Ibeji a luz da Kabbalah
Considerações iniciais – A Árvore da Vida
Trata-se de um hieróglifo, ou seja, de um símbolo composto, com o qual se procura representar:
- O cosmo em toda a sua complexidade
- A alma do homem nas relações que esta mantém com aquele
O curioso sistema simbólico que conhecemos como Árvore da Vida é uma tentativa de reduzir à forma diagramática as forças e fatores não só do universo manifesto como também da alma humana, de correlacioná-los mutuamente e de ordená-los como num mapa, para que as posições relativas de cada unidade possam ser compreendidas de modo a traçar-lhes as relações mútuas. Em resumo, a Árvore da Vida é um compêndio de ciência, psicologia, filosofia a teologia.
Este hieróglifo consiste na combinação de dez círculos dispostos de determinada maneira e unidos entre si por linhas. Os círculos são as Dez Sephiroth Sagradas a as linhas constituem os Caminhos, que perfazem o total de vinte e dois.
Cada Sephirah (forma singular do substantivo plural Sephiroth) representa uma fase de evolução e, na linguagem dos rabinos, as Dez Esferas recebem o nome de Dez Emanações Sagradas. Os Caminhos entre elas são fases da consciência subjetiva, os Caminhos ou graus (do latim gradus, “degrau”), através dos quais a alma desenvolve a sua compreensão do cosmo. As Sephiroth são objetivas; os Caminhos são subjetivos.
* Objetivo: claro, direto; Subjetivo: passivo de interpretação pessoal, indireto
Podemos considerar corretamente as Sephiroth como macrocósmicas e os Caminhos como microcósmicos, pois as Sephiroth representam as sucessivas Emanações Divinas, que constituem a evolução criadora, ao passo que os Caminhos representam os estágios sucessivos do desdobramento da compreensão cósmica na consciência humana.
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Na Umbanda, sempre que se refere à Ibeji, ou Yori, é imprescindível mencionar sua principal virtude, a Pureza. Mas entender de fato o real significado desta “Pureza” não é tarefa fácil.
Lembremos que estamos nos referindo ao Orixá Yori, de forma que não devemos confundir a Pureza referida a Ingenuidade apresentada pelas entidades que trabalham nesta linha. Esta ingenuidade é tão somente uma chave psicológica utilizada, em conjunto com a alegria, para despertar o arquétipo da Pureza em nossas mentes.
De fato, esta referida Pureza é algo que não temos condições de, sequer imaginarmos, quanto mais nos aproximarmos, pelo menos enquanto encarnados. De qualquer forma, o caminho nesta direção começa com nos desprovermos de toda a malícia (tanto quanto possível) que existe em nossos corações já contaminados com as ilusões do mundo carnal. E é isso que os Cosmes tentam imprimir com seus arquétipos em nossas mentes: instantes de Ingenuidade e Alegria em que, por menor que seja, possamos dar um passo em direção à essa Pureza.
Esta é a Magia dos Puros.
*Ingenuidade: Simplicidade, singeleza, candura, inocência com que uma pessoa manifesta naturalmente seus sentimentos.
*Alegria: Manifestação de contentamento e júbilo.
Na Árvore da Vida, Ibeji está relacionado à primeira sephirah, Kether.
Kether equivale à forma mais transcendental de Deus que podemos conceber.
*Transcendental: Que pertence à razão pura, a priori, anteriormente a qualquer experiência, e que constitui uma condição prévia dessa experiência.
Na imagem, os 3 véus (Ain, Ain Soph e Ain Soph Aur) se condensando em Kether, dando a idéia de algo se solidificando.
Kether, a Primeira Manifestação, representa a Cristalização Primordial na Manifestação do que era até então imanifesto e, por conseguinte, incognoscível. Quando falamos de Kether, não significa uma pessoa, mas um estado de existência, inerte, puro ser, apenas existe, sem reação.
Quem já observou, numa solução saturada, em um líquido aquecido, como vão se formando cristais ao se baixar a temperatura, tem uma imagem adequada para simbolizar a Sephirah Kether: tomemos de um copo de água fervente a nele dissolvamos o máximo de açúcar que for possível dissolver. Então, à medida que a mistura for se esfriando, veremos os cristais de açúcar irem se tomando visíveis novamente. Este exemplo nos permite imaginar a existência da Primeira Manifestação oriunda do Imanifesto Primordial: o líquido está transparente e sem forma; mas uma mudança ocorre nele, e os cristais começam a aparecer, sólidos, visíveis a definidos. Podemos imaginar semelhante mudança ocorrendo na Luz Ilimitada e Kether se cristalizando nessa Luz.
É consenso geral que os Orixás são emanações de Deus (e é por aí que conseguimos fazer uma correlação à Árvore da Vida). Nós até podemos ter uma breve (muito breve) noção de algumas dessas emanações como a Justiça ou o Amor, por exemplo; mas quando essa emanação se trata da primeira, sem nenhum substantivo explicativo, chamamos apenas de Pureza (outro substantivo).
Aí que está o problema, qualquer idéia ou pensamento, que possamos fazer em relação a como é Deus, não significará, nem de longe, Deus! Trata-se, de fato, algo muito além da capacidade humana de compreensão. E Kether é a mais sutil manifestação de Deus.
Sigamos.
Repetindo, Kether/Ibeji equivale à forma mais transcendental de Deus que podemos conceber, sua pura existência e, embora se trate apenas de um estado disforme, inerte e passivo, representa uma existência que, por si só, alimenta e permite todas as demais existências. É a primeira forma de manifestação.
Procurando em alguns autores sobre Umbanda, verificamos que Rivas Neto traduz o vocábulo Yori através do alfabeto Adâmico como:
A Potência Divina Manifestando-se
E define Yori como: O Princípio Espiritual Manifesto no Princípio Natural, O Princípio Manifestado na Forma, O Princípio Criado e O Princípio em Ação na Humanidade.
Descreve os Erês, ou Crianças, que se manifestam na Umbanda como Mestres nos conceitos do Bem e do Puro e, em termos de Magia Etéreo/Física como Senhores Primazes dos Entrecruzamentos Energéticos (Água, Fogo, Terra e Ar).
Aí, entramos em outro aspecto de Yori. Já ouvi em algum lugar: “O que os filhos das trevas fazem, qualquer Criança desfaz, porém o que a Criança faz, ninguém desfaz.”
São poderosos Magos que manipulam com sabedoria as forças mais sutis da Natureza. Em concordância com isso, Rubens Saraceni, em seu livro “As Sete Linhas de Umbanda”, afirma que esses espíritos atuam nas linhas de força dos elementos e como guardiões dos pontos de força do reino elementar, trabalham com irradiações muito fortes e puras na sua origem.
Esse aspecto elementar, citado pelos autores acima, também é confirmado na Árvore da Vida, pois os quatro Ases do Tarô, atribuídos a Kether, representam as raízes dos quatro elementos, Terra, Ar, Fogo e Água. Kether é considerada a fonte primordial dos elementos.
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Fontes:
A Cabala Mística, Dion Fortune
Umbanda – A Proto-Síntese Cósmica, F. Rivas Neto
As Sete Linhas de Umbanda, Rubens Saraceni