Exu VELUDO
Este Exu é muito galante, hábil com as palavras, é famoso por emanar fascínio.
A história:
Enrico era filho de italianos, chegou
Ao Brasil ainda criança.
Este Exu é muito galante, hábil com as palavras, é famoso por emanar fascínio.
A história:
Enrico era filho de italianos, chegou
Ao Brasil ainda criança.
Junto a seus pais que vieram
Para trabalhar em lavoura
No final do século dezoito
Logo após a Princesa abolir a
Escravidão.
As lavouras precisavam de mão
De obra e já que agora os senhores
De terras teriam de pagar salários
Eles preferiram pagar aos Italianos.
Enrico nasceu no meio dos camponeses
Mas não nasceu para ser um deles.
Belos olhos azuis,
Um rosto que mais parecia esculpido em mármore,
A voz máscula e suave
Ele sabia de sua beleza
E sabia usar isto como uma arma.
A fazenda que os pais trabalhavam
Pertencia a um rico senhor
E ele tinha uma jovem esposa
A ingênua Matilde.
Matilde foi obrigada a se casar
Com aquele homem que tinha
Mais que o dobro de sua idade
E o velho costumava bater nela
E a tratar como uma de suas propriedades.
Enrico olhava para a ela
E via a beleza que ela tinha,
Mas não era nem seu rosto
Nem seus belos seios que chamavam
A atenção dele,
Enrico estava seduzido pelos
Colares de ouro
As pulseiras de prata
Os tecidos caros que ela usava.
Mais doce que o som da voz dela
Era o som do tilintar das moedas
De ouro que trazia dentro de uma bolsinha
Presa ao corpete.
A paixão de Enrico era o dinheiro
E ele sabia que se fizesse
Aquela moça se apaixonar
Ela lhe daria tudo.
Então arquitetou um plano,
Ficou do lado de fora da casa
Espiando pelas janelas
Até ver Matilde se retirar para o quarto
Onde tirou as roupas para dormir.
Furtivamente entrou e apanhou
Uma das pulseiras que ela havia
Deixado em cima da penteadeira
E fugiu.
No dia seguinte Matilde saiu rumo
A cidade para gastar dinheiro
E ele a seguiu.
Em um determinado momento ele
A chamou e entregou a pulseira
Dizendo que havia encontrado
No chão logo atrás dela.
Ela nem sequer parou para pensar
Que não estava usando a jóia
Naquele dia pois ao ver os rosto
Dele ela ficou atônita.
Agradeceu muito tímida e ele
Puxou conversa dizendo que
Achava que a conhecia,
Ela contou quem era
E ele revelou ser filho de um
Dos empregados do marido
Como se tudo fosse uma mera coincidência.
As palavras dele eram doces
Os lábios dele teciam uma
Rede de mentiras
E ela como uma mariposa
Acabou sendo enredada
Nas falácias daquele rapaz.
Outro dia ela foi fazer um passeio
No campo com suas a criadas
E ele a seguiu, quando ninguém estava
Por perto ele quebrou uma das rodas
Da carruagem
E quanto a Matilde se deu conta
Do problema
Ele apareceu dizendo que estava
Por ali a passeio mas que consertaria
A carruagem para ela de boa vontade.
Ela achando que era tudo obra do destino
Deixou que ele o fizesse
E agradeceu imensamente.
De artimanha em artimanha
Ele ganhou o coração da moça.
A encheu de elogios
A fez inúmeras juras e promessas
Disse que dedicava a ela o amor verdadeiro
E logo ocupou um lugar na cama dela.
"Eu a amo"
"Eu nunca senti o que sinto por você"
"Eu serei teu eternamente"
"Vamos fugir juntos e viver do nosso amor"
Tola, era uma marionette nas mãos dele.
Dava tudo o que ele pedia,
Até empenhou as jóias para
Dar dinheiro para
Financiar a fuga dos dois.
Quando ele percebeu que ja tinha
Sugado o suficiente
Foi embora levando todo o dinheiro
E a deixando para trás.
Saiu do campo e foi para uma
Grande cidade no litoral,
Lá o golpe foi o mesmo
Uma outra mulher casada
Depois uma donzela boba
Depois uma viúva carente
E assim foi
Usou dezenas de mulheres
Até que nas taberna, bares e cabarés
Foi apelidado de Veludo
Por conta de seus doces lábios
Que faziam as mais esdrúxulas mentiras
Soarem como se fossem verdade.
