domingo, 15 de maio de 2022

Com os olhos vermelhos de pranto recente Em uma encruzilhada diante Da entrada da cidade Obá finalmente se separou do marido Que tanto amava.

 Com os olhos vermelhos de pranto recente
Em uma encruzilhada diante
Da entrada da cidade
Obá finalmente se separou do marido
Que tanto amava.


Nenhuma descrição de foto disponível.Com os olhos vermelhos de pranto recente
Em uma encruzilhada diante
Da entrada da cidade
Obá finalmente se separou do marido
Que tanto amava.
O grupo que antes foi a familia real
Agora estava indo um para cada um lado,
Era o fim de uma época,
O Rei perdeu a coroa
E nisso a família perdeu o eixo.
Ela olhou para a direta a tempo de ver
As costas de Oxum
Que ia embora faceira guiando
Uma horda de serviçais
Que levavam seus baús cheios
De joias, roupas, perfumes
E todas as frescura que ela
Considera essenciais para
Uma vida digna.
Ela ia embora como
Se a queda de Xango
Não fosse nada demais
Só mais um capitulo na sua história.
Oxum se foi pela trilha da direita
Rumo a sua cidade natal, Igede.
Oxum é assim mesmo,
Ela não se abala com quase nada.
Na trilha que ia para a esquerda
Foram Xango e Oyá de braços dados,
Oyá apoiando a cabeça no ombro forte dele.
A tristeza e o desamparo eram nítidos
Naqueles dois
Eles se amavam verdadeiramente
E Obá por um segundo sentiu
Uma inveja terrível de Oyá,
Mas esse sentimento logo passou,
Ela gostava de Oyá como se fosse sua irmã,
Sabia que o amor daqueles dois
Nunca fou feito para lhe ferir.
Por instinto Oba ergue o braço
Com a mão aberta na direção das costas de xango
Que ja estava longe,
Ela fecha os dedos no ar como se quisesse
Agarrar ele, guardar ele para si,
A mão cai inerte, vazia, e bate no quadril,
Ela não pode mais ter Xango,
Ela está sozinha.
Na verdade ela não foi expulsa,
Poderia ir junto com Xango e Oyá se quisesse,
Mas Obá não via mais o sentimento
Que tinha pelo marido como algo bom,
Ela o amava tanto, mas tanto
Que estava nos últimos anos
Invalidando a si mesma
E sendo reduzida a nada além
De uma mulher mal amada,
Mas ela não era isso.
Um dia Obá já havia sido guerreira,
Ela conseguia manejar qualquer
Arma de guerra com destreza.
Um dia ela ja havia sido um
Ilustre membro da realeza
Sendo filha de Oxalufan, rei de Ifon
E carregando com dignidade o nome da família.
Ela já havia sido aceita
Como caçadora junto com os Odé,
E respeitada por Oxóssi e Erinlé
Como sendo uma igual.
Ela ja havia pelejado ao lado de Ogun.
Obá tinha muita história,
Muita dignidade,
E viver ali como esposa ciumenta
A estava destruindo.
Agora sozinha na encruzilhada
Ela olha para frente
E já não ve Xango nem Oyá,
Olha para a direta
E só vê um pontinho Dourado
Muito ao longe,
Então Obá se vira e toma seu rumo
Indo para a aldeia de sua família.
Ela caminha devagar abraçando a si mesma,
Um passo de cada vez,
Ela diz a si mesma que esta tudo bem
Que se é forte para matar na guerra
Também sera forte para matar
Esse amor dentro de si,
Mas o coração a traí,
Sozinha na estrada
Ela sente o queixo tremer
E as bochechas ficarem molhadas
Pelas lágrimas que escorrem dos olhos.
Ela quase não enxerga mais
De tanta água que turva a vista.
A tristeza é muito grande,
E aqui começa a única batalha
Que Obá não conseguiu vencer.
Ela apressa o passo,
Não, ela corre em disparada
Tropeçando aqui e ali,
Até que chega no limite do descampado
Onde começa a floresta
E receando a humilhação
Se alguém a visse chorando
Ela entra na mata
Para ali ficar sozinha
E poder extravasar sua tristeza.
Ela vai entre as árvores e entre as pedras
Até se sentir tão exausta
Que se permite ajoelhar no chão,
E quando faz isso ela finalmente desaba.
Tudo que vem a sua mente é Xango,
O sorriso dele, o olhar dele, a voz dele...
Ela chora, ela grita, ela aperta os punhos
E soca o proprio peito repetidas vezes,
Ela tenta fazer a dor passar.
É impressionante como o amor
Que se espera ser um sentimento maravilhoso
Pode se tornar uma tortura,
Um sofrimento pavoroso.
Naquele momento tão intenso
De pesado sofrimento
Os olhos de Obá passam a verter
Tanta água que ja não se pode chamar
De lagrimas,
Seu rosto é uma cascata.
No ápice da dor ela se lembra quem é.
Ela era da descendência de Orixás,
Nisso ela sabia que um dia seria Orixá também,
E aquele era o dia.
O corpo de Obá pouco a pouco muda,
Até que em um estampido surdo
Vem a gigantesca explosão!
O corpo de Obá se rompe
E se transforma em água,
Tanta água que arrasta as grandes rochas,
Cava a terra e arranca as arvores pelas raízes.
Obá humana morreu ali.
A Obá Orixá nasceu ali.
Obá agora era um rio, um rio feroz
De aguas turbulentas
Que foi abrindo caminho na mata
Até formar o leito que existe até hoje.

Mais de um milênio depois
Obá atravessa o Orun, atravessa o mar
Pulando de um continente a outro
E lá no meio da festa, no meio da roça
Tem uma moça bonita
De miçangas alaranjadas no pescoço,
Do nada ela sente o corpo adormecer
Enquanto o povo em uma só voz canta
"Obá Elekòó Aja Osi, Asabo Elekòó Aja Osi..."
Como um sono repentino ela fecha os olhos
Mas quando ela se vai
E Oba que toma conta do corpo dela,
A postura é forte, ombros firmes
Pescoço ereto,
Obá é a mulher Valente
E dança diante de todo o povo
Com ofa em punho
As cantigas que contam sua história.
Xire ô!

Obá é a verdadeira Orixá do amor,
Seu amor é avassalador.
Ela é um Orixá cheio de dignidade
E deve ser respeitada por isso.

Na África a saudam "Omi o!" (sua é a água)
No Brasil dentro do candomblé
A saúdam "Obá Xirê!" (Obá é benéfica)
E no batuque saúdam "Exó Exó!" (Bonita, enfeitada)
Mas não importa qual seja o seu segmento,
Sempre preste saudações a Obá,
Ela é nossa ancestral.

Espero que tenham gostado, quem quiser encomendar desenhos, brasões ou telas pode me chamar no whatsapp 11944833724
Obrigado