10 CURIOSIDADES SOBRE A UMBANDA.
Dia desses, durante uma aula dominical, percebi uma certa confusão entre meus alunos sobre esta religião, por isso resolvi escrever o post, mesmo não querendo revisitar o assunto.
Antes, informo que a lista abaixo não faz apologia ou tenta denegrir a crença alheia. São apenas curiosidades dessa religião que se iniciou nas senzalas.
10. A Umbanda é a mistura de várias religiões.
Recebe o nome de Umbanda um dos vários cultos religiosos sincréticos (que procura conciliar diversas doutrinas) surgidos no Brasil, fruto do contato dos diferentes povos que contribuíram para a formação cultural e religiosa da população. A palavra umbanda deriva de m'banda, que em língua quimbundo (língua nacional de Angola) significa "sacerdote" ou "curandeiro". O culto irá combinar elementos da filosofia espírita kardecista, dos vários cultos afro-brasileiros, tradições indígenas, do cristianismo católico e modernamente, conhecimento vindo de cultos esotéricos. Por ter nascido e se desenvolvido nas classes mais humildes da população brasileira, a condução e filosofia do culto muitas vezes ainda difere, havendo visões até mesmo conflitantes acerca de vários conceitos da religião entre seus praticantes.
09. O “fundador” da Umbanda tinha 17 anos quando ingressou no Espiritismo.
A história da umbanda nas suas primeiras décadas se confunde com a de Zélio Fernandino de Moraes, natural de Niterói, capital do então estado do Rio de Janeiro. Zélio, acometido de estranha paralisia que desafiava os médicos, certo dia levantou-se do leito e declarou: "- Amanhã estarei curado." No dia seguinte, realmente, o jovem de 17 anos não aparentava qualquer sinal da doença.
Depois de muita discussão, um amigo da família convence todos a visitarem a Federação Espírita de Niterói e assistir uma sessão. Convidado a participar, Zélio logo é tomado de uma força sobrenatural, e diz: "-Aqui está faltando uma flor!". Em seguida, colhe uma flor do jardim do prédio e deposita-a à mesa.
Atordoados, os outros participantes da sessão começaram a incorporar espíritos que se intitulavam pretos escravos e índios (de acordo com a tradicional linha kardecista, somente espíritos "evoluídos", de doutores, intelectuais, pensadores, etc. deveriam ser incorporados; espíritos como os referidos eram considerados atrasados e deviam ser evitados). Por fim, o espírito que incorporara em Zélio se revela como o Caboclo da Sete Flechas, o senhor dos caminhos, que, desconcertado com o preconceito racial e cultural dos praticantes kardecistas, anuncia que irá criar uma nova religião onde os negros e índios considerados espíritos atrasados, poderão se manifestar e dividir com a humanidade seus conhecimentos.
Dito e feito, às 20:00 do dia 16 de novembro de 1908, manifestou-se o caboclo em Zélio, anunciando a criação da nova religião. Em nome de tal espírito, Zélio, com a ajuda de um pequeno grupo crente, passou a realizar curas e logo fundou o primeiro espaço dedicado ao culto, a Tenda de Umbanda Nossa Senhora da Piedade, registrada em cartório em 1908 e ainda funcionando.
08. A mistura das imagens católicas com símbolos do candomblé ocorreu por causa do medo dos senhores das senzalas.
Os senhores escravagistas, acostumados a aplicar castigos físicos em seus escravos, associavam as doenças e males ocorridos a seus familiares aos rituais feitos nas senzalas logo após os espancamentos dos negros.
Buscando evitar isso, os senhores da Casa Grande trataram de “catequizar” os escravos, obrigando-os a cultuar os santos da religião católica, proibindo o que denominavam “macumba”. Com a distribuição das imagens a serem cultuadas, os africanos começaram a associar os santos com as entidades do Candomblé. A representação das matas, o orixá Oxóssi, foi ligado a São Sebastião, não pela imagem humana, mas por ela se apresentar morto e atado a uma árvore, ícone da natureza. O simbolismo da guerra de Santa Bárbara (Joana d'Arc) foi associada a Iansã, a católica Nossa Senhora com Iemanjá, Oxalá com Jesus.
Essa associação gerada como recurso para conseguir cultuar os deuses da África dura até hoje, e podem ser vistos nos altares, junto a estatuas de “eguns”, o que não era aceito na época.
07. A religião original não aceitava o contato com “Eguns” (espíritos de pessoas já falecidas).
PARA O AFRICANO, O CONTATO COM ESPÍRITOS DE PESSOAS QUE JÁ MORRERAM ERA PRÁTICA CONDENÁVEL
( o que vai em concordância com a bíblia), mas eles acreditavam que alguns ancestrais dos escravos, anciões já falecidos das tribos escravizadas, começaram a encarnar nos escravos. Também começaram a vir índios caboclos, marinheiros ébrios, boiadeiros, crianças, entre as entidades também chamadas de exus.