Mas ser cafajeste era pouco
Rendia um bom dinheiro sim mas
Ele queria mais
Ele queria o poder.
Foi então que se associou a pessoas
Da alta roda da sociedade,
Pessoas de sobrenome quatrocentão
Mas que eram tão pilantras quanto ele.
Associado a essa gente
Enrico, que agora era Veludo
Ganhou muito dinheiro sendo
O que podemos chamar de um
Bandido de colarinho branco,
Ele era um marginal
Mas quem o olhava via ali um Lorde
Muitos perderam a vida sob as suas ordens
Mas ele nunca sujou as mãos
Jogando com a vida das pessoas
Como se fossem peças em um
Tabuleiro de xadrez.
Ganhou tanto dinheiro que
Quando passava dos quarenta anos
Já não tinha necessidade de
Se envolver nos tranbiques
E desejou parar
Queria agora ser como os homens nobres
Ter uma casa, uma esposa e formar
Uma família, desfrutar de paz
E sossego até do fim da vida.
Mas com quem?
Todas as famílias de respeito
Conheciam a fama dele
E nenhuma moça honesta
Aceitou se casar.
Nenhum homem da corte permitia
Que suas filhas sequer olhassem para ele
E as vezes que ele tentou jogar o
Charme para algumas
Os pais dela o ameaçaram de morte.
Todas sabiam que ele era um
Don Juan, que amava mais o dinheiro
Do que as mulheres
E nesta altura nem mesmo
Os belos olhos dele enganavam mais
A fama o precedia em todo lugar.
As únicas dispostas a se envolver
Com ele eram as pobres, as mal nascidas
E as rameiras,
Mas Veludo se sentia tão superior
Que na mente dele se casar
Com uma pobretona seria inadmissível.
Então um dia passeando pelas calçadas a beira mar
Ele ouviu duas moças com aparência
Nobre conversando sobre uma tal
"Casamenteira"
Que trazia moças e rapazes da Europa
Para casamentos com bons partidos
Da alta sociedade.
Ele ouviu o suficiente para saber
Onde encontrar a mulher,
E foi até o casarão dela se candidatar
A noivo e pedir uma noiva.
A casamenteira era uma senhora francesa
Muito bem afeiçoado
Que exigiu dele um bom sobrenome
E que comprovasse
Ter bens e dinheiro para dar uma vida
Confortável a uma dama européia.
Os comprovantes de riqueza ele tinha
Mas o sobrenome não.
Era Enrico "nao sei das quantas"
Filho de Zé ninguém.
Então a casamenteira disse que
Moças na flor da idade não aceitariam
Alguém sem descendência
Mas que havia uma mulher,
Uma unica mulher que talvez sim
Uma espanhola jovem que era viúva,
O marido morrera na guerra
E ela era a última de sua linhagem
Sem família mas com um alto sobrenome e que desejava
Deixar a Espanha mas não sozinha.
Ao mostra o retrato da moça
Veludo caiu o queixo,
Ela era linda, olhos verdes,
Cabelos negros como a noite e
E um ar de inocência e graça.
Ele preencheu a promissória
Pagou o dote e firmou acordo.
Gisela, a noiva viria para o Brasil.
Demorou três meses para que chegasse
Mas quando ele foi buscar a mulher
No porto ficou estupefato
Pois ela era muito mais bela que
Nas fotos.
Junto a ela vinha outra beldade
De pele cor de canela,
A dama de companhia que
Acompanhava Gisela a todo canto.
Ambas falavam um português arrastado
Pelo forte sotaque espanhol
Mas isso so as deixavam mais interessantes.
Na mesma semana se casaram com
A igreja vazia
Pois nem ele e nem ela tinham família
Mas isso não importava
Ele estava extasiado de tanta felicidade.
O casamento correu bem,
Ele pensou que apenas iria ter carinho
Pela esposa mas logo percebeu que
A amava.
Além disto
E também tinha a chance de desfrutar
Da dama de Companhia
Que aquecia a cama dele
Quando Gisela estava indisposta.
Um mês
Dois meses
Três meses.
Certa noite Gisela o recebeu no quarto
Com um pedido,
Ela queria beber licor.
Ele sabia que ela pediu para beber
No quarto porque damas não podiam
Ficar bebadas em público,
Então trouxe para ela bebida
E beberam juntos
Ele estranho o gosto da bebida
Mas queria agradar a mulher
Então bebeu sem reclamar.
Com poucas doses ele caiu no sono.
