UM DOS BABALAWÓS MAIS IMPORTANTES DA REGRA DE OSHA-IFÁ
No século XVI já havia registro de um certo número de BABALAWÓS em CUBA, assim como OLORIXÁS. Entretanto no século XIX um desses BABALAWÓS oriundos da mesma região YORUBÁ na ÁFRICA, deixa suas marcas com fatos muito importantes para a propagação e preservação da REGRA DE OSHA-IFÁ no novo mundo.
ADESINA (OBARA MEJI), embora não tenha sido o primeiro BABALAWÓ que veio oriundo da ÁFRICA, foi um dos mais importantes BABALAWÓS que chegaram à CUBA nesse período. Este nasceu na ÁFRICA OCIDENTAL a princípios de 1800, outros YORUBÁS compraram sua liberdade, já que reconheceram sua coroa de Rei. ADESINA significa “Coroa abre-caminho”. É conhecida a história de que ADESINA engoliu os IKINS antes que o capturassem e os defecou no barco. Uns anos depois de ele ter chegado em CUBA, outro BABALAWÓ conhecido como ÑO CARLOS ADEBÍ (OJUANI BOKÁ), que conquistou sua liberdade em CAMAGÜEY (CUBA) graças a uma aposta que fez com seu amo, de que faria consulta com IFÁ a seus amigos e estes ficariam surpreendidos.
ÑO REMIGIO HERRERA ADESINA OBARA MEJI
Nasceu em IJESÁ-NIGÉRIA aproximadamente entre 1811 e 1816. Chegou em CUBA entre os anos de 1827 e 1830. Foi um BABALAWÓ (sacerdote yorubá) reconhecido por ser, junto a seu mentor ÑO CARLOS ADÉ BÍ (coroa que dá o nascimento), o principal continuador do sistema religioso de IFÁ na AMÉRICA.
ÑO – sinônimo de senhor, foi um tratamento de distinção, respeito e carinho outorgado em CUBA aos anciãos nativos da ÁFRICA.
PRIMEIROS ANOS DE ÑO REMIGIO HERRERA ADESINA OBARA MEJI
De acordo com os certificados de batismo da Igreja Paroquial de Nova Paz, “REMIGIO LUKUMI”, foi batizado em 1833. Os historiadores afirmam que os africanos eram frequentemente sujeitos a três anos de “preparação” para o batismo, entre os que se incluíam aprender suficiente espanhol como para levar a cabo o catecúmeno requerido para o batismo. Por isso, o ano provável da chegada de ADESINA (coroa que faz fogo) à CUBA foi em 1830.
Pouco antes de ser preso por seus captadores na ÁFRICA e ante a iminência de sua futura escravidão, ADESINA rapidamente engoliu o fundamento representativo do ORIXÁ ORUNMILÁ para poder levá-lo com ele a seu novo destino. Esta decisão engenhosa, mostra a inteligência que seus compradores na terra americana posteriormente reconheceriam nele. Constitui a linha fundamental da continuidade histórica e religiosa de IFÁ da diáspora com sua fonte africana.
ÑO REMIGIO HERRERA foi levado a MATANZAS como escravo e ali foi reconhecido por sua inteligência e posteriormente foi enviado à HAVANA para atender alguns negócios de seu amo. Em REGLA (HAVANA), ADESINA cultivou boas relações com o espanhol dono de uma bodega e conheceu ÑO CARLOS ADÉ BÍ, liberto, homem duro que havia sido o mordomo e confidente pessoal de um espanhol. CARLOS ADÉ BÍ não só atuou no início como mentor de IFÁ de ADESINA, como também reuniu posteriormente os recursos financeiros para pagar o preço de sua manumissão (alforria) aproximadamente em 1850.
ÑO CARLOS ADÉ BÍ OJUANI BOKÁ foi um sacerdote de IFÁ muito hábil e engenhoso que negociou de forma incomum sua liberdade ante seu amo espanhol, ao usar suas destrezas com o uso do instrumento de divinação de IFÁ, um OPELÉ ou EPKUELÉ IFÁ. Ganhou sua liberdade depois de impressionar de forma positiva a dois hóspedes espanhóis de seu amo, quem convencidos da sobressalente inteligência de ÑO CARLOS, lhe haviam apostado que se consultasse IFÁ com precisão, comprariam sua liberdade ante seu amo, a quem consideravam particularmente insensível frente aos “talentos especiais dos escravos”. ÑO CARLOS consultou IFÁ com exatidão, fabricando um OPELÉ IFÁ de conchas circulares de casca de laranja e galhos de uma videira, e os espanhóis evitaram uma caída precipitada de negócios e salvaram suas fortunas e seus bens.
Habilmente e utilizando suas valiosas relações, ambos aproveitaram a vantagem da segurança que a bodega lhes oferecia e usaram o quarto de trás para “lavar” ritualmente, ou seja, “reconsagrar” o fundamento representativo do ORIXÁ ORUNMILÁ que o jovem ADESINA havia engolido na terra YORUBÁ e havia defecado posteriormente no barco que o havia transportado junto aos outros escravos.
Apesar das práticas de IFÁ que ADESINA OBARA MEJI havia recebido na terra YORUBÁ, ÑO CARLOS ADÉ BÍ se converteu em seu OLUWÓ (maior) representativo no solo cubano e juntos criaram uma série de relações interraciais e interclassistas a fim de garantir o quarto dos fundos da bodega como espaço para ritual, em um momento em que os recursos sagrados YORUBÁS, seus templos e seus seguidores não constituíam, todavia uma massa crítica, uma população importante em HAVANA e isso se dava na segunda metade da década de 1830.
UM HOMEM DE RECURSOS
Uma vez comprada sua liberdade, ADESINA começou a relacionar-se na Sociedade Urbana de Cuba com crescente força e êxito.
