A história que vou contar é apenas
Uma das muitas que ela me contou,
É sem dúvida a minha preferida
Pois fala do seu violino, e quem
Acompanha meu trabalho ja deve
Ter visto outros desenhos meus
Dela com esse instrumento nas mãos.
"Maria Padilha das Almas
O Cemitério é o teu lugar...
É no buraco que a Padilha mora,
É na Kalunga que a Padilha vai girar..."
Maria Padilha das Almas foi a
Primeira Pombagira que conheci
E a primeira com a qual tive intimidade.
A história que vou contar é apenas
Uma das muitas que ela me contou,
É sem dúvida a minha preferida
Pois fala do seu violino, e quem
Acompanha meu trabalho ja deve
Ter visto outros desenhos meus
Dela com esse instrumento nas mãos.
Uma vez ela me perguntou se eu
Sabia a diferença entre uma
Moça de Cabaré e uma prostituta,
Eu disse que não sabia,
E ela me respondeu com um frase,
Que era cheia de palavrões e de
Termos não muito comuns mas que
Poderia ser traduzida como:
"Uma prostituta vende o corpo, uma moça de Cabaré vende sonhos, no cabaré as mulheres se transformam em Deusas, sabem fingir e sabem fazer qualquer um acreditar nas fantasias que elas inventam".
Isso significa básicamente que
As prostitutas trabalham na rua
A fazem sexo por dinheiro, porém
As moças de Cabaré tinham dotes e
Talentos para entreter os clientes de
Modo a ganhar muito mais que
Meras prostitutas.
Dentro do Cabaré além de luxúria
Existía também "Arte".
É por isso que as prostitutas morriam
Na sarjeta, doentes, desdentadas,
Apodrecendo ao relento
Enquanto as moças de Cabaré se
Tornavam ricas e com as fortunas
Que ganhavam na mocidade elas
Garantiam a velhice.
A história da vida dessa Padilha
É muito longa, contarei outro dia,
Ja que daria um livro se eu reunisse
Tudo que ela me narrou.
Hoje vou relatar somente o episódio
Do "Violino de Satanás".
Leiam:
Padilha era dona de um Cabaré,
Um palacete que havia herdado
De Quitéria, a cafetina mais velha.
Dentro deste Cabaré todas as moças
Tinham algum talento,
Era quesito obrigatório ter alguma
Particularidade além
Da simples beleza.
Sete Saias dançava divinamente
Tanto o flamenco quanto as danças
Exóticas do oriente e
Era ovacionada pelos clientes quando
Dançava girando a saia sobre o palco.
Mulambo era uma cantora
Maravilhosa, normalmente era ótima
Mas quando bebia além da conta
Ficava com seu emocional aflorado
E como era totalmente descompensada
Encarnava dramalhões cantando
Com sua voz rouca fazendo caras
E bocas tão facinantes que deixavam
Qualquer um embasbacado.
Figueira se despia diante dos olhos
De todos, mas de um modo tão belo
Em movimento tão sutis que sua nudez
Não era levada em tom vulgar
E assim ela se tornava
Extremamente desejável.
Todas as dezenas de moças que
Passaram por aquele cabaré
Tinham algum talento.
Os Talentos da dona da casa
Eram muitos mas o mais apreciado
Era o seu violino.
Ela havia tomado aulas pois era uma
Moda em París, e no Brasil
Tudo o que vinha de París era chique
Portanto tocar violino era
Algo muito glamuroso,
Depois de aprender o suficiente
Ela encomendou de um luthier em
Paris um Violino feito especialmente
Para ela.
Padilha raramente se apresentava
Pois deixava sua arte para ser
Exibida apenas em datas importantes.
Sempre que subía ao palco era
Acompanhada pelos músicos em
Melodías alegres ou románticas.
Porém quando estava sozinha
Em seu quarto cheia de tristezas
Ela fazia o violino chorar.
Maria Padilha não chorava
Era forte, contida, não derramava
Lagrimas praticamente nunca.
E em suas tristeza mais profundas
Ela arranhava as cordas do violino
E todos que ouviam o
Som melancólico que dele saia
Sabiam que ela estava triste.
Muitas tristezas ela tinha
Sentía saudades da mãe
Que partiu muito cedo,
Sentia remorso pela irmã que ela
Não conseguiu evitar de cair na vida,
Sentia dor por ser uma meretriz
E sofrer tanto preconceito de toda
A sociedade,
E sentia solidão mesmo vivendo
Rodeada de pessoas,
E principalmente ela sentía falta
De amor.
Ela sofria calada por muitas dores
Que sentia em sua alma.
Ela era forte, sorria muito
Mas por dentro era triste.
Até que um dia ela conheceu
Um jovem rapaz.
Ora, isso foi bem antes dela conhecer
Tranca-Ruas, o rapaz em questão
Era outro.
