Hongolo – O Arco-íris e a Serpente
Hongolo é conhecido como “O Arco-íris” no Kimbundu, no Kikongo Lukongolo, Nkongolo, Kongolo, Kalabasa, Lukonzo lua mini, Nfumbula, Ndamba, na língua Cokwe Kongolu.
O culto ao Arco-íris ocorre em várias regiões da África bantu, como em Mayombe, Ovimbundu, Tockwe, destacando-se o povo Luba no Kongo. Kongolo aparece em diversos aspectos diferentes para o mesmo povo como no totemismo, no animismo, no culto a nkisi (magia e cura) e na astronomia.
No Totemismo
O Arco-íris é chamado de Mwamba Nkongolo. Mamba ou Mwamba é uma parte do nome que significa curvado, Nkongolo é o Arco-íris.
O Arco-íris para os baluba dentro do totemismo, são duas serpentes que se unem por uma trilha luminosa, com cores brilhantes que matam todos àqueles que toca, exceto os indivíduos chamados Muamba e Nkongolo. Esses indivíduos que levam o nome de Mwamba e Nkongolo são protegidos por gênios do Arco-íris e da Cobra Mamba.
No Animismo
Kongolo é o primeiro dos espíritos animais ancestrais Baluba, viveu nos tempos antigos como um homem, nascido Branco Seya e foi uma grande geada. O espírito Kongolo é de muita grandeza por tomar posse dos homens causando doenças e morte naqueles que não honram seus pactos.
Em terrenos vastos Kongolo é adorado em um tipo de coluna em pé, entalhada em formato de espirais, chamada de Mikela.
Kongolo vive viajando, sua aparição é rara entre as pessoas, trafega pelos céus através de uma nuvem negra de fumaça, por onde ele passa, causa destruição em tudo que toca, o nativo tem medo do que possa ocorrer quando essa nuvem está por perto. Para evitar a aproximação da nuvem negra, os sacerdotes preparam os potes, panelas, anéis, tudo que soa e ressoa, e vem para o dia, assim eles gritam, cantam e exaltam Kongolo para que a nuvem perigosa se afaste, assim, formando o Arco-íris, tornando o céu limpo e seguro.
Kongolo ainda como Arco-íris é o espírito maligno e temível, porém, nessa forma ele não é mais perigoso, afinal o Arco-íris é a fumaça negra, que ascende aos céus sem causar nenhum dano.
Na astronomia
Na Astronomia Baluba, os nativos não vêem o Arco-íris como um vapor da água que sai do solo, mas sim uma fumaça saindo da boca de uma grande cobra vermelha chamada Kongolo.
Anteriormente esta serpente era um homem maléfico e nocivo, que cuspia fumaça através do Arco-íris. Então, às vezes, os cupinzeiros emitem uma fumaça negra, sinal de que Kongolo está cuspindo. A pessoa que for imprudente, e olhar muito de perto, terá a morte imediata.
O Culto aos Mikisi
Para os Baluba existem dois tipos de Mukisi (Nkisi) denominados como:
Mihake, o qualificador; significa que a estatueta ou o amuleto contém ingredientes mágicos trancados lá pelo Nganga de acordo com o rito desejado.
Mihasi, substantivo tomado como qualificador; indica que as estatuetas são consideradas memórias dos mortos. Por extensão, esta palavra refere-se aos próprios Manes, que são os povos que naquela região mantêm o culto a ancestralidade preservada. Para estes fetiches são adaptados ingredientes mágicos, nos quais os ossos humanos esmagados ou em pó são quase sempre encontrados; a alma a que pertenciam deve se comunicar, e através deles para o fetiche.
Todo espírito Luba tem seu fetiche, também separados como espíritos ocidentais (aqueles que fumam tabaco) e orientais (aqueles que não fumam tabaco).
Mwamba Kongolo, é o gênio do Arco-íris, ou seja, um espírito que em vida cultuava o Arco-íris e passou a ser responsável por aquela família, e posteriormente foi divinizado. O mesmo faz parte da classe dos espíritos ocidentais dos Baluba. O Mukisi Mwamba Kongolo é sacralizado em uma tigela de barro, com dois até quatro pescoços, o pote é pintado de vermelho, a cor que representa Kongolo, dentro é depositado o Nkula (o pó vermelho), Pemba (o pó branco) entre outros objetos.
O Arco-íris é o intermediário entre o Céu e a Terra. Para o culto, ele tem a função de parar as chuvas excessivas. Nos tempos chuvosos onde há plantações, é preciso equilibrar o solo, manter os rios em níveis baixos e as estradas em condições de locomoção. Os Nganga usam dos seus poderes mágicos para invocar o Mikisi Kongolo e assim manter a proteção contra as chuvas fortes.