Quando acordou se viu em um
Quarto vazio, estava deitado no chão
E na casa não tinha nada
Nem um móvel, a mobília desapareceu
E quando ele gritou por Gisela
Os ecos de seus gritos se espalharam
Nos comodos vazios mas ninguém
Respondeu.
Ao sair da casa
Ele deu de cara com o tabelião
Que estava já mostrando
O casarão a seus novos donos.
Veludo não entendeu
A casa era dele e só ele poderia vender.
Foi então que o tabelião mostrou
O documento de venda
E a assinatura de Veludo estava lá.
Ele entendia bem de falsificações
Para perceber que a assinatura era verdadeira.
Muito confuso saiu a caça de Gisela
E viu a carruagem dela indo ao longe.
Rapidamente ele tomou um cavalo emprestado e galopou atrás.
Muito tempo depois
Muita estrada a diante
Quando a noite já caia
Ele viu a carruagem parar em frente
A um casarão vermelho
E reconheceu aquilo como um cabaré.
Viu Gisela entrar junto com a Dama de Companhia e foi atrás.
Quando entrou na casa
Exigiu falar com a esposa e
E os leões de chacara lhe disseram
Para aguardar.
Mais de uma hora se passou e ele foi
Chamado ao salão das mesas
Onde em uma delas estavam
Sentadas três mulheres
A Francesa casamenteira
A dama de Companhia e
Sua esposa Gisela
Mas as três estavam muito diferente
A francesa de preto
A dama de roxo
A esposa de vermelho
As três muito maquiadas
Perfumadas e com a aparência de...
De... prostitutas.
Fizeram sinal para ele se sentar
E ele tremendo o fez.
A casamenteira se apresentou como
Maria Quitéria
A dama de companhia se apresentou
Como Maria Mulambo
E a esposa Gisela revelou que seu
Nome verdadeiro era
Maria Padilha.
Ele ficou estarrecido, a esposa era falsa
E nem sequer o sotaque espanhol ela tinha.
Tudo armação.
Ele berrou exigindo explicações
E então elas mostraram
Os documentos que ele havia
Assinado na noite anterior
Entanto estava bebado.
Contaram que no meio do licor
Haviam coisas a mais
E ele não percebeu e nem se lembrava
Mas elas o fizeram assinar, carimbar
E firmar todos os papéis.
Ele leu os documentos
E lágrimas escorreram de seus olhos
Pois aqueles papéis eram de venda
De todas própriedades e
E ordens de saque de suas contas.
Tudo que ele tinha estava ali
Sob a assinatura dele estava confirmado que agora
Não tinha mais nada.
Elas riram dele
Caçoaram
Pois o tão esperto enganador de mulheres
Havia caído na rede das três Marias.
Quando ele perguntou porque daquilo
Uma outra mulher entrou no salão,
Matilde, que estava velha
Mas ainda bela.
Matilde zombou dele
Apontou o dedo na cara
E contou ter pago as três Marias
Para que elas o depenassem
E além do dinheiro dado
As três iriam ficar com tudo que era dele.
Matilde havia planejado
A vingança por vinte anos
E foi melhor do que ela esperava.
Veludo gritou, se descontrolou
Tentou bater nelas
Mas os jagunços da casa interviram
E enquanto elas riam
Deram nele uma sova tão bem dada
Que Veludo ficou mole.
Foi atirado na sarjeta só com a roupa do
Corpo ele não tinha para onde ir
Não tinha nenhum amigo
Apenas inimigos.
Sua beleza havia se esvaído
Não tinha nada
Nao era nada.
Vagou sem rumo
Caminhou na estrada até os pés sangrarem
E totalmente desiludido
Chegou a um penhasco na beira
Do mar e se atirou do alto.
O corpo se despedaçou nas pedras.
Acabou Veludo... Acabou.
Quando ele acordou no
Mundo dos mortos
Seus ouvidos ficaram cheios
Do choro e dos lamentos das
Mulheres que ele havia enganado,
Berravam os gritos
De desespero dos homens que
Ele havia roubado
E da dor das famílias que ele
Havia destruído.
Veludo sofreu
Mas despertou Dene
A vontade de reparar os erros
De tentar fazer coisas boas
Para que assim pudesse aliviar
A culpa.
E até hoje é isto que ele faz.
Na Umbanda foi nomeado "Exu"
E vem trabalhar para amenizar
O sofrimento daqueles
Que vão até ele pedir socorro.
Espero que tenham gostado
O próximo Exu será o Caveira.
Quem quiser encomendar desenhos pode me chamar no meu whatsapp 11944833724 Obrigado
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