Subjugação espiritual: um sério desafio às ciências da alma
“A subjugação é uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo.” (Allan Kardec)¹
Embora o Espiritismo, na condição de doutrina organizada, conte com mais de cento e cinquenta anos de existência, os frutos de suas pesquisas mediúnicas em campo experimental ainda não sensibilizaram os bancos acadêmicos, especialmente, o vasto domínio das ciências da saúde.
Enquanto perdurar a postura materialista, por parte daqueles que fazem ciência, expressiva parcela dos lidadores da saúde estará de mãos atadas diante da possibilidade de um distúrbio espiritual, desafio constante e de alta prevalência, conforme se constata nas instituições espíritas que se dedicam ao labor assistencial mediúnico.
O advento do Espiritismo descortinou novos horizontes à medicina integral, ou seja, aquela vertente que leva em consideração a realidade espiritual do ser. A não aceitação do espírito imortal, como parte integrante da complexidade humana, certamente, confunde o raciocínio clínico, pois, no confronto com certas condições mórbidas, não há como o facultativo elaborar um diagnóstico de certeza quando o transtorno revela uma ressonância vibratória com o passado; um caso típico de desajuste reencarnatório, ou mesmo, um processo grave de obsessão espiritual.
Vez por outra, a mídia divulga notícias impactantes de crimes inomináveis que, se analisados pelo prisma espírita, sugerem a possibilidade de uma interferência espiritual negativa, a atuar como causa incentivadora do comportamento delinquente. A bem da verdade os espíritas identificados com a obra de Allan Kardec, sabem que os processos obsessivos se classificam de acordo com o grau de constrangimento fluídico exercido pelos obsessores.
Assim sendo, a opressão imposta varia desde a obsessão simples, na qual os sintomas incomodativos são de pouca monta, até a subjugação espiritual, tipo extremo de constrangimento psíquico e orgânico em que o indivíduo perde por completo o próprio senso crítico, a capacidade volitiva e o controle de gestos e atitudes, tornando-se um joguete nas mãos dos espíritos agressores.
Recentemente a imprensa divulgou lamentável ocorrência. Num gesto tresloucado, uma infeliz mulher assassinou o próprio filho e, em seguida, suicidou-se. Eis a notícia veiculada em 11/4/2009 por Redação DN Online (RN).
“Mãe mata o filho e se suicida durante treinamento de tiro. A cena foi flagrada pelas câmaras de um centro de treinamento de tiro em Caselberry, na Flórida, Estados Unidos – e a notícia foi publicada pelo jornal britânico ‘Daily Mail’ na última quarta-feira (8). Segundo a reportagem, Marie Moore, de 44 anos, acreditava que era um ‘anti-Cristo’ e levou seu filho Mitchell, de 20 anos, para o que ele acreditava ser uma tarde de prática de tiro. Mas, no meio da prática, Marie mudou seu alvo e apontou a arma para o filho. Após atirar, ela desviou das câmaras e atirou contra a própria cabeça. Marie morreu pouco tempo depois de ser levada para o hospital e seu filho morreu na hora. Em nota ela escreveu: ‘Me desculpe. Eu tive que mandar meu filho para o céu e ir para o inferno’. De acordo com o ‘Daiyly Mail’, em áudios gravados antes do incidente, Marie afirma que planejava a morte do filho para ‘salvar o mundo da violência’. Ela diz que ouvia Deus falando pra ela: ‘Você tem uma arma. Você pode fazer isso’. ‘Eu tenho que morrer e ir para o inferno, só aí poderá existir milhares de anos de paz no Mundo’, explicava. Investigações da polícia revelaram que Marie tinha um histórico de doenças mentais. Nas fitas gravadas, ela conta sobre os períodos em que passou em hospitais psiquiátricos e sobre a miséria e tormenta mental que sofria.”
Pois bem. A notícia sugere algumas interpretações. Do ponto de vista da ciência, a autora dos delitos era portadora de um severo comprometimento psicopatológico, um distúrbio cerebral do metabolismo neurotransmissor, disfunção capaz de abolir por completo o seu juízo crítico, a ponto de conduzi-la ao cometimento de um assassinato frio seguido de suicídio. Por outro lado, de acordo com a concepção espírita, não se pode deixar de levar em conta o assédio obsessivo em grau extremo. Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, assim se expressa:
“A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é uma como fascinação.” (Allan Kardec)².
Tudo leva a crer que a criatura era vítima de assédio espiritual crônico, visto que tentara o suicídio anos antes. Outro detalhe que fortalece a conjectura espírita é o fato de a enferma afirmar que se deixava guiar por uma suposta voz atribuída à divindade. Ora, ninguém, em sã consciência, admitiria a interferência divina no livre arbítrio da pessoa, a sugerir um gesto extremo de crueldade, pois qualquer tipo de violência se contrapõe frontalmente aos ensinamentos evangélicos revelados por Jesus.
A estranha “voz” que ecoava no interior de sua cabeça a persuadia a cometer o crime, matar o filho para “erradicar a maldade do mundo”. De forma idêntica, outros delinquentes, autores de delitos impiedosos, também se diziam influenciados por alucinações auditivas: vozes ressonantes que lhes recomendavam, com veemência, a prática de outras tantas absurdidades.