Um menino sem malícia,
Trabalhador.
Ele conheceu Maria Padilha
Nas festas do Cabaré, e eles
Se apaixonaram um pelo outro.
Ele entrou ali por engano
Sendo que na verdade não tinha
Um tostão para gastar,
E ao quase ser expulso por estar
Terrivelmente descomposto
Ele conheceu a Dona do Cabaré
E para ela contou a história de sua vida.
Uma amizade nasceu,
Um carinho forte e em seguida
A paixão.
Ele não era bonito nem tinha
Nenhum traço físico fora do comum,
Mas a personalidade dele
Era encantadora.
Porém havia outro cliente que
Também estava caido de amores
Por Maria Padilha.
Este segundo Cliente era um homem
Sem limites, de meia idade,
Um violento Jagunço.
Ele tentava de todos os modos
Agradar Maria Padilha mas
Ela não dava a menor atenção.
Padilha Passava todos o seu tempo
Livre junto com o rapaz,
Um amor doce, algo que ela
Nunca tinha vivido.
Ele amava ouvir o som do violino,
Como era pobre e sem nenhuma
Instrução ele nunca antes tinha tido
A chance de se aproximar de arte.
O violino o encantava e ela
Tocava para ele sempre que podia.
Era algo de valor inestimável para
Ela ver o sorriso ingênuo dele.
Durante todo o tempo do romance
O violino só tocou músicas alegres,
Não mais chorou nas madrugadas.
Foi então que o Jagunço soube
Desse romance.
O jovem rapaz trabalhava em
Lavouras, uma das fazendas
Era a mesma que o Jagunço
Trabalhava fazendo a segurança
Do dono.
Um dia o Padilha marcou um encontro
Com o rapaz mas ele não apareceu.
Desconfiada, ela mandou sondar
O que havia acontecido com ele,
E descobriu que o Jagunço o havia
Espancado, ele estava acamado
Cheio de ferimentos graves.
De noite ela foi visita-lo, e ele
Contou para a ela que o motivo
Da surra havia sido o ciúme do Jagunço.
Padilha sabía o quão covarde são
A maioria dos homens,
E temendo pela vida do rapaz
O levou para o Cabaré,
Lá ele estaria seguro.
No Cabaré a maioria das moças
Sabia se defender perfeitamente
E elas ainda contavam com alguns
Homens que serviam de
Leão de cháchara para zelar a casa.
Ela cuidou dele por semanas
Até reestabelecer totalmente o corpo.
Porém, as moças do Cabaré eram
Muito faladeiras e logo o Jagunço
Soube que o rapaz estava lá
Sendo cuidado por Maria Padilha.
Em uma Noite quando o Cabaré abriu
Todos os clientes estavam nas mesas
E no bar assistindo as apresentações
Das moças e escolhendo qual delas
Iriam pagar para "subir as escadas"
Com eles.
Maria Padilha estava andando
No meio do salão fiscalizando tudo
O que acontecia, pois ela era
Responsável pelo bom andamento
De tudo ali dentro,
E mesmo que ja não pudesse ser
Comprada por ninguém
Haviam clientes que vinham
De longe somente para ve-la
E ter um dedo de prosa com ela.
Em um momento de distração o
Jagunço entrou na casa pelos fundos
E foi até o quarto principal onde o
Rapaz estava descansando.
A apresentação de música e dança
No Cabaré foi interrompida pelo
Som do tiro, o balaço que o
Desgraçado deu no peito do jovem.
Todos se assustaram, Padilha subiu
As escadas correndo
E viu a cena, o jovem morto
Em sua cama e o assassino em pé
Com a arma na mão.
Antes que o Jagunço pudesse recarregar
A garrucha ela apanhou o
Punhal que trazia entre os seios
E cortou a garganta dele.
Este foi mais um entre os muitos
Que ela matou.
Depois desse dia o violino voltou
A chorar de madrugada
E ela sempre a cantar
"Chora violino chora...
Chora de saudade e dor...
Chora violino chora...
Eu perdi o meu grande amor... Violino
Vai violino vai...
Violino vai... vai tocar pro Satanás..."
O rapaz que morreu não era o
Grande amor da vida dela,
Esse seria Tranca Ruas que ela
Ainda viria a conhecer.
Mas o rapaz entregou a ela
O coração, ele dedicou a ela
Amor sincero mesmo sabendo
Que ela era uma cafetina
Por isso ele foi um marco na vida.
Depois da morte dele ela nunca
Mais tocou violino no palco do Cabaré
Apenas tocava sozinha em
No quarto quando se lembrava
Do sorriso ingênuo dele.
Muitas coisas aconteceram na vida
De Maria Padilha das almas
Tanto antes quanto depois desta história.
