O Caminho da Iluminação

Queridos Amigos, falaremos, hoje, um pouco sobre nossa constituição tríplice fazendo algumas correlações com a Doutrina do Tríplice Caminho e com as 03 jóias do budismo. No decorrer do texto demonstraremos a importância da vivência templária, sendo esta vivência imprescindível para a construção do conhecimento e para o crescimento indivudual e coletivo.

Aproveitamos o ensejo para demonstrar a relação existente ente a nossa tríplice constituição e suas relações com a Doutrina do Tríplice Caminho, bem como demonstrar que na dialética da vida de um Templo Umbandista esses fatores são trabalhados, lapidados e vivenciados por todos, além de relacionar tudo isto às 03 jóias do budismo que são: Buddha, Dharma e Sangha. Passemos aos nossos apontamentos.

Sabemos que temos uma constituição tríplice, ou seja, todos nós temos um Organismo Mental, um Organismo Astral e um Organismo Físico. Todos os seres humanos pensam, sentem e agem. Assim, quando o espírito adentrou na Matéria (Universo Astral – Reino Natural) através das agregações que constituíram o que conhecemos por alma, foi necessário organizar esta matéria, que era caótica, para que o espírito se manifestasse.

Dessa organização surgiram os três organismos supracitados.

1. O Organismo Mental: é a sede dos pensamentos, o campo das ideias (lembrando que a ideia é algo abstrato). “Dois”, por exemplo, é uma ideia (algo abstrato) que se concretiza com sua expressão, sua representação que pode ser o algarismo dois (2 ou II), duas laranjas, duas maçãs etc.
2. O Organismo Astral: é a sede dos sentimentos, das emoções que, por sua vez, também são abstratos. Os sentimentos são demonstrados (concretizados, expressados ou representados) através de atos, atitudes etc. Podendo ou não, quando de sua expressão, passar pelo campo da intelecção, por ser possível às pessoas expressarem sentimentos e emoções quase que de forma inconsciente. Agindo de forma totalmente emocional ou passional e não racional e, às vezes, até instintiva (como o instinto de sobrevivência, por exemplo).
3. O Organismo Físico: trata-se do corpo físico propriamente dito, veículo pelo qual o espírito se vale através do organismo mental e astral para realizar, concretizar, vivenciar e esgotar suas vontades.Dentro da vivência templária o que se busca promover é o equilíbrio entre esses três corpos; Mental, Astral e Físico para que assim as pessoas tenham uma melhor qualidade de vida.

   O que se busca, portanto, é promover o equilíbrio entre pensamentos, sentimentos e ações, com a finalidade de que se possa ‘construir’ coisas positivas em nossas vidas e na comunidade. Para tanto, dentro da vivência Templária o equilíbrio destes Organismos se dá através do desenvolvimento das Doutrinas: Tântrica, Mântrica e Yântrica. Vejamos o que vêm a ser estas doutrinas:

   1. A Doutrina Tântrica está relacionada ao equilíbrio e sublimação do Organismo Mental no Homem. Corresponde à Luz. Sabedoria;
   2. A Doutrina Mântrica está relacionada ao equilíbrio e sublimação do Organismo Astral no Homem. Corresponde ao Som. Sentimento e;
   3. A Doutrina Yântrica está relacionada ao equilíbrio e sublimação do Organismo Etéreo-físico. Corresponde ao Movimento. Atividade.

