QUANDO A HUMILDADE TORNA-SE VAIDADE
Quando, em 1908, estavam todos reunidos em torno da mesa branca, Zélio de Moraes interrompeu o início da sessão mediúnica e disse “falta uma flor nessa mesa”. Neste momento, levantou-se e foi buscá-la no jardim mais próximo. Isto, entre outras coisas, representava uma das principais características da Umbanda: o uso de símbolos, elementos materiais, ritos e a manipulação das energias da natureza.
Infelizmente, são muitos o que se utilizam de suas manifestações mediúnicas para projetar, nos guias, suas emoções, como a vaidade, o orgulho, a insegurança, o medo.
Alguns partem para o exagero. Roupas excessivas, movimentos e brados extremos, incorporações sucessivas, oferendas desnecessárias, entre outros. Neste texto, quero falar do outro lado da moeda, que embora mais raro, também acontece. Aquele que, tentando passar uma imagem de total humildade e simplicidade, nega o uso de qualquer elemento material e não permite que seus guias expressem trejeito algum.
É o caso de quando, por exemplo, o guia deseja utilizar-se de um charuto para realizar seu trabalho e seu cavalo diz “minhas entidades não precisam disso, basta o passe". Ou quando o Pai de Santo recomenda um banho, e o mesmo médium responde “para mim basta uma boa oração”. Há outros, ainda, que no momento da incorporação, a entidade deseja fazer um giro e soltar um belo brado, mas na sua arrogância o médium corta o movimento, uma vez que ele acredita estar isento da necessidade de qualquer movimento.
Não estamos falando aqui dos médiuns iniciantes, a qual ainda estão aprendendo a confiar em suas mediunidades e deixar a incorporação simplesmente fluir. Mas daqueles que tolham suas manifestações deliberadamente.
O importante é seguir aquilo que lhe é natural. Se o caboclo que trabalha com você realmente não deseja girar e nem gritar, tudo bem. Mas se intenciona manifestar-se dessa maneira, deixe fluir. Permita-o vir do seu jeito. Não o controle para passar uma falsa imagem de humildade e simplicidade. Aqueles que são mais experientes no terreiro perceberão a diferença. É claro, toda incorporação deve acontecer dentro dos parâmetros do equilíbrio e bom senso.
Não acredite estar acima de mais. Todo mundo, pelo menos alguma hora, pode precisar de um bom banho de ervas, uma vela, uma oferenda, usar uma guia de proteção. Se o guia ou o Pai de Santo orientou-lhe algumas dessas práticas, é porque há um bom motivo, porque vai lhe fazer bem. Quando você recusa-se a seguir algumas dessas recomendações, você nega uma benção da espiritualidade.
Realmente, o pensamento positivo, a oração, a fé, a conduta correta são as melhores proteções para qualquer pessoa. No entanto, ninguém consegue manter-se o tempo todo positivo e com a energia elevada. Afinal, estamos ainda em aprendizado. Se encarnou na Terra, é porque ainda carrega largos débitos morais. Nossas emoções estão em constante oscilação, e, em algum momento, qualquer pessoa vai vibrar para o negativo. Os elementos da Umbanda tem o objetivo de ajudar a reestabelecer o nosso equilíbrio.
Nós, os autores deste texto, não queremos dizer que somos imunes de qualquer um desses erros. Cabe a cada um a constante vigilância de seus próprios atos. Ao ler este texto, não pense em seu irmão de corrente. Procure, antes, observar se alguma atitude sua não se enquadra em algumas das situações descritas. Está tudo bem, estamos na Umbanda para aprender.
O caminho correto está sempre nos princípios equilíbrio, da necessidade e da naturalidade. Não podemos nem utilizar algum elemento só por usar, ou simplesmente por achar bonito, nem tampouco deixarmos de realizar alguma atividade necessária para criar uma falsa imagem de superioridade. Deixemos os guias trabalharem, sem tirar e nem acrescentar nada.
Saravá a todos!
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