Está é a Pombagira que mais conheço,
Sei mais dela do que da Sete Saias
Que carrego, e por isto esta é a UNICA
Padilha que eu desenho à público.
Saravá a Maria Padilha das Almas!
O Cemitério é o teu lugar...
É no buraco que a Padilha mora,
É na Kalunga que a Padilha vai girar..."
Maria Padilha das Almas foi a
Primeira Pombagira que conheci
E a primeira com a qual tive intimidade.
A história que vou contar é apenas
Uma das muitas que ela me contou,
É sem dúvida a minha preferida
Pois fala do seu violino, e quem
Acompanha meu trabalho ja deve
Ter visto outros desenhos meus
Dela com esse instrumento nas mãos.
Uma vez ela me perguntou se eu
Sabia a diferença entre uma
Moça de Cabaré e uma prostituta,
Eu disse que não sabia,
E ela me respondeu com um frase,
Que era cheia de palavrões e de
Termos não muito comuns mas que
Poderia ser traduzida como:
"Uma prostituta vende o corpo, uma moça de Cabaré vende sonhos, no cabaré as mulheres se transformam em Deusas, sabem fingir e sabem fazer qualquer um acreditar nas fantasias que elas inventam".
Isso significa básicamente que
As prostitutas trabalham na rua
A fazem sexo por dinheiro, porém
As moças de Cabaré tinham dotes e
Talentos para entreter os clientes de
Modo a ganhar muito mais que
Meras prostitutas.
Dentro do Cabaré além de luxúria
Existía também "Arte".
É por isso que as prostitutas morriam
Na sarjeta, doentes, desdentadas,
Apodrecendo ao relento
Enquanto as moças de Cabaré se
Tornavam ricas e com as fortunas
Que ganhavam na mocidade elas
Garantiam a velhice.
A história da vida dessa Padilha
É muito longa, contarei outro dia,
Ja que daria um livro se eu reunisse
Tudo que ela me narrou.
Hoje vou relatar somente o episódio
Do "Violino de Satanás".
Leiam:
Padilha era dona de um Cabaré,
Um palacete que havia herdado
De Quitéria, a cafetina mais velha.
Dentro deste Cabaré todas as moças
Tinham algum talento,
Era quesito obrigatório ter alguma
Particularidade além
Da simples beleza.
Sete Saias dançava divinamente
Tanto o flamenco quanto as danças
Exóticas do oriente e
Era ovacionada pelos clientes quando
Dançava girando a saia sobre o palco.
Mulambo era uma cantora
Maravilhosa, normalmente era ótima
Mas quando bebia além da conta
Ficava com seu emocional aflorado
E como era totalmente descompensada
Encarnava dramalhões cantando
Com sua voz rouca fazendo caras
E bocas tão facinantes que deixavam
Qualquer um embasbacado.
Figueira se despia diante dos olhos
De todos, mas de um modo tão belo
Em movimento tão sutis que sua nudez
Não era levada em tom vulgar
E assim ela se tornava
Extremamente desejável.
Todas as dezenas de moças que
Passaram por aquele cabaré
Tinham algum talento.
Os Talentos da dona da casa
Eram muitos mas o mais apreciado
Era o seu violino.
Ela havia tomado aulas pois era uma
Moda em París, e no Brasil
Tudo o que vinha de París era chique
Portanto tocar violino era
Algo muito glamuroso,
Depois de aprender o suficiente
Ela encomendou de um luthier em
Paris um Violino feito especialmente
Para ela.
Padilha raramente se apresentava
Pois deixava sua arte para ser
Exibida apenas em datas importantes.
Sempre que subía ao palco era
Acompanhada pelos músicos em
Melodías alegres ou románticas.
Porém quando estava sozinha
Em seu quarto cheia de tristezas
Ela fazia o violino chorar.
Maria Padilha não chorava
Era forte, contida, não derramava
Lagrimas praticamente nunca.
E em suas tristeza mais profundas
Ela arranhava as cordas do violino
E todos que ouviam o
Som melancólico que dele saia
Sabiam que ela estava triste.
Muitas tristezas ela tinha
Sentía saudades da mãe
Que partiu muito cedo,
Sentia remorso pela irmã que ela
Não conseguiu evitar de cair na vida,
Sentia dor por ser uma meretriz
E sofrer tanto preconceito de toda
A sociedade,
E sentia solidão mesmo vivendo
Rodeada de pessoas,
E principalmente ela sentía falta
De amor.
Ela sofria calada por muitas dores
Que sentia em sua alma.
Ela era forte, sorria muito
Mas por dentro era triste.
Até que um dia ela conheceu
Um jovem rapaz.
Ora, isso foi bem antes dela conhecer
Tranca-Ruas, o rapaz em questão
Era outro.
Um menino sem malícia,
Trabalhador.
Ele conheceu Maria Padilha
Nas festas do Cabaré, e eles
Se apaixonaram um pelo outro.
