Estrutura física dos terreiros de Umbanda
Estrutura física dos terreiros de Umbanda
Hoje falarei sobre a estrutura física de um terreiro de Umbanda, abordando os pontos necessários para a fixação de forças do terreiro.
Muitos de nós ficam admirados com a beleza dos congás e com o formato das demais estruturas do terreiro, mas nem sempre sabem qual o real fundamento de tudo aquilo. Essa postagem visa apenas explicar o que é e qual o objetivo desses elementos, sem "passar a receita" dos elementos magísticos a serem inseridos e como consagrar. Pois além de ser praticamente impossível já que cada terreiro tem seus objetos e método de consagração próprios, a grande sacada da coisa é manter tudo em sigilo para proteger o próprio terreiro.
Antes de entrarmos no assunto, precisamos ter em mente que não importa como o terreiro seja (seu tamanho, vertente, etc.), esses são pontos essenciais para o pleno funcionamento de um templo.
Congá
Um congá, ou altar, quando devidamente fundamentado é um ponto de força pelo qual as irradiações dos poderes divinos e forças espirituais alcançarão todo o espaço e as pessoas presentes no terreiro. Sua principal função é criar um magnetismo específico; um portal de captação das irradiações dos Orixás e Guias irradiadores dessas energias positivas que se espalharão por todo terreiro. Por conta de sua ação irradiadora é que o congá tem polaridade positiva. É sustentador, amparador, estabilizador.
No congá são colocados elementos materiais que, assim que são consagrados religiosamente, tornam-se os irradiadores dessas energias puras. Alguns itens estão à mostra e outros estão escondidos (como o assentamento principal e as firmezas).
Embora o congá tenha uma função coletiva de irradiação, é necessário que esteja disposto seguindo as características da casa e aspectos mediúnicos do sacerdote, sem padrões. Desde o seu formato aos elementos ali presentes, tudo é preparado conforme orientações da espiritualidade (os Guias chefes da casa), por isso nunca veremos congás iguais.
Os elementos, com o tempo, podem ser trocados. Elementos podem ser adicionados, pode haver fontes de luz (como lâmpadas coloridas), água em cascata ou outros elementos naturais, tudo conforme a espiritualidade orientar. Como em qualquer estrutura essencial do centro (congá, tronqueira, casa de Exu e cruzeiro das Almas), nenhum elemento disposto ali pode ser tocado por outras pessoas ou serem tratados como elementos comuns, profanos.
O altar deve estar sempre limpo e arrumado, para que os elementos consagrados cumpram sua função sempre com harmonia e energia.
Como Fazer um Congá?
Um congá nunca será igual a nenhum outro porque ele contém particularidades do(s) sacerdote(s) da casa. Não existe um padrão dos elementos que serão ali colocados, pois cada sacerdote tem seus Orixás e Guias específicos, bem como suas preferências pessoais e as necessidades de seus Guias. Também é possível fazer um altar em casa, inserindo itens da preferência de quem o fizer, devendo, entretanto, consagrá-los, se não serão meros objetos de decoração, não cumprindo o objetivo de irradiação de energias.
O congá pode ser feito de alvenaria, madeira, pedra, aço, etc. Os elementos que podem ser colocados no altar incluem toalhas, imagens, flores, ervas, frutos, velas, cristais, minérios, ferramentas, quartinhas com fundamentos, etc. – tudo consagrado e programado para o objetivo de irradiar energias sagradas, e principalmente, de acordo com as orientações do Guia chefe da casa ou seguindo as particularidades de quem o fizer em casa. Seu tamanho depende do tamanho do espaço que se tem, não havendo certo ou errado. O correto é sempre o jeito de quem está fazendo, com fé e cuidado.
Tronqueira
As tronqueiras são “casinhas” que tem como finalidade abrigar o assentamento e as firmezas das forças dos Exus, Pombas Giras e Exus Mirins da casa. Este recurso é, no templo, um ponto de força onde está firmado (ativado) o poder dos guardiões que militam em dimensões à nossa esquerda, para segurar a casa e o trabalho realizado dentro dela.
A tronqueira funciona como um para-raios; é um portal que impede as forças hostis de se servirem do ambiente religioso de forma deturpada. No astral, os Exus, Pombas Giras e Exus Mirins utilizam-se dos elementos dispostos na tronqueira para beneficiar os trabalhos que são realizados dentro do templo.
Com estes elementos, as entidades anulam forças negativas, recolhem e encaminham seres trevosos, abrem caminhos, protegem, etc. A tronqueira tem polaridade negativa, ou seja, é drenador, magnetizador, absorvedor (e não significado mau, ruim, como sempre pensamos quando falamos em negativo; clique aqui para ver postagens explicando sobre a dualidade do universo). É um receptáculo poderoso para absorção de toda energia negativa do terreiro. O assentamento e firmezas existentes na tronqueira enviam as energias negativas às dimensões elementais, onde são diluídas e incorporadas ao éter novamente.
Nesses assentamentos e firmezas encontramos vários tipos de ferramentas (instrumentos mágicos), cada um com sua finalidade específica. Os Exus, Pombas Giras e Exus Mirins ativam seus mistérios nestes elementos com a finalidade de realizarem seus trabalhos espirituais de defesa do terreiro. É importante que os médiuns e os assistidos saibam da importância de uma tronqueira e que todos saibam que este ponto de força está sob as ordens da Lei Maior.
As tronqueiras devem ser saudadas de forma respeitosa quando adentramos nos templos. Qualquer um pode se servir do poder desses guardiões, basta acender uma vela e pedir proteção e auxílio com fé e assim receberá. Eles estão a serviço do Bem, da Lei Maior, da proteção da casa e de todos aqueles que estão nela.
Como fazer uma tronqueira?
