chamado Matchu Pitchu em homenagem a Jurema, onde, só as mulheres da tribo habitariam e lá aprenderiam a ser guerreiras como a mulher que salvara a sua vida.

No lugar onde a Jurema caiu, nasceu uma planta robusta e muito resistente que dá flor o ano inteiro, cujo formato exótico e o tom amarelo-alaranjado intenso chamou atenção de todas as tribos, pois tudo dessa planta poderia ser utilizado, desde as sementes, até as flores e o caule; e porque as flores dessa planta estão sempre viradas para o astro maior (talvez buscando ver o amado na Terra do Sol). A planta, por isso, ficou conhecida como girassol. Em outras versões, no lugar da morte de Jurema nasce uma planta chamada Jurema-preta ou Calumbi (mimosa hostilis), da qual é possível preparar um chá popularmente conhecido como vinho da Jurema, preparado à base de raspas de raízes da mimosa hostilis, sendo essa bebida muito utilizada em cerimônias religiosas indígenas e africanas.

Jurema faz parte de um grupo de espíritos nativos brasileiros que auxiliam em trabalhos de cura por meio de ervas, banhos, símbolos, danças, defumações e trabalhos mágicos de pajelança que utilizam a energia da natureza.

Adorada no politeísmo piaga, religião pagã piauiense, sua força é tão grande nos cultos, que Jurema chega a ser considerada uma divindade, por sua forma de atuação e liderança diante dos espíritos indígenas.

A figura de Jurema representa a própria resistência da cultura indígena, que sobreviveu até os dias atuais sendo transmitida de geração a geração. É uma das donas espirituais do Brasil, mostrando-se como uma entidade de grande força que, ao fazer-se presente no culto, atrai também a presença de outros caboclos e caboclas de energia semelhante. Também é conhecida como “Guerreira das Sete Matas”. Essa poderosa índia sempre ajuda seus devotos nos momentos de dificuldade, quando é chamada para purificar e iluminar os caminhos dos que lhe nutrem amizade e devoção.

FONTE:

NOLÊTO, Rafael. Mitologia Piaga: Deuses, Encantados, Espíritos e outros Seres Lendários do Piauí. Teresina: Clube de Autores, 2019.