NÃO EXISTE A MANEIRA CORRETA DE CANTAR UM PONTO
Não existe a maneira correta de cantar um ponto. Não há a forma verdadeira de tocar o atabaque. Cada terreiro possui as suas próprias variações dos toques e cantos. E não há nenhum problema nisso.
A Internet é um instrumento maravilhoso para todos nós. Coloca-nos à disposição os mais variados saberes e informações, ao mesmo que é capaz de conectar umbandistas de todo o planeta. No entanto, este movimento nos coloca dois problemas.
O primeiro acontece quando o indivíduo acredita que a Umbanda praticada em seu terreiro é o única correta e que todos os outros estão errados. E a mesma lógica ele aplica aos cânticos: se o ponto não for cantado do mesmo jeito que ele conhece não está certo.
O segundo problema se manifesta quando o praticante aprende algo na rede, compara com sua casa, e passa a dizer que seu terreiro está errado. Os mesmos para os pontos cantados: se não for usado as mesmas palavras e ritmos presentes nos vídeos do Youtube, ele rejeita.
É preciso entender que variações de ritmos e de pequenas palavras nos pontos cantados são um fato normal e natural. E esta grande diversidade faz parte do rico universo cultural da Umbanda. É uma tarefa vã e sem sucesso enfrentar esta dinâmica de nossa religião.
Ainda que se multipliquem cada dia mais os cursos sobre Umbanda, canais do Youtube, páginas, livros, blogs, a oralidade permanece como a fonte principal de transmissão dos saberes umbandísticos. E da boca de um para o ouvido de outro alguma coisa muda. Por mais que tente resistir a este processo, ele é inevitável. Não cantamos mais os pontos da mesma forma que os nossos mais velhos, e eles já não cantavam igual aos mais velhos de suas juventudes.
Vamos entender uma questão, qual é o objetivo da música no terreiro? O canto e os atabaques não “chamam” as entidades. Elas já se encontram lá antes mesmo do início dos trabalhos. E se por algum acaso não houver atabaques naquele dia, os guias incorporarão mesmo assim.
Isto não significa que não tenha importância os pontos cantando, muito pelo contrário. O som na Umbanda possui o poder de fazer o terreiro vibrar as energias dos Orixás e Guias. Em comunhão com os assentamentos, a força da corrente mediúnica e da espiritualidade presente, o axé é produzido, canalizado e distribuído, permitindo que as curas, libertações, aberturas de caminhos, quebras de demandas, entre outros, aconteçam.
E mais, a música disciplina os pensamentos do corpo mediúnico. O ponto riscado estimula imagens mentais, emoções elevadas, fé, devoção e concentração. Tudo isso gera uma enorme força coletiva que energiza o terreiro e todos presentes. Por este motivo, mais importante do que as pequenas variações de palavras e ritmos, é o sentimento que está no coração quando o tambor toca.
Chama nossa atenção o recente caso do ponto “dói dói dói/ um amor faz sofrer/ dois amor faz chorar". Quando uma única pessoa apareceu na internet dizendo que o correto seria “desamor faz chorar” espalhou-se na rede que todos estavam cantando errado, ainda que terreiros há décadas cantam a letra da mesma forma. E nisso perguntamos: quem de nós possui legitimidade para dizer que alguém está cantando incorretamente?
Se a caridade é realizada, se há fé, respeito e devoção, ninguém pode julgar a variação cantada de um ponto dentro de um terreiro. É claro que o bom senso deve estar presente, não vamos tocar a gira ao ritmo de bossa nova ou valsa, por exemplo. Porém, não percamos a essência de vista para discutir pequenos detalhes.
Saravá a todos!
Escrito por @umbandacomsimplicidade / Diego Paiva Pimentel
A Internet é um instrumento maravilhoso para todos nós. Coloca-nos à disposição os mais variados saberes e informações, ao mesmo que é capaz de conectar umbandistas de todo o planeta. No entanto, este movimento nos coloca dois problemas.
O primeiro acontece quando o indivíduo acredita que a Umbanda praticada em seu terreiro é o única correta e que todos os outros estão errados. E a mesma lógica ele aplica aos cânticos: se o ponto não for cantado do mesmo jeito que ele conhece não está certo.
O segundo problema se manifesta quando o praticante aprende algo na rede, compara com sua casa, e passa a dizer que seu terreiro está errado. Os mesmos para os pontos cantados: se não for usado as mesmas palavras e ritmos presentes nos vídeos do Youtube, ele rejeita.
É preciso entender que variações de ritmos e de pequenas palavras nos pontos cantados são um fato normal e natural. E esta grande diversidade faz parte do rico universo cultural da Umbanda. É uma tarefa vã e sem sucesso enfrentar esta dinâmica de nossa religião.
Ainda que se multipliquem cada dia mais os cursos sobre Umbanda, canais do Youtube, páginas, livros, blogs, a oralidade permanece como a fonte principal de transmissão dos saberes umbandísticos. E da boca de um para o ouvido de outro alguma coisa muda. Por mais que tente resistir a este processo, ele é inevitável. Não cantamos mais os pontos da mesma forma que os nossos mais velhos, e eles já não cantavam igual aos mais velhos de suas juventudes.
Vamos entender uma questão, qual é o objetivo da música no terreiro? O canto e os atabaques não “chamam” as entidades. Elas já se encontram lá antes mesmo do início dos trabalhos. E se por algum acaso não houver atabaques naquele dia, os guias incorporarão mesmo assim.
Isto não significa que não tenha importância os pontos cantando, muito pelo contrário. O som na Umbanda possui o poder de fazer o terreiro vibrar as energias dos Orixás e Guias. Em comunhão com os assentamentos, a força da corrente mediúnica e da espiritualidade presente, o axé é produzido, canalizado e distribuído, permitindo que as curas, libertações, aberturas de caminhos, quebras de demandas, entre outros, aconteçam.
E mais, a música disciplina os pensamentos do corpo mediúnico. O ponto riscado estimula imagens mentais, emoções elevadas, fé, devoção e concentração. Tudo isso gera uma enorme força coletiva que energiza o terreiro e todos presentes. Por este motivo, mais importante do que as pequenas variações de palavras e ritmos, é o sentimento que está no coração quando o tambor toca.
Chama nossa atenção o recente caso do ponto “dói dói dói/ um amor faz sofrer/ dois amor faz chorar". Quando uma única pessoa apareceu na internet dizendo que o correto seria “desamor faz chorar” espalhou-se na rede que todos estavam cantando errado, ainda que terreiros há décadas cantam a letra da mesma forma. E nisso perguntamos: quem de nós possui legitimidade para dizer que alguém está cantando incorretamente?
Se a caridade é realizada, se há fé, respeito e devoção, ninguém pode julgar a variação cantada de um ponto dentro de um terreiro. É claro que o bom senso deve estar presente, não vamos tocar a gira ao ritmo de bossa nova ou valsa, por exemplo. Porém, não percamos a essência de vista para discutir pequenos detalhes.
Saravá a todos!
Escrito por @umbandacomsimplicidade / Diego Paiva Pimentel