domingo, 29 de maio de 2022

A GRANDE MÃE E A MÃE CRISTÃ MARIA Um dos mais marcantes fenômenos do Século XX, foi o renascimento da religião da Deusa na cultura ocidental.

 A GRANDE MÃE E A MÃE CRISTÃ MARIA
Um dos mais marcantes fenômenos do Século XX, foi o renascimento da religião da Deusa na cultura ocidental. 


Pode ser uma imagem de 1 pessoaA GRANDE MÃE E A MÃE CRISTÃ MARIA
Um dos mais marcantes fenômenos do Século XX, foi o renascimento da religião da Deusa na cultura ocidental. Presente desde tempo imemoriais em todas as civilizações antigas, o princípio sagrado feminino personificado em múltiplas facetas e arquétipos da Grande Mãe foi eclipsado (Mirella Faur). Muita gente pensa que foi ao contrário, mas antes da História DELE (Deus), já existia a História dela (Deusa).

O Patriarcado Cristão conhecia sua importância e simbologia e por isso tratou de descaracterizar ponto a ponto a sua força imanente. Diferente da figura celeste e longínqua de um Deus rigoroso e estritamente cético ao valor das mulheres, a Deusa era parte de cada ato da criação e nutrição com sua essência, por ser o seu corpo a própria Terra.

Ao longo de milênios, criados, fortalecidos e enraizados, os símbolos do Deus pai tornaram-se argumentos e leis para inferiorizar, dominar, oprimir, explorar e até mesmo caçar e matar mulheres. O fato é que em todas as civilizações antigas existiu um culto à “Mãe Criadora e mantenedora da vida”, como atestam milhares de estatuetas de mulheres grávidas ou com seios e vulva evidentes, confeccionados principalmente em pedras, argila, madeira e osso.

Muitas destas estátuas foram verdadeiros achados arqueológicos de remanescentes pré-históricos intactos. Outras, simplesmente parecem ter sido calculadamente soterradas nas entranhas da Terra para serem esquecidas. O fato é que ambas ocorrências mostravam imagens aninhadas na escuridão do útero da Terra. Mas as profundezas da Terra é o útero da própria Gaia. E a grande Mãe renasceu depois de gestar a si mesma na mais profunda escuridão, para depois ser parida na luz de novas consciências. Consciências que nunca deixaram de sentir sua influência no mundo.

A pálida tentativa de mascarar a alma feminina levou instituições clericais em todo o mundo a substituir a mãe original pela “Mariolatria” (movimento de adoração de Maria) que olhando com atenção herdou apenas o papel de coadjuvante no processo de geração, criação e padecimento de um filho iluminado, cujo papel de mulher foi escrito sob uma clara influência masculina arcaica. Maria a casta, Maria a obediente, Maria a doce, Maria a amável, Maria a benevolente. A Mariolatria consagrou-a como um modelo a ser seguido, uma santa.

Todas as mulheres “de bem”, deveriam ter as qualidades de Maria. Na religião do Deus soberano, a mulher sábia edificava o seu próprio lar sendo primeiro temente ao Pai Celestial e depois a uma figura masculina: prioritariamente pai e marido e na ausência destes um irmão ou até um filho de seu ventre teria completa autoridade sobre a sua existência. Uma mulher sem um homem era uma mulher sem valor. Tão ordinária ou infeliz que não tinha um dono e nela era aceitável que lhe caíssem todas as desgraças. Era feio ser independente, era feio ter desejos, o sangue menstrual (sagrado na senda da Deusa) passou a ser visto como sujo e repulsivo.

Uma mulher honrada não tinha desejos, não mostrava o corpo e era um instrumento do marido. Toda a beleza e poder de ser mulher, foi transformado num legado de vergonha coroado pela eterna culpa bíblica de Eva, a mulher que trouxe o pecado ao mundo. E se alguma, dentre nós se atrevesse a duvidar, havia sempre a possibilidade da condenação ao purgatório ou a danação no inferno.
Contudo, era preciso mais. Em verdade havia um medo velado por parte do patriarcado opressor de que a Grande Mãe renascesse da escuridão terrena para incitar suas filhas a reclamar o poder dos homens. Maria tinha que ocupar definitivamente esse lugar e a exemplo dos achados históricos em grutas, cavernas e escavações ao invés de estatuetas grávidas aparecia imagens de santas.

A Santa Maria! Imponente em suas decentes e compridas vestes, azuis como o céu do senhor. Olhos grandes, meigos e piedosos a olhar para as mulheres com compreensão. Nos mares do mundo todo, as imagens surgiam. Vezes boiando sem rumo, outras em urnas sem destino aparente. Um sinal claro de que a “virgem Maria” marcava sua presença. Depois, vieram florestas, cachoeiras e até tribos que nunca ouviram falar dela, receberam sua visita, para que não tivessem que prestar tributos a outras deusas que não “a mãe de Deus”.

Fenômenos como a Madona que chora aconteceram em catedrais por todo o mundo. Maria chorava em muitas igrejas. Será que ela chorava pela miserável vida humana? Será que chorava por nós, as mulheres? Ou será que Maria chorava pelo que lhe fizeram? Pela história que contavam?
O fato é que até em espalhar a “Maria Imaculada”, eles não sabiam que estavam trabalhando para o sagrado. Mesmo espalhando boatos, falavam sobre uma de nós e não era uma qualquer. Era a Maria e muitas outras Marias, como mulheres armadas com uma força que nenhum homem conhece bem chamada (intuição), começaram a desconfiar que como mulher ela tinha que ser uma de nós. E o que lhe fizeram, foi o que foi feito com todas nós: em nome da imaculação, macularam nossa glória.

E enquanto a Deusa? Ela mostra a sua face o tempo todo. Mostra em Maria, mostra em mim, mostra em você e em todas as mulheres deste mundo. Para falar com ela que é a fonte, a mãe, o sagrado em vida não precisamos de intermediários. Ela é parte da criação e estará sempre aqui. Não adianta enterra-la, difamá-la ou disfarçá-la. Ela sempre estará entre nós. Ela é a própria natureza divina.

REFERÊNCIAS: Mirella Faur (Círculos Sagrados para Mulheres Contemporâneas e o Anuário da Grande Mãe)

Imagem: valedomago.com (acesso em 19/05/2022)

Sandra Bezerril e Mulheres de A Távola de Morgana