segunda-feira, 18 de abril de 2022

O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad e sua filha Enheduana como a primeira sacerdotisa, estando ligado à antiga adoração da Deusa-Mãe ou Deusa da Fertilidade Inanna e Ishtar.

 O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad e sua filha Enheduana como a primeira sacerdotisa, estando ligado à antiga adoração da Deusa-Mãe ou Deusa da Fertilidade Inanna e Ishtar.


Nenhuma descrição de foto disponível.As Sacerdotisas Sumérias

O sacerdócio feminino na Suméria teve início com Sargão de Akkad e sua filha Enheduana como a primeira sacerdotisa, estando ligado à antiga adoração da Deusa-Mãe ou Deusa da Fertilidade Inanna e Ishtar.
Suas atuações nos ritos em adoração às deusas e a manutenção da fertilidade legaram a estas mulheres também a denominação de “prostitutas sagradas” em ritos conhecidos como o “casamento sagrado”. Na época, estes ritos estavam baseados na compreensão dos mitos que explicavam a vida e a natureza. Eram de suma importância para o povo, pois estavam sempre em contato com os Deuses. Estas mulheres eram intermediárias entre o povo, os governantes e os Deuses, sendo suas atuações nos ritos diferenciadas da atuação dos sacerdotes masculinos.

Através de ritos onde o meio natural era considerado sagrado, as sacerdotisas mantinham as boas colheitas e a fertilidade de homens e mulheres, como também aplacavam a ira dos Deuses mantendo um Estado de calma, harmonia e de paz na Suméria. Asseguravam a simpatia dos Deuses pelos governantes locais e suas vitórias em possíveis confrontos inimigos.
Estas mulheres puderam se sobressair numa sociedade onde a atuação masculina era reconhecida pela força e ação sobre o meio, garantindo a guarnição e prosperidade ao povo, mas que acima de tudo respeitava a consangüinidade materna apresentando características de uma sociedade matrilinear. Características estas, que eram asseguradas pelas tabuas de leis sumerianas, o Código de Hamurabi, que já para aquele período elucidava perfeitamente os direitos e deveres das mulheres, bem como das sacerdotisas como cidadãs reconhecidas em sua sociedade.
Para um povo onde tudo provinha dos Deuses e era sagrado, as sacerdotisas representavam a Deusa na Terra e traziam através do ritos a segurança social que era almejada pelos governantes e pelo povo e que somente os mitos explicavam de forma aceitável dentro de um contexto e vivência históricos.

Conta um mito sumeriano que Sargão teve um sonho onde é favorecido pela deusa Inanna , tornando-se o governante e a partir deste momento passa a prestar culto a ela, através de Enheduana sua filha. A sacerdotisa passa a ser a representante de Inanna na terra.
Enheduana além de princesa e sacerdotisa foi poetisa e a primeira mulher da história a ter em suas mãos o poder da escrita. Escreveu vários hinos e poemas a Inanna e Ishtar abordando o culto, anseios, desejos e revoltas pessoais junto às deusas. Como ministra era a conselheira junto do governante e demais nobres de sua época, orientando e
aconselhando de acordo com a vontade dos deuses. Vivenciou poder temporal e espiritual, além de ter considerável erudição, representando um testemunho precioso de uma mulher de seu tempo com tamanha responsabilidade.
O poema a seguir assemelha-se a uma redação de diário e descreve a imagem que Enheduana tem da deusa Inanna:

“Senhora de todas as essências, cheia de luz,
boa mulher, vestida de esplendor,
que possui o amor do céu e da terra,
amiga de templo de An,
tu usas adornos maravilhosos,
tu desejas a tiara da alta sacerdotisa
cujas mãos seguram as sete essências.” (QUALLS-CORBETT, 1990, p.33)