   Essa Três Doutrinas ou Realidades estão inseridas em todos os acontecimentos dentro da vivência Templária, como por exemplo:

   Nos Ritos de atendimento público têm-se as giras de Criança, Caboclos, Pais-Velhos e Exú Guardião. Está aí representada a dialética da vida, vejamos:

   • O  Rito de Criança representando aquilo que é novo, a infância. Representa a Pureza; está relacionada com a Doutrina Mântrica.
   • O Rito de Caboclo representa a fase adulta, a maturidade, o momento em que o ser humano está totalmente ativo, fase de crescimento e conquistas. Representa o Movimento (a ação positiva capaz de crescer e conquistar); está relacionada à Doutrina Yântrica.
   • O Rito de Pai-Velho (Preto-Velho) representa a fase final da vida, momento em que o ser humano tem maior paciência e sabedoria. Representa a Luz; está relacionada à Doutrina Tântrica.
   • Por fim, o Rito de Exú Guardião representa a fase do inconsciente. Faz a ligação entre aquilo que é velho e aquilo que é novo. É a ponte de ligação entre o que acabou e o que vai reiniciar.Desse modo:
     1. A Doutrina Tântrica tem estreita relação com o equilíbrio, organização e desenvolvimento do Organismo Mental.
     2. A Doutrina Mântrica tem estreita relação com o equilíbrio, organização e desenvolvimento do Organismo Astral e;
     3. A Doutrina Yântrica tem estreita relação com o equilíbrio, organização e desenvolvimento do Organismo Etéreo-Fisico.

     Neste momento os leitores devem estar se perguntando: Aonde entra as 03 jóias do Budismo nisso tudo? Calma que chegaremos lá alinhavando todos estes conceitos e conhecimentos com o fio de Ariadne para que o fruto de nosso trabalho seja auspicioso.

     O Budismo possui as ditas 03 jóias que são: Buddha, Dharma e Sangha. Vejamos do que se trata cada uma dessas 03 jóias, destes 03 conceitos que pegaremos emprestados para demonstrar que a Escola Umbandista trabalha todos os aspectos para proporcionar a evolução e crescimento Humanos à fim de que consigamos nos desvencilhar da Roda das Reencarnações. Vejamos do que se tratam essas três jóias:

     

     1. Buddha é a Iluminação.

     Segundo o conceito Budista:

     O Buddha é o homem desperto ou iluminado que tomou plena consciência do significado da vida e do caminho que liberta o ser humano do sofrimento. Tomamos refúgio no Buda por ser ele o Sábio, o Conhecedor de tudo, aquele que com sua Compaixão indica ao homem o Caminho que o aliviará da angústia e do sofrimento.

     2. Dharma é o Conhecimento.Segundo o conceito Budista:

        O Dharma é a Doutrina que expõe a Lei Suprema que fundamenta e rege toda a existência e que, quando compreendida e assimilada, liberta o homem do sofrimento e lhe proporciona a mais profunda e inquebrantável paz de espírito. Tomar refúgio no Dharma é assumir o compromisso de aprender com constância e assiduidade, ou seja, ser um Eterno Aprendiz.

        3. Sangha é a Comunidade.

        Segundo o conceito Budista:

        A Sangha é a Comunidade formada pelos fiéis discípulos do Buda, que vivem no seio da sociedade maior, em harmonia e fraternidade, respeitando a Vida, em todas suas manifestações, sempre assíduos em ouvir o Dharma e sempre prontos para transmitir sua fé, o amor e a compaixão aos demais.

        À Luz destes conceitos e, diante de tudo o que fora exposto até o momento, é fácil relacionar o que até agora foi apresentado. Para tanto, convido a todos para que, juntos, façamos a conclusão do presente apontamento.

        Vejamos, por conseguinte, a relação existente entre a nossa tríplice constituição e como ela se relaciona com a Doutrina do Tríplice Caminho e com as 03 jóias do Budismo.