Os primeiros a aceitarem esse tipo de espiritualidade foram o chamado Candomblé de Caboclo, que em 1865, bem antes do nascimento de Zélio, que viria a oficializar a religião em cartório, começou a trabalhar diretamente com essas entidades.
06. Macumba não é macumba!
No início do século XX, com o surgimento da “giras” de Umbanda, muitas vezes realizadas nas praias, começou a ser conhecida pelo termo macumba.
Macumba nada mais é que um determinado tipo de reco-reco usado durante as giras; e por ser um instrumento musical, as pessoas referiam-se da seguinte forma: "Estão batendo a macumba na praia", ficando então conhecidas as giras como macumbas ou culto Omolokô. Com o passar do tempo, tudo que envolvia algo que não se enquadrava nos ensinamentos impostos pelo catolicismo, protestantismo, e outras religiões, era considerado macumba. Com isso, acabou por virar um termo pejorativo.
Então, podemos definir que um macumbeiro nada mais é que um tocador de reco-reco estilizado.
05. Exu não é necessariamente o demônio
O exu do candomblé é totalmente diferente do da umbanda, já que no candomblé não se encarnam espíritos, e o mesmo é um Orixá mensageiro e não possuem os atributos demoníacos atribuídos aos da umbanda.
O chamado brincalhão Exu só em um período posterior ( na fase do sincretismo) foi reinterpretado e até marginalizado nos cultos afro-brasileiros, notadamente na Umbanda.
Foi na influência Católica da colonização e formação político-social do Brasil que Exu foi associado ao demônio, mesmo antes da fundação da Umbanda. Nessa religião, entretanto, essa figura foi complementada como entidade maligna. e se tornou o representante do diabo, do perigo e da imoralidade (para o caso da Pomba-gira, entidade feminina do mesmo).
Por causa dessas características, parece que os primeiros umbandistas o associaram com eguns africanos e escravos rebeldes. Exu foi, portanto, segregado da Umbanda, e se tornou o legislador da quimbanda, do submundo ou comumente chamado Umbral (inferno espírita).
Outra interpretação umbandista coloca Exu na ordem evolucionista de precedência, conforme o modelo kardecista. Ele é reduzido a um espírito menos evoluído que, todavia tem potencial para evoluir e se tornar um espírito bom. Alguns umbandistas distinguem entre Exu pagão e Exu batizado, que se submeteu à doutrinação e encontrou o caminho certo da escada da evolução. Essa distinção reflete algo do caráter original ambivalente de Exu, apesar do rito de passagem do batismo, que define a distinção que é certamente nova. Novamente esse batismo do Exu pagão tem sido interpretado como uma expressão e aculturação e domesticação do mal, do perigo e da imoralidade (sucubus e incubus da teologia judaica cabalística?).
04. Existem diversas hierarquias e facções dentro da religião.
Parte da Umbanda tem relação com o Espiritismo, e assim seguem as ideias de Kardec.
A religião chamada kardecista foi baseada nas ideias da moda na época, em plena ascensão da ideia do Evolucionismo onde a origem da vida acontecera dentro da constante evolução das espécies. O mesmo raciocínio foi incorporado a doutrina espirita, através de seus escritos.
Por isso, no evento que deu origem a Umbanda, os kardecistas rejeitavam os eguns sem escolaridade, já que Kardec defendia que um espirito evoluía através do conhecimento intelectual. Pode ser ler em seus livros sua tese que a evolução reencarnatória acontecia nas raças, partindo pelos menos evoluídos negros até o homem caucasiano europeu, loiro e branco que, segundo ele, era a ultima fase evolutiva antes de reencarnar em outro planeta.
Dessa forma, era natural que algumas ramificações da religião defendessem a busca de evolução espiritual dos exus para seres mais evoluídos.