Sua estrutura deve ser, preferencialmente, de alvenaria. Outros materiais também são aceitáveis, mas deve-se ter cuidado com materiais inflamáveis. Uma cobertura é necessária para proteger os elementos que ali estão.
Deve ser construída preferencialmente à esquerda da entrada do terreiro, mas não é uma regra. Como o congá, não existe um padrão. Muitos terreiros possuem limitações de espaço – nem sempre é possível fazer a tronqueira à esquerda. Muitos terreiros possuem suas tronqueiras bem adaptadas com sua realidade, em locais incomuns, que cumprem seu papel tão bem quanto outra. É necessário ter em mente que a espiritualidade, acima de tudo, é adaptável. Nenhum Guia ou Orixá deixará de atuar em um terreiro por conta de posições geográficas. Em um terreiro de fé, seriedade e firmeza, certos detalhes podem ser ajustados sem problemas.
Dentro da tronqueira é onde fica o assentamento e as firmezas dos Guias de esquerda. O assentamento é do guardião (sendo este o Exu, a Pomba Gira ou o Exu Mirim da casa), e as firmezas de outros Exus, Pombas Giras e Exus Mirins que auxiliam no processo, coletivamente ou pessoalmente.
Geralmente são enterrados embaixo da tronqueira, mas também podem estar embaixo da terra em caldeirões, alguidares e outros receptáculos. Nos assentamentos e firmezas são firmados elementos magísticos a pedido dos Guias, como imagens, tridentes, punhais, pedras, ervas, sementes, ferramentas, etc. Os elementos devem ser consagrados pelo médium e pelos guardiões e programados para cumprir seu dever. As bebidas podem estar em uma quartinha de barro, e as velas podem ser acesas conforme intuição do médium. Um assentamento demora, em média, três anos para maturar completamente. Os itens essenciais presentes nos assentamentos e firmezas devem estar ocultos aos olhos das outras pessoas, para proteção do próprio terreiro; somente o pai e/ou mãe deve saber o que está enterrado. Os demais elementos expostos na composição da tronqueira, como as ferramentas, quartinhas, imagens e velas, não há problema.
É necessário manter o local sempre limpo, não demorando a recolher as oferendas e alimentações feitas. Sujeiras e materiais deteriorados deixam de cumprir seu objetivo com eficácia ou podem, ainda, funcionar inadequadamente.
É comum as entidades usarem a tronqueira para realizar atendimentos?
Sim. Alguns terreiros não permitem que outras pessoas visualizem o que há em seu interior, muitas vezes nem mesmo por sua corrente. Outros, entretanto, permitem a entrada, pois o essencial (o que está dentro das quartinhas, quartilhões, alguidares, caldeirões ou mesmo embaixo do chão) já está escondido. Dessa forma, se utilizam da tronqueira para descarregos, desobsessões e outros trabalhos. Não existe uma regra definida, cada terreiro decide se usará a tronqueira para mais alguma função ou não.
Qualquer um pode ter uma tronqueira ou apenas os terreiros?
Sim, qualquer um pode ter, o que se discute apenas é a real necessidade de se ter uma tronqueira em casa, num cômodo de comércio, etc. A tronqueira é uma estrutura preparada para abrigar forças e descarregar grandes cargas e energias negativas, por isso no terreiro é essencial; a atividade energética de um terreiro é muito maior que de casas e comércios. Nestes lugares, costuma-se usar firmezas mais simples (de variadas entidades, inclusive) que cumprem bem seu trabalho de proteção.
Abaixo, outros elementos da estrutura de um templo que não são necessariamente obrigatórios mas que possuem fundamentos específicos e são muito úteis para os trabalhos da casa:
Casa de Exu
A casa de Exu em seu conceito confunde-se muito com a tronqueira, mas sua finalidade em algumas casas pode ser diferente. A casa de Exu é onde fica o congá da esquerda, com todos os materiais utilizados pelos Exus, Pombas Giras e Exus Mirins. Lá é onde é feito todo trabalho denso como descarregos, desobsessões, etc. O quarto de Exu, geralmente, tem uma egrégora própria, ideal para os trabalhos realizados ali, com assentamento de força específico. Terreiros que têm tronqueira e casa de Exu separados é porque provavelmente o sacerdote optou por deixar a tronqueira somente para a absorção de energias negativas e a casa de Exu para os Guias de esquerda utilizarem, para as pessoas não ficarem curiosas para com os elementos que estão presentes na tronqueira. A casa de Exu tem polaridade negativa também, assim como a Tronqueira.
Cruzeiro das Almas
O Cruzeiro das Almas, igual ou similar ao que encontramos no cemitério, é um portal regido pelo Orixá Omolu (Obaluaê) e amparado pelos Pretos Velhos.
Tem a função de passagem, transmutação. É um portal de luz onde o espírito desencarnado confuso e perdido é orientado e assim conclui de fato sua passagem do mundo físico para o espiritual, não ficando preso à Terra. Além disso, como transmutador, age nas passagens de um estado de doença física ou emocional, obsessão complexa, mágoas, ódios, rancor e todo sentimento de ordem negativa para uma situação de cura, equilíbrio e harmonia. Transmuta e protege.
Como no Cruzeiro do cemitério, pode-se acender velas para os entes queridos já desencarnados, buscando a ajuda das almas para que estes estejam sempre em seu caminho de evolução.
Pode estar localizado dentro ou fora do terreiro; é adaptado de acordo com o espaço do terreno. Assim como os outros pontos de força, têm em si seus elementos de firmeza.
Todo o resto (como a cozinha, quartos de vestir, banheiros e outros cômodos) são elementos auxiliares da estrutura, próprios para o uso dos médiuns e consulentes, portanto não necessitam de nenhum preparo ritualístico.
Saravá!