As Três Forças Fundamentais e Naturais
Buscando uma relação entre as formas de apresentação na Umbanda: Criança, Caboclo e Pai Velho, com a forma de apresentação digamos superior na encantaria: Marinheiro, Baiano e Boiadeiro, interagindo com os aspectos científicos, filosóficos e religiosos, percebemos uma total simetria, seja através do aprofundamento dos conceitos em qualquer campo de análise, até a exteriorização da forma de apresentação e sua atuação no meio.
ASPECTOS CIENTÍFICOS
O que é uma força fundamental?
Uma força fundamental é um mecanismo pelo qual as partículas interagem mutuamente, e que não pode ser explicado por nenhuma força mais fundamental.
Cada fenômeno físico observado, desde uma colisão de galáxias até quarks agitando-se dentro de um próton, pode ser explicado por estas interações.
Quais são as três forças fundamentais?
Eletromagnetismo: É a força que atua entre partículas carregadas. Estas incluem força eletrostática, atuando entre cargas em repouso, e o efeito combinado das forças elétrica e magnética entre cargas em movimento relativo. Uma força de longo alcance que é relativamente forte, e além disto está presente na maioria de nossos fenômenos diários — uma gama de fenômenos que vão desde o laser e o rádio, à estrutura dos átomos e o arco-íris.
Força Nuclear Fraca: A força fraca, também chamada de força nuclear fraca, é uma das forças que atua no interior do núcleo atômico. Vemos então, surpreendentemente, que duas forças atuam no interior do núcleo atômico: a força nuclear forte e a força nuclear fraca. É a força que cinde as partículas.
Força Nuclear Forte: A estabilidade nuclear está associada à força forte. Se ela não existisse, os núcleos atômicos não existiriam pois é ela que mantém o núcleo unido. Na ausência da força forte, a força dominante no núcleo seria a interação eletromagnética. Como os prótons possuem a mesma carga positiva, eles sofreriam uma intensa repulsão que provocaria o seu rápido afastamento impedindo que eles se aglutinassem para, juntamente com os nêutrons, produzirem os núcleos. E, obviamente, se os núcleos atômicos não existissem, os átomos não existiriam, nem as moléculas (que são formadas por átomos).
Deste modo, os seres humanos, que são formados por moléculas, também não existiriam. Pior ainda, se a força forte não existisse a matéria que forma o Universo, tal como o conhecemos, também não existiria uma vez que até mesmo os prótons e os nêutrons não conseguiriam se formar. Sendo que os prótons e nêutrons são formados por quarks e a interação entre os quarks se dá por meio da força forte.
A Gravidade ou gravitação é a curvatura do espaço-tempo (composta da dilatação gravitacional do tempo e da curvatura do espaço). Daí não a consideramos como força fundamental, e sim como reação a combinação de outras forças mais fundamentais.
ASPECTOS FILOSÓFICOS E RELIGIOSOS DO HINDUÍSMO
Os três Gunas – Sattwa, Rajas e Tamas – são considerados como as qualidades fundamentais da natureza, ou Prakriti. Para podermos compreender isso plenamente, temos de examinar a interpretação hindu da criação e da dissolução do universo.
Diz-se que de tempos em tempos o universo se dissolve e depois é recriado. Quando ele está em sua fase não-definida, não manifestada, ele permanece em um estado latente no decorrer de um certo período. Durante este tempo, os Gunas encontram-se em um estado de absoluto equilíbrio, e Prakriti ou a natureza material, não se manifesta. Enquanto os Gunas permanecem não-definidos, Prakriti continua indefinido e o universo existe apenas em um estado potencial.
Tudo que existe é consciência, o Ser Puro ilimitado (Purusha) e não-manifestado, Brahma, o Absoluto Imutável, que não tem começo nem fim.
Logo que o equilíbrio é perturbado, tem início a recriação do universo. A partir da consciência imutável, o universo, em constante transformação, é mais uma vez criado. Os Gunas participam de uma enorme variedade de combinações e permutações, em que um ou outro predomina sobre os restantes. Isso dá origem à interminável variedade de fenômenos físicos e mentais que formam o mundo que vivenciamos.
Os Gunas são às vezes descritos como energias, outras vezes como qualidades ou forças. Eles representam um triângulo de forças simultaneamente opostas e complementares que governam tanto o universo físico quanto nossa personalidade e padrões de pensamento na vida do dia-a-dia, dando origem às nossas realizações ou fracassos, alegrias ou infelicidade, saúde ou doença. A qualidade de nossas ações dependem das Gunas.
Estes três atributos vinculam a alma ao corpo ou o espírito à matéria.
Sattwa:
– força criativa, a essência da forma que precisa se concretiza;
– harmonia, pura e imaculada;
– vincula a alma pelo amor ao conhecimento e a harmonia;
– pureza e tranquilidade.
Se Sattwa predomina, podemos ter momentos de inspiração, de afeto desinteressado, de alegria tranquila ou calma meditativa. Sattwa representa a pureza, a luz, a inteligência, o conhecimento, a satisfação, a clareza mental, a bondade, a compaixão e a cooperação. A calma e a paz prevalecem numa pessoa ou numa disposição de ânimo Sattwica. As qualidades da pessoa na qual Sattwa predomina incluem a coragem, a integridade, a pureza, a capacidade de perdoar e a ausência da paixão, da raiva e do ciúme. Esta pessoa é calma e feliz. Quando Sattwa domina, a mente torna-se firme como a chama de uma lamparina num local onde não há vento. A mente equilibrada ajuda tanto a atividade quanto a meditação, e aquele que é predominantemente Sattwico pode meditar com eficácia e é capaz de ter uma verdadeira concentração.