        De fácil percepção que estas correlações se dão da seguinte forma:

        Organismo Mental – Doutrina Tântrica (Luz) – Buddha – Iluminação – Pai-Velho

        Organismo Astral – Doutrina Mântrica (Som) – Dharma – Conhecimento – Criança

        Organismo Físico – Doutrina Yântrica (Movimento) – Sangha – Comunidade – Caboclo

        O desenvolvimento das Doutrinas Tântrica, Mântrica e Yântrica, assim como as 03 jóias do Budismo são conceitos que, dentro do quotidiano Templário extrapolam a teoria, pois tais ensinamentos e doutrinas permeiam tudo o que lá se vive. O conhecimento e a busca pelo despertar, a busca pelo equilíbrio são vivenciadas por todos individual e coletivamente.Deste modo, para se atingir a Iluminação é necessário que nos desvencilhemos de 03 ‘venenos’ primordiais dos quais decorrem todos os outros atributos negativos, ou seja, devemos nos desvencilhar da vaidade, do orgulho e da inação. Estes 03 ‘venenos’ são combatidos com a Amizade, o Amor e a Sabedoria.

        Na dialética Templária o sacerdote busca incutir isto na comunidade tanto em nível coletivo quanto em nível individual, pois uma de suas funções é despertar em cada um aquilo que ele tem dentro de si a fim de que cumpra sua missão.

        Assim, para se conquistar a Iluminação é necessária a construção da convivência comunitária, saber trabalhar não somente o “eu” e o “outro”, mas muito principalmente o “nós”. É necessário o conhecimento adquirido através da movimentação, do grupo que se une para atingir um determinado objetivo – Sangha – isto é o Yântra atuando e movimentando a coletividade. Despertando a todos do sono do espírito e conduzindo-os à movimentação (à dinâmica, ao trabalho) que ilumina e desperta.

        Para que essa movimentação gere seus efeitos positivos na trilha do despertar, para que esse movimento promova a união, é necessária a atuação do Dharma – o conhecimento necessário para que o trabalho seja produtivo, eficaz, auspicioso. O Dharma traz o conhecimento equilibrado, o bom senso, aquilo que já passou pela idealização e foi confirmado pelo sentimento puro (o sentimento desvencilhado do egoísmo, da inveja). O Dharma busca promover o equilíbrio entre Mente (Pensamento) e Coração (Sentimento) a fim de que a Ação (Movimento) seja positiva, benéfica para todos. Esta é a atuação do Mantra – o Som Sagrado que nos traz a grandeza e a pureza de sentimentos. Traz-nos a sublimação dos sentimentos.

        A busca desse crescimento espiritual, a busca da consciência de “si mesmo”, “do outro” e “do nós” deve ser almejada por todos . A Iluminação – Buddha – deve ser almejada por todos os que buscam o crescimento espiritual efetivo, pois assim beberemos da Fonte Sagrada que saciará nossa sede. Desta forma, estaremos dispostos a trabalhar para eliminar os 03 males supracitados que afligem a Humanidade, pois somente assim poderemos ser felizes e trilhar o caminho do despertar. Esta é a atuação do Tantra que traz Luz na Mente e no Coração. A Luz que Ilumina, a Luz que Desperta.Esta é a chama que nos alimenta, que nos sustém, para que estejamos abertos e receptivos aos ensinamentos do Sacerdote, aquele que nos traz a Luz que Desperta. A vivência Templária junto aos irmãos da comunidade e ao Sacerdote nos traz essa possibilidade real e efetiva de crescimento. O Sacerdote nos mostra o Caminho, cabe a nós trilhá-lo ou não, pois ele sempre estará lá para nos orientar e para despertar em nós a vontade de querer melhorar, de crescer para que, algum dia, em algum momento, nos tornemos iluminados.

        

        Com relação à importância acerca da vivência destas três realidades trazemos abaixo o seguinte mantra de louvação. Um mantra de Louvação ao Ancestral, ao Tríplice Caminho e às Três Jóias:

        Namo Gurubiê

        Namo Buddha ia

        Namo Dharma ia

        Namo Sangha ia

        Namo Gurubiê

        Namo Buddha ia

        Namo Dharma ia

        Namo Trehatna ia

        Este Mantra demonstra a importância de se louvar o Ancestral, bem como a importância de se buscar o auto-conhecimento através da Doutrina do Tríplice Caminho. Conceitos estes vividos dentro de um Templo Umbandista que busca proporcionar o crescimento espiritual à toda a comunidade.Com relação a esse despertar, a essa busca pelo crescimento e pela iluminação, gostaríamos, também, de relembrar um ponto de Ogum que, com seus clarins, chama à todos para o despertar espiritual.

