O QUE É NECESSÁRIO PARA ABRIR O SEU TERREIRO
Com frequência, recebemos a notícia de que uma nova pessoa se aventurou a abrir a sua própria casa de santo. Alguns, observamos, infelizmente, sem as mínimas condições pessoais e materiais para esta missão. A responsabilidade é muito grande, a carga de obrigações, enorme. Antes de realizar este empreendimento, é preciso que você tenha noção do que você precisa e do que ele vai exigir. Dirigir um terreiro é uma atividade muito difícil, e quanto mais preparo estiver, menos extenuante será.
Em primeiro lugar, pergunte-se por qual razão você deseja abrir um terreiro. Você pode ter as suas razões pessoais, mas que não seja apenas para alimentar sua vaidade, porque brigou com seu pai/mãe de santo, ou para poder mandar à vontade nos outros. Terreiro é coisa séria para gente séria, como ensina o Caboclo Mirim. Se seus objetivos não estão alinhados aos da espiritualidade, nem começa. Continue frequentando seu terreiro de origem até atingir a maturidade necessária.
O requisito mais importante para aquele que aspira ao sacerdócio é experiência, vivência dentro do chão do terreiro. Ainda tenha conhecimento teórico, fez algum curso, leu muitos livros, estudou bastante. Há lições imprescindíveis que se realizam somente no dia-a-dia de cada gira. Aprendizados que ocorrem quando situações inesperadas surgem. Não é com um, dois, cinco anos que você poderá sair abrindo casa. É ainda uma criança nos fundamentos da religião. Não existe uma quantidade de tempo específica, eu recomendo, contudo, um mínimo de 10 anos dentro da corrente.
Somado a isto, um outro fator é exigido. Experiência e maturidade pessoal, que você tenha uma idade suficiente. Uma pessoa nos seus vinte e poucos anos terá muita dificuldade de lidar com os diversos problemas de convívio entre os filhos de santo. E ele precisa, efetivamente, agir como um pai e mãe. Os diferentes conflitos, desgastes, querelas entre as pessoas representam os maiores desafios para qualquer sacerdote. E não se aprende a resolvê-los em livros ou cursos.
O dirigente, da mesma forma, precisa possuir um vasto conhecimento sobre a Umbanda e seus fundamentos. Entender como se faz congás, tronqueiras, assentamentos, firmezas, oferendas, obrigações, amassis, entre outros. Deve conhecer sobre os Orixás, a nossa história, a curimba, os pontos cantados e riscados, a corrente. Além disso, é preciso que entenda sobre a mediunidade, seus diferentes tipos, e, principalmente, como desenvolvê-la.
No mesmo sentido, o pai/mãe de santo deve ter sua mediunidade desenvolvida e amadurecida. Não há como alguém que mal aprendeu a incorporar chefiar uma casa. Ainda que a Umbanda se use de diferentes tipos de mediunidade, e muitas vezes o sacerdote precisa saber como agir desincorporado, a incorporação continua um dos pilares centrais de nossos rituais. Ela é a nossa principal forma de comunicação com as entidades, verdadeiros dirigentes de todos os trabalhos. É preciso já ser experiente no transe mediúnico para ser capaz de iniciar outros.
Há, também, exigências materiais para se abrir o terreiro. Um local físico para realizá-lo, uma maneira de mantê-lo financeiramente, um grupo de pessoas dispostas a acompanhá-los, perspectiva de legalizá-lo. Não é prudente alugar um espaço de alto valor se a corrente não for capaz de arcar com seu aluguel. A tendência é que, de início, venham poucos consulentes, você ainda não poderá contar com suas doações, e, por este motivo, dependerá principalmente das mensalidades dos médiuns.
Por fim, o sacerdote precisa de muita paciência e amor para lidar com as pessoas. Deverá adotar, efetivamente, a postura de pai ou mãe. A responsabilidade não é fácil; às vezes você abre mão dos seus próprios momentos para socorrer um filho. Está disposto a acordar de madrugada para ir na casa de uma pessoa que está passando mal e incorporou um kiumba? Resguardar-se no fim de semana para realizar um trabalho na residência de um consulente? Meter-se num conflito que invariavelmente te envolveram? Esses apenas alguns exemplos de situações que acontecem.
Apesar de tudo isto, vamos reforçar que os dirigentes não estão sozinhos. Quando é comprometido com a espiritualidade, ela também é comprometida contigo e com o terreiro. A benção e o auxílio das entidades estarão presentes em todas as atividades. E encontrará muitos filhos dedicados, que ajudarão nesta caminhada. no fim do dia, o sentimento é de gratidão, por mais que tenha te exigido.
Portanto, avalie bem antes de abrir o seu terreiro. Prepare-se corretamente. Mesmo que o “guia tenha mandado” eles compreendem melhor do que nós o momento certo para cada coisa. Claro que no passado muitos abriram seus terreiros sem terem nenhuma preparação, somente na fé, mas os tempos são outros. Precisamos de umbandistas e sacerdotes capacitados a exercer com excelência suas responsabilidades. Não basta o “mais ou menos”, o “de qualquer jeito”, e sim o melhor que pudermos oferecer aos consulentes e à espiritualidade.
Saravá a todos!
Escrito por @umbandacomsimplicidade / Diego Paiva Pimentel