No Mayombe
Dentro do culto dos Mayombe, o Arco-íris é chamado de Mbumba-Lwangu, caracterizada como uma estatueta dupla chamada Thafu Malwangu, considerado um espírito Nkita, Mbumba lwangu no Baixo-Congo é conhecido como uma cobra, a maior delas, seu habitat é a água dos rios, as vezes sobe em uma árvore alta, em forma de névoa multicolorida sobre ao ar, ao descer fica mais visível. Enquanto permanece no céu, Mbumba retém a chuva.
No Candomblé
No Brasil Hongolo tem uma função muito importante desde os tempos primórdios, o Arco-íris é cultuado nas terras brasileiras com objetivo de equilibrar, de várias formas a natureza, este fenômeno é importante, pois para o culto Hongolo é aquele que coleta a água que caiu da chuva de forma excessiva, isso ocorre com a evaporação da água em contato com os raios solares. Assim como na África, no Brasil Hongolo também tem como símbolo uma serpente, aquela que sai da terra coletando a água e subindo ao céu com uma panela de barro, e assim mantendo a chuva controlada e também reservada na sua matriz.
No candomblé se usa também potes para armazenar água da chuva, esses potes são sacralizados para o Nkisi Hongolo, essa água serve para purificar e equilibrar, assim que tocada no corpo, esse simbolismo significa que Hongolo deu um pouco dá água de sua matriz, que vem de Nzambi. Hongolo é a cobra que sai do lago ou de um ambiente úmido, colhe a água com seu pote e vai para o céu assim levando consigo água, no qual ele é um dos guardiões.
Angorô Matutu Mavula, uma expressão usada por antigos do Candomblé, que deriva de Hongolo matuta dia mavula “o Arco-íris está nas nuvens de chuva”, essa expressão demonstra a sabedoria dos mais antigos sobre Hongolo, o porque se cultuava. Isso tinha um objetivo muito importante para aqueles que dependiam de um equilíbrio natural em relação as águas que caiam do céu. O Candomblé mostra os rastros do culto como é na África, no caso de Hongolo as expressões de louvação e seus cânticos são os pontos mais importante, demonstrando que o culto ao Arco-íris sempre foi vital para os ancestrais que pisaram no Brasil nas condições de escravos, principalmente os agricultores.
O Nkisi Hongolo também é um ancestral divinizado, usado no Candomblé para equilibrar a família ou um indivíduo assim como outros Minkisi do panteão brasileiro, ele também tem suas ações sociais dentro da comunidade de terreiro.
O sincretismo
O Candomblé de angola passou por tempos difíceis no passado, principalmente na década de 40 onde o sincretismo foi introduzido dentro dos terreiros do Angola, acarretando a perda de identidade de um povo, onde ficaram à mercê de um sistema que era de uma outra nação denominada Ketu, com isso as Divindades do Candomblé de Angola passaram a se assemelhar com Orixás, no caso de Hongolo isso ocorreu com Oxumare. Ambas as Divindades tem ligação com arco-íris e serpentes e usam quase as mesmas cores, porém o culto de origem e o objetivo de cultuar essas Divindades, no Brasil e na África são totalmente diferentes, assim como Oxumare, ao contrário do que dizem, Nkongolo para os Baluba foi um personagem mundano, o fundador do reino Luba, com sua morte se tornou um Nkisi ou gênio como é conhecido pelos Baluba, aquele que fica responsável por cuidar de uma família, se fazendo presente no seu dia a dia.
A herança de cultos da região do antigo reino do Kongo é visível dentro do Candomblé, porém
Ainda é difícil acreditar nas semelhanças entre a África Bantu Ocidental e o Brasil em seus cultos com base africana.
Temos de ter a consciência de que todas as Divindades relacionadas ao Arco-íris e a serpente são importantes para cada nação, cada um com seu histórico, com as suas linguagens secretas de culto, e com seus rituais próprios, a diversidade existe e isso tem dê ser cada dia mais valorizado por cada povo do Candomblé.
Texto de Glauber Willians e Leonardo Luis
Fontes:
Dicionário de Etnologia Angolana
Por Adriano Pereira
Dicionário complementar português-kimbundu-kikongo: línguas nativas do centro e norte de Angola
Por D. António da Silva Maia.
The Kongo: (Studia Ethnographica Upsaliensia)
Por Karl E. Laman
Luba (Heritage Library of African Peoples Central Africa)
Por Mary Nooter Roberts, Allen F. Roberts
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