As mãos pretas,
O pretume é sangue seco.
Ayrá está cansado.
Ele é Ayrá Gbona, o Valente.
Em seu acampamento ele
Se senta no chão,
O servo trás a tina
De água quente com vinagre
As mãos pretas,
O pretume é sangue seco.Ayrá está cansado.
Ele é Ayrá Gbona, o Valente.
Em seu acampamento ele
Se senta no chão,
O servo trás a tina
De água quente com vinagre
E Ayrá lava as mãos.
O cabo do Machado
Chega estava colado na mão direita,
Durante a Batalha era assim,
Lutava até o sol se por,
Ate os sangue dos inimigos
Secar em grossas pelotas nas mãos.
O tropel de um cavalo chama a sua atenção,
Ayrá não tem forças nem para ficar em pé,
Está exausto.
Na tenda entra o rapazola, mensageiro.
Ayrá apenas ergue a cabeça e pergunta
"O que é de tão importante para vir perturbar meu descanso?"
O rapaz se abaixa por respeito
Para não ficar com a cabeça mais alta
Que a do Orixá.
"Trago notícias de Oyó meu senhor, notícias mui tristes. O Rei Dadá caiu, Xango usurpou o trono."
Ayrá ouve aquilo e não acredita,
Como poderia ser verdade?
Dadá era seu amigo de anos
E ele era bom, gentil, amava crianças
E se preocupava com a felicidade do povo,
Dadá era o melhor rei que já se sentou no trono.
Mas Xango... Ayrá não ia com as fuças de Xango,
O problema era que eles dois eram parecidos demais,
Xanga e Ayrá era como gêmeos,
E por isso Ayrá sabia que alguém assim no trono
Não era para ser.
De manhã cedinho Ayrá monta no cavalo
E vai até Igboho, cidade onde Dadá havia sido exilado.
Lá estava Dadá usanso uma coroa enorme
Tão grande e com tantas franjas
Que era impossível ver seu rosto,
A coroa da vergonha, Ade Bayanni
Feita para que as pessoas não pudessem ver
Dadá chorar.
Dada chora de tristeza e de vergonha,
Se sente muito constrangido ao ver Ayrá
Pois não queria que o amigo
O visse em desgraça.
"Como isso aconteceu Dadá? Como veio parar aqui?"
Ayrá pergunta e Dadá entre soluços conta
"Foi meu irmão... Ele é maior que eu, mais forte. Ele tomou a coroa de mim e me expulsou. Só a verdadeira coroa de Oyó da direito a sentar no trono, Xango a escondeu, deu ela para aquela mulher Oyá, ela escondeu a coroa na terra dos mortos onde ninguém além dela pode entrar."
Dada chora novamente
Se sentindo muito humilhado.
Ayrá quer ajudar mas não sabe como
Então consola um pouco o amigo
E retorna até o campo de batalha
Para travar suas guerras.
Sete anos se passam
Até que em uma empreitada
Ayrá se depara com um exército inimigo
Que era em menor número
Mas muito astuto
E após várias batalhas sem vencer
Ele se reune com os generais
Para discutir uma estratégia
E um deles diz uma frase que muda a história.
"Nem sempre se vence através da espada, as vezes a melhor arma é a inteligência ".
Quando Ayrá houve isso seus olhos se arregelam,
Em sua cabeça acabava se surgir
A mais maluca das idéias.
Ele deixa o campo de batalha
Monta no cavalo e vai para Oyó,
Lá manda que os servos avisem Xango
Que ele, o grande Ayrá Gbona das terras de Ketu
Veio finalmente reconhecer Xango como rei.
Xango o convida para dentro do Palácio
E Ayrá vai a janta com ele e as esposas.
Ayrá olha em volta e vê primeiro Obá,
ela tem os braços fortes e é famosa
Por saber manejar quaisquer arma de guerra.
Ele olha para Oxum, pequena e cheia de enfeites
Mas os olhos ávidos de Ayrá reparam nos seios dela
E ele percebe que sob a roupa ela leva uma espada.
Por fim ele ve Oyá que está sentada junto a Xango,
Oya tem fama de ter derrubado até Ogun,
Então Ayrá decide não desafiar ninguém ali,
Não seria prudente.