        Lanceiros da minha Umbanda

        Ouvi os clarins de Ogum chamar

        Acordem meus guerreiros

        Ogum já está de ronda

        Ele é Orixá

        Ele é Beira-Mar

        Ele é Beira-Mar

        Está aí Ogum que, com seus clarins, chama a todos para o despertar espiritual.

        Acreditamos, pelo exposto, que conseguimos demonstrar ser necessário para o desenvolvimento do Ser Humano que este desenvolvimento se dê de forma tríplice, ou seja, deve, o Homem, melhorar seus Pensamentos, seus Sentimentos e suas Ações. Essa melhora somente é conseguida quando se trabalha para desenvolver os Seres Humanos nesses três aspectos através da Doutrina do Tríplice Caminho, através do trabalho das 03 jóias do Budismo (conceito que, aqui, pegamos emprestado por expressar exatamente o que vivenciamos, haja vista serem conhecimentos transcendentais). O que ocorre efetivamente nos Templos Umbandistas.

        O Desenvolvimento de apenas um ou outro aspecto gera o desequilíbrio, pois:

        – Uma pessoa que se desenvolveu apenas intelectualmente se torna uma pessoa fria, uma pessoa que não se importa com o outro;

        – Uma pessoa que se desenvolveu apenas emocionalmente se torna uma pessoa passional que age apenas movida pelos impulsos sentimentais, uma pessoa que age no calor do momento sem pensar nas consequências de seus atos;– Uma pessoa que desenvolveu apenas sua ação, que concretiza coisas avidamente, sofre muito, pois muitas de suas realizações fracassarão por falta de serem pensadas (desenvolvidas intelectualmente) e sentidas (desenvolvidas emocionalmente).

        – Há, ainda, a pessoa que desenvolveu-se intelectual e emocionalmente, mas não concretiza nada. Tudo fica no campo das ideias e emoções, sem nenhuma concretização, o que gera a frustração.

        Daí a importância da convivência Templária com o Sacerdote e com a comunidade. O Sacerdote promove o desenvolvimento individual e coletivo. Oferecendo individualmente todo o substrato necessário para o crescimento pessoal de cada integrante do grupo, bem como oferece todo o aparato necessário para o desenvolvimento da coletividade, despertando no coletivo o sentimento de união, de que todos juntos podem mais do que cada um separadamente. Assim, o Sacerdote promove o crescimento individual e coletivo através do trabalho em relação aos seus três aspectos (pensamentos, sentimentos e ações).

        Destarte, decorre que da convivência Templária, da convivência com o Sacerdote, na dinâmica do Rito e, em todos os outros momentos do dia-a-dia da comunidade Templária, o Sacerdote proporciona o desenvolvimento da “inteligência ligada à Lingüística, a Matemática, a Cinético-Postural (relacionada à dança), a Intrapessoal (conhecimento Interno e análise do pensamento), a Interpessoal (comunicação e relacionamento através de gestos – base da interpretação e símbolos), a Musical e Espacial (relacionada a projeção no papel ou em alguma superfície plana as 3 dimensões básicas em perspectiva),a Inteligência emocional, o que já existe na Umbanda desde muito tempo, sob a ótica da Psicurgia, além da Inteligência Espiritual, como a matriz e origem das outras inteligências…”.

        Essa é a dialética que promove o crescimento individual e coletivo. O ambiente templário promove a construção de um Conhecimento, de um Saber que é “Vivo”, pois tudo ali não é aprendido somente lendo-se livros, mas é também vivenciado. O conhecimento que não é aplicado não tem nenhuma utilidade, mas o conhecimento que é aplicado, que é vivido, este sim, é a verdadeira sabedoria.

        Eis o caminho que nos conduzirá ao despertar!