segunda-feira, 23 de maio de 2022

Uma História de Senhor Zé da Boiada (De Espírito Resgatado a Espírito que Resgata)

 Uma História de Senhor Zé da Boiada


(De Espírito Resgatado a Espírito que Resgata)


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(De Espírito Resgatado a Espírito que Resgata)

Talvez devesse começar minha história lhe dizendo meu nome e onde nasci quando tive a oportunidade de estar em terra como boiadeiro, mas antes de lhe contar como foi ter nascido boiadeiro, começarei contando o caminho que me levou a um dia ter tido a oportunidade de nascer como boiadeiro. Para que entenda a vida é feita de escolhas, são caminhos, e na morte não é diferente, as escolhas continuam acontecendo...

Minha caminhada começa em tempos bem mais antigos, na época em que as vestes tinham pompa e circunstância, e a fala era formal, o país não era este que se chama Brasil.

Meu nome? Este não faço questão em dizer, pois não é um nome que me remeta a boas lembranças ou boas coisas.

Em minha penúltima encarnação antes de voltar em terra como boiadeiro não fui um homem de honra, nem mesmo posso dizer que tenha sido boa pessoa, pelo contrário, sei que o ultimo sentimento que sentiram após minha partida foi a saudade ou tristeza, posso até dizer que teve quem comemorou.

Após meu desencarne descobri muito rapidamente que o que se faz em terra não passará impune após a perda do couro (matéria), e não demorou muito após minha morte para me ver em lugares ruins, no mínimo era o que de fato merecia, após muito tempo nesses lugares, fui um dia levado por um Exú, não pense que já sai de lá apto a trabalhar, pelo contrário, fui levado apenas para servir ao dito Exú, ele sim já trabalhava, não como hoje, em casas, nessa religião Umbanda, trabalhava para uma Lei Maior apenas.

E em cumprimento a essa Lei esse Exú trabalhava realizando resgastes, sabe campos extremamente densos, onde Espíritos de Luz nem pensam em passar perto?

Era lá que esse Exú descia para resgatar espíritos desencarnados muitas vezes decaídos a níveis mais baixos por próprios pensamentos e energia, ou levados para lá contra vontade por espíritos de orlas negativas.

Foi com esse Exú que aprendi o que é resgate, e embora não estivesse nas melhores condições de trabalho, comecei em cumprimento do que era mandado por esse Exú a também trabalhar resgatando, e sob essa energia trabalhei por muitos, muitos, e muitos anos, nem mesmo teria como lhe dizer quantos anos exatamente passei como ser exunizado, mas posso lhe dizer que aprendi muito, e então vi que já não vibrava mais negativismo, me encontrará pela primeira vez neutro.

E então após muito tempo tive a primeira vez novamente o direito de escolha me dado, poderia continuar onde estava e de apenas um ser exunizado que servia a outro Exú, poderia me tornar um Exú, e continuaria trabalhando como já vinha fazendo, ou tinha a opção de escolher reencarnar.

Reencarnar seria a oportunidade de voltar em terra e tentar fazer as coisas diferentes, era a oportunidade para me positivar e de sair daquele lugar que me encontrava definitivamente, e pela primeira vez tomar uma escolha se tornou difícil para mim, pois antes não enxergava a tomada de uma decisão dessa forma, realmente tive medo, medo de optar por reencarnar e ao invés de me ajudar, me perder mais ainda, ai invés de evoluir regrediria.

Uma escolha tinha que ser tomada, e então escolhi reencarnar...

E foi nessa encarnação, em minha última encarnação que nasci como boiadeiro, e nessa última vez que tive couro (matéria) é que aprendi valores, bondade, fé e a tocar a boiada, quando aceitei a escolha de reencarnar não posso dizer que não tenha tido medo do que me aguardaria pela frente, medo de novamente me ver em mesma situação que já vive e me perder pelos caminhos, mas O Senhor, sabia o que fazia, e me colocou sob os cuidados de irmãos que me conduziram, uma vida simples, uma pessoa de poucas palavras e de fisionomia séria, o trato com os animais, foi exatamente o que eu precisava para assegurar que não decairia em minha busca por evolução, e após novamente perder o couro (matéria) fui recolhido para ser preparado para um dia estar aqui, nessa religião chamada pelos companheiros de Umbanda, e hoje trabalho ainda fazendo o que aprendi com aquele Exú, trabalho resgatando todo boi (espirito) perdido e conduzindo-os as estradas da evolução.

E foi assim que eu, Boiadeiro Zé da Boiada passei de espirito socorrido, a espirito que socorre, e lhes digo, após já ter cruzado tantos caminhos, não se deve temer os caminhos nem as escolhas, pois saiba que mesmo caminhos tortuosos podem nos conduzir onde deveríamos chegar.

(Fonte – Umbandista de Primeira)