Pomba gira Maria da Praia
Sim, ela é Maria da Praia! A dama do cais dos portos da Bahia, que é minha guardiã e amiga. Compartilho agora com vocês a historia que ela, atraves do uso de minhas faculdades mediunicas, transmitiu a minha cambona (auxiliar) no ano de 2002. Fala da vida Boemia em finais do seculo XIX, mas também de sofrimento e aprendizado através dos erros.
” Desencarnei aos 46 anos de idade…até pra morrer fui teimosa ! Isso se deu quase dois anos depois das primeiras escarradas com o “mal”.
O “mal” a que ela se refere é a tuberculose. E ela começou assim… narrando sua historia a partir de quando desencarnou, e depois para as lembranças de sua infancia miserável em que teria sofrido com abandono e abuso sexual aos 10 anos de idade no sertão nordestino aonde nasceu. Fugindo da seca, almejada uma vida melhor e assim buscou a região litoranea. Aos 12 anos já se prostituia nos portos. Aos 16 conheceu um homem que a instalou em um sobrado. Ela assim descreveu: “era um sobrado caiado de azul… tira eira.. beira… varanda… pisos de tábuas largas. Ainda hoje existe, está abandonado.” Lá ela fixou residencia, e vivia como amante exclusiva desse homem por algum tempo. Ele faleceu, e ela com ajuda de um amigo, conseguiu obter para si a escritura do imóvel. Formou nessa casa então um cabaré e tornou-se uma cafetina famosa, pois aliciava outras mulheres que trabalhavam pra ela na baixada, no cais com a ajuda de vigias. Conta que chegou a ter em torno de 78 mulheres trabalhando em parceria com ela. Sobre os erros do passado que a fizeram hoje estar nessa condição, ela diz: ” fazer o que? fiz tá feito… agora é trabalhar pra pagar. Só em mim tirei mais de 20 bacuri, depois acho que fiquei seca, porque não peguei mais barriga e achei até bom, me poupava trabalho. Ajudei outras meninas a se livrarem. Nenhuma nunca morreu em minha mão, eu fazia direito. Mas quando eu via que encrencava eu chamava o doutor. Coitado… tinha estudo mas era coalhado na bebida, em troca de bebida, resolvia os “poblema” pra mim. Mas não pense que eram só as “meretriz” que faziam uso desse meu serviço. Muita sinhá veio me pedir pra ajudar a filha a se livrar do “poblema”. Quando desencarnei vi toda aquela gente me assombrando. E meu corpo jazia podre, abandonado ,naquele sobrado há dias.”
Disse que também usava facas para se defender e atacar quando achasse necessario. Feriu gravemente varias pessoas e algumas chegou a matar. Conta que arrepende-se de seus crimes, mas tem um dos quais não conseguiu atingir a iluminação para perdoar e se arrepender. Foi o espancamento de uma prostituta que trabalhava para ela e que teria, envenenado um caozinho de estimação que ela havia ganhado de um cliente rico. ” Por donde eu andava ele (referindo-se ao cachorrinho) tava atraz d mim. Naquela tarde acordei e ele não veio pular em cima de mim. Na hora senti um calafrio. Encontrei ele la na sala, ja frio e com a boca espumada. Urrei de ódio ! “Suspeitiei” daquela víbora invejosa e achei nas “coisa” dela o vidro da beberagem que fora usada. Acordei ela “a pudê” de pancada. Arregacei com a cara dela pra que homem nenhum mais quizesse ela e enxotei ela de minha casa. Soube que depois ela morreu por lá, pela rua, de fome… na merda. Ainda to trabalhando dentro de mim pra perdoar essa daí.”
Mas nem só sobre brigas e crimes Maria da Praia falou. Contou também sobre as farras na vida boemia. ” Eita coisa boa que era a “função” em zona portuária. Vinha aqueles homem de longe…. de outras terra. Deitei com homem de todas as raças. Era bom que a gente provava outros sabores …. hahahaha. Eles nos presenteavam com bebidas, coisas finas, diferentes que não tinham lá praquelas bandas. Fiz então um acordo bom com uns marinheiros. Eles me atravessavam umas bebidas boas, vinha livre de “taxa” em troca, eu separava os “pitelzinho” melhores que eu tinha pra eles… hahahahha.
Hoje ela gosta de trabalhar pra resolver questões de desafetos e abertura de caminhos. Recebe suas oferendas em cruzeiros na “calunga” ou em pedras na beira do mar. Quando questionada sobre a maior lição que recebeu disso tudo, ela diz: “aprender a “lidiar” com a impulsividade. As vezes um segundo de cabeça quente pode por perder todo um esforço de uma vida. Feri pessoas e verdade eu estava querendo ferir a mim mesma, porque no fundo, eu não me aceitava na condição de prostituta. Hoje eu sei que eu não fui vitima de circunstancia alguma. Foram escolhas inapropriadas. A prostituição foi o recurso que na época julguei ser o mais adequado.”