sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

O que realmente são os Eguns?

 

O que realmente são os Eguns?

eguns

Falaremos um pouco de Egun, lembrando que apenas uma divindade conheceu o mundo como os homens conhecem e apenas Ele esteve e voltou do mundo dos mortos e é por isso que é chamado de “Rei do Mundo”, segundo a Cabala e os Itans mais profundos, ligados aos arcanos da Morte, do Mundo e do Julgamento, Ogbé-Fun, Ireté-Iwonrin, e outros. Mas isso é Awo, como se diz na linguagem do santo, é coisa a ser compreendida dentro dos templos e através da iniciação e não em cursos de final de semana e em “faculdades” de Umbanda, como se Umbanda e religiões afro-brasileiras se aprendessem em academias.

 A ideia geral e corrente de Egun (que entre os Bantu são chamados de Vumbi) é a de um espírito desencarnado, o que nos remete, obviamente, a relacionar Caboclos, Pretos Velhos e Crianças como Eguns. Realmente eles o são e é aí que a confusão começa, já que muitas pessoas relacionam os Eguns tão somente a espíritos atrasados. Esta é apenas uma das classes de Eguns, genericamente espíritos ancestrais de várias categorias. Poucos sabem que nas tradições antigas existiam TRÊS categorias de Eguns, ou espíritos ancestrais ligados aos homens e ao caminho da civilização em seus vários níveis:

1) Os Baba Egun, que são os antepassados ilustres,aqueles que já conhecem o “outro lado” e já possuem uma posição definida no mundo astral, senhores de raça, de civilizações e de grupos humanos antigos. Estes são os que podem ser identificados – até certo grau, e acima de certa fronteira – como nossos Caboclos, Pais Velhos e Crianças e podem até mesmo ser assentados com o rito correto, com seus fundamentos de louça, de madeira nobre (cedro e outras) e seus objetos de poder. Nota: os Egun Apaaraká são a representação ritual dos Eguns que não falam e que não possuem suas bandeiras de identificação (os Bantés), mas se tornam, um dia, Baba Eguns. Traduzem apenas um momento da iniciação ainda não completa do Culto Lexé Egun.

2) Os Egun Oku Orun, chamados de cidadãos do Orun. São os espíritos de pessoas simples desencarnadas, que não foram condutores de raça, nem antigos responsáveis por grupos humanos. São como eu e você, que, ao desencarnarmos e chegarnos no mundo astral, somos direcionados para esta ou aquela função, embora saibamos nossa colocação momentânea no universo, etc. São aqueles que podem ser cultuados com o fundamento da telha e da madeira.

3) Egun Oku Ayê ou Iwin: estes, sim, são aqueles que não saíram da órbita do planeta (em geral ficam presos em uma dimensão conhecida pelos antigos como Orunapadi), são chamados de cidadãos da terra, ou seja, são estes que vagam sem rumo, que ainda estão presos em redes negativas de emanações afeitas à paixão, à doença e a todas as mazelas humanas. Podem ser maléficos ou não, mas sempre são prejudiciais e se agrupam em falanges sem noção de sua condição no universo astral. Muitos acreditam que ainda estão vivos, outros sabem disso e se ligam a encarnados visando sugar-lhes a vitalidade. São conhecidos também como Kiumbas em língua Quicongo ou ainda são chamados de Arajés ou Ajaguns. Possuem o fundamento da bigorna e das tábuas de sangue, da corda e da corrente.

Estas três categorias se subdividem em mais três cada uma, no MISTÉRIO DAS ALMAS, que vai das Almas Glorificadas às Almas Penadas, Sofridas e Desesperadas do nono degrau, finalmente concretizando a escada das almas (ou na escada de Kitembu), símbolo máximo de Iansa, mãe dos nove Orun.

Há ainda a representação dos Esa, divindades coletivas e as Aku, que são as ancestrais femininas, perigosíssimas, que “nascem” (voltam!) dentro da casa onde está assentada as Iya-mi. Os Esa são invocados e cultuados em diversas situações, especialmente no padê, e no axexê quando é constituído o assentamento de um adoxu ou dignatário ilustre falecido. O assento de Esa se caracteriza pela representação da existência genérica, e o Egungun pela representação do espírito individualizado, o Egungun se caracteriza pela aparição no aiyê. Os Esa e as Aku são invocados no ipadê nos códigos dos cânticos. Com estes dois fundamentos o 11 da força está completo. Obs: Fundamentos da Tradição do Tambor. Ayóòn Lòónan.

 

William de Ayrá (Obashanan)