TRABALHAR COM EXU: PONTO E CHAVE
Riscos existem no trabalho com as entidades de esquerda, não sejam inocentes! Eles são entidades densificadas, que atuam em zonas muito negativas e que em muitos casos representam a própria negatividade que queremos combater, como no caso dos exus de função.
Entender o trabalho mágico da esquerda (e da Umbanda como um todo) é saber tirar os véus da inocência e da vaidade dos nossos olhos e compreender que o Universo é dual e que nós mesmos não somos capazes de chegar aos céus.
Mas o fato de não se dever incorporar determinadas entidades (principalmente Exus e Pombagiras) ou até mesmo de não ser médium de incorporação, não implica que não possamos trabalhar com suas atribuições e domínios. Para esses casos existem os processos mágicos de evocação e invocação, alguns até mesmo chamam de conjuração.Um desses métodos é o chamado Ponto-Riscado, porém as entidades tem duas formas de manifestar a magia por meio do Ponto-Riscado. Existem os pontos de assinatura dos mesmos, que trazem toda a energia da Entidade e o domínio dela, além dos chamados pontos de trabalho, onde se evocam forças específicas para o trabalho mágico.
A esses pontos de trabalho eu dou o nome de chaves, pois são versões geralmente simplificadas de pontos riscados mais complexos, ou são parciais de pontos-riscados. Porém, entendam, uma chave nem sempre é parte de um ponto-riscado de assinatura, pode ser apenas um ponto de trabalho simplificado.
Mas não basta apenas riscar o ponto! É preciso fazê-lo ser funcional, ou seja, conjurar o mesmo para que ele execute sua função.
Aqui darei dois exemplos práticos do ponto de Tranca-Ruas:
Podemos ver que no ponto é algo bem mais complexo, com mais detalhes e a chave é uma forma mais simplificada de ativar os domínios onde Tranca-Ruas atua.
Geralmente riscamos em Pemba-Branca (não inventar de riscar com outras cores) e firmamos uma vela ou acrescentamos outros elementos dentro do ponto. Essa é basicamente a forma mais prática de ser fazer a ativação, porém existem outras formas.
Em práticas de terreiro, normalmente riscamos com uma pemba em uma peça de ardósia ou outra pedra e firmamos uma vela na cor de trabalho do Exu, no caso de Tranca-Ruas é Vermelho e Preto ou só Preto. Para casas que não trabalham com preto, firmar vela branca.
Outra forma, mais clássica de fazer isso, é usar um tablado de madeira ou um compensado, despejar um pouco de marafo no mesmo (isso não é só assepsia física ou espiritual, mas facilita riscar o ponto também) e então risca-se o ponto, firma-se velas ao redor do mesmo (afinal, madeira queima) e então firma-se a ponteira no mesmo (ela deverá ser fincada na madeira).Após isso, faz-se uma evocação com a rogatória dentro do domínio da entidade que se está trabalhando, no caso de Tranca-Ruas para abrir ou fechar¹ caminhos. Você pode acrescentar um copo de marafo no ponto (ou a bebida que a entidade prefere), e colocar um pedaço de papel sem linhas ou pautas escrito a lápis com o nome de quem é o alvo da magia.
Podemos ainda associar o uso do charuto que é uma marca do Exu e de alguns caboclos, ou baforar com o cachimbo, com a cigarrilha ou o palheiros.
No caso de um trabalho de desimpedimentos, pede-se para Tranca ruas abrir os caminhos, acende-se o charuto, bafora três vezes em cima do ponto ou chave e então deixa repousado em cima do copo de marafo².
Desta forma está feito um trabalho na força de uma entidade sem ter que incorporar ela. Isto é bem mais seguro do que ceder a sua cabeça para qualquer espírito quando você não é preparado para tal (e quando digo preparado é que você não é ao menos pai ou mãe pequeno de um terreiro).
Agora eu vou firmar é meu ponto. Exuê! Laroyê! Alupande! Saravá!
¹ É amiguinhos! Exu também faz trabalhos de inversão ou negativos.
² Marafo é a cachaça ou pinga.