Simbologia dos contos: O Patinho Feio
“O patinho feio é um conto universal mal compreendido. Não é sobre se tornar uma barbie loira ou se tornar o que você sonhar ser. É sobre auto-revelação, se tornar quem você é” ~ Baz Luhrmann
Por mais antigo que seja, o conto do Patinho Feio continua sendo atual, por meio de um texto que explora a transformação de um cisne confundido com um patinho desde o nascimento até a idade adulta. Explora os equívocos que fazemos sobre nós mesmos, sobre quem pensamos que somos e a verdadeira natureza do nosso ser.
Esse texto de desmistificação busca unir o conto às passagens da vida mundana.
Muitas interpretações focam mais na identificação familiar ou social e a descoberta do nosso verdadeiro eu quando em determinada idade se chega, ou até mesmo, indo mais além em uma analogia que traça paralelos com o salmão nadando contra a corrente toda a sua vida, a fim de voltar para casa. Porém, como no conto White Fang, O Patinho Feio não é simplesmente sobre a descoberta do verdadeiro eu. Ele também representa a compreensão de que somos mortais mas quando na verdade nós somos UM com o Divino; expressões puras de amor que se perderam em sua jornada e cometem erros inferiores, levando a vida como impostores, aqueles que não merecem nenhum tipo de amor…
O OVO QUEBRA
E nascemos, como o ‘patinho’, temos de começar tudo de novo. Despojado de todas as memórias “conscientes” de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e todo o significado da criação e expansão…. nos sentimos completamente sozinhos. Chega então nossos escudos, o corpo e o self dão a vida que se revela imperfeita, na verdade, o patinho se percebe como “feio”, há algo que não está certo e que não faz sentido sobre sua personificação, ele então percebe que não se encaixa ali.
Nós não seguimos os outros/a multidão, não somos cópias dos outros. Ironicamente, todos nós experienciamos isso, ainda assim muitos se enganam ao pensar que eles são apenas mais um número que se adiciona à população. Então há demonstrações de amor e afeto por um ou dois personagens, como a Mãe adotiva do Patinho, que fará de tudo para protegê-lo, mas a verdade é que mesmo ela vivendo suas próprias armadilhas karmais e precise colocar si mesmo antes dos outros, ela não faz. O que nos leva a uma análise de que temos tempo para voltar, ou re-descobrir o maior amor de onde nós realmente pertencemos.
O laço foi desfeito ; somos então cortados de toda a verdade e expulsos no rio frio com nenhuma ideia do que está por vir. Nos envolvemos em solidão e somos rejeitados, abandonados à nossa própria integridade. A inocência foi perdida, o self se torna a consciência atenta e nossa autentificação cai por terra. Seguimos o fluxo tentando se encaixar.
É a pura natureza de que uma vez que a ligação foi cortada e o patinho aceita sua inferioridade como a verdade, a negação da sua verdadeira natureza torna-se habitual. Ele encontra a paz em sua própria destruição e da aceitação da ilusão que criou em torno dele. Durante anos, ele perambula, perdido e envolvido em um sofrimento profundo, consumido pelo seu próprio ego e por sua própria miséria. Ainda tentando se encaixar, passa a se tornar mais desesperado a cada obstáculo.
A TRANSFORMAÇÃO COMEÇA
Apesar de estar experimentando lampejos de dúvida em relação à sua verdadeira natureza, a desesperança em suas várias tentativas de se encaixar e fazer uma conexão (apesar de obter algumas aventuras ao longo do caminho, afinal de contas ser alguém que você não é, pode ser por vezes divertido), ele cai num buraco de desespero e se resigna ao ser dormente. Daí então, não tenta mais fazer conexões, em vez disso, vive uma vida de solidão; o destino do inferior. Se escondendo nos juncos e resistente a qualquer contato visual, geralmente age como um coitado à espera da morte. De repente, um dia – quando a última dor parece ter finalmente deixado seu corpo e a última pena de cinza macio para baixo cai, ouve-se um som. Ele olha seu reflexo nas águas (ignorado por tanto tempo que tinha esquecido que tinha um) e vê uma bela criatura ao contrário de nada que jamais havia visto antes; pescoço longo, penas brancas, o epítome da graça. Como os outros que iniciam seu voo para o céu, o patinho – agora cisne – abre suas asas e se junta a eles. O conhecimento de que era bonito o tempo todo vem à tona, e é capaz de estar em paz consigo mesmo uma vez por todas.
A moral desta história, apesar das partes óbvias, certamente é sobre nos lembrarmos que somos amor puro e que vamos nos reunir aos nossos Eus superiores um dia – mas para desfrutarmos da nossa ‘feiúra’. A Espiritualidade nos ajuda a ter a certeza de que um dia tudo se esvairá. Beba-se a vida em sua imperfeição, porque isso também é tão vital como a bem-aventurança. Oração e presença nos ajuda a transcender a ilusão de ‘tempo’ e se conectar com a impermanência.
Nosso ‘rebanho’ não é um grupo específico de pessoas ou pedaço de terra, mas o universo e criação em sua totalidade. Nem é o cisne “superior” ou “inferior” do que os patos, mas sim a mesma expressão do Divino olhando a sua volta e para si mesmo. Acima de tudo, este pequeno porém profundo conto parece estar nos dizendo que o caminho de sofrimento; de feiúra, solidão e inferioridade trilham os passos para a iluminação.
Quanto mais profunda for a onda, mais alta ela chega
Essa bela analogia foi retirada do Fractal Enlig. e traduzido por YanRam para O Grande Jardim.
Acredito que há vários caminhos a serem trilhados, e que compreender que o imperfeito é a perfeição é o primeiro passo para a auto aceitação…
https://ograndejardim.com/2015/04/24/simbologia-dos-contos-o-patinho-feio/#more-584