Alguns exemplos dessas ramificações:
• Umbanda Branca e/ou de Mesa - Nesse tipo de Umbanda, em grande parte, não encontramos elementos Africanos - Orixás -, nem o trabalho de exus e pomba giras, ou a utilização de elementos como atabaques, fumo, imagens e bebidas. Essa linha doutrinária se prende mais ao trabalho de guias como caboclos, pretos-velhos e crianças. Também podemos encontrar a utilização de livros espíritas como fonte doutrinária;
• Omolokô - Trazida da África pelo Tatá Tancredo da Silva Pinto. Onde encontramos um misto entre o culto dos Orixás e o trabalho direcionado dos Guias;
• Umbanda Traçada ou Umbandomblé - Onde existe uma diferenciação entre Umbanda e Candomblé, mas o mesmo sacerdote alterna sessões de forma diferenciada;
• Umbanda Esotérica - É diferenciada entre alguns segmentos oriundos de Oliveira Magno, Emanuel Zespo e W. W. da Matta (Mestre Yapacany), em que intitulam a Umbanda como a Aumbhandan: conjunto de leis divinas;
• Umbanda Iniciática - É derivada da Umbanda Esotérica e fundamentada pelo Mestre Rivas Neto (Escola de Síntese conduzida por Yamunisiddha Arhapiagha), onde há a busca de uma convergência doutrinária (sete ritos), e o alcance do Ombhandhum, o Ponto de Convergência e Síntese. Existe uma grande influência Oriental, principalmente em termos de mantras indianos e utilização do sânscrito;
03. O uso da vela
O uso desse artefato usado pelos umbandistas foi adotado dos católicos. O simbolismo doutrinário católico associa o objeto como Deus Pai, o pavio a Jesus e a chama ao Espírito, e nada tem haver com a relação mística dada pelos cultuadores espiritas, já que associam a chama como uma espécie de sinalizador aos espíritos e que isso daria força.
Eles associam a cor da vela com o determinado tipo de espírito e sua “linha”: se verde, o espírito é das matas, se vermelha e preta, de esquerda e está ligada a exu, se vermelha e branca, ligada a Ogum (São Jorge no sincretismo), e assim por diante
Algumas vertentes católicas porém defendem o uso dessas com a intenção de auxiliar os espíritos dos mortos que peregrinam pelo purgatório.
A verdadeira origem, adotada pelos católicos dos romanos, está ainda no Velho Testamento, onde podemos ver o Menorá, castiçal judaico de ouro sendo acesso com 7 velas, simbolizando os 7 Espíritos de Deus, descritos em Apocalipse.
02. A importância dos atabaques
Embora não haja “ogans” (denominação exclusiva do candomblé para os tocadores de atabaques) em ambos as religiões, o músico percussionista tem que estar “consagrado” para tocar durante as giras.
Esses instrumentos são consagrados e devem ser guardados com máxima reverência, cobertos com lençóis específicos. Eles acreditam que para cada linha existe um tipo de toque específico, e a vibração correta ajudará o médium a incorporar com maior facilidade. Inverter o tipo de batida pode causar dano ao andamento de sua cerimônia.
01. Mediunidade na Umbanda
A mediunidade não é algo novo e a prática milenar é praticada por diversos povos desde a antiguidade, embora seja rejeitada pelo que está escrito na Bíblia (curiosamente, a mesma proibição de contato com eguns existe na religião que deu origem a esta). Por isso o conflito constante entre alguns cristãos evangélicos e espiritas, onde o sincretismo faz com que haja semelhança com o catolicismo, provoca um mal estar pelo “radicalismo” crente.
A médium, chamado de cavalo ou aparelho na religião, empresta o corpo para que a entidade faça uso, incluindo as habilidades motoras, a fala, o uso de bebida, tabaco.
O uso “adequado” do corpo pelas entidades é aperfeiçoado na mediunidade pela entrega das “obrigações” exigidas por cada linha (tipo de elemento da entidade) o que dará ao espírito maior controle sobre o comportamento do mesmo, o que ofenderia Deus, que não aprovaria que o corpo dado fosse utilizado por criaturas que já tiveram sua oportunidade na Terra.
CURIOSIDADE EXTRA:
ONDE FICA ARUANDA, O CÉU DOS UMBANDISTAS?:
Toda religião tem seu paraíso.
Os cristãos esperam ir a Glória com Jesus assim como os católicos esperam o paraíso com Maria, mãe de Deus. Os islâmicos esperam por suas 40 virgens patrocinadas por Alá. Pelos séculos, as religiões definem seu lugar de descanso e paz por se acharem bons o suficiente para isso.
Na umbanda, o lugar de passagem (já que creem na reencarnação evolutiva de Kardec, incompatível com a crença nas entidades que os usam que permanecem incorporando sem reencarnar) chama-se Aruanda, e segundo eles é uma cidadela de luz etérea que orbitaria a ionosfera do planeta Terra, em uma dimensão espiritual de transição (isso não é necessariamente uma unanimidade).
A origem da palavra, claro, vem dos africanos, e era o lugar que eles diziam que queriam voltar um dia.
Na verdade, é um nome que o nome dado ao porto de São Paulo, em Luanda, o principal de sua terra natal Angola.