Ele entrou ali por engano
Sendo que na verdade não tinha
Um tostão para gastar,
E ao quase ser expulso por estar
Terrivelmente descomposto
Ele conheceu a Dona do Cabaré
E para ela contou a história de sua vida.
Uma amizade nasceu,
Um carinho forte e em seguida
A paixão.
Ele não era bonito nem tinha
Nenhum traço físico fora do comum,
Mas a personalidade dele
Era encantadora.
Porém havia outro cliente que
Também estava caido de amores
Por Maria Padilha.
Este segundo Cliente era um homem
Sem limites, de meia idade,
Um violento Jagunço.
Ele tentava de todos os modos
Agradar Maria Padilha mas
Ela não dava a menor atenção.
Padilha Passava todos o seu tempo
Livre junto com o rapaz,
Um amor doce, algo que ela
Nunca tinha vivido.
Ele amava ouvir o som do violino,
Como era pobre e sem nenhuma
Instrução ele nunca antes tinha tido
A chance de se aproximar de arte.
O violino o encantava e ela
Tocava para ele sempre que podia.
Era algo de valor inestimável para
Ela ver o sorriso ingênuo dele.
Durante todo o tempo do romance
O violino só tocou músicas alegres,
Não mais chorou nas madrugadas.
Foi então que o Jagunço soube
Desse romance.
O jovem rapaz trabalhava em
Lavouras, uma das fazendas
Era a mesma que o Jagunço
Trabalhava fazendo a segurança
Do dono.
Um dia o Padilha marcou um encontro
Com o rapaz mas ele não apareceu.
Desconfiada, ela mandou sondar
O que havia acontecido com ele,
E descobriu que o Jagunço o havia
Espancado, ele estava acamado
Cheio de ferimentos graves.
De noite ela foi visita-lo, e ele
Contou para a ela que o motivo
Da surra havia sido o ciúme do Jagunço.
Padilha sabía o quão covarde são
A maioria dos homens,
E temendo pela vida do rapaz
O levou para o Cabaré,
Lá ele estaria seguro.
No Cabaré a maioria das moças
Sabia se defender perfeitamente
E elas ainda contavam com alguns
Homens que serviam de
Leão de cháchara para zelar a casa.
Ela cuidou dele por semanas
Até reestabelecer totalmente o corpo.
Porém, as moças do Cabaré eram
Muito faladeiras e logo o Jagunço
Soube que o rapaz estava lá
Sendo cuidado por Maria Padilha.
Em uma Noite quando o Cabaré abriu
Todos os clientes estavam nas mesas
E no bar assistindo as apresentações
Das moças e escolhendo qual delas
Iriam pagar para "subir as escadas"
Com eles.
Maria Padilha estava andando
No meio do salão fiscalizando tudo
O que acontecia, pois ela era
Responsável pelo bom andamento
De tudo ali dentro,
E mesmo que ja não pudesse ser
Comprada por ninguém
Haviam clientes que vinham
De longe somente para ve-la
E ter um dedo de prosa com ela.
Em um momento de distração o
Jagunço entrou na casa pelos fundos
E foi até o quarto principal onde o
Rapaz estava descansando.
A apresentação de música e dança
No Cabaré foi interrompida pelo
Som do tiro, o balaço que o
Desgraçado deu no peito do jovem.
Todos se assustaram, Padilha subiu
As escadas correndo
E viu a cena, o jovem morto
Em sua cama e o assassino em pé
Com a arma na mão.
Antes que o Jagunço pudesse recarregar
A garrucha ela apanhou o
Punhal que trazia entre os seios
E cortou a garganta dele.
Este foi mais um entre os muitos
Que ela matou.
Depois desse dia o violino voltou
A chorar de madrugada
E ela sempre a cantar
"Chora violino chora...
Chora de saudade e dor...
Chora violino chora...
Eu perdi o meu grande amor... Violino
Vai violino vai...
Violino vai... vai tocar pro Satanás..."
O rapaz que morreu não era o
Grande amor da vida dela,
Esse seria Tranca Ruas que ela
Ainda viria a conhecer.
Mas o rapaz entregou a ela
O coração, ele dedicou a ela
Amor sincero mesmo sabendo
Que ela era uma cafetina
Por isso ele foi um marco na vida.
Depois da morte dele ela nunca
Mais tocou violino no palco do Cabaré
Apenas tocava sozinha em
No quarto quando se lembrava
Do sorriso ingênuo dele.
Muitas coisas aconteceram na vida
De Maria Padilha das almas
Tanto antes quanto depois desta história.
Está é a Pombagira que mais conheço,
Sei mais dela do que da Sete Saias
Que carrego, e por isto esta é a UNICA
Padilha que eu desenho à público.
Saravá a Maria Padilha das Almas!