O ARQUÉTIPO DO HOMEM SAGRADO
O primeiro sinal de que o masculino achou seu caminho de volta ao sagrado está na aceitação de sua sensibilidade.
O ARQUÉTIPO DO HOMEM SAGRADO
O primeiro sinal de que o masculino achou seu caminho de volta ao sagrado está na aceitação de sua sensibilidade. Ele não nega mais sua magia, sua coroa nem sua pele. Liberou seu cardíaco, seu coração aprisionado, sua intuição. E não sente mais vergonha de seus poderes lunares. De sua poesia, de seu canto noturno. O homem sagrado aceita a mulher que o habita, e por isso, consagra o feminino, não mais com olhos de possessão, mas como um poder criativo. Curou em si suas mulheres, não há mais disputa, não há mais medo, não há controle. Não há mais o que temer na união sagrada.
Ao fazer isso, o homem se volta para a natureza e resgata em seu peito o tambor sagrado, a batida das estações, ele honra e cuida de Gaia. Busca ser útil, torna-se um servo do amor. Observa calmo os ciclos e aprende com eles. Ele resgata sua sabedoria natural, seu olhar profundo para os mistérios que habitam o âmago da floresta. Um homem curado torna-se uma extensão do poder do rio, da montanha, da caverna, do deserto.
O homem sagrado caminha. Andarilho, ele busca, ele sobe, cruza mares, desertos, picos e vales. Ele busca o disco solar, o Santo Graal, o Pai na Mãe. Até que na entrada de Damasco a luz o cegue, a Verdade o humilde, e o amor o transforme. Nesse momento nasce nele o discipulado. O homem sagrado é um pescador de almas. Um curandeiro, um mago, o velho e solitário sábio com sua lamparina, confiante, calmo e silencioso.
Ele já não busca mais aprovação externa, não tem sede de poder, pois transmutou sua ganância, sua avareza, seu egoísmo. Aquela autoafirmação já não o possui, ele já não precisa mais provar seu valor, seu sucesso, sua masculinidade para outros homens. Ele não compra mais o amor, tampouco vende seu poder. Se libertou do julgo do machismo. E sim, o machismo também estende seus tentáculos perniciosos sobre os homens. Mata nele a gratidão do peito, do colo, da vida ofertada pela Grande Mãe. E por não tomá-la ele a usurpa corrompendo os ciclos e as hierarquias.
Um masculino que comunga com o sagrado desenvolve a coragem, um tipo de coragem que não é essa que se embriaga e desafia a vida. Ele prima pela vida. É a coragem serena do guerreiro. Sua espada não está a serviço dos mares de sangue, pois ele descobriu que a única poda possível só pode ser feita dentro, retirando de si seus medos, suas tendências bárbaras. Ele não se nega, não se apequena, mata Jonas e seu complexo dentro de si. Vai assim, lapidando suas potências, sua criatividade, seu poder com a paciência de um ourives.
O poder nesse homem não é medido pelo dinheiro ou fama, ou qualquer outro rótulo cultural. São seus olhos flamejantes que impõe respeito. Sua fala mansa e ao mesmo tempo cortante que toca o coração de quem se aproxima, fazendo uma verdadeira cirurgia na consciência. Vertendo um tipo de água que mata a sede da alma. Esse homem de Deus/Deusa não caminha o caminho do meio. Ele se posiciona com equanimidade entre o disco solar e o útero terreno, e nesse espaço, entre Sol e Terra, ele É o caminho. O meio pelo qual as duas grandes linhas de força se manifestam. Ele é um canal para as divindades. Seus aliados são as forças da natureza, Ogum, Krishna, Osíris, Cernunnos, Micah, Ahura Mazda, YHWH.
O masculino que vive assim, vive em paz de espírito, faz o que tem que ser feito, a revelia de seus instintos, de seus desejos. Ele vence Mara sem desenbanhar sua espada de fogo, no silêncio da meditação. Seus impulsos reativos, violentos são canalizados para atos criativos.
Seu chakra sexual não é mais matizado por agressividade, ele vive uma sexualidade mais saudável, mais harmônica. É uma comunhão. Reconhece na parceira a deusa diante de seus olhos e quando a toca, é como se tocasse um instrumento musical cuja melodia celebra o gozo da vida, da união.
Um homem inteiro é um homem de bem. Um artista, um rebelde, pois sabe que amar, nesse planeta, ainda é a maior insurreição, o verdadeiro ato de coragem. O único e possível grito por liberdade. Seu olhar não condena, suas palavras fertilizam e sua presença clareia.
Porque aprendeu a perdoar, já não precisa mais matar seu pai, nem sua mãe, assim, ele torna-se um cuidador, nutre o filho com carinho e amor. É firme como tutor e leve como mediador. Sabe que o filho não é seu, e por isso respeita a liberdade, a expressão e a natureza do ser.
A liberdade que ele busca não é mais de ir e vir. Na tarefa árdua do esvaziar, agora transbordar lucidez e isso enche seu cálice, encontra a liberdade na responsabilidade do servir. Não questiona mais as ordens que decantam em sua consciência. É livre, porque ele ocupa seu lugar, porque reconhece sua herança solar, sua realeza divina.
Um homem desses é um homem santo, não no sentido corrompido da palavra, pois ele pode se casar, pode sim fazer sexo, dançar, trabalhar e ganhar dinheiro. É um tipo de santidade muito mais dentro do que fora.
O masculino sagrado santifica a matéria. Seus atos, palavras, são todos sacrifícios. E se necessário for, para defender a Verdade, ele irá suar sangue. Ele vê o todo. Ele sente o todo. E ele aceita. Suas criações transformam vidas, geram beleza, esperança, calor.
Quando esse homem sagrado desperta, Gaia sorri, a Lua dança, Júpiter abençoa, Saturno veste nele a armadura, Vênus lhe dá a rosa e o Sol o banha de dourado.
Essa é a sina do masculino, desperto, curado, sagrado, que todo homem deve empreender. E quando ambos, mulher e homem vibrando nesse estado purificado se encontram, um portal se abre nessa dimensão, o Sol desce à Terra, e o filho do amor nasce. Hórus, a criança da sagrada união, trazendo a consciência Crística ao mundo.
O Grande Homem deixa seu legado. Seu templo imponente é sua própria vida. Tal homem, enfim, redime a matéria. Deixa a luz passar sem qualquer resistência. Esse, retorna jubiloso.
Eis o homem sagrado.