De acordo com o codificador, a obsessão é sempre obra de um mau espírito, daí o porquê das sugestões maléficas, sempre maléficas, visando ao arrastamento da vítima para o mal. Desde que o indivíduo apresente brechas kármicas e se situe numa condição perene de invigilância, torna-se presa fácil dos espíritos vingativos e perturbadores.
O querido Dr. Bezerra de Menezes considerava a obsessão espiritual como a doença do século (ele desencarnou em 1900). Todavia, diante da gravidade do transtorno, nós imaginamos tratar-se da enfermidade de todas as épocas, pois há registros de obsessão grave citados tanto no Velho Testamento (vide, p.ex., o caso de Nabucodonosor), quanto nos dias atuais, visto que as instituições espíritas registram um aumento assustador de casos complexos, decorrentes de técnicas sofisticadas e contundentes arquitetadas por integrantes das falanges sombrias de justiceiros, cientistas falidos e de mercenários cruéis, que, em se aproveitando da invisibilidade, atuam em nome do mal.
O ideal seria que os enfermos classificados como portadores de transtornos mentais recebessem, ao lado dos cuidados prodigalizados pela medicina, aqueles outros sugeridos pelo campo experimental do Espiritismo. As doenças físicas podem ser diagnosticadas por meio dos procedimentos laboratoriais em voga, e dos modernos recursos propedêuticos inseridos no âmbito dos diagnósticos pela imagem, a exemplo da tomografia, ressonância magnética, etc.
Contudo, a investigação da problemática espiritual carece de procedimento diferenciado, de metodologia ainda não ensinada nos bancos acadêmicos e que, por enquanto, se efetiva no recesso das instituições espíritas. É por meio do instrumental mediúnico que se pode devassar a intimidade energética do ser, identificar na matriz perispirítica a causa das desarmonias energéticas, assim como diagnosticar as ligações obsessivas, por mais sutis que sejam.
Se a inditosa paciente estivesse sob efeito de um tratamento desobsessivo e submetida às regras da psicopedagogia evangélica, ter-se-ia evitado desfecho tão funesto? Eis a pergunta que honestamente nos fazemos, levando em conta a experiência da doutrina espírita nesses misteres, especialmente aqui no Brasil.
No presente momento, não há como negar a excelência do socorro espiritual conduzido por grupos mediúnicos assistidos por Espíritos de elevada linhagem moral.
Em nosso modo de ver, todo aquele portador de perturbação mental deveria receber, em ambiente médico, os cuidados previstos e os remédios prescritos por especialistas credenciados, pois o atual arsenal terapêutico disponibiliza drogas de altíssimo valor, e que não podem ser desprezadas no tratamento clínico dos transtornos mentais.
Por outro lado, o apoio religioso jamais poderia faltar e, caso os familiares decidissem pelo auxílio espírita, o mesmo deveria ser executado nas dependências da instituição espírita, sem que o esforço de cura ali desenvolvido conflitasse com a orientação médica. Assistiríamos, então, a uma espécie de convergência entre ciência e religião, na qual os facultativos cuidariam do corpo físico e as casas espíritas voltar-se-iam exclusivamente para os aspectos espirituais do caso.
Além disso, não olvidemos a existência de grupos mediúnicos que florescem à luz da doutrina consoladora, constituídos por adeptos afeiçoados aos estudos e compromissados moralmente com os ensinamentos evangélicos, a disponibilizar, gratuitamente, o auxílio imprescindível aos portadores de obsessões complexas.
Lembramos aqui oportuna informação trazida pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, por meio da mediunidade de Divaldo Pereira Franco:
“Conhecemos, também, as técnicas de desobsessão de alta eficiência, que são aplicadas nas Instituições Espíritas e que constituem um passo avançado na terapêutica de socorro aos sofredores de ambos os lados da vida”.³
Bastante confortadora tal informação. Significa dizer que a ciência espírita também evoluiu em suas técnicas de abordagem espiritual. Só mesmo a desobsessão de alta eficiência, no dizer do sábio instrutor espiritual, para se contrapor aos esquemas sofisticados elaborados por mentalidades maléficas, cujos objetivos se concentram na disseminação da dor e do sofrimento humanos.
Apesar de algumas dificuldades, acreditamos que, logo mais, as subjugações espirituais, tão danosas ao patrimônio mental das criaturas, serão diagnosticadas com mais facilidade e precisão, para que sejam neutralizadas pelos Espíritos terapeutas, em obediência aos méritos e necessidades particulares da cada indivíduo.
Dr. Vitor Ronaldo é autor de “Desobsessão e Apometria – Análise à Luz da Ciência Espírita”, recentemente lançada pela Editora O Clarim. Trata-se de uma proposta com enfoque absolutamente doutrinário, destinada aos espíritas estudiosos, especialmente, aqueles que se dedicam às lides desobsessivas. O assunto é tratado de uma forma simples, objetiva, sem misticismos, crendices nem fantasias inaceitáveis.
Obras citadas:
1- KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, capítulo XXIII, item 240. 9ª edição de bolso, FEB, 2006, p. 315.
2- Idem. O Livro dos Médiuns, capítulo XXIII, item 240. 9ª edição de bolso, FEB, 2006, p. 316.
3- MIRANDA, Manoel Philomeno & FRANCO, Divaldo Pereira. Loucura e Obsessão, capítulo 9. 3ª edição, FEBp, 1990, p. 117.
(Trabalho publicado no Jornal Espírita da FEESP, nº 406 de junho de 2009)
Vitor Ronaldo Costa
(vitorrc@brturbo.com.br)