Rajas:
– a energia ou o poder por meio do qual o obstáculo é removido e a forma toma-se manifesta;
– ação;
– emoção;
– natureza passional;
– desejo que vincula a alma;
– incita a ação e leva ao renascimento;
– violência.
A pessoa com Rajas dominante nunca fica em paz. Rajas provoca explosões de raiva e gera um desejo intenso. Ele toma a pessoa inquieta e descontente, e dá origem a uma contínua atividade. A pessoa com Rajas dominante não consegue permanecer sentada, quieta; ela precisa ter sempre algo para fazer. A grande paixão é Rajas, assim como a agressividade, a ganância e a raiva também o são. Ao mesmo tempo, Rajas na sua expressão mais positiva, especialmente quando combinado com Sattwa, é responsável por uma atividade construtiva e criativa, pois gera energia, entusiasmo e coragem física.
A pessoa Rajásica adora o poder e os objetos dos sentidos. Ela se apresenta em constante atividade e anseia sempre por mais poder para ser capaz de dominar os outros; ela também é muito apegada às coisas materiais. A manifestação direta do Rajas dominante é a chama insaciável do desejo. Os desejos precisam ser satisfeitos, caso contrário a vida da pessoa toma-se deplorável! Quanto mais ela consegue satisfazer os desejos, mais ela quer. Ela sempre quer mais – um pouco mais, um pouco mais, um pouco mais… Ela conquista riqueza, poder, reputação e fama, mas nunca é suficiente.
Quando Rajas é intenso, ele encobre o conhecimento e torna-se inimigo da sabedoria. Sob a pressão de Rajas, o homem alimenta ganância, luxúria e raiva. Rajas ataca a pessoa através dos sentidos, da mente e do entendimento, iludindo a alma encarnada. Para que a pessoa tenha uma vida proveitosa e paz de espírito, Rajas precisa ser apaziguado e equilibrado com Sattwa.
Tamas:
– solidez, imobilidade, resistência e da inércia;
– inércia, o obstáculo a concretização do Rajas;
– vincula a alma pelos laços de negligencia, apatia e preguiça;
Tamas, é o atoleiro mental no qual afundamos sempre que Sattwa e Rajas deixam de prevalecer. Quando Tamas prevalece na nossa mente há pouco ânimo, externamos algumas das nossas piores características: preguiça, burrice, obstinação e um desespero forte e profundo. Tamas é frequentemente descrito como a escuridão e a inércia.
O desamparo, o embotamento, a confusão, a resistência e a ignorância também são características de Tamas. Quando ele domina, a mente pode ficar esquecida, sonolenta, apática e incapaz de qualquer ação ou pensamento proveitoso.
A pessoa dominada por Tamas pode se parecer mais com um animal do que com um ser humano; sem poder fazer um julgamento claro, ela pode deixar de distinguir entre o certo e o errado. Como um animal, ela viverá para si mesma e poderá ferir os outros para satisfazer seus desejos. Na sua ignorância e cegueira, ela poderá praticar ações perversas.
Exemplo:
Suponhamos que um escultor deseje criar na pedra uma estátua do Senhor Krishna:
- A ideia da estátua, a forma que o artista vê em sua imaginação, o impulso criativo e a imagem são inspirados por Sattwa.
- O mármore representa Tamas, a solidez sem forma, o obstáculo que precisa ser superado. Como também o próprio escultor também pode encerrar um elemento de Tamas. Ele pode pensar: “Estou cansado; por que eu deveria trabalhar tanto? Isto é difícil demais! Acho que vou fazer algo mais fácil.” Mas aqui a força de Rajas vem em sua ajuda.
- O Rajas se manifesta na energia e na vontade do escultor, por meio das quais ele vence na sua mente a letargia Tamásica e a inércia sólida da pedra. Rajas também inspira o esforço físico e muscular que ele aplica ao trabalho.
Então temos uma quantidade suficiente de Rajas gerada, o obstáculo de Tamas foi superado e a forma ideal concebida por Sattwa foi criada no bloco de granito.
Este exemplo demonstra que os três Gunas são necessários para qualquer ação criativa.
Sattwa, sozinho, seria apenas uma ideia não concretizada, Rajas sem Sattwa seria uma mera energia não direcionada; Rajas sem Tamas seria como uma alavanca sem um fulcro (apoio, amparo, sentido); e Tamas sozinho seria a inércia
Os três Gunas estão presentes em tudo, mas um deles sempre predomina. Sattwa prevalece à luz do sol, Rajas num vulcão em erupção e Tamas num bloco de pedra.
Na nossa mente, os Gunas se apresentam num relacionamento que muda com rapidez. Deste modo, experimentamos disposições de ânimo diferentes durante o dia.
Abaçuara
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REFERÊNCIAS:
The Character of Physical Law – Richard P. Feynman.
The First Three Minutes: A Modern View of the Origin of the Universe – S. Weinberg.
Bhagavad Gita – A Mensagem do Mestre – Editora Pensamento