Em meados da década de 1860, ADESINA vivia em REGLA (HAVANA), como assim indicam os nascimentos de sua filha JOSEFA HERRERA (PEPA ESHÚ BÍ) em 1864 e seu filho TEODORO HERRERA em 1866, segundo os documentos de batismo de ambos. Ali fundou o CABILDO DE YEMANJÁ, junto a ÑO FILOMENO GARCÍA “ATANDA”, ÑO JUAN “O MANCO”, AÑA BÍ e sua futura esposa. Antes disso, com toda certeza havia vivido em MATANZAS (CUBA), onde conheceu sua futura esposa. Esta época marcou o início de vida de ADESINA como um homem de meios, capaz de apoiar e de acolher o CABILDO, primeiro localizado em sua casa e posteriormente em um terreno da Rua MORALES.
Posteriormente se convertera em dono de propriedades, pedreiro e homem de conexões e influencia o surgimento dos documentos do CENSO de 1881. Nessa data, ele aparece junto a uma lista estendida de familiares próximos com residência em sua própria casa situada na Rua SAN CIPRIÁN, posteriormente chamada de Rua FRESNEDA. Em tal CENSO, aparece que o ano de nascimento de ADESINA foi em 1811.
Uma série de documentos do ano 1900 mostram o significativo preço de sua casa, assim como de outra propriedade. A casa foi avaliada em 115.000 pesos de ouro espanhol e também apresentava aluguéis de outras propriedades por seis pesos de prata mensalmente. ADESINA também era proprietário de outro terreno vazio na Rua MORALES (posteriormente renomeada como Rua PERDOMO) avaliado em 300 pesos de ouro. Sua posição economicamente independente sugere o fato de que não tivera hipoteca, tal como se observa nas folhas 492, Nº32,12 de novembro de 1900; e Nº1600 da Prefeitura de REGRA, PROVÍNCIA DE HAVANA, relacionada com fazendas urbanas.
Da mesma maneira, indícios de que ADESINA tinha significativas conexões sociais entre a Elite de REGLA, é que estes foram testemunhas e o padrinho de seu matrimônio realizado em 26 de outubro de 1891 com a liberta de MATANZAS, FRANCISCA BURLET: um homem branco de negócios, um magistrado, um farmacêutico e um mordomo. Na certidão de casamento, aparece como sua data de nascimento 1816.
A FOTOGRAFIA DE SEU MATRIMÔNIO E ANOS FINAIS DE SUA VIDA
A estatura espiritual e o caráter radiante de ADESINA foi reflexado no retrato fotográfico oval, provavelmente tomado com motivo de seu matrimônio em 1891. É a única fotografia existente de um BABALAWÓ dessa época, nativo da ÁFRICA. Aparece vestido com traje e gravata ao costume ocidental, de cabelos brancos e com três cicatrizes faciais tribais YORUBÁ em ambas faces do rosto. A fotografia foi tirada em uma época em que dificilmente um africano seria imortalizado em um retrato, já que eram discriminados a ser somente “preenchimentos” em fotografias como fundo de paisagens, o motivo de uma tiragem fotográfica na literatura antropológica.
Sua intenção de imortalizar-se, vestido perfeitamente segundo as convenções do final do século XIX, muito provavelmente se deve a que a fotografia teria um alcance maior de seus colegas religiosos, afilhados e descendentes religiosos e família em geral.
As versões de meios tons da fotografia sugerem que o retrato de ADESINA foi reproduzido na imprensa. Com ele, ADESINA OBARA MEJI inscrevia a si mesmo nos índices de representação de seu status social e, por sua vez, como uma figura para a posteridade.
Desde o momento de sua morte, ocorrida em 1905, ADESINA se converteu em um ancestral respeitado e venerado, presente nos lares de seus descendentes e em lugares ritualísticos a longo de toda CUBA. Ao redor de 1980, a presença africana em REGLA foi simbolizada com a colocação de seu retrato na entrada do MUSEU DE REGLA.
ÑO REMIGIO HERRERA ENTRE AS PESSOAS
Ele foi tão venerado em REGLA que quando as pessoas se reuniam com ele nas ruas, faziam uma reverência ante ele e beijavam sua mão. Um dia no povoado pesqueiro de REGLA, HAVANA, onde havia estabelecido uma grande família, uma mulher veio até ele em lágrimas de desespero: “meu marido foi embora em um barco e não sei se algum dia voltarei a vê-lo”. Tinha muitíssimos dias que não sabia notícias alguma de seu esposo. ÑO REMIGIO movido a consideração pela senhora, foi até o seu tabuleiro de IFÁ, fez uma série de mojubás e fez alguns riscos com o axé de ORUNMILÁ e logo levou a mulher dali e foram até o porto.
No lugar, ÑO REMIGIO fez uma série de mojubas litúrgicas e soprou o axé de ORUNMILÁ no mar. Algum tempo depois, a mulher voltou ao porto como fazia todos os dias para esperar seu marido voltar. Porém, nesse dia avistou um barco diferente que se aproximava devagar. Dentro desse barco estava seu marido que depois de anos voltava para o seio do seu lar.
Embora não tenha sido o primeiro, ADESINA OBARA MEJI foi o mais famoso BABALAWÓ na Sociedade Cubana e na Religião IFÁ. Por conta de sua ascensão social, elevou o nome de IFÁ dentro da Alta-Sociedade Cubana. Ele se tornou o mais conhecido BABALAWÓ por conta da influência que exerceu na Sociedade, na divulgação de IFÁ através de sua foto de casamento que foi à imprensa, e com isso ajudou a propagação e preservação de IFÁ por toda CUBA.
Ifá Ni L’Órun