Sargão ao unificar a parte sul da Mesopotâmia a região de Acádia (futura Babilônia) passa a reconhecer Inanna também por Ishtar, nome que a Deusa assume na Babilônia.
Inanna ou Ishtar é considerada por alguns pesquisadores como a Deusa do amor e da fertilidade. No entanto para Cardoso ela também passa a assumir um caráter militar, o que pode justificar mitologicamente a conquista territorial de Sargão pelas armas. (Cardoso, 1997, p. 30). Esta íntima relação de Sargão com Inanna é que o faz instituir o sacerdócio pela primeira vez na Suméria com sua filha Enheduana.
Enheduana como primeira alta sacerdotisa da Suméria cultua a deusa Inanna e também o deus Nanna ou Sin que é um deus lunar. Nanna está diretamente associado à lua, que para os sumérios recebia mais importância que o sol, ao contrário do Egito. A lua está também ligada ao ciclo menstrual feminino o que pode ser a hipótese provável da importância da mulher sumeriana nos ritos de adoração, pois o deus Nanna era regente do tempo, das estações, da fertilidade e do sangue sagrado de todas as mulheres.
As sacerdotisas como seguidoras da Deusa a cultuavam em ritos de adoração que simbolizavam a fertilidade tanto do solo como da população. Os ritos eram realizados em templos altos conhecidos como zigurats, que eram construções suntuosas que se assemelhavam a montanhas. As montanhas tinham grande importância entre os sumérios, pois representava um ponto de passagem ou transição de um mundo para o outro. (CARDOSO, 1999, p.93)
Nestes templos os ritos de culto aos deuses mais realizados entre as sacerdotisas era o hiero gamos, conhecido também como o “casamento sagrado”, onde uma sacerdotisa iniciada nas sabedorias ocultas exercia o papel da deusa deitando-se junto ao herói ou governante da Cidade-Estado, oficializando-o como figura hierarquicamente escolhida pelos deuses, assim como para fortalecer a fertilidade da população, colheitas, riquezas e assegurar as conquistas aspiradas pelo deus na terra, o governante. Este rito era realizado anualmente e desta forma, mantida a força e a regência do governante, garantindo a prosperidade do império. Os ritos são ilustrados com o mito de Dumuzi e Inanna (JAMES, 13), que também traz a representação das estações do ano onde anualmente o deus é resgatado e fortificado no ritual de Ano Novo desempenhado pelas sacerdotisas.
As sacerdotisas são descritas por alguns pesquisadores como as “prostitutas sagradas”, hieródulas ou entu em acádio, pois muitas delas sequer conheciam os homens com quem teriam as relações sexuais. Foram descritas por Heródoto tardiamente pela seguinte compreensão:
“O pior dos Hábitos é aquele que obriga toda a mulher do país a sentar-se no Templo do Amor uma vez na vida e ter relações com um desconhecido.
Os homens passam e fazem sua escolha, e as mulheres não recusam nunca, pois isso seria pecado. Depois desse ato tornou-se santa aos olhos da Deusa, e volta para casa.” (MILES, 1988, p.58)
A prostituição sagrada, no entanto não era imposta. As sacerdotisas que se dedicavam ao sacerdócio normalmente o faziam de livre e espontânea vontade, pois o faziam pela Deusa e assim também caíam em suas graças. Para os sumérios servir aos Deuses era uma honra.
As sacerdotisas não eram ridicularizadas e menosprezadas. Seu papel tinha suma importância entre os sumérios, pois através destas a simpatia dos deuses era garantida.
Eram respeitadas e valorizadas, pois representavam a encarnação da própria Deusa nos ritos realizados sendo destinados a elas direitos legais no Código de Hamurabi.
Esta prática que sempre que ocorre por todo Oriente Próximo ou Médio, é chamada “prostituição ritual”. Nada poderia degradar mais completamente a verdadeira função das gadishtu, as mulheres sagradas da deusa. […] eram
reverenciadas como a reencarnação da própria Deusa, celebrando seu dom do sexo que era poderoso, santo e precioso, que gratidão eterna lhe era devida dentro do seu templo. Ter relações com um desconhecido era a mais pura expressão da vontade da Deusa, e não acarretava qualquer estigma.
[…] pelo contrário, as mulheres santas eram sempre conhecidas como “as sagradas”, “as incorruptas” ou, como em Urek na Suméria, nu-gig, “as puras ou sem mácula”. (MILES, 1988, p.58)