O Oráculo de Biage
Conta um mito, que havia um adivinho chamado Biage, ele tinha um filho chamado Adiatoto, a quem ensinara seu maior segredo, a arte de atirar os cocos para a divinação. Na casa de Biage havia outros meninos, crianças que o obedeciam como pai e que ele considerava como seus próprios filhos. Todos se tinham como irmãos, mas Adiatoto, que era o mais novo, era seu único filho verdadeiro. Quando Biage morreu, todos aqueles filhos adotivos lhe roubaram tudo o quanto tinha, e seu filho, Adiatoto, ficou passando muitas dificuldades. Tempos depois, o Oba, Rei do Povo, quis averiguar a quem pertencia aqueles terrenos e mandou consultar por seus donos. Apareceram muitos supostos, os filhos adotivos declararam que os terreno lhes pertenciam, mas não tinham prova que os creditassem e que constituía o segredo.
O Rei se viu obrigado a publicar através de seus porta-vozes o direito que tinha quem apresentasse as provas. Adiatoto teve notícias de que o andavam procurando. Ao apresentar-se pediram-lhe as provas, e como somente ele era o único que sabia, porque seu pai o havia ensinado, disse: “Isso é meu. Irei aos muros que dividem as terras e atirarei os cocos ao chão, se caírem de boca para cima, essa é aprova que meu pai ensinou.”
Assim foi, ao atirar os cocos, todos responderam com Aláfia, então o Rei fez entregar para ele todos os terrenos que foram usurpados pelos falsos filhos de Biage.
O Oráculo de Biage constitui um método prático e fácil de adivinhação, porém muito profundo em essência, nos traz uma base sólida e segura e pode ser muito abrangente. Embora seus fundamentos sejam pouco conhecidos no Brasil, onde é utilizado apenas para fins de confirmação, o Biage-Ifá é rico em possibilidades e compõe-se de métodos que variam em grau de complexidade, sendo usado para obter-se respostas e soluções rápidas a respeito dos assuntos, sozinho ou como auxiliar no Merindilogun ou no Sistema de Ifá.
O Biage é consultado através de quatro objetos, a princípio pedaços de cocos ou obis, com um lado côncavo e outro convexo, ou que representem um aberto e outro fechado. Comumente usa-se búzios. A sorte é tirada lançando-os sobre o chão ou um tabuleiro de madeira com sinais apropriados.
É certo que não queremos lançar fundamentos sobre coisas veladas da nossa tradição, esses conhecimentos foram adquiridos através da vivência, ensinanentos e desenvolvimento alcançados junto de Mestre Obashanan, portanto… Então vou citar, sucintamente, sobre cada uma das 5 caídas dos objetos:
Aláfia – 4 abertos
Aláfia é a expressão máxima da positividade, significa alegria.
Otawa – 3 abertos e 1 fechado
Otawa responde positivamente, porém sugere que há algo em haver ou que se faça algo para alcançar o que deseja. Indica que terá que desprender certo esforço.
Ejifé – 2 abertos e 2 fechados
Dentre todas as caídas, essa é a mais segura. Indica segurança e equilíbrio.
Okanasode – 1 aberto e 3 fechados
Okanasode responde negativamente, é um presságio ruim. Indica decadência ou que o fim de um ciclo está próximo.
Oyeku – 4 fechados
Oyeku é a expressão máxima da negatividade, é um presságio de morte ou o final de um ciclo.
Cada uma dessas caídas ainda pode ser interpretada de 16 de formas diferentes, de acordo com a figura que formar quando cair, a isso, chamamos de Apere. Essas formas representam as características das 16 Divindades principais por onde todo o Sistema de Ifá se desdobra, e tem relação direta com os Odus. A maneira como isso acontece será assunto para o próximo artigo.
Saravá!
Aralotum – discípulo de Mestre Obashanan