Ele sorri e brinca com os quatro
Sendo o máximo dissimulado que podia.
No fim da visita ele finge ir embora,
Mas não vai, dá a volta pelos corredores do Palácio
E começa a vasculhar cômodos
Até que encontra o quarto de Oyá.
Entra e pega um dos baús, então foge.
Ayrá vai para a floresta
Para o bambuzal,
Lá ele abre o baú e tira de dentro
Pertences de Oyá, roupas femininas
Pulseiras e uma coroa.
Ayrá ri como um moleque maroto
Enquanto veste as roupas dela
Enche os pulsos de pulseiras
E cobre a cabeça e o rosto com a coroa de chorão.
Ele tinha de se passar por Oyá,
Porem mesmo fantasiado dela
Ele não convencia ninguém.
Os corpo de Ayrá era maior,
Seus ombros largos, pescoço grosso,
Braços músculos e canelas fortes
O identificavam como homem
Mesmo a quilômetros de distância,
Ele olha para baixo e vê
Seus pés enormes escapando
Para fora da saia,
Aquilo é engraçado
Mas pode por tudo a perder.
Ele então teve outra idéia,
Oyá fazia ritos onde usava Ajere, a Panela de fogo,
Ayrá arranjou uma panela de barro
A encheu de buchas de mamalongo,
Ensopou de óleo e ateou fogo
Fazendo uma chama vermelha
Muito parecida com a da panela de Oyá.
Ele leva a Panela sobre a cabeça
E da um ultimo suspiro tomando coragem
Pois se o plano desse errado
Ele seria despedaçado pelos egun.
Ayrá entra no bambuzal onde rapidamente cai
Para a casa escura onde os mortos habitam.
É frio, puro breu, ele sente como
Se estivesse em uma caverna de pedra gélida
E o que mais assusta são os ruídos roucos
Vindo de toda parte, são os mortos a espreita.
Os egun olham para aquela figura
E não sabem muito bem o que fazer,
Nao sabem se saúdam ou se atacam
Porque parece Oya, mas ao mesmo tempo não.
Ayrá usa a panela de fogo como distração
Agitando a cabeça para fazer a chama bruxolear,
Os egun fixam a atenção no fogo
E deixam Ayrá passar sem perceber
Que aquela pessoa não era Oyá.
Ayrá bota as mãos na cintura
E tenta fazer a pose mais petulante
Que consegue para tentar
Fazer o papel direito.
Ele vasculha aquele lugar pavoroso
Até que acha a reluzente coroa de Oyó,
A apanha e se vira para sair dali,
Quando sai ele está exultante, pula e gargalha
Enquanto tem nas mãos a coroa preciosa.
Tira as roupas de Oyá
Monta no cavalo e vai a toda para Igboho,
Lá está Dadá rodeado por suas esposas
Todos tristes em profunda miséria.
Quando Ayrá se aproxima de
Dadá ele arranca o Ade Bayanni
Da cabeça de amigo,
Dadá se surpreende com aquela violência
Até que Ayrá agita diante dele
A coroa de Oyó.
Os olhos de Dadá brilham de lágrimas
E desta vez ele chora de felicidade,
Ele permite que Ayrá coloque a coroa
Em sua cabeça e então fica em pé
E abraça seu Salvador.
Para Ayrá aquele abraço
Fez tudo ter válido a pena.
Dadá volta para Oyó
E usando a coroa o povo o recebe
Como legítimo rei enquanto
Xango e as esposas fogem da cidade.
Ayrá volta para o campo de batalha
Satisfeito por ter ajudado seu amigo.
Dadá quis dar a ele ouro e presentes
Mas Ayrá não aceita,
Ele não precisa,
Tudo o que fez foi apenas para fazer justiça.
É assim que Ayrá é.
Até os dias de hoje os amigos de Ayrá
Nunca ficam desamparados
E ele sempre luta pela justiça.
E se lembrem, ele é valente no campo de batalha,
Mas também é esperto feito uma raposa.
Ayrá Lê! Ayrá Lê!
Ayrá Gbona é magnífico!
Espero que tenham gostado, quem quiser encomendar desenhos, brasões ou telas pode me chamar no whatsapp 11